Assim como ocorre com os navios quando são inaugurados as
locomotivas também recebiam nomes quando de sua inauguração. Este trabalho procura
trazer a luz a memória dos nomes das primeiras locomotivas de cada uma das três
ferrovias que existiu no Estado do Rio Grande do Norte.
Da Estrada de Ferro de Natal
a Nova Cruz
         A The Imperial Brazilian
Natal na Nova Cruz Railway teve inicialmente 11 locomotivas, as quais
receberam as seguintes denominações:
| Fabricante | Denominação | 
| Baldwin (Nova York) | Padre João Manuel | 
| Jason Ribby | |
| Nielsen (Glasgow) | Buarque de Macedo | 
| Lobato | |
| Felipe Camarão | |
| Wilkens de Matos | |
| Clélia de Sinimbu | |
| Pedro II | |
| Princesa Imperial | |
| Bandeira de Melo | |
| Natal | 
 Fonte: Gazeta
de Noticias,24/01/1881,p.1.
            A 27/02/1880 foram oficialmente
iniciados os trabalhos de construção da The Imperial Brazilian Natal and
Nova Cruz Railway Company, num trecho de 2 km entre as margens do rio
Potengi na Ribeira e o Refoles, na ocasião celebrados com pompas e circunstâncias.
         As 13h00 foi colocada a pedra fundamental da estação de
Natal e assim oficialmente inaugurados os trabalhos daquela ferrovia,
solenidade presidida pelo presidente da província.
         Após os discurso partiu um trem especial vistosamente
preparado e puxado pela locomotiva “J. Manoel de Carvalho”, que percorreu a
estrada na extensão de 2 km, conduzindo além das autoridades ali presentes um
grande concurso de povo, sem o menor acidente.
         De acordo com o telegrama enviado ao ministro da agricultura
a estrada apresentava boa estabilidade e felicitava-se com o ministro por tão
faustoso acontecimento. (O Apóstolo, 03/03/1880, p.2).
          O nome da locomotiva
em apreço fazia uma homenagem ao padre e deputado João Manoel de Carvalho, um
dos detentores da concessão da estrada de ferro e a quem se deve na Corte a
aprovação por parte do Governo Imperial da fiança de juros para a construção da
mesma.
         Em viagem de inspeção o presidente da província
percorreu a linha em construção até Canguaretama. O trem que partiu as 09h00 da
capital chegou a São José as 10h15 onde demorou por 20 minutos, chegando a
Goianinha as 11h15 e ao km 80, onde a comitiva entrou num tranway  (espécie de bonde) as 11h30, chegando a
Canguaretama, próximo do meio-dia, numa velocidade em média de 40 km.
         Prosseguiam ali os trabalhos da estrada
de ferro, já estando estabelecida a linha permanente até o km 88, tendo sido
feita a junção dos trabalhos das duas seções no dia 19, as 18h00.
         Aquela hora os engenheiros da 2ª seção
foram na locomotiva “Natal” anunciar a junção, tendo de lá partido em viagem de
recreio, as 18h00, chegando a capital as 22h30, regressando logo em seguida na
mesma locomotiva para Canguaretama.
Da Estrada de Ferro Central
do Rio Grande do Norte-EFCRGN 
         De acordo com o relatório do ministério da agricultura de
1906 havia apenas uma locomotiva na EFCRGN em 1906: “a única locomotiva que
possui a Estrada trabalhou durante o ano, com pequenos intervalos para consertos
e limpeza, tendo feito o percurso total de 14.337 km”. (Relatórios do
Ministério da Agricultura,1906, p.686).
         No ano seguinte chegaria a segunda conforme registrou o
jornal A República: “o Sr. Ministro da Fazenda, por ato do 20 do corrente,
resolveu autorizar o despacho livre de direitos de uma locomotiva e tender, de
fabricação inglesa, destinada a E.F.C. do Rio Grande do Norte”. (A República,
25/07/1907, p.2).
Sabemos
os nomes dessas duas locomotivas como se verá adiante.
A convite
do engenheiro chefe da EFCRGN os jornalistas do jornal A República fizeram uma viagem
de inspeção aos trabalhos do trecho entre Itapassaroca e Taipu em julho de 1907
que assim registrou a partida da viagem na estação da Coroa: “sábado, as nove
horas da manhã, na companhia do dr. José Luiz e do pessoal da pagadoria, tomávamos
o trem expresso da administração puxado pela máquina “Natal”, uma verdadeira teteia
construída de modo a poder desenvolver uma velocidade de 60 quilômetros por
hora [...]”. (A República,15/07/1907, p.2).
Na imagem a baixo o trem inaugural da EFCRGN, como visto a cima só havia uma locomotiva nesta ferrovia em 1906.
|  | 
| Trem inaugural da EFCRGN | 
Já na
inauguração do referido trecho e da estação de Taipu em 15/11/1907 registrou o mesmo
jornal: “o trem era puxado pela máquina taipu [sic], uma poderosa locomotiva
americana, tipo Baldwin, construída em julho deste ano, com todos os aperfeiçoamentos
imagináveis que [ilegível] sua primeira viagem, portando-se admiravelmente,
como podemos verificar ao ver o trem subir a toda velocidade a grande rampa da
Aldeia Velha”. (A República, 16/11/1907, p.1). 
Da Estrada de Ferro de
Mossoró
         Já na Estrada de Ferro de Mossoró sabe-se que a primeira
locomotiva foi denominada de “Alberto Maranhão”, uma homenagem ao governador do
Estado o qual foi responsável por ter dado a concessão daquela ferrovia.
         Na legenda da foto da referida locomotiva estampada na
revista O Malho em edição de 02/05/1914 lia-se: “locomotiva ‘Alberto Maranhão’,
seu pessoal e curiosos, no dia da experiência em Porto Franco, princípio da
E.F. Mossoró no [sic] Rio São Francisco. Uma bela nota de progresso!”. (O Malho
(RJ), ed. 0607,02/05/1914, p.47.Grifo nosso).
| A locomotiva "Alberto Maranhão" da Estrada de Ferro de Mossoró. O Malho,1914. | 
O fim do costume
         Ao que parece o costume de “batizar” as locomotivas teve fim
quando a GWBR assumiu as ferrovias nordestinas do Rio Grande do Norte a
Alagoas, pois, a partir das décadas de 1900 já não se vê mais locomotivas nomeadas
e sim numeradas.      
|  | 
| Locomotiva nº 2 da EFSC, ex EFCRGN |