quarta-feira, 9 de abril de 2025

SOBRE OS NOMES DAS LOCOMOTIVAS DAS ESTRADAS DE FERRO DO RIO GRANDE DO NORTE

 

         Assim como ocorre com os navios quando são inaugurados as locomotivas também recebiam nomes quando de sua inauguração. Este trabalho procura trazer a luz a memória dos nomes das primeiras locomotivas de cada uma das três ferrovias que existiu no Estado do Rio Grande do Norte.

Da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz

         A The Imperial Brazilian Natal na Nova Cruz Railway teve inicialmente 11 locomotivas, as quais receberam as seguintes denominações:

Fabricante

Denominação

 

Baldwin (Nova York)

Padre João Manuel

Jason Ribby

 

 

 

 

Nielsen (Glasgow)

Buarque de Macedo

Lobato

Felipe Camarão

Wilkens de Matos

Clélia de Sinimbu

Pedro II

Princesa Imperial

Bandeira de Melo

Natal

 Fonte: Gazeta de Noticias,24/01/1881,p.1.

            A 27/02/1880 foram oficialmente iniciados os trabalhos de construção da The Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Company, num trecho de 2 km entre as margens do rio Potengi na Ribeira e o Refoles, na ocasião celebrados com pompas e circunstâncias.

         As 13h00 foi colocada a pedra fundamental da estação de Natal e assim oficialmente inaugurados os trabalhos daquela ferrovia, solenidade presidida pelo presidente da província.

         Após os discurso partiu um trem especial vistosamente preparado e puxado pela locomotiva “J. Manoel de Carvalho”, que percorreu a estrada na extensão de 2 km, conduzindo além das autoridades ali presentes um grande concurso de povo, sem o menor acidente.

         De acordo com o telegrama enviado ao ministro da agricultura a estrada apresentava boa estabilidade e felicitava-se com o ministro por tão faustoso acontecimento. (O Apóstolo, 03/03/1880, p.2).

          O nome da locomotiva em apreço fazia uma homenagem ao padre e deputado João Manoel de Carvalho, um dos detentores da concessão da estrada de ferro e a quem se deve na Corte a aprovação por parte do Governo Imperial da fiança de juros para a construção da mesma.

         Em viagem de inspeção o presidente da província percorreu a linha em construção até Canguaretama. O trem que partiu as 09h00 da capital chegou a São José as 10h15 onde demorou por 20 minutos, chegando a Goianinha as 11h15 e ao km 80, onde a comitiva entrou num tranway  (espécie de bonde) as 11h30, chegando a Canguaretama, próximo do meio-dia, numa velocidade em média de 40 km.

         Prosseguiam ali os trabalhos da estrada de ferro, já estando estabelecida a linha permanente até o km 88, tendo sido feita a junção dos trabalhos das duas seções no dia 19, as 18h00.

         Aquela hora os engenheiros da 2ª seção foram na locomotiva “Natal” anunciar a junção, tendo de lá partido em viagem de recreio, as 18h00, chegando a capital as 22h30, regressando logo em seguida na mesma locomotiva para Canguaretama.

Da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN

         De acordo com o relatório do ministério da agricultura de 1906 havia apenas uma locomotiva na EFCRGN em 1906: “a única locomotiva que possui a Estrada trabalhou durante o ano, com pequenos intervalos para consertos e limpeza, tendo feito o percurso total de 14.337 km”. (Relatórios do Ministério da Agricultura,1906, p.686).

         No ano seguinte chegaria a segunda conforme registrou o jornal A República: “o Sr. Ministro da Fazenda, por ato do 20 do corrente, resolveu autorizar o despacho livre de direitos de uma locomotiva e tender, de fabricação inglesa, destinada a E.F.C. do Rio Grande do Norte”. (A República, 25/07/1907, p.2).

Sabemos os nomes dessas duas locomotivas como se verá adiante.

A convite do engenheiro chefe da EFCRGN os jornalistas do jornal A República fizeram uma viagem de inspeção aos trabalhos do trecho entre Itapassaroca e Taipu em julho de 1907 que assim registrou a partida da viagem na estação da Coroa: “sábado, as nove horas da manhã, na companhia do dr. José Luiz e do pessoal da pagadoria, tomávamos o trem expresso da administração puxado pela máquina “Natal”, uma verdadeira teteia construída de modo a poder desenvolver uma velocidade de 60 quilômetros por hora [...]”. (A República,15/07/1907, p.2).

Na imagem a baixo o trem inaugural da EFCRGN, como visto a cima só havia uma locomotiva nesta ferrovia em 1906.

Trem inaugural da EFCRGN

Já na inauguração do referido trecho e da estação de Taipu em 15/11/1907 registrou o mesmo jornal: “o trem era puxado pela máquina taipu [sic], uma poderosa locomotiva americana, tipo Baldwin, construída em julho deste ano, com todos os aperfeiçoamentos imagináveis que [ilegível] sua primeira viagem, portando-se admiravelmente, como podemos verificar ao ver o trem subir a toda velocidade a grande rampa da Aldeia Velha”. (A República, 16/11/1907, p.1).

Da Estrada de Ferro de Mossoró

         Já na Estrada de Ferro de Mossoró sabe-se que a primeira locomotiva foi denominada de “Alberto Maranhão”, uma homenagem ao governador do Estado o qual foi responsável por ter dado a concessão daquela ferrovia.

         Na legenda da foto da referida locomotiva estampada na revista O Malho em edição de 02/05/1914 lia-se: “locomotiva ‘Alberto Maranhão’, seu pessoal e curiosos, no dia da experiência em Porto Franco, princípio da E.F. Mossoró no [sic] Rio São Francisco. Uma bela nota de progresso!”. (O Malho (RJ), ed. 0607,02/05/1914, p.47.Grifo nosso).

 

A locomotiva "Alberto Maranhão" da Estrada de Ferro de Mossoró. O Malho,1914.

O fim do costume

         Ao que parece o costume de “batizar” as locomotivas teve fim quando a GWBR assumiu as ferrovias nordestinas do Rio Grande do Norte a Alagoas, pois, a partir das décadas de 1900 já não se vê mais locomotivas nomeadas e sim numeradas.     


Locomotiva nº 2 da EFSC, ex EFCRGN