quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A INAUGURAÇÃO DO TRECHO FERROVIÁRIO ENTRE BORBOREMA E BANANEIRAS


O ramal ferroviário de Bananeira a Boca do Túnel foi inaugurado em 22/10/1922 na Estrada de Ferro Guarabira a Picuí.

         De acordo com o relato do jornal O Norte houve trens especiais com a comitiva chefiada pelo secretário Álvaro de Carvalho, representando o governador do Estado, os quais se dirigiram para o local das solenidades as 06h00 partindo da estação central de João Pessoa.

         Além da comitiva do governo do estado estavam presentes nos trens o pessoal técnico da Estrada de Ferro Conde d’Eu os engenheiros J. White, chefe do tráfego, A. G. Cooper, chefe da conservação, Cesar Cartaxo e Pedro Carlile, engenheiros fiscais, Antonio Almeida e Manuel Costa, engenheiros eletricistas.

         E evidentemente os representantes da imprensa paraibana que iriam fazer a cobertura da inauguração do referido trecho ferroviário.

         As 10h30 a comitiva desembarcou em Borborema ao som da banda de música de Bananeiras e uma grande girândola fendeu os ares.

         Se dirigiram todos a residência do Cel. Barôncio de Lucena que esperava os delegados do governo na estação e depois de ligeiro repouso tendo servido um lauto banquete foi saudado por Manuel Paiva, em nome do Cel. Barôncio de Lucena, ao dr. Álvaro de Carvalho que naquela ocasião representava o governador Solon de Lucena.

A inauguração da estação de Manitu

         De Borborema partiu o trem puxado pela locomotiva nº 197, toda embandeirada e coberta de ramos e flores, e onde se lia “Viva o Dr. Epitácio Pessoa” seguiu o trem que inaugurou o trecho citado, dando entrada na gare da estação de Manitu, recentemente construída, em baixo de entusiasmáticos vivas ao presidente da República.

         Na estação de Manitu havia sido estendida uma grande faixa onde se lia: “Viva o Dr. João Holmes” entre outros versos. Ao ser-lhe entregue um buquê  pela comissão de festejos o engenheiro João Holmes  derramou lágrimas de sincera comoção “pois se via a eloquência da sinceridade daquela manifestação”. (JORNAL DO RECIFE, 07/12/1922, p.2). João Holmes foi engenheiro responsável pela construção do trecho.

Fonte: Ilustração Brasileira,1922.
Prédio da antiga estaçao de Manitu.Foto: Jônatas Rodrigues, 2007.

            A estação de Manitu começou a ser construida em junho de 1922.A imagem a cima mostra a estação de Manitu estampada na revista Ilustração Brasileira em setembro de 1922, ou seja, um mês antes de sua inauguração.

         Após a saudação do acadêmico Claudie Maia em nome do povo o secretário Alvaro Carvalho declarou inaugurada a estação de Manitu. Havia sido ali preparada para mais de 500 mesas de café onde a todos  foram servidas cervejas em profusão segundo o jornal O Norte.

Subindo a serra da Viração

Subindo a serra a primeira locomotiva num apito agudo e prolongado anunciou a vitória do homem, mais uma vez, sobre a natureza bruta e assim as 14h40 depois de um rápido percurso, no qual se ouvia constantemente o pipocar dos foguetões, o comboio parou na estação provisória de Boca do Túnel, sendo os representantes do governo do Estado recebidos pelas autoridades locais de Bananeiras, tendo sido saudados por Pedro Anisio Maia e Floriano Mendes.

Na estação da Boca do Túnel esperava quaser toda a população de Bananeiras que promoveu uma carinhosa manifestação com todos os discursos protocolares.

         Dali saiu a comitiva para a cidade de Bananeiras que fica a 2 km do túnel em construção, o qual em muito facilitaria o acesso aquela comuna. Desse grande túnel só faltava ser perfurado 50 metros em rocha viva, sendo esse trabalho feito por poucos homens, avançando-se 8 metros por mês, segundo informação que foi prestada aos jornalistas.



Detalhes das obras em ambas bocasdo túnel na serra da Viração.Fonte: Ilustração Brasileira,1922.


         A novo trecho ferroviário cortava toda a propriedade “Carneiro” do Cel. Ascendino Neves.

O governador do Estado não esteve presente a inauguração devido a problemas de saúde.

         Foram feitos os registros fotográficos da inauguração do trecho ferroviário entre Borborema e Bananeiras.

         O extenso trem foi franqueado ao público que desejasse assistir a referida inauguração. Manitu era uma estação intermediária.



Aspectos do túnel da serra da Viração em Bananeiras.

Atualmente pelo antigo túnel ferroviário passa uma estrada municipal.



Aviso de abertura das estações de Manitu e Boca do Túne pela GWBR.Fonte:O Norte,27/10/1922, p.2.

Aviso de abertura do tráfego entre Guarabira e a estação provisória da Boca do Túnel.Fonte:O Norte,02/12/1922,p.1
      

Sobre o trecho inaugurado

Esse trecho, como os demais da Estrada de Ferro de Guarabira a Picuí, foi construído em plena ascensão da serra, não havendo um só pedaço de linha sobre terreno natural, pois os grandes cortes de muitos metros de altura em barro e em rocha se alternavam sucessivamente com aterros de altura vertiginosas que muitas vezes foi preciso substituir por grandes pontes metálicas.

         A linha, contudo ainda não havia atingido a cidade de Bananeiras porque a cidade estava localizada num profundo vale e para chegar até lá foi necessário abrir um grande túnel de extensão pouco inferior a 200 metros e que deveria atravessar a serra.

         Os serviços já estavam em andamento adiantado de um lado e do outro uma extensão cavada em rocha não inferior a 30 metros.

         A estação de Boca do Túnel era provisória sendo preciso que para se chegar a cidade devia-se transpor a serra numa caminhada de pouco mais de 2 km.

Visita a cidade de Bananeiras

Foi entre aclamações, músicas e salvas que o secretário Álvaro de Carvalho e comitiva chegaram a residência  do Cel. Leopoldo Bezerra prefeito de Bananeiras.

         Poucos depois a comitiva foi convidada por Marques de Azevedo, chefe da Comissão de Estradas de Bananeiras, para ser inaugurada uma pequena e artística ponte na rua principal da cidade.

Houve uma sessão solene no Conselho Municipal ( Atual Câmara de Vereadores) onde na ocasião foi inaugurado seu novo prédio e fez-se a aposição do retrato do presidente da República Epitácio Pessoas.

       A comitiva visitou logo depois o Instituto Bananeirense voltando depois para a residência do Cel. Leopoldo Bezerra onde foi servido um banquete. (O NORTE, 25/10/1922, p.1).

         A cidade de Bananeiras estava toda embandeirada, ostentando arcos bem iluminados e com expressivas inserções artísticas. Na praça em construção tocava a banda de música local notando-se uma multidão de mais de mil pessoas assistiam o cinema ao ar livre.

         Segundo o relato do Jornal do Recife, Bananeiras de uma cidade velha e antiquada que era estava sendo transformada em uma “urbs” moderna graças às duas comissões de obras contras as secas, uma de estradas e outra de açudagem que lá haviam.

O velho riacho que cortava a cidade foi drenado com paralelepípedos de granito numa extensão superior a 2 km, as ruas estavam todas calçadas e macadamizadas, tinha uma bela praça com postes de cimento armado, um obelisco e um lindo coreto, uma escadaria de 70 degraus ligando a cidade baixa à alta onde se encontrava a igreja matriz e estava ligada a todas as localidades vizinhas por estradas de rodagens amplas e modernas. (JORNAL DO RECIFE, 07/12/1922, p.2).

No  dia seguinte, logo pela manhã, a comitiva fez uma demorada visita ao grande e belíssimo estabelecimento de ensino profissional que seria o patronato agrícola André Vidal de Negreiros que estava sendo construído com economia e sábia administração pelo jovem, modesto e talentoso engenheiro J.Trindade.

         Em seguida fez-se uma excursão até Moreno (atual Solânea).

         Depois do almoço houve sessão solene no salão da comissão de estradas com sede em Bananeiras, havendo então a aposição dos retratos do presidente Epitácio Pessoa e do governador Solon de Lucena.

         As 06h00 do dia seguinte partiu o trem da estação provisória Boca do Túnel conduzindo os excursionistas para a capital paraibana.

 

Aspectos da cidade de Bananeiras.Fonte: Ilustração Brasileira,1922.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

O RAMAL FERROVIÁRIO DE GUARABIRA A PICUI


         Esse ramal foi planejado como linha de penetração na zona flagelada pela seca no nordeste o qual deveria ligar a região dos brejos da Paraíba ao sertão deste estado e também do Rio Grande do Norte.Partindo de Guarabira ( a época conhecida ainda por Independência) deveria alcançar a cidade de Picuí já na divisa com o Rio Grande do Norte.

         Era considerada por isto como obra complementar das que foram previstas no art.1º lei nº 3.965, de  25 dezembro de 1919.A construção desse ramal foi conforme aviso nº  475 de 10 agosto de 1920 submetida a Inspetoria Federal das Obras Contra as Secas-IFOCS, atual DNOCS.

A construção do ramal

         De acordo com o Relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas em 1921 a IFOCS mandou proceder aos estudos para modificar o traçado no último trecho em que se tinha de realizar a escalada da serra da Borborema, pelo norte da Paraiba,e penetrar no vale do rio Curimataú e na região das minas de Picui.

         Para resolver sobre o melhor traçado nas proximidades da cidade de Bananeiras, teve-se de fixar uma variante que, partindo de um ponto convenientemente escolhido no antigo traçado, se aproximasse,tanto quanto possível, daquela cidade, aproveitando a maioria das obras de arte que  já haviam sido construídas e do movimento de terra.

         A linha projetada tinha um total de 7.730 metros em desenvolvimento naquele ano de 1921, dos quais mais de 48% em curvas circulares de 120m de raio, combinada com rampas máximas de 2%, havendo entre curvas de raio mínimo consecutivas tangentes de sentidos opostos inferiores a 27 metros.

         De acordo com o projeto,  em 18/11/1920 a locação estava sendo executada.Foram aprovados  em 10/05/1921 os estudos de uma sub-variante, que permitiu localizar a estação de Bananeiras num ponto mais aproximado da cidade, desaparecendo os embaraços que desde junho de 1920 vinham dificultando o prosseguimento dos serviços.

         A construção da estação de Bananeiras já estava em adiantada construção, toda projetada com suas dependências, em meia encosta, de sorte que, para completar a sua esplanada, foi preciso suprir a falta de terras com a abertura de um empréstimo. Isto foi necessário para aumentar a extensão da esplanada e  melhorar o traçado, substituindo a curva projetada (de 11º 30’) de acesso para a estação, por outra de raio mais elevado, de cerca de 110 metros.O projeto e orçamento, no valor de 136:872$, da estação de Bananeiras e suas dependências, fora aprovados pelo decreto mº 14.992, de 12 de setembro de 1921.

         Para o acabamento integral da estação de Manitu faltava a instalação de dois aparelhos de mudança de via e a cobertura da plataforma. (RMVOP, 1921, p.300).

         A perfuração do túnel sob a garganta da serra da Viração só foi atacada em novembro de 1921, tendo sido lenta e laboriosa, devido a circunstância de ter sido encontrado rocha viva de extrema dureza e terra em uma mesma seção transversal da galeria de avanço do túnel.A rocha atingiu a meia altura da seção, enquanto que a terra fechou a parte mais elevada.

         A medição dos trabalhos deste ramal foram realizados pela GWBR tendo sido por ela abandonados por inexecução de contrato.

         No final de dezembro de 1921 a extensão total da linha assentada elevara-se a 9.580m, dos quais 8.520m assentados durante aquele ano de 1921.

         De acordo com o citado relatório, a região era muito cultivada, sendo quase totalmente desprovida de matas grossas, donde a dificuldade de obtenção de dormentes, os quais 40% foram adquiridos na zona da caatinga e no litoral do Estado paraibano.

         Toda a terraplenagem já se achava quase toda concluída, ascendendo a um total de 110.996,34m³ o volume integral escavado durante o ano de 1921.

         Em junho e outubro de 1921, respectivamente, foram iniciadas as construções de Manitu e Bananeiras, esta com o seu armazém isolado para carga.O assentamento dos trilhos em Bananeiras foi intensificado somente em junho de 1921 quando as condições locais  permitiram a realização dos trabalhos pelas turmas de cassacos.

         A comissão construtora da Estrada de Ferro Guarabira a Picui também procedeu aos estudos de uma estrada carroçavel ligando a cidade de Bananeiras aos povoados de Borborema e Pirpirituba, com a extensão total de 24 km, e os de uma outra ligando a estação de Manitu ao povoado de Pilões, com a extensão total de 2,3 km. (RMVOP, 1921, p.441-442).

A linha telegráfica

      A medida que prosseguiam os trabalhos de assentamento da linha, foram sucessivamente instalados e desenvolvidos os serviços de construção da linha telegráfica, os quais, em dezembro de 1920, já estavam próximos da conclusão.Foram estendidos 10.000m de fios simples e empregados 110 postes de trilhos velhos. (RMVOP, 1921, p.301).

      A baixo imagens da construção da Estrada de Ferro de Guarabira a Picui publicada pela revista Ilustração Brasileira em 1922.


Estação de Manitu

Pontilhão no riacho Camucá







Obras de construção da Estrada de Ferro de Guarabira a Picui

Aspectos de Bananeiras em 1922.



Boca do túnel na serra da Viração.


Estação de Bananeiras








terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A SITUAÇÃO NADA LISONJEIRA DA ESTAÇÃO DE GUARABIRA EM1909


         Em 13/09/1909 a redação do jornal O Norte recebeu detalhadas informações do agente da estação ferroviária de Guarabira sobre os furtos praticados por três serventes daquela estação,pois há muito tempo que vinham desaparecendo mercadorias com visivel violação dos respectivos volumes.”Uma quadrilha de ratoneiros desenvolvia a misteriosa roubalheira que tinha agente no lugar Cachoeira”. (O NORTE,13/06/1909, p.1).

Antiga estação de Cachoeira Guedes onde ocorreram os furtos narrados a cima em 1909.

         O mesmo jornal relatou ainda que se o Superintendente da Great Western, à exemplo do prefeito da cidade de Guarabira, tomasse em consideração os altos interesse dos habitantes daquela cidade, de certo, a bem da moralidade e da higiene, “já teria tomado em consideração as repetidas reclamações dos habitantes de Guarabira ordenando a reforma do pardieiro imundo que existe com o nome da ‘Estação’, proporcionando-lhes os comodos necessários e obstando a fedentina insuportável de couros e bagagens na plataforma ou gare, onde,sem outro móvel, a não ser um banco indecente e ante-diluviano,permanecem de pé as familias imiscuidas com toda a sorte de gente, que se atropelam a cada instante”. (O NORTE, 06/07/1909, p.2).

         Eis os problemas existentes na estação ferroviária de Guarabira que pareciam ser ignorados pela GWBR.

Estação de Guarabira.


AS PÉSSIMAS CONDIÇÕES HIGIÊNICAS DA ESTAÇÃO DE JOÃO PESSOA EM 1916

 

         Conforme publicado no jornal O Norte em 27/08/1916 a estação ferroviária da capital paraibana fazia vergonha e continua sendo uma afronta á população “o nojento pardieiro que os ingleses colocaram na praça Alvaro Machado,servindo de estação de seus trens”.

         Ainda segundo o referido jornal a população que precisava se deslocar até a estação da Cidade da Paraiba não tinham no imundo edificio uma cadeira ou um banco se quer onde se pudesse sentar, sendo que os que la existiam eram tão sujos que “faz asco até a pessoa se aproximar deles”.

Não havia uma escarradeira onde se pudesse cuspir.O ladrilho era repugnante, sendo tão grande a imundicie que o público não podia distinguir de que tijolo eleera feito.As paredes que haviam sido pintadas há 12 anos, ou seja, em 1894, estavam aquele ano de 1916 em situação vergonhosa,de acordo com o citado jornal.

O mictório então representava um foco de miasmas.Mal construido, sem uma qualidade higiênica e que nunca era desifectado “desprende um odor irritante e doentio”.Era triste  o estado em que se encontrava a estação da GWBR em João Pessoa.

”O viajante que aqui chegar tem logo uma impressão desgraçada da cidade.Salta de um trem infecto, com estômago estagado,pisa numa calçada imunda, posta ali a um título de <gare> e tem que atravessar uma arapuca que tresanda sujice de todos os lados, com um lenço ao nariz e ainda assim arriscado a infeccionar-se.Esse cidadão que vem visitar a Parahyba, somente vai melhorar de situação quando fora do circulo horrivelmente repugnante da poderosa e arbitrária companhia dos ingleses”. (O NORTE,27/08/1916, p.1).

Parece que o rigor pela pontualidade dos ingleses não era proporcional ao asseio e a higiene como se vê cima já que era uma grande empresa britânica que mantinha a concessão ferroviária em terras paraibanas.


Aspectos da antiga estação de João Pessoa.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A CHEGADA DO PRIMEIRO AUTOMÓVEL EM MACAU

 

         Em 15/04/1918 foi inaugurado um percurso de 25 km da estrada de rodagem que ligava as cidades de Assu a Macau e cuja extensão total era de 45 km, tendo chegado nesse dia o primeiro automóvel a Macau, pertencente a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS ( atual DNOCS), dirigido pelo mecânico Estanislau de Carvalho, tendo sido recebido festivamente pela população da referida cidade.

      De acordo com a revista Autopropulsão a referida estrada de difícil construção estava sendo executada pela IFOCS sob a direção do engenheiro Manoel Victor da Fonseca Galvão. (AUTOPROPULSÃO, RJ, 01/06/1918, p.14).

Devido a inauguração da importante estrada de rodagem ligando as cidades de Macau e Assu, um grupo de pessoas da elite macauense resolveu fazer no dia 14/04/1918 uma excursão em toda longa estrada num possante automóvel do afamado fabricante Saurer, devidamente aparelhado e dirigido pelo mecânico Estanislau de Carvalho.

Ao regressar os excursionistas, ficaram satisfeitos pelas belas impressões que tiveram, tendo o coronel Gato, administrador da referida estrada, oferecido um lauto lanche a todos os excursionistas, tendo nessas ocasião o coronel Simeão de Góes brindado a administração das estradas de rodagem no nordeste do Brasil.


Imagens da intenet.

Recorte da revista Autopropulsão dando ciência da inauguração da estrada de rodagem e da chegada do primeiro automovel em Macau.Fonte:Autopropulsão, 1918, p.14.

          As imagens  a cima mostram caminhões da marca Saurer do inicio do século XX.Como se tratava de uma construção de estrada de rodagem possivelmente o primeiro automóvel visto em Macau em 1918 tenha sido do modelo visto a cima, dado que o mecânico Estanilau de Carvalho estava a serviço da IFOCS e deveria está utilizando o automóvel no transporte de materiais para a referida estrada de rodagem.

Estanilau de Carvalho

        O mecânico-motorista (e aventureiro) Estanislau de Carvalho partiu a bordo do paquete  Bahia no dia 05/10/1917 do Rio de Janeiro para o Rio Grande do Norte, tendo sido nomeado para as obras contra as secas no nordeste.

      Moço viajado, de grandes conhecimentos automobilísticos desde 1907, prestaria grandes serviços a importante comissão que iria desempenhar em Macau a construção da estrada de rodagem ligando aquela cidade a Assu. (AUTOPROPULSÃO, 01/11/1917, p.6).

         Ele permaneceu em terras potiguares por dois anos, até que pelo vapor Itaberá chegou ao Rio de Janeiro regressando de Macau onde durante os dois anos que lá passou teve ocasião de exercer a sua atividade na Inspetoria de Obras Contra as Secas, conquistando gerais simpatias não só na repartição a cima citada como também entre os macauenses, que deveras apreciaram as suas qualidades e méritos profissionais. (AUTOPROPULSÃO, 1919, p.15).

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

HISTÓRICO DA FERROVIA EM LAJES


                 Lajes é um município da Região Central do Rio Grande do Norte distantes cerca de 150 km de Natal. Sua história tem um divisor de antes e depois com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN, em 1914, posto que antes dessa data figurava como distrito do município de Jardim de Angicos e naquele mesmo ano a sede municipal fora transferida para Lajes.

         Eis a seguir um apanhado histórico dos principais fatos que dizem respeito a chegada da estrada de ferro no território do município de Lajes.



A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte trouxe ao município um grande desenvolvimento: ali existiam a Estação de Lajes no km 148,551, a estação de Pedra Preta, no km 123,922, a parada de São Pedro, no km 118, e a estação de Jardim, no Cardoso, no km 107,200.

         O Decreto nº 10.329, de 09 de julho de 1913 havia aprovado os estudos definitivos dos primeiros 20 km do trecho compreendido entre Lajes e Caicó da EFCRGN, e bem assim o orçamento no valor de 2.761:985$493. (RELATÓRIO DO MINISTERIO DA VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS, RJ, 1913, p.438)[1].

         Até aquele ano de 1913 haviam sido construídos 24,750 km entre Pedra Preta e Lajes e entre Lajes em direção a Caicó 44 km. A extensão entre Pedra Preta e Lajes foi incorporada ao tráfego em 14/11/1914, tendo sido construída segundo os contratos autorizados pelos decretos nº 7.074 de agosto de 1908  e 7.186 de 19 de setembro de 1908, os quais concediam o arrendamento da ECRGN a empresa do engenheiro mineiro João Proença.

         Em 1914 foram realizados diversos serviços os quais foram fiscalizados e medidos pelo Governo Federal, tendo a quantidade de valores apurados reunidos aos da parte que chegava até Lajes. Os trabalhos e obras realizadas representavam o conjunto dos dois trechos, na extensão total de 43,360 km.

Modificação do traçado

         O traçado original da EFCRGN de 1904 previa a linha tronco partindo de Natal passando pelo vale do rio Ceará-Mirim atingindo o sertão do estado em direção ao Seridó. Esse traçado incluía as seguintes localidades: Estremoz, Ceará-Mirim, Taipu, Baixa Verde, Jardim de Angicos, Pedra Preta, Lajes, Angicos, São Rafael, Jucurutu e Caicó.

         No entanto, em virtude do decreto nº 9.172, de 04 de dezembro de 1911 foi aprovado pelo Governo Federal a revisão do contrato com a Companhia de Viação e Construções, que era a empresa que havia arredado a EFCRGN e autorizou a modificação do traçado da linha para Caicó passando por Angicos, a partir de Lajes, que foi abandonado, já em adiantada construção de 46 km.

         O novo traçado partia de Lajes em direção sul para transpor os contrafortes da Serra da Borborema passando por Currais Novos para alcançar a Caicó.

         Em 09/07/1913, pelo decreto nº 10.329 foram aprovados os primeiros 20 km desse novo traçado a partir de Lajes, e, em 10/09/1913, pelo decreto nº 10.437 foram aprovados mais 43, 695 km.Em 03/12/1913 foi expedida a primeira ordem de serviço para atacar os trabalhos nos primeiros 10 km, mas esses serviços só começaram a ter alguma intensidade em janeiro de 1914.

         Naquele ano foram concluídos nesses 10 km as alvenarias de todas as obras de arte e quase terminado o movimento de terra, a exceção de alguns aterros muito extensos, cuja construção só era possível por meio de trem de lastro devido a formação rochosa do terreno que muito dificultava a abertura do solo.Foram concluídos ainda alguns cortes grandes, abertos em rocha compacta.

         Em mais de 16 km foram realizados serviços de terraplenagem que prosseguiram com intensidade e já era considerável o número de obras de arte concluídas ou em vias de conclusão.

         O Relatório do Ministério da Viação e Obras Públicas considerou estranho o custo elevado que no decorrer das medições verificadas nesse trecho ultrapassaram consideravelmente o orçamento aprovado. (RMVOP, 1913,p.86).

         Até 31/12/1914 o governo tinha despedido com a construção da linha Lajes a Caicó o valor de 2.016:783$987 assim distribuídos:

Estudos definitivos

50:240$000

Trabalhos preparatórios

18:940$668

Movimento de terras e transportes

519:709$100

Obras de arte

1.418:894$219

Edifícios (casa de mestre de linha e de turma)

9:000$000

 

         O decreto nº 10.795, de 04 de março de 1914 aprovou o projeto e orçamento, no valor de 185:800$879, para a construção de um viaduto metálico na travessia da grota, entre as estacas  853 e 893, da primeira seção de Lajes a Caicó, em substituição a uma parte de aterro e ao pontilhão projetado para o referido local.  (RMVOP, 1914, p.403).

         Já o decreto nº 10.872, de 29 de abri de 1914, aprovou os estudos definitivos e o orçamento, no valor de 1.428:517$318, dos primeiros 20 km, a partir de Lajes, do ramal de Macau. (RMVOP, 1914, p.403).

         O decreto nº 11.235, de 21 de outubro de 1914, aprovou os estudos definitivos e orçamento, no valor de 1.003:806$916, do trecho compreendido entre os km 20 e 37, a partir de Lajes, do ramal de Macau. (MVOP, 1914, p.407).

De acordo com o Jornal do Comércio de Manaus, em 16/08/1914 ativaram-se os trabalhos de construção da EFCRGN onde se esperava que dentro de 3 anos fosse vencido o trecho entre Lajes e Currais Novos. (JORNAL DO COMÉRCIO, AM, 16/08/1914, p.1).

Ainda segundo o referido jornal haviam 1.700 trabalhadores localizados nesse trecho e duas perfuratrizes em plena atividade, cogitando a Companhia de Viação e Construções aumentar o número de operários e continuar a prover a construção da estrada do material necessário à uma maior produção.

Estava também atacado em cerca de 4 km o ramal de Macau, que dadas as condições topográficas do trecho a ser construído, viesse a ser finalizado dentro de 2 anos.Os serviços de construção do trecho entre Lajes e Currais Novos e do Ramal de Macau tiveram inicio sob a direção do engenheiro Otávio Sena.

Em 1915 a ECRGN continuava a manter em tráfego a extensão de 144,308 km, estando em construção 65 km, sendo 38 km de Lajes a Caicó e 27 km de Lajes a Macau.

         O decreto nº 11.514, de 04 de março de 1915 havia aprovado o projeto e orçamento no valor de 374:158$539, para a construção da estação de Lajes e suas dependências. (RMVOP, 1915, p.395).

         O decreto nº 11.737, de 06 de outubro de 1915 aprovou o projeto e orçamento no valor de 84:295$404, de uma barragem de terra com núcleo central de alvenaria em substituição do aterro e ponte projetados para AA travessia do riacho Casinha, no trecho de Lajes a Caicó. (RMVOP, 1915, p.397).

         O decreto nº 12.115, de 28 de junho de 1916 foi aprovado o projeto e orçamento no valor de 72:811$956, de uma variante entre as estacas 1428+10 e 1523+14 do traçado aprovado do trecho de Lajes a Caicó. (RMVOP, 1916, p.491).

Pelo decreto nº 12.239, de 19 de outubro de 1916 foi aprovado o projeto de um viaduto entre as estacas 863+19 e 872+19 da linha de Lajes a Caicó e o respectivo orçamento no valor de 285:403$495. (RMVOP, 1916, p.493).

         O decreto 12.233, de 11 de outubro de 1916 foi aprovado novo projeto para a estação de Lajes e o respectivo orçamento no valor de 55:303$684.

         De acordo com o Jornal do Comércio, o governador Ferreira Chaves esteve em Lajes onde visitou os serviços da construção da EFCRGN. (JORNAL DO COMÉRCIO, 05/08/1916, p.1).

         Em 1917 estava em construção 52.000,00 metros na linha tronco a partir de Lajes a Caicó e 94.391,64 metros no ramal de Macau.

         Naquele ano de 1917 no trecho de 52 km em construção da linha entre Lajes e Caicó, cuja construção foi iniciada em 1913, ainda não havia sido inaugurada a 1ª estação já denominada Recanto e situada a 26 km de Lajes e não se podia prever a abertura do tráfego nesse trecho devido ao pequeno número de pessoal em serviço e da falta de vigas para pontes de 10, 15, 20 e 25 metros de vão e do atraso das obras dos viadutos das estacas 864+10 a 872+10 e 1161+10 a 1168.

         Nesse trecho, em 1917 foram executados serviços no valor de 1.216:917$481, subindo o valor dos trabalhos a 7.345:734$653 em 31/12/1917. (RMVOP, 1917, p.141).

         Em 1918 era considerável o atraso dos trabalhos da construção do trecho entre Lajes e Caicó, iniciadas em 1913. A inauguração da estação de Recanto, primeira a inaugurar no prolongamento, dependia da construção de dois viadutos de 150 metros e da conclusão de diversos aterros. (RMVOP, 1918, p.130).

         Em 1919 o trecho de 51 km de Lajes a Caicó não prosseguiu regularmente a construção, estando a ponta da linha ainda no mesmo sitio no km 4 em que ficou nos anos anteriores, já as superestruturas metálicas ainda não haviam sido importadas e havia falta absoluta de dormentes.O custo total dos trabalhos até 31/12/1919 atingiu a soma de 9.245:128$435. (RMVOP, 1919, p.482).

A rescisão do contrato de arrendamento da EFCRGN

         A Companhia de Viação e Construções havia conseguido do Governo Federal em 1908 o arrendamento dos primeiros 55 km da linha tronco da EFCRGN já construída pelo Governo Federal, da margem esquerda do rio Potengi a Taipu, incumbindo-se de construir por empreitada uma grande estrada de ferro de penetração que partindo de Taipu passando por Caicó, atingisse Milagres, no Ceará.

         Passados 10 anos, em 1918, mais de atritos com as autoridades da fiscalização do contrato do que de um regular trabalho de construção, a companhia empreiteira não havia logrado abrir ao tráfego a estação de Lajes a 90 km de Taipu, última estação construída pelo Governo Federal antes do arrendamento.

         A revisão do primitivo contrato feita em 18/12/1911, foi com certeza a causa principal das dificuldades na execução do trabalho projetado, nessa revisão, depois de alterar o primitivo traçado para se lançar a linha contra a escarpada serra da Borborema, que é um maciço de rocha a flor do solo, no qual exigiram-se condições especais de rampas e de curvas, absolutamente injustificáveis num Estado acidentado e de modestas probabilidades econômicas.

As dificuldades para aprovação dos estudos e expedição de ordens de trabalho chegaram a tal ponto que ambas as partes, governo e companhia empreiteira, se convenceram da necessidade de um acordo para revisão ou rescisão do contrato.

         O tráfego não passava de Lajes e já se haviam gastos 36.235$307$623, custo de edificações grandiosas na EFCRGN.

         Pelos orçamentos feitos, a linha de Lajes a Mialgres-CE não custaria menos de 61.000.000$,soma avultada deque grande parte se empregaria nos cortes em rocha da serra da Borborema, na qual o quilometro de linha ficaria  por  398304$064,aos preços unitários de cimento e de ferro naquela época anterior a guerra.   durante meses a Inspetoria Federal das Estradas, fez um grande esforço para se chegar a um acordo baseado em compensações dadas no aumento da empreitada,levando-se a linha até as margens do rio São Francisco. (RMVOP, 1920,, p.27-28).

         Foi então que em 1921 o Governo Federal rescindiu o contrato de arrendamento com a Companhia de Viação e Construções, voltando a EFCRGN a jurisdição da União.

        Ficou resolvido que o prolongamento da EFCRGN para Caicó seria feita pelo vale do Assu, de acordo com o primitivo traçado, abandonando a ideia de galgar e descer a serra da Borborema, em cujas encostas pedregosas a construção de uma ferrovia exigiam gastos exorbitantes.

        As obras que já haviam sido realizadas como os tuneis, rampas, viadutos e demais obras de artes ficaram abandonadas e até hoje podem ser vistas por quem pratica esportes de aventura.O prédio que seria a estação de Recanto é atualmente uma igreja





Obras abandonadas do treho entre Lajes e Recanto.

         Em 1924 no trecho de 45 km entre Lajes e Angicos estava com o leito pronto e 28 km de obras de arte corrente e especiais já haviam sido concluídas.O orçamento para terminá-lo era de 2.100:000$000.

Em 1927 nenhuma despesa se fez na construção por ter sido os trabalhos paralisados ficando nesse estado de coisas até 1932 quando foi retomada a construção e concluído o trecho entre Lajes e Angicos.

No ramal de Macau a estação de Epitácio Pessoa (atual Pedro Avelino) havia sido inaugurada em 08/01/1922 e ali ficaram parados os trabalhos do ramal.

A estação

         De acordo com o jornal Correio da Manhã em 02/07/1914 o ministro da viação recomendou à Inspetoria Federal das Estradas que providenciasse no sentido de ser remetida à secretaria de Estado o orçamento complementar, correspondente ao aumento de 2,5m no raio da rotunda projetada para a estação de Lajes, pela Companhia de Viação e Construções, visto não ter sido indicado por aquela repartição o acréscimo correspondente no dito orçamento. (CORREIO DA MANHÃ, 02/07/1914, p.2).

         O referido jornal registrou dois anos mais tarde que ao inspetor federal das estradas, o ministro da viação havia comunicado que deixaria de aprovar as modificações propostas no projeto da estação de Lajes EFCRGN, por não obedecer aos requisitos determinados por aquela inspetoria (CORREIO DA MANHÃ, 26/06/1916, p.1).

         No tocante a inauguração da estação o jornal O Paíz registrou em 23/07/1914: “NATAL, 22. Foi inaugurada a estação de Lajes, na Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, a 150 kilometros de Natal”. (O PAÍZ[2], 23/07/1914, p.5). Portanto, a estação ferroviária de Lajes foi inaugura em 22/07/1914 conforme o exposto a cima.

Entretanto, de acordo com o jornal A Noite em 04/03/1915 foi aprovado o projeto e orçamento no valor de 384:158$530 para a construção da estação de Lajes e suas dependências. (A NOITE, 04/03/1915, p.3). À Inspetoria Federal das Estradas foram enviadas as cópias dos orçamentos aprovados para as obras a serem executadas na estação ferroviária de Lajes. (O IMPARCIAL, 20/06/1915, p.6).

O jornal O Paíz registrou no ano de 1915 que fora aprovado o projeto para a construção da estação de Lajes e suas dependências, na EFCRGN, e bem assim o respectivo orçamento, no valor total de 384:158$538, sendo: 83:250$722 do edifício da estação, 84:250$206 do armazém de mercadorias, 160:854$246 de um depósito de locomotivas; 45:670$072 de um abrigo para carros e 10:131$203 de uma carvoeira. (O PAÍZ, 08/1915, p.1).

Ao inspetor de estradas o ministro da viação dirigiu um aviso no qual fora autorizado aquele inspetor a entrar em acordo com a Companhia de Viação e Construções para que o edifício da estação de Lajes, na EFCRGN, fosse construíoa dentro dos limites do orçamento aprovado pelo decreto nº 11.514, de 04 de março de 1915, e a mandar que a mesma companhia aguardasse oportunidade para a construção das dependências de que tratava o referido decreto.

         Também mandou providenciar a execução dos estudos necessários à solução do problema de abastecimento de água da referida estação para que o ministério pudesse resolver definitivamente sobre a conveniência de autorizar a construção das dependências da mesma estação. (O PAIZ, 03/12/1915, p.2).

         No ano seguinte o ministro da viação não havia aprovado projeto e o orçamento das modificações a serem feitas na estação de Lajes, e recomendou providencias  ao inspetor de estradas para que fossem feitos novo projeto e orçamento de acordo com os requisitos indicados pelo ministério de viação. (O PAIZ, 25/06/1916, p.2).

         Tratava-se do parque ferroviário que seria construído em Lajes para ajusta-se ao serviço de tráfico tanto da linha tronco (Natal a Caicó) como do ramal de Macau.Ocorreu, pois que tais construções não foram se quer construídas como foio caso da rotunda.A estação de Lajes entretanto, difere das demais estações da EFCRGN pelo seu tamanho e finalidade posto que atendia a linha tronco e ao ramal de Macau.

A estação de Lajes em 1996.

A estação de Lajes em 2012

A estação de Lajes em 2019.


         A estação foi desativada em 1998 quando os trens deixaram de circular pelo ramal de Macau com o transporte de sal, desde então até 2012 ficou em estado de abandono até ser assumida pela prefeitura. Após uma reforma realizada em 2018 o prédio da estação ferroviária de Lajes passou a abrigar um museu e biblioteca, além de servir para eventos culturais daquela cidade.

Sobre o município

O território que atualmente constitui o município de Lajes vinha sendo explorado desde o começo do século 18, porque por ali passavam as estradas que seguiam o curso do Rio Ceará-mirim, em direção do Rio Salgado e das Ribeiras do Assu e do Apodi, rumo ao Oeste, e, pelo curso das águas do Assu-Alto, ou Piranhas, acima, procurando a Ribeira do Seridó.

Entretanto, logo depois da implantação do regime republicano, deu-se a criação do município de Jardim de Angicos, pelo decreto n° 55 de 4 outubro de 1890, sendo desmembrado de Angicos o território que constituía os distritos policiais de Jardim e Bonfim e compreendendo também a região de Lajes.O município foi instalado solenemente no dia 22/11/1890.

 Jardim de Angicos, para distinguir-se de Jardim do Seridó, foi elevada á condição de villa e sede do novo município, em virtude do decreto de criação. Era distrito judiciário da comarca de Ceará-Mirim; fez parte da comarca de Angicos, criada pelo decreto n. 63 de 30 de outubro de 1890, da de Macau (decreto n. 81 de 22 de novembro 1890), da de Ceará-mirim, novamente (lei estadual n- 248 de 26 fevereiro 1907) e da de Santa Cruz, (lei 272 de 23 de novembro de 1909) e finalmente, da do Ceará-Mirim, até 1927.

A povoação de Lajes, devido á aproximação dos serviços da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, tomou grande incremento e a sede do município foi para ali mudada pela lei nº 160 de 25 de novembro 1914, que a elevou á categoria de Villa de Lajes, deixando, porém, á antiga sede o seu anterior predicamento.

Continuando a progredir incessantemente Lajes foi erigida em Cidade pela lei n. 572 de 3 de dezembro 1923 e, quatro anos mais tarde, foi criada a Comarca de Lages com o distrito de Angicos (lei n- 642 de 17 de Outubro de 1927) e depois com o de Baixa Verde (decreto do  Interventor Hercolino Cascardo, n. 154, de 24 outubro 1931)

A cidade de Lajes era, no começo do século XX, a fazenda de criação de Francisco Pedro Gomes de Mello e tinha sido fundada por José Antonio Xavier e seu irmão Francisco Padre. Ainda existe uma casa, sita á margem direita do Rio Ceará-mirim, a leste de Lages, e que conserva na fachada a data de 1825, como da sua construção.

Diz a tradição, porém, que o primeiro morador da localidade foi Manoel Fernandes, que se situou no lugar «Lajedo Grande», junto ao «Serrote do Cabaço», ao pé do rio Ceará-mirim, cerca de 1 km, ao sul da atual Cidade. Até 1906, Lajes era somente um ponto de descanso para os viajantes e não merecia outra referencia senão como terra excelente para criação de gados.

Mas, a resolução tomada pela Companhia de Viação e Construções de passar por esse lugar os trilhos da Estrada de Ferro Central, cujo projeto era pela fazenda «Pedra Vermelha», dois km ao norte, atraiu para Lajes, a velha fazenda de Francisco Pedro, as atenções de toda a gente e assim que os trabalhos da construção se aproximaram, Lajes tomou um extraordinário incremento, para logo ali se instalando casas de comércio e pequenas industrias, famílias e trabalhadores de variadas procedências, formando assim um aglomerado heterogêneo e interessante de alienígenas.

E esse desenvolvimento crescente determinou a mudança da sede do município para Lajes, a sua elevação á vila.

Em 1894, a capela de Lages foi erigida quando ali só existiam quatro casas e ficava ao leste da atual Cidade, á margem direita do Rio Ceará-mirim.

O município de Lajes é, portanto, originário do antigo município de Jardim de Angicos.

O município era constituído em 1922 de três distritos administrativos: o de Lajes — sede, e os de Jardim de Angicos e Pedra Preta, ambos administrados por subprefeitos, tendo as suas sedes a categoria de vila.além disso existiam os povoados como centros organizados de população, além de suas cidade e vilas, o município que eram os de Caiçara e São José.

Em 1922, a Cidade sofria as consequências da paralisação do prosseguimento das obras da EFCRGN, em demanda do seu ponto de destino.

Constava naquele ano de 1922 de 4 praças, 15 ruas e 4 travessas, cerca de 600 casas e 2.500 habitantes. Possuía Mercado público, prédio da Prefeitura Municipal, (construída em 1924), o Grupo Escolar Pedro II (edificado de 1922 a 1927, por iniciativa da Intendência e auxilio do povo e do Governo do Estado),a Matriz de N. S. da Conceição, (erigida de 1915 a 1934), a grande Estação da Estrada de Ferro Central, (edificada em 1918), o Edifício de Correios e Telégrafos, foi construído em 1933 e muitos prédios de comercio e residências particulares, que tem agradável aspecto.

Tinha Telégrafo e Correio Geral, além do da EFCRGN, e agências de rendas federais e estaduais. Eram arborizadas a ficus benjamim as principais praças e ruas. Tinha luz elétrica, com usina própria, inaugurada a 10/10/1924.

Realizava-se aos sábados uma grande feira de produtos agrícolas e de criações, atraindo feirante de grandes distâncias. A feira de Lajes era a mais afamada e concorrida do Estado. Era o entreposto comercial de todas as localidades do interior, porque ali chegavam as estradas de Macau, Asu e Mossoró, e até do Seridó, para o comércio dos produtos vindos pela Estrada de Ferro e por seus comboios enviados para a Capital e outras praças do país.

Pelo recenseamento de 1920, o primeiro feito após a transferência da sede municipal de Jardim de Angicos para Lajes, a população da vila de Lajes era de 10.865 habitantes.

O município estava servido pela Estrada de Ferro Central do Rio  Grande  do Norte, que tinha, nele, três estações: a da vila, inaugurada a 14/07/1914, e as de Jardim e de Pedra Preta, ambas inauguradas no dia 14/11/1913, e uma parada, no lugar São Pedro, inaugurada a 02/03/1932.

De Lajes partia o ramal de Macau, passando por Epitácio Pessoa (atual Pedro Avelino), num percurso de 27 km, Carapebas (atual Afonso Bezerra) e finalmente Macau.

Pela EFCRGN o percurso de Lajes a Natal era de 149 km, feito em 8 horas, e ás cidades próximas de Baixa Verde e Angicos, respectivamente, de 60 e 45 km.

Lajes foi sede de uma comarca de 1 entrância criada pela lei n.° 642, de 17 de outubro de 1927.

Tem 1922 tinha 2 Escolas Rudimentares, 1 Escola Municipal e 2 Escolas particulares todas de ensino primário.

Da década de 1930 tem-se a construção do prédio dos Correios e Telégrafos, ocorreu em 1932, pelo Governo Federal, a do açougue público, em 1933, e do almoxarifado, em 1936, pela Prefeitura, além dos trabalhos comuns indispensáveis em qualquer cidade. Apesar de muito bem situada, com um clima agradabilíssimo e boa gente, a cidade achava-se, evidentemente, em decadência, que se vinha acentuando desde que prosseguiram os trilhos da EFCRGN.

Existia  no município, um pequeno açude público  que foi construído, havia anos pela Estrada de Ferro Central, para seu serviço, a 3 km da cidade, conhecido pelo nome de '‘Gavião” ,

 O ministro da viação autorizou também a construção do açude Lajinha, no município de Lajes e o abastecimento de água à população, recomendando ainda ao diretor da EFCRGN que a distribuição de água fosse feita gratuitamente. (DIÁRIO DA NOITE, 22/04/1932, p.9).

Adentrado a década de 1940, haviam em Lajes 3.116 prédios, estando 551 localizados na cidade (380 no quadro urbano e 171 no suburbano); 64 na vila de Jardim de Angicos — 42 e 22 nos dois referidos quadros; 77 na vila de Pedra Preta, sendo 40 na área urbana e 37 na suburbana, e 2.424 nas zonas rurais dos três distritos, ou seja, 1.343, 488 e 593, respectivamente.

O Banco do Rio Grande do Norte e a Agência do Banco do Povo, na capital mantinham correspondentes em Lajes.

 A pesar de servida por estrada de ferro, na década de 1940 era diminuto o comércio de Lajes, que já havia sido, entretanto, muito desenvolvido. Isto, ao tempo em que a cidade era ponto terminal da Estrada de Ferro Central.

No ano de 1942 o comércio era exclusivamente a varejo, havendo apenas, fora disso, compradores de algodão e peles, principalmente, para revenda, ora do município.

Também ocorriam bons negócios de gado em pé, sendo Lajes um dos municípios que supria a capital com reses para corte.

Na indústria, a principal atividade era a de beneficiamento de algodão, para o que funcionavam regularmente no município 2 usinas e 3 descaroçadores e o fabrico de cal com o aproveitamento de pedras calcárias do município (CÃMARA, 1942, p.166)

No tocante ao urbanismo, entre praças, ruas, avenidas e travessas, existiam em de Lajes 24 logradouros públicos.

A cidade era iluminada á luz elétrica, desde 09/10/1934, pertencendo á Prefeitura Municipal a usina, cujo motor era de 28 H. P., que também fornecia iluminação domiciliária. Por algum tempo a luz pública esteve interrompida, sendo, porém, restaurada a 06/08/1939, depois de ter a usina passado por melhoramentos, com a aquisição de um alternador, postes de cimento armado, etc.

A população local lutava com serias dificuldades quanto ao abastecimento d’água, que era conduzida, quase durante todo o ano, da lagoa de Estremoz, no município de Ceará-Mirim, em carros tanques da EFCRGN, numa distância de 127 km. Não ha nenhum serviço de assistência médico-social, nem público nem particular.

 

 __________

Referências

 DANTAS, Manoel. Denominação dos Municípios (RIO GRANDE DO NORTE. Natal: Empresa Tipográfica Natalense, 1922, p.15.

LIMA, Nestor. Municípios do Rio Grande do Norte. 2º Volume – F, G, J, L e M. (Separata autorizada da Revista do Instituto Histórico). Natal: Tipografia Santo Antonio, 1942.

Os jornais citados nesta postagem estão no corpo do texto.



[1] Doravante sempre que citado esse documento se fará pela sigla RMVOP seguido do ano correspondente.

[2] Optamos por deixar a grafia conforme o original por se tratar de um periódico extinto e histórico.do referido jornal conforme o original.