domingo, 26 de setembro de 2021

SOBRE A ADUTORA DO MATO GRANDE


         Prestes a completar 40 anos de sua inauguração em 2022 é sempre bom fazer a memória dessa que foi uma das maiores obras de alcance social no século XX na Região do Mato Grande.

         Em 1981 foi aberta a concorrência para a aquisição do material destinado a instalação da adutora do Mato Grande com captação de água na fonte de Pureza.

         Segundo o governador Lavoisier Maia naquele ano já estava assegurado no orçamento do BNH recursos no valor de 400 milhões de cruzeiros. (DIÁRIO DE NATAL, 02/07/1981, p.1).

         A adutora do Mato Grande deveria resolver o mais grave problema que durante muito tempo enfrentava as populações de João Câmara, Taipu e Poço Branco.

         O sistema integrado de abastecimento de água dos municípios de João Câmara, Taipu e Poço Branco ficou pronto em 1982, o qual trouxe benefícios imediatos para mais de 25 mil habitantes entre os três municípios, dos quais 75% estavam concentrados na cidade de João Câmara, apontada já a época como centro de desenvolvimento da região do Mato Grande.

O sistema tem capacidade de vazão de 300 litros de água por segundo, sendo que a  demanda das três cidades a época era de 144 litros por segundo.

         O investimento global da obra foi da ordem de 1,6 bilhões de cruzeiros tendo o projeto o objetivo de atender a uma população final de 50 mil habitantes. (DIÁRIO DE NATAL, 15/03/1983, p.15).

         O sistema integrado de abastecimento de água do Mato Grande foi construído constando de um conjunto de adutoras que somadas possuem 50 km extensão, com diâmetros variando entre 150 mm e 400 mm.Também fazem parte do sistema 3 estações elevatórias, uma com vaza de 260 m³/h, outra com 204 m³/h e a terceira com 43 m³/h todas equipadas com um conjunto de eletrobombas.

         O sistema tem ainda 4 reservatórios, sendo 2 em João Câmara, uma com capacidade para 3,2m³ e outro para 150 m³, 1 em Poço Branco, com capacidade para 350m³ e o de Taipu com capacidade para 400 m³. O primeiro reservatório concluído foi o de Poço Branco, os dois que ficam em João Câmara foram o segundo e o terceiro a ser construído, respectivamente,  o quarto reservatório construído foi o de Taipu e mais um em Poço Branco seria o quinto a ser construído.

         A rede de distribuição tem 37.998 metros de extensão, dos quais 26.640 em João Câmara, 5.858 em Taipu e 3.500 em Poço Branco.

A Região do Mato Grande teve desde sempre a falta de acesso a água um dos seus principais problemas sociais, sendo a adutora um antigo anseio da população dos municípios que foram por ela beneficiados.

         Por longos anos o abastecimento de água de João Câmara, Taipu e Poço Branco dependeu de idas e vindas dos precários carros-pipas, que eram por vezes saudados com euforia pela população com suas chegadas e até mesmo os bucólicos burrinhos com suas barricas d’água serviam como meio de transporte do liquido precioso.

         Quem passa pela BR-406 talvez nem se dê conta da tubulação aparente em suas margens e nem reflita sobre esta obra que foi sem dúvida a redenção de mais 50 mil pessoas entre os municípios de Taipu, Poço Branco e João Câmara.



Fotos: Diário de Natal, 1982.


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

SOBRE OBRAS NA MATRIZ DE CEARÁ-MIRIM EM 1892


         De acordo com o jornal O Nortista achava-se em trabalho no serviço da capela-mor da matriz de Ceará-Mirim, o pintor e dourador Manoel Adolfo d silva Ramos, que a convite do vigário da freguesia foi até a cidade de Ceará-Mirim e com o vigário empreitou algumas obras na referida igreja sob orientação dada pelo engenheiro David Wiliams, por 4 contos de réis, cujos serviços a fazer constavam do seguinte  (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3):

         Douramento da capela-mor com todos os frisos dourados amordente fusco, branco a verniz a imitação de porcelana, começando do teto frisos dourados, como frisos azuis celeste – o centro do forro branco fingindo a estuque e nele a efígie da Padroeira  Nossa Senhora da Conceição pintada sobre zinco.

         Descendo a cornija, fingindo mármore roxo quase branco, acompanhando todas as tribunas, travessas e arco-mor da mesma cor, sendo os pedestais em mármore escuro, secundando outra vez de cima uma sanefa debaixo da cornija ultramarino ou fingindo damasco amarelo de Nanquim cor de ouro, sendo o centro roxo rei claro, chegando até as barras paralelas que seriam de quadros vivos, fingindo a mármore de diversas cores preso a uns cordéis, e os vidros das tribunas fingindo mosaico e os de entre os nichos da mesma capela-mor do lado dos caixilhos bordado a pincel, os da frente branco limpo, dos lados do nicho do centro quatro anjos em adoração à Custódia, sendo dois de cada lado. Pintura a óleo fino. As portas e tribunas de verde-azul ultramarino, quase branco. Grades de ferro com douramento para as tribunas e arco-mor da mesma capela e nesta ladrilho de tijolo mosaico fino.

         Segundo o mesmo jornal o vigário de Ceará-Mirim, Pe. Antonio Antunes de Oliveira e o tenente-coronel José Antunes de Oliveira estavam empenhados pelo fim das obras da matriz e seu aformoseamento, onde os mesmos fizeram as torres e o frontispício da igreja, sendo as torres descritas pelo mesmo jornal como “elegantes e salientes de que avistadas ao longe  a tudo sobressaem”, e continuavam com gosto no trabalho da frente mesma matriz. (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

         Ainda de acordo com o jornal citado o vigário trabalhava como empenho, zelo e eficácia, para ver concluído todo o trabalho da matriz, para o que já não só havia saído a pedir auxílios aos senhores de engenho da cidade de Ceará-Mirim e de Maxaranguape, dos quais recebeu assinaturas e espórtulas que chegaram a mais de 3:000$000 de réis; além disso estava elevando sua voz  na tribuna sagrada chamando a todos os seus paroquianos para concorrerem com suas esmolas e mostrando-lhes o dever que haviam de cooperarem para o sagrado fim, e para que chegassem ao conhecimento de todos, este dever e o seu apelo (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

O autor do texto (que se assinou como ‘um paroquiano’) recorria a imprensa para que fosse publicado o plano do vigário na esperança que os paroquianos não se olvidassem o auxilio necessário para aquela obra a qual "enobreceria a Religião e que seria elevado ao  Trono de Deus onde se receberia a única e verdadeira recompensa". (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

          Ao longo do tempo a igreja matriz de Ceará-Mirim passou por inúmeras intervenções que pouca coisa ou quase nada mais remete a esta primeira obra de aformoseamento dessa igreja.

         Ainda em 1896 a matriz de Ceará-Mirim estava em inacabada, mas mesmo assim o bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, nela fez visita pastoral e em julho daquele mesmo ano, o referido bispo transferiu a matriz para a capela da povoação de Taipu permanecendo lá até agosto de 1897. 

            A matriz de Ceará-Mirim só foi finalmente concluída em 1900, tendo suas obras se iniciado em 1861, portanto, 49 anos.


Detalhe da fachada da igreja matriz de Ceará-Mirim


Aspecto da capela-mor da matriz de Ceará-Mirim

Aspecto de uma capela lateral da matriz de Ceará-Mirim


Detalhe de um púlpito lateral da matriz de Ceará-Mirim.

Detalhe do teto da matriz de Ceará-Mirim e seus afrescos

Aspectos internos da matriz de Ceará-Mirim.

Aspectos internos da matriz de Ceará-Mirim.

Detalhes das torres da igreja matriz de Ceará-Mirim.


Aspectos externos da matriz de Ceará-Mirim.