sábado, 29 de dezembro de 2018

MEMÓRIA DA BARRAGEM DE TAIPU



Apesar de o município de Poço Branco ter se emancipado de Taipu em 26/07/1963 para o Governo Federal a Barragem sobre o rio Ceará-Mirim continuava sendo de Taipu. Pelo menos é que transparece nessa reportagem publicada na revista Manchete em 1965.
Tratava-se da viagem de inspeção a barragem realizada pelo ministro Juarez Tavora.
Segundo o texto da referida revista:
      O ministro Juarez Távora acaba de visitar as obras de  uma das mais importantes barragens do Nordeste.Trinta anos após ser planejada, ela vem sendo finalmente construída ,sob o impulso do governo federal.É a barragem de Taipu localizada no fértil vale do Ceará-Mirim, região mais rica e promissora do Rio Grande do Norte.Quando concluída, Taipu [a barragem] irá controlar as cheias do Ceará-Mirim, e, acumulando 135 milhões de metros cúbicos de água, irrigará uma área de 10 mil hectares, na qual já funcionam três grandes usinas de açúcar.ali centenas de homens e maquinas trabalham sem cessar, para transformar  velhos sonhos potiguares em mais uma realidades do novo Nordeste.












Fonte: Revista manchete, n 704, 16/10/1965, p.101.

IMAGENS DA PONTE DE TAIPU DESTRUÍDA PELA ENCHENTE DE 1964


As imagens a seguir são uma relíquia histórica para a cidade de Taipu apesar de lembrar uma das maiores catástrofes já registradas na referida cidade.
Trata-se do rompimento do rompimento da barragem de Taipu em construção no então distrito de Poço Branco ocorrida na madrugada de 13/04/1964.O rompimento da barragem ocorreu devido ao alto volume de água que desceu das cabeceiras do rio Ceará-Mirim cuja a força não foi suportada pela estrutura da barragem ainda em construção.Ao se romper o dique da barragem foram jogados 22 milhões de metros cúbicos de água rio a baixo atingindo a cidade de Taipu destruindo  a ponte ferroviária no Umari e a ponte rodoviária no perímetro urbano da cidade de Taipu e deixando no rastro de destruição muitas famílias desabrigadas além dos prejuízos materiais da lavoura do vale do rio Ceará-Mirim.
As imagens foram publicadas na revista Manchete em 1964 dias depois do rompimento da barragem.Segundo a revista o drama do nordeste era paradoxal onde ao flagelo da seca se seguia o das enchentes quando chuvas torrenciais elevavam o nível dos rios e provocando o rompimento de grandes açudes,ocasionando enchentes catastróficas em vários estados, dentre eles no Rio Grande do Norte, com o rompimento da barragem de Taipu.










Fonte: revista Manchete, 23/05/1964.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A ESTAÇÃO SANTA CRUZ E A PARADA CABUGI


    Hoje publicamos mais imagens da memória ferroviária da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, trata-se da estação de Santa Cruz e da parada do Cabugi, ambas localizadas em Lajes.
Estação Santa Cruz
      A estação Santa Cruz era uma estação intermediária da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN inaugurada em 1932 no km 161 e localizada logo após a cidade de Lajes.
      A estação Santa Cruz servia também como residência do agente da estação, tendo para isso todas as acomodações necessárias de uma casa comum, além dos compartimentos destinados aos serviços ferroviários como a agência, telegrafa e armazém.
                                A estação Santa Cruz







Fonte: Eduardo Chaves,08/12/2018.

     A estação foi desativada na década de 1960 mas milagrosamente escapou de ser demolida.Atualmente serve de moradia a uma família do local.

A parada do Cabugi
      A para do Cabugi estava localizada no sopé do Pico do Cabugi entre os municípios de Lajes e Angicos. Essa não teve a mesma sorte da sua precedente Santa Cruz e foi demolida. No local é possível vê ainda as ruínas da plataforma da parada do Cabugi.
              Ruínas da plataforma da parada do Cabugi
Eduardo Chaves, 08/12/2018

       Entre as duas edificações pode ser vista em meio a vegetação as estruturas que eram chamadas de obras de artes pela engenharia ferroviária como pontes, pontilhões, viadutos etc. Na imagem a estrutura de um aponte ou pontilhão.
Estruturas ferroviária abandonadas em meio a caatinga


        Colaborou com as imagens Eduardo Chaves a quem somos grato.

sábado, 22 de dezembro de 2018

DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANGICOS EM 1881



Angicos é um município do Rio Grande do Norte situado na região central do estado a 171 km de distância de Natal.
Em 1881 foi enviado um oficio pelo diretor da Biblioteca Nacional solicitando informações a respeito da história, geografia e topografia dos municípios da então província do Rio Grande do Norte. Dos 11 municípios que responderam ao questionário estava Angicos.
A resposta ao diretor da Biblioteca Nacional foi enviada pela Câmara Municipal da Vila de São José dos Angicos em 02/05/1881.
O texto da descrição do município de Angicos foi publicado pelos Anais da Biblioteca Nacional em 1991  o qual transcrevemos a seguir tal e qual publicado pelos referidos Anais fazendo apenas a atualização da ortográfica gramatical.Ei-lo:

RESPOSTA AO QUESTIONÁRIO
PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE
COMARCA DE MACAU
DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANGICOS
Aspecto geral
        O aspecto visual é alegre, se bem que não seja nivelado; do lado norte se compõem de ariscos, cujas as terras tem a propriedade agrícola e pertencem ao Estado, assim como dos lados leste, oeste e sul é composto de pedregosos tabuleiros.
Serras
         Pico do Cabugi, o mais considerado da Província, por sua elevação, a Serra do Bonfim ou Fuzis e Serra Verde que são agrícolas; a Serra da Maniçoba, Serra de Santa Rosa e Serra do Lombo menos notáveis que fazem igualmente parte do Município.
Rios
        Com a denominação de rios que só contem águas durante a estação invernosa, tais são os chamados rio Pataxó, rio do Amargoso e rio do Ceará-Mirim, os quais nascendo nas quebradas das serras denominadas Santa Rosa atravessam o Municipio, isto é o primeiro vai desembocar no falado rio Assu, o segundo desemboca no Porto da Cidade de Macau e o terceiro no Porto denominado Praia de Genipabu.
        Quanto a lagoas nenhuma há digna de menção.
                     Antiga igreja matriz de Angicos
Fonte: A Ordem, 1937.

Salubridade
        O Município é geralmente salubre.
Minerais
        Os minerais mais usuais são: pedra de construção e barro de olaria, constando também que há ferro no Pico do Cabugi, assim como pedra calcária da melhor qualidade em abundância nos subúrbios desta Vila.
Madeiras
        Há diferentes espécies de madeiras de construção e marcenaria, que apesar de não serem consideradas de maior importância, todavia  tem serventia para os fins a cima mencionados.As principais são: carnaúba, aroeira, angico, comarú, jucá, caraúba, pereiro e imburana.
Frutas silvestres
        Caju, goiaba, pinha,maracujá, umari, pitomba, carnaúba e quixaba.Destas algumas cultivadas.
Animais silvestres
        Caititu,veado-garapú, preás, onças de diversas espécies, gato do mato e raposa.
        Quanto as aves encontam-se nos campos a ema, jacu,inhambu, papagaios, rebaçãs e periquitos, os quais prejudicam muito as lavouras.As aves cantoras são: o sabiá, canário, caraúna, corrupião  e galo de campina.
        As abelhas fornecem excelentes mel, tais são: jandaira, papaterra, canudo e o arapuá.A par deste insetos outros há, como a lagarta sempre prejucial as plantações.Nos denominados rios e açudes se pesca a curimatã, traira e outras espécies de peixe chamado de água doce.
História
        Esta Vila de São José dos Angicos foi primitivamente uma fazenda de criar gados pertencente ao abastado proprietário Tenente Antônio Lopes Viegas, cujo nome Angicos tirou de uma porção  de árvores do mesmo nome que naquele tempo  existia na circunferência  do Olho d’Água que se acha encravado no riacho denominado Olho d’Água pouco a baixo da mesma Vila.
        Observa-se que o referido Tenente Antônio Lopes Viegas casou-se em uma família denominada Costa Xavier sendo ele de outra família cuja ramificação era Dias Machado.Pelo  correr dos tempos,isto é, em 1813, lembrando-se um filho do sobredito Tenente Lopes, com mais famílias de edificar uma capela, consumaram-a em breves tempos, afim de celebrarem, quando necessários os ofícios divinos.
        Em 1816, achando-se no Rio de Janeiro, o Tenente Coronel de Araújo Furtado requereu em nome dos angicanos, ao ministro do Reino, naquela época,ser a mesma capela elevada a Freguesia paroquial,como ponto central, cuja suplica mandou o ministro, não só informar ao vigário da Freguesia do Assú, a que pertencia, como a respectiva Câmara, hoje Municipal, informando esta a favor de Angicos, e aquele por despeito a favor de Santana do Upanema, atualmente Vila do Triunfo.
        Com semelhantes informações seguiu para a Corte o fundador da capela Tenente Antônio Lopes Viegas Filho, que chegando ali, ficou infelizmente maníaco, encontrando o reverendo padre João Teotônio de Souza e Silva, quelhe disse procurar a freguesia para Angicos e vir nela colado, recebendo por isso os mesmos papéis.
        O ministro deferindo favoravelmente a súplica, colou ao referido padre João Teotônio trazendo a sua provisão a comissão de declarar a sede da matriz em um dos dois lugares qual deles fosse mais central, Angicos ou Santana, sem trazer a clausula do Upanema.
        Em 1824, chegando o mencionado vigário João Teotônio a Santana do Matos ( que não fez parte das informações) ai empenhos declarou a Sede da Freguesia, ficando a capela desta Vila filia aquela, assim como a de Guamaré.
        Pelo correr de 1834, o Conselho  de Província propôs ao Governo Geral a criação de 5 Vilas, e este aprovando ordenaou ao Presidente que então era finado Manoel Lobo de Miranda Henrique,de saudosa memória, a criação  das mesmas em Conselho de Governo, foi nesta ocasião elevada esta Povoação  a Vila, ainda assim como o voto de qualidade daquele distinto Presidente por que 3 Conselheiro votaram  para Santa do Matos e 2 para  Angicos,sendo nesta ocasião o sobredito Presidente Lobo orientado de todo o ocorrido pelo Conselheiro José Fernandes Carrilho, que unido ao Conselheiro finado capitão-mor André de Albuquerque Maranhão votaram para Angicos.
        Semelhante ato de justiça desafiou as iras do finado vigário João Teotônio de Sousa e Silva, que em virtude do Ato Adicional de 12 de agosto de 1834 foi ele eleito Membro da Assembleia Provincial, e em sua reunião de 1835,Poe suprimir a mesma Vila, por lei provincial nº 26 de 28 de março de 1835.
        Nesta época correram os negócios tão agitados, que por pouco, esteve a ponto de tremular o Estandarte Sangrento da guerra civil e tomando conta da Presidência o Conselheiro João José Ferreira de Aguiar e reunindo a mesma Assembleia, em sua fala de abertura, nada deixou a desejar,mostrando a inconveniência de semelante lei, toda caprichosa e até odiosa.
        Com efeito a referida Assembleia meditando a revogou,instaurando esta Vila,como fez pela Resolução Provincial nº 9 de 13 de outubro de 1836.
        Ainda no ano de 1847, sofreu esta Vila, uma supressão caprichosa que teve lugar sob a influencia do finado Coronel Jeronimo Cabral Pereira de Macedo, sendo a mesma instaurada pela segunda vez em 1850 em cuja categoria permanece.
                         Atual igreja matriz de Angicos
Fonte: enciclopédia dos municípios, IBGE,1958.

Topografia
        Esta Vila está situada a margem esquerda do rio Pataxó .Nome  de antiga tribo de Índios que pararam  por estes Sertões.A Vila ocupa a maior parte de uma terreno plano e arenoso de 800 metros quadrados.
        Conta-se duas pequenas ruas, largas e bem arejadas e mais três alinhamentos de boas casas que formam o adro da Matriz, bonito e decente edifício.
        Ao nordeste confronte a mesma acha-se a cadeia pública ainda em obra, tendo  boa sala livre,onde funciona a Câmara Municipal.Ao sueste, no mesmo quadro está a casa do comércio edificada ultimamente as expensas dos socorros públicos, que embora não concluída, de muito tem servido, não só para cômodos viajantes,como aos negociantes do lugar e seus subúrbios.
        Ao levante, vê-se ao alto e majestoso, o Pico do Cabugi que é semelhante ao antigo telegrafo nos anuncia as chuvas pelos cúmulos de nuvens em sua mais elevada extremidade, onde por singularidade, com dificuldade, foi colocado um poste com o respectivo apara raio.
        Ao leste setentrião e ocidente, observam-se diversos serrotes de granito que concorre ao longe para formar-se da pequena Vila mais avultada ideia.
        Do centro da situação observam-se diversas casas de telhas dos maoires Altos Monte Alegre, Favela, Espirito Santo, Coração de Jesus e Fazenda Nova, propriedades e benfeitorias dos mais abastados do lugar.
        Finalmente a oeste, 100 metros das últimas casas, encontra-se o Açude do Glorioso Senhora São José padroeiro da Freguesia, edificado pelo reverendo Ibiapina, nas missões de 1862, obra atualmente em ruínas, que serve apenas para conservar a frescura do terreno, útil aos plantadores de vazantes.
População
        Segundo o último recenseamento consta  a população livre de 5.500 almas e a escrava de 180.Desta população apenas  habitam a vila 300 almas compreendidas 13 escravos.
Agricultura
        A lavoura consiste na cultura de mandioca, algodão, milho, feijão, melão e melancia, além de diversos legumes.
Criação
        A grande criação consiste em gado vacum, cavalar, lanígero e cabrum. A pequena criação limita-se a aves domésticas.
Indústria fabril
        A indústria fabril é de pouca importância atualmente consistindo apenas em pouca farinha de mandioca, olaria, como sejam louças de barro, telhas, tijolo de alvenaria, há também tecidos grossos de algodão.
Comércio
        A exportação é pouca e limita-se ao algodão e gado vacum, devida a esta escassez aos efeitos da calamitosa seca de 1877 a 1879. A importação também é de nenhuma importância, limitando-se a pequena negociação de molhados e fazendas.
Instrução
         Para a instrução primária há duas escolas, sendo uma do sexo masculino criada pela Resolução  Provincial no ano de 1833 e uma do sexo feminino criada pela Lei Provincial nº 497 de 04 de maio de 1860.
Divisão eclesiástica
        Pertence este Município a Diocese de Olinda e contem só uma paróquia denominada São José dos Angicos a qual  desmembrada da de Santana do Matos, foi  criada por Resolução Provincial no ano de 1836 e tem  sido administrada por 3 vigários, sendo 2 encomendados e 1 colado, os reverendo Manoel  e Antônio dos Santos Morais Pereira Leitão, Manuel Januário Bezerra Cavalcante e Felipe Alves de Sousa, pelo primeiro de 1836-1839,pelo segundo 1839-1844 e pelo terceiro  finalmente de 1844 até o presente.
Obras públicas
        Paço da Câmara Municipal, a casa do comércio e o cemitério.
Distâncias
        Dista esta Vila da Capital da Província 42 léguas.
        As distâncias as Vilas e Cidades dos Municípios confinantes são as seguintes:
A Vila de Santa do Matos, 8 léguas ao sudeste.
A Cidade do Assu, 8 léguas ao noroeste.
A Cidade de Macau, 14 léguas pouco graus  abaixo do norte.
        Paço da Câmara Municipal da Vila de Angicos, em sessão extraordinária de 02 de maio de 1881.
Manoel Fernandes da Rocha-presidente.
José Avelino Martins Bezerra-vereador.
José Matias Xavier da Costa.
Trajano Xavier da Costa.
Manoel Paulino da Costa Pinheiro.


Fonte: Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p. 217-220.

Apêndice
Teor do oficio enviado pela Câmara da Vila de Angicos ao diretor da Biblioteca Nacional em 1881.
Ilmo Sr.
        A Câmara Municipal da Vila de São José de Angicos, da Província do Rio Grande do Norte, a quem por intermédio do Exmo. Sr. Presidente da Província, foi o presente oficio de V. Sª datado de 02 de janeiro próximo passado, que acompanhou o exemplar do questionário organizado pela Biblioteca Nacional, estabelecida em a Capita do Império, para esclarecimento de assuntos concernentes a história e geografia do País; tomando na mais divida consideração, prestar informações fidedignas e minuciosas sobre  as circunstâncias topográficas e históricas deste Município, como lhe cumpre, atento as reconhecidas vantagens que oferece um trabalho de tanta magnitude, como este de que se trata,procurou obter aquelas informações de pessoas idôneas desta localidade, afim de que no devido tempo, pudesse as mesmas achar-se no Rio de Janeiro, em resposta dada ao questionário aludido, como efetivamente faz esta Câmara com a maior satisfação, na presente Sessão, passando incluso neste as mãos de V.Sª, a referida resposta,que com precisa exação foi organizada, de conformidade com os dados que obteve, e oferece o resumido histórico deste Município.
        A Câmara Municipal desta Vila, agradecendo as honrosas expressões com que V.Sª se dignou honrá-la; aproveita a ocasião não só para pedir desculpas das faltas, que por ventura possam ser encontradas no trabalho que lhe foi confiado, como para apresentar a V.Sª os protestos de sua estima e elevada consideração.
        Deus guarde V.Sª.
        Paço da Câmara Municipal da Vila de São José dos Angicos em sessão extraordinária de 02 de maio de 1881.
Illmo Sr. Dr. Benjamin Franklin Ramiz Galvão, M.D. Bibliotecário da Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro.
Manoel Fernandes da Rocha Bezerra-presidente.
Jose Avelino Martins Bezerra-vereador.
José Matias Xavier da Costa-vereador.
Trajano Xavier da Costa- vereador.
Manoel Paulino da Costa Pinheiro- vereador.

DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE ACARI EM 1886


      Acari é um município da Microrregião do Seridó Oriental, na região do Seridó, na Mesorregião Central Potiguar no  estado do Rio Grande do Norte situado a 201 km de distância de Natal.
      Em 1881 foi enviado pelo diretor da Biblioteca Nacional um oficio solicitando informações gerais a cerca dos municípios da então província do Rio Grande do Norte. Apenas 11 municípios responderam ao questionário, dentre estes estava o de Acari. O questionário só foi respondido pela Câmara da Vila de Acari em 10/05/1886.
     O texto foi publicado pelos Anais da Biblioteca Nacional em 1991 e ora transcrevemos tal qual foi publicado no referido Anais atualizando apenas a ortografia das palavras. Eí-lo:

PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE
MUNICÍPIO DE ACARI
COMARCA DO JARDIM[1]
DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE ACARI

Aspecto geral
         Do lado do nascente e norte é este Município montanhoso,  o resto do Município é mais ou menos plano.
Serras
        As serras que formam a parte montanhosa do Município são: a cordilheira da serra de plantação denominada de Serra de Santa Ana de leste a oeste pelo lado do norte, que faz parte da Serra da Borborema, que se estende de um e outro lado pelos municípios vizinhos.
                             Aspecto de Acari em 1906
Fonte: O Malho,1906.

Rios
        Seu território é regado de leste a oeste pelo rio Acauã e seus afluentes, que nasce dos campos de Martins Bezerra e desemboca no rio Piranhas e só contem água Durante o inverno.
Salubridade
        O Município é geralmente salubre, mas aparecem em todos os tempos vários casos de febre de diversos carates. Em 1857 a cólera-morbus e a varíola causaram grandes prejuízos a população.
Minerais
        Os minerais mais usuais são: pedra de construção e cal, o barro de olaria tudo em grande quantidade. Também existe enxofre gesso e uma pedra preta e pequena que imita ferro assim como pedras de amianto.
Madeiras
        Há varias espécies de madeira de construção e de marcenaria. Bem como o angico, aroeira, pau d’árco, baraúna, louro, tatajuba, gitahi, cedro, craibeira, cumaru e jurema.
Frutas silvestres
        Caju, goiaba, pinha, melão, melancia, mamão, cocos, jerimuns e bananas em grandes quantidades. Laranja, cajarana, pitomba, maracujá, umbu, estas 4 últimas somente no inverno, as quais são algumas cultivadas.
Animais silvestres
        Onça, tigre, pintada e suçuarana, maracajá, raposa, gato do mato, os quais prejudicam muito as criações miúdas., caitituis, veados, tatus de diferentes qualidades, furão, papa mel, mocós e preás.
        Quanto as aves se encontram nos matos emas, siriemas, jacu, jucurutu, gavião e carcará, que muito destroem as criações miúdas, urubus, papagaios, maracanãs, periquitos e passarinhos de imensas qualidades, os quais prejudicam muito as lavouras.As aves cantoras são: sabiá canário,passarinho preto e corrupião.
        As abelhas fornecem excelente mel, tais são: a jandaira, canudo, tobiba, rajada e amarela. Nos rios se pesca a traira, piau, curimatã, canganti, cascudo, piranha e diversos peixinhos miúdos.
História
        A Vila do Acary foi primitivamente uma povoação criada em 1738 pelo sargento-mor Manoel Esteves de Andrade,o qual edificou nas suas próprias terras uma capela no sertão  do Seridó, no lugar Acary com a invocação de Nossa Senhora da Guia, por ficar distante de seu curato de Piancó 8 dias de viagem.
        Por lei provincial de 13 de março de 1835 foi elevada a categoria de Vila e como tal separada do Município do Príncipe[2].
Topografia
        Esta vila está situada a margem direita do rio Acauã,lugar elevado.As ruas são poucas sendo largas e algumas estreitas.As casas são térreas.Seus principais edifícios são: duas igrejas,  a matriz e a ermida de Nossa Senhora do Rosário, o cemitério, a casa de câmara e cadeia.Há alguns estabelecimentos comerciais.
                         Aspectos de Acari em 1958

Fonte: enciclopédia dos municípios, 1958.

População
        Segundo o último censo de 1873 consta a população de 11.350 almas livres e escravas 150. Desta população habitam a vila 200 almas compreendidas 5 escravas.
Agricultura
         Consiste na cultura de milho, feijão, arroz, mandioca, batata, algodão. Também se cultiva algumas espécies de frutas, cajus, goiabas, pinha, melão, melancia,cocos, jerimum, pitomba, maracujá, laranja, banana, umbu, cajarana, as quais são algumas cultivadas, ale de diversos legumes.

Criação
A criação consiste em gado vacum e cavalar, muar, lanígero, cabrum e suíno.
Indústria fabril
        A indústria fabril consiste em farinhas de mandioca, milho, feijão, arroz, algodão e algumas espécies de frutas com já fica dito.
Comércio
        A exportação limita-se em algodão, gado vacum em pé e morto, couro, sola e queijo. A importação consiste em ferragens, vidros, louças, fazendas, farinha, café, açúcar, rapadura, bacalhau, feijão,arroz e bolachas.Os gêneros são exportados em geral para Pernambucos, Brejos,  Macaiba nesta província, Macau e Mossoró, donde vem quase todos os gêneros importados.Para fora do Município o transporte é feito por costa de animais.
Instrução
        Para a instrução há 3 escolas do sexo masculino e 3 do feminino.
Divisão eclesiástica
        Pertence este Município a Diocese de Pernambuco[3] e se divide em duas freguesias e são a do Acary, como já fica dito ereta em 1738 e a de Currais Novos, por lei provincial de 20 de fevereiro de 1884 a 5 léguas ao noroeste da Vila. A capela de Flores[4] a 10 léguas ao noroeste desta vila, edificadas aquela em 1809 e esta em 1864.
                              Aspectos em Acari em 1958


Fonte: enciclopédia dos municípios, IBGE, 1958.

Divisão policial
        O município conta uma delegacia, 3 subdelegacias, a do Acary, a de Currais Novos com 13 quarteirões e a de Flores com 10 quarteirões.
Obras públicas
        Paço da Câmara municipal e cadeia.
Rendas
        As rendas municipais são constituídas pela imposição o do subsidio de 1$000 rs sobre cada rês morta para o consumo, de 80 réis sobre cada uma carga de qualquer gênero exposta a venda no mercado público, exceto algodão , 200 réis sobre cada animal cabrum, ovelhum, e de 500 réis sobre suínos expostos a venda, de 6$000 réis sobre as casas que venderem aguardente na Vila e 5$000 réis nas povoações, multas por infrações de postura, barbatões, dízimos e miunças vivas e aferição de pesos e medidas, no último quinquênio as rendas municipais subiram  a 6:553$410, no último exercício subiram 1:185$140 réis.
        A coletoria geral rendeu 467$665 réis e a provincial  6:656$000.
Distâncias
        Desta Vila a Capital da província 50 léguas ao nordeste.
        As distâncias as Vilas e Cidades vizinhas são as seguintes:
A Cidade do Príncipe 12 léguas ao leste.
A Cidade de Jardim 5 léguas ao sudeste.
A leste com a Vila de Picuí e Cuité, na província da Paraíba, com 8 e 14 léguas.
A Vila de Santa Cruz com 16 léguas a leste.
A Vila de Santana do Matos com 14 léguas ao norte.
Paço da Câmara Municipal da Vila do Acary em sessão ordinária de 11 de janeiro de 1886.
Antônio Bezerra de Albuquerque Galvão- presidente.
Manoel Alberto Dantas.
Antônio Honorato de Araújo.
João Nepomuceno  da Silva.
João Clementino da Silva.

Fonte: Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p.215-216.

Apêndice
        Teor do oficio remetido da Câmara Municipal de Acari ao bibliotecário da Biblioteca Nacional em 11/01/1886.
Paço da Câmara Municipal da Villa do Acary em sessão ordinária de 11 de janeiro de 1886.
Ilmo Sr.
Em cumprimento a ordem de Sua Exª o Sr. Presidente da Provincia em circular de 15 de dezembro último, remetendo um questionário para ser respondido, a Câmara remete a Biblioteca Nacional, a topografia deste Município, pedindo desculpas pela imperfeição do trabalho visto não ter preciso conhecimento.
Deus guarde a V. Sª. Ilmo Sr. Diretor da Biblioteca Nacional da Corte.
Antônio Bezerra de Albuquerque Galvão- presidente.
Manoel Alberto Santos.
Antônio Honorato de Araújo.
João Nepomuceno da Silva.
João Clementino da Silva.



[1] Atual cidade de Jardim do Seridó.
[2] Atual Caicó.
[3] Diocese de Olinda, atual Arquidiocese de Olinda e Recife.
[4] Atual cidade de Florânia.