segunda-feira, 30 de novembro de 2020

SOBRE A INAUGURAÇÃO DO PRIMEIRO MERCADO DE TAIPU EM 1903


         O jornal A República publicou em 1903 a noticia que tratava sobre a inauguração do mercado de Taipu, o primeiro, pois o atual já é o segundo.

         O relato enviado da vila de Taipu para ser publicado no referido jornal começa com a explanação da acolhida ao coronel Felismino Dantas, intendente e chefe político de Ceará-Mirim.

Eis a seguir o relato publicado n’A República:

Avisados os cidadãos Manuel Eugênio e Pedro Guedes de que o coronel Felismino Dantas, acedendo ao convite que lhe fora feito para assistir á inauguração do nosso Mercado, aqui chegaria na tarde do dois do corrente [02/01/1903] com alguns amigos do Ceará-Mirim, imediatamente deram ciência disso aos inúmeros admiradores do estimado chefe político, ficando desde logo assentado entre eles que o coronel Felismíno e seus companheiros, seriam condignamente recebidos”.

Efetivamente, no dia mencionado, esta Villa, artisticamente embandeirada, apresentava o mais agradável aspecto. Às cinco horas da tarde, cento e cinquenta cavalheiros subiram ao encontro do ilustre chefe, na distancia de 2 léguas, regressando todos ás sete e cinquenta, no meio das mais ruidosas aclamações ao coronel Felismino que, ao lado de Manuel Eugênio e de Pedro Guedes, aparecia a frente da numerosa comitiva.

Ao entrar da rua, soltou-se uma grande girândola de fogos e o coronel Felismino ergueu vivas ao benemérito chefe Dr. Pedro Velho, ao honrado governador do Estado e ao partido republicano do Taipú, vivas que foram entusiasticamente correspondidos.

Defronte á casa do provecto desembargador Aprígio Chaves, parados os cavalheiros, o coronel Felismino foi entusiasticamente aclamado pelo criterioso magistrado e pelo povo, erguendo o Dr. Aprígio os mais calorosos vivas ao senador Pedro Velho, ao Governador do Estado, ao coronel Felismino e ao valente partido republicano do Taipú; sendo o Dr. Aprígio muito felicitado, depois do que dirigiam-se todos á adorável residência do simpático capitão Manuel Eugênio, onde, ao apeiarem-se, o acadêmico Maciel Filho, em nome do coronel Felismino, agradeceu tão brilhante, quão espontânea manifestação de apreço do brioso povo taipuense.

Em seguida, oferecido um copo de cerveja aos assistentes, foi servida a ceia aos hospedes, tomando parte nela diversos cavalheiros da nossa melhor sociedade.

As sete da manhã do dia imediato [03/01/1903], logo após o café, dirigiram-se os distintos visitantes a residência do Dr. Aprígio, onde entretiveram agradabilíssima palestra com o digno magistrado e sua virtuosa consorte, retirando-se as 8 horas, aclamados por avultada onda popular.

A inauguração do mercado

Chegados ao Mercado, depois de convenientemente dispostos os lugares de honra, o coronel Felismino, instado pelo capitão Manuel Eugênio, fez entregado Mercado aos taipuenses, declarando-o inaugurado. Então, falou o acadêmico Maciel Filho, proferindo algumas palavras análogas ao ato.

Às dez horas, entre as mais expressivas demonstração de regozijo teve lugar um lauto almoço em casa do capitão Manuel Eugenio, tocando-se a sobremesa, além de outros, os seguintes brindes:  do coronel Felismino Dantas, num invejável surto de eloquência, ao acadêmico Maciel Filho e ao valoroso partido republicano de Taipú; Do acadêmico Maciel Filho ao prestimoso chefe coronel Felismino, e, por sua vez aos destemidos republicanos do Taipú, representados por Pedro Guedes, Manuel Eugênio e Miguel da Cruz; deste ao acadêmico Maciel Filho, inspirado, agradecendo; do acadêmico Maciel Filho ao major Torquato Câmara e ao capitão José Paulino; e deste, eloquentemente, ao mencionado acadêmico, agradecendo.

Finalmente, pelo coronel Felismino, foi levantado o brinde de honra ao eminente senador Pedro Velho, acentuando bem os inestimados predicados morais do abnegado patriota, que tão sabiamente dirige a opinião norteriograndense.

Retorno do coronel Felismino Dantas a Ceará-Mirim

Às cinco horas da tarde, depois de animada palestra com o desembargador Aprígio, professor José Miranda, Miguel Soares e outros, deixaram os nossos hospedes esta localidade, seguidos por crescido número de cavalheiros que os acompanharam até a Boa Vista.

Antes, porém, de apresentarmos as nossas despedidas ao coronel e aos seus amigos, tivemos a felicidade de mais uma vez dirigirmos-lhe as nossas saudações na aprazível habitação do nosso prezado amigo Miguel da Cruz, cuja cativante obsequiosidade a todos penhorou. (A REPÚBLICA, 20/01/1903, p.4).

Outras obras da intendência de Taipu

         No texto enviado do correspondente de Taipu a República eram ainda mencionadas outras obras que se inauguraram naquele mesmo dia.

Agora, resta-nos somente dizer-mos que, além do Mercado, foram também inaugurados, no dia três deste, a Fonte Pública e a iluminação desta Villa, melhoramentos estes devido á iniciativa e á tenacidade dos capitães Manuel Eugênio e Pedro Guedes, sabiamente orientados pelo desembargador Aprígio e pelo coronel Felismino Dantas. Uma nota que não convém esquecer, porque ela mostra a boa orientação do governo municipal do Taipu: a intendência municipal depois de ter feitos todos esses ficou com um saldo de 1:500$000, recolhido aos cofres, que vai ser aplicado noutros melhoramentos. Correspondente Taipú, 7 de Janeiro do 1903. (A REPÚBLICA, 20/01/1903, p.4).

O primeiro mercado de Taipu estava num prédio onde atualmente se encontra esse ponto comercial. O prédio do antigo mercado foi transformado no Grêmio Taipuense na década de 1950 quando foi inaugurado o atual mercado.




domingo, 29 de novembro de 2020

“LIMPA” O FUTURO BAIRRO JARDIM DE NATAL


        Foi com esse título que um memorando da Sociedade para o Pregresso Feminino anunciou no final da década de 1920 ou inicio da década de 1930 como seria o futuro Bairro Jardim em Natal no território da Limpa.

A expectativa

         De acordo com o citado relatório “no bairro atual da ‘LIMPA’ está projetado um bairro jardim, que será construído em moldes semelhantes aos bairros jardins ingleses”.

         As construções seriam feitas pelo Governo, Prefeitura, por particulares e cooperativas e deveriam obedecer a certas leis de urbanismo moderno. Seria feito o “zoning” para se evitar a superlotação do bairro.

         Não seria permitida a invasão desse bairro por empresas comerciais em número excedente as necessidades dos moradores, que seriam chamados a se pronunciarem sobre a abertura de armazéns e lojas, tendo interferência na administração do bairro, por intermédio de uma comissão semelhante no “board of menagement” dos congêneres anglo-saxões.

         Por sua posição entre o rio Potengi e o Oceano Atlântico, a Limpa estava destinada a ser uma das localidades mais aprazíveis de Natal. 

        A imagem a baixo é meramente ilustrativa e mostra como é um bairro jardim aos moldes ingleses


         Seriam construídas larga avenidas no bairro indo terminar no Bouleveard exterior do Cais do Porto, margeando o rio Potengi e o mar e indo terminar nas praias do Meio e Areia Preta, pontos esses, os mais pitorescos e preferidos pela população natalense, para o seu descanso e recreio, dizia o relatório.

A realidade

         Tudo muito lindo, tudo muito bem planejado, mas a realidade frustrou a expectativa, pois como se sabe a Limpa nunca chegou a ser um bairro e ainda mais de padrões “anglo-saxões”. O local atual está no bairro de Santos Reis e boa parte dos terrenos que seriam destinados a ser esse lindo bairro terminou sendo incorporado pela Marinha.

         A ideia até pode ter tido boas intenções, mas foi só isso e nada mais, tendo sido essa mais uma daquelas ideias megalomaníacas que a classe política sempre tinham para fazer suas propagandas políticas.

         Caso tivesse saído do papel é possível que até hoje não estivesse pronto, a exemplo do bairro Cidade Satélite construído bem mais recente na década de 1980 e que até o presente momento não está concluído.

 

 

PS. O citado memorando da Sociedade para o Progresso Feminino não está datado, sabemos que ele está situado entre 1927/1930 por que cita o governador Juvenal Lamartine cujo mandato se realizou nesse período. O documento está no Arquivo Nacional.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

POR QUE A EFCRGN NÃO CONTEMPLOU A VILA DE JARDIM DE ANGICOS

 

         A então vila, hoje cidade, de Jardim de Angicos, situada a margem esquerda do rio Ceará-Mirim, era a sede do município do mesmo nome quando começou-se a construir a estrada de ferro de penetração EFCRGN, no entanto ela não foi contemplada no traçado da citada ferrovia.

Os moradores da vila de Jardim de Angicos escreveram ao jornal Diário do Natal expondo o descontentamento de não terem sido contemplados com os trilhos da EFRCRGN.

Eis o texto publicado pelo referido jornal.

 SR. Redator. — Quando se anunciou que a estrada de ferro de penetração, partindo de Natal ia ao Ceará-Mirim e dali seguindo rumo de nordeste a sudoeste, pela ribeira acima do rio desse nome, a cuja margem esquerda está colocada esta florescente vila, em buscado do Seridó foi geral, por estas paragens, o contentamento da população e do comércio.

O traçado estava indicado por sua natureza e o Diário do Natal deu exatamente o rumo a seguir, que outro não podia ser. É certo que o Dr. Rodolfo Batista, encarregado da seção de engenheiros que fez a picada, para levantamento da respectiva planta, seguiu o rumo geral traçado pelo Diário, partindo da cidade do Ceará-Mirim, em busca do Cabugi e Pajeú, para dai seguir ao Caicó; mas o Dr. Baptista foi muito infeliz na escolha do local por onde enveredou o traçado, porque afastou-se dos terrenos mais planos, mais linheiros que se aproximavam mais dos povoados e centros produtores, para emaranhar-se por lugares mais escabrosos, mais tortuosos e mais distantes do rumo geral.

Tendo seguido pela margem direita do rio, atravessou este acima de Taipu, quando devia ter aproveitado a planície que vai até a pontada da serra da Cruz onde encontraria uma excelente passagem no rio. Logo que atravessou o rio acima de Taipu, devia ter ladeado a margem esquerda em direção das povoações de Baixa Verde e Cauassu, seguindo em direção de Varzea dos Bois e Cabugi, e nesses locais encontraria o terreno mais acessível e mais adaptado ao curso da estrada e sobre tudo servindo em toda ribeira do Ceará-Mirim aos centros mais produtores e comerciais desta.

Mas, assim não fez o ilustre Dr. Rodolfo Batista. Passando o rio, internou-se pelos matos em procura do mar buscando o lugar Cardoso que não fica longe do litoral e dai virando rumo do Cabugi, fez um ângulo ou cotovelo enorme, tornando-se o traçado mais longo, fazendo 30 em vez de 20 léguas e de todo afastado das povoações.

Desta vila para o lugar mais próximo em que passou o traçado, tem 4 léguas de distância, quando podia ficar a 2 léguas e por melhor terreno. Com esse rumo da estrada, compreende-se que foi geral o desgosto da população desta zona e á qual a estrada, se for um dia feita, de quase nada servirá.

Seguindo do Cabugi por Quixabeirinha, antes de chegar ao Pajeú, o Dr. Rodolpho seguiu para Tupã e dali para a vila de Angicos, quando desde que pretendia ir á Angicos, não devia ter ido ao Tupã, por que assim fazia um outro ângulo, uma vez que de Pajeú ao Tupã ao sul são 5 léguas e de Tupã a Angicos ao norte são outras 5, quando do Pajeú a Angicos, diretamente, são 6 léguas apenas; e assim faz-se mais 4 léguas de estrada, sendo aliás o terreno de Pajeú para Angicos mais viável e mais acessível, desde que o Dr. Rodolfo seguisse de Pajeú por Cajueiro, S. José e Angicos.

Se o Dr. Sampaio Correia tivesse mesmo percorrido estes terrenos e tomado as precisas informações, de que alias não cogitou o Dr. Batista, que aí afogueou muito o serviço, talvez para acabar depressa o traçado seria melhor, e consultando melhor os interesses dos povos.

No entanto, ainda confiamos do ilustre cheio da com missão de engenheiros, que percorrendo os terrenos, se convencerá do que viemos de dizer,e modificará o traçado em estudos, dando-lhe uma forma mais conveniente. Não temos a mínima intenção de ofender a suscetibilidade profissional do ilustre Dr. Rodolfo Batista: o erro vem de não ter sido feito algumas excursões pelos terrenos, colhendo informações dos conhecedores dos lugares, pois sabe-se que por mais apurada que seja a teoria de um profissional, tem de subordinar-se no terreno da prática. Peço-lhe que publique estas linhas como um apelo ao Dr. Sampaio Correia, que, como chefe da com missão, deve ter o maior interesse pela perfeição da obra que lhe foi confiada. (DIÁRIO DO NATAL, 23/08/1904, p.1).

Assim, fica evidente que o motivo de a vila de Jardim de Angicos não ter sido incluída no traçado da EFCRGN foi a imperícia do engenheiro Rodolfo Batista que não considerou as informações da população que habitava aquelas paragens que conheciam melhor os caminhos e terrenos mais planos por onde poderia passar a ferrovia.

No território do município de Jardim de Angicos foram construídas 3 estações: Cardoso, Pedra Preta e Lajes, e foi por essa última suplantada, tanto que a sede municipal foi para ali transferida imediatamente após a inauguração daquela estação em 1914.   

                              Aspectos de Jardim de Angicos





SOBRE A INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO DE VILA NOVA (PEDRO VELHO-RN)

 

Os moradores de Vila Nova, atual cidade de Pedro Velho-RN,  estavam impacientes com a superintendência da Estrada de ferro por ainda não ter inaugurado a estação daquela vila.

Escreveram de Villa Nova ao Redator do jornal Diário do Natal “Merece que V. Sa. chame a atenção de quem de direito sobre o pouco ou nenhum interesse que revela ter a direção do trecho da Estrada de Ferro de Natal a Guarabira”.

Ainda de acordo com os moradores de Vila Nova “Aqui nesta Villa, temos uma estação concluída cujo, material foi fornecido pela nossa Intendência - a estação acha-se fechada”.

Segundo o exposto ao jornal já havia há muito tempo reclamado pelo Comércio um aparelho telegráfico e até aquela data nada fora resolvido.

 Os trens regulares deixavam sempre carga na plataforma da estação fechada e era preciso sempre muito empenho para o condutor aceitar alguma coisa. Os trens especiais que passavam por ali também, por favor, algumas vezes paravam dois ou três minutos. “É um horror”, diziam os moradores.

A preocupação dos comerciantes e produtores era com a safra que não poderia ser despachada da estação “imagine agora como não vamos ficar na próxima safra, quando a abundância de carga se fizer sentir”, onde teriam que  de mandar os gêneros para o Porto da Penha, como faziam antigamente.

 E ainda reclamavam: “Nós não temos uma estrada de ferro completa. Vamos, portanto logo nos; acostumando sem ela, pois estamos cada dia observando que a coisa vai de mala pior”.  

 Convém notar, dizia ainda a citada reclamação dos moradores de Vila Nova que “esta Villa é um dos pontos mais rendosos para a Companhia; entretanto a Great Western sacrifica todos os interesses particulares, uma vez que trate de uma ridícula economia, digna de uma sociedade quebrada e não prospera como se diz”. (DIÁRIO DO NATAL, 20/08/1904, p.1).

                                 A estação de Pedro Velho



  O aviso de inauguração da estação de Vila Nova só foi publicado no referido jornal em 31/08/1904, marcando a inauguração para o dia seguinte conforme se lia no aviso.

G. W. B. R

Aviso

 Por ordem do Sr. Superintendente geral previno ao público que a estação de Vila Nova, nesta seção, será aberta ao trafego do dia 2 de Setembro vindouro em diante. Escritório do Movimento, em Natal, 30 de agosto de 1904. José Pedro Carneiro da Cunha, Encarregado do movimento. (DIÁRIO DO NATAL, 31/08/1904, p.3).

DIÁRIO DO NATAL, 31/08/1904, p.3.


A inauguração

           Sobre a inauguração da estação de Vila Nova registrou o jornal Diário do Natal:

           02 de setembro de 1904

       Hoje, pelas 12 horas do dia instalou-se aqui uma estação da estrada de ferro, com modesta  mas expressiva solenidade – embandeiramento, foguetes e música. É chefe da nova estação o Sr. Idalino Teixeira. Hoje mesmo funcionou o aparelho telegráfico da referida estação.

      Considero que é isso um melhoramento para esta florescente vila, que não tem sido descurada dos seus habitantes, os quais muito têm concorrido para o seu desenvolvimento moral e material, distinguindo-se entre eles, o digno Juiz de Direito, Dr. Homem de Siqueira, que por isso mesmo aqui goza de geral estima. (DIÁRIO DO NATAL, 06/09/1904, p.3).

Um telegrama, talvez o primeiro, foi expedido da nova Estação Telegráfica de Villa Nova a redação do jornal Diário do Natal dando ciência da inauguração da estação ferroviária daquela vila. Eis o teor do telegrama: “Á Redação do Diário do Natal. Estação Villa Nova foi hoje inaugurada com assistência de pessoas gradas desta localidade. Parabéns por este acontecimento. José Pedro Carneiro Encarregado do movimento” (DIÁRIO DO NATAL, 03/09/1904, p.2).




quinta-feira, 19 de novembro de 2020

PANORAMA NADA ABONADOR DE NOVA CRUZ EM 1924


         Um panorama nada abonador foi descrito do município de Nova Cruz em 1924 pelo O Jornal de João Pessoa-PB. Segue na integra a descrição feita pelo referido jornal.

         Nova Cruz, a cidade ameaçada pelas enchentes periódicas do Curimataú, apresenta atualmente o aspecto contristador de bem acentuada decadência.As ruas e praças encobertas pelo matagal lembram as antigas cidades bíblicas devastadas pelo castigo dos céus. A administração municipal nada tem feito de 20 anos a esta parte, nãos e podendo registrar um único melhoramento feito a custa dos cofres da Intendência local.

O povo bom e generoso, descrente do reaparecimento da moral política do município e do ressurgimento da sua vida econômica, permanece na mais desoladora apatia. O cargo de chefe político e o emprego de presidente da câmara desta circunscrição, neste Estado, são exercidos por um cidadão oriundo da margem esquerda do rio Bujari, no Estado da Paraíba, que nas horas de lazer se dedica ao cultivo da língua encantadora de Vieira e Camões, formando novos vocábulos e trocadilhos interessantes que lhe tem celebrizado o nome.

Não obstante haver homens ali capazes e idôneos para o cargo da administração pública tem sido importados de outras paragens delegados, subdelegado, juízes distritais, intendentes, etc., achando-se todas as posições de destaque assaltadas e ocupadas por indivíduos de procedência ignorada e méritos ainda não revelados.

         Essa atitude infeliz do atual Chefe tem acarretado desgostos e notável prejuízo para o interesse da coletividade. Querem ver até a que ponto chegou o relaxamento dos negócios públicos em Nova Cruz? Pasmem! Não há intendência; as sessões da Câmara, quando por circunstâncias de interesse privado tem de ser efetuadas, são feitas em um quarto de um armazém comercial, o quartel e cadeia pública funcionam em um salão de um casa encrava no centro comercial da cidade, o matadouro público é nas capoeiras e os açougues são pocilgas imundas.

         Os empregados municipais que percebem insignificantes ordenados lutam para recebê-los do tesoureiro que é genro do chefe e que paga as portarias por metade, auferindo por este trabalho insano gratificações pingues. As rendas do município desapareceram por encanto! Ultimamente naquela terra tão honrosa o assunto principal nas conversas são as falências.

Efetivamente, em Nova Cruz há falências comerciais e falência moral administrativa, falência de critério na escolha dos homens para os cargos e falência de escrúpulo na aplicação dos dinheiros públicos; há, finalmente, a grande falência da política. Felizmente em meio daquela decadência material, proveniente de uma administração inconsciente  e mal aconselhada, na derrocada dos princípios moralizadores da vida das sociedades e da sã política, ainda permanece invulnerável e inviolada, assente sobre o seu verdadeiro trono – a justiça – amparada por um homem da elevada moral de Dr. Vicente Lemos, alma intangível do dever, da honra, a quem da politicagem malsã não logrou atingir.

         Firme no seu posto de honra, intransigente no cumprimento da lei tem por isso mesmo voltado contra sua pessoa o ódio ferrenho dos politiqueiros exploradores. Diante de tamanho descalabro ou o Exmo. Sr. Governador do Estado lança as suas vistas providenciais para aquele município ou ele desaparecerá por falta de higiene moral, política e administrativa.

      Para terminar essa apreciação sobre aquele município relato o seguinte fato interessante: contam que um negociante de um dos municípios deste Estado, estando prestes a abrir falência, foi ao Dr. Pedro Velho, de quem era amigo e correligionário, depois de expor as suas condições precárias, solicitou um emprego. O velho político respondeu-lhe que lhe daria o emprego com muito prazer, perguntando-lhe qual o que desejava. O negociante respondeu-lhe imediatamente: “eu quero uma intendência para sustentar minha família que é muito numerosa”. Pedro Velho deu uma boa gargalhada, sacudiu a basta cabeleira e colocou o amigo. Esse caso, há muito tempo está tendo hoje a sua aplicação em Nova Cruz. (O Correspondente).

                                 Aspectos de Nova Cruz em 1922












Fonte: o jornal,21/05/1924,p.8.

Fotos: o Malho,1922,p.34.1923,p.28

A VENDA DO FERREIRO TORTO


         O Engenho Ferreiro Torto de Macaíba foi um grande engenho e famosa propriedade rural daquele município por sua magnífica Casa Grande em estilo colonial. Em 1924 foi posto a venda conforme se lia em anúncio no periódico paraibano O Jornal, sendo seu proprietário naquele ano o Dr. Bruno Pereira.

                                        Engenho Ferreiro Torto

Eis o teor na integra do anúncio no citado jornal:

Vende-se, livre, desembaraçado e demarcado, o engenho FERREIRO TORTO, moente e corrente, com uma pequena safra fundada para 300 sacos de açúcar e com capacidade para 2.500 sacos anualmente. Mede meia légua de frente por uma de funda, e dista 18 km de Natal, e um da cidade de Macaíba. É servido pela navegação fluvial e pela excelente estrada de automóvel de Natal-Macaíba, que corta em toda a largura. Possui barro em quantidade considerável para fabricação de telhas e tijolos, e vasta olaria, matas com alguma madeira de construção e para extrair 20.000 metros cúbicos de toros; vasta pedreira de granito, terrenos para salina, a margem do Jundiaí, mangue, mangabeiras, batipuiás, etc.

Doze cercados de arame farpado e de madeira, dez casas de moradores, casa e aviamento de farinha, e grande e confortável casa de vivenda (sobrado).

Pomar, mais de quinhentos coqueiros novos e frutíferos. É regada por dois riachos perenes, podendo abastecer d´água a cidade de Macaíba.

Cerca de 40 cabeças de gado vaccum de trabalho e de criar, cerca de 50 cabeças de ovelhas e cabras, três burros, dois jumentos, um cavalo. Carro, carroça, um bote grande e um automóvel “Ford". Lugar salubérrimo.

Preço 100:000$000, podendo ser o pagamento parte a prazo, com garantia eficiente.

O motivo da venda é pretender o proprietário retirar-se do Estado.

A tratar com o proprietário Dr. Bruno Pereira. Natal. Av. Rio Branco, 147.

Fonte: O Jornal,11/03/1924, p.8.

        Não foi possível encontrar no citado jornal se a propriedade foi vendida naquele ano de 1924.Atualmente o casarão do antigo Engenho Ferreiro Torto é tombado como patrimônio histórico do estado. Está situado a R. Dr. Pedro Matos, SN, Macaíba-RN.

                                     Engenho Ferreiro Torto

Fonte: Google Earth.


         



quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A ESTAÇÃO CONSTRUÍDA PELO POVO

        A memória ferroviária do Rio Grande do Norte tem momentos significativos como este em que uma nova estação ferroviária foi construída com os próprios recursos da comunidade. Trata-se da nova estação ferroviária de Pedro Velho-RN.

Um pouco de história

      Em maio de 1900 houve uma grande cheia no rio Curimataú que devastou por completo a então vila de Cuitezeiras tendo os moradores que se mudarem para outro local afastado da margem do rio onde pudera reconstruir suas casas e assim surgiu um nova vila o qual tornou-se a nova sede do município que passou a denominar-se Vila Nova.

       A estação ferrovia que beneficiava a população passava onde antes existia a vila que fora devastada e por algum tempo os habitantes ficaram sem ter uma estação naquele município.

      Foi então que a população se reuniu e propôs a direção da GWBR que era a arrendatária da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz, que eles próprios, os moradores construiriam as suas custas uma nova estação em Vila Nova.

     Conforme indica o relatório do Ministério da Agricultura em 1905 foi edifício da parada de Vila Nova as expensas dos respectivos habitantes em substituição do de Curimataú  no km 92 que muito sofria com as cheias do rio. (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1905, p.311). Embora ficasse na antiga vila de Cuitezeiras, a estação tinha a denominação de Curimataú. 

     É, portanto, a antiga estação a qual se refere o citado relatório. A nova estação ferroviária de Vila Nova foi inaugurada em 02/09/1904 conforme indicava o jornal A Província num aviso expedido pela GWBR na seção de Natal “no dia 2 de setembro próximo será inaugurada a estação de Vila Nova, da seção Natal, que substituirá a parada denominada Curimataú, da mesma seção. Recife, 29 de agosto de 1904”. (A PROVINCIA, 01/09/1904, p.3).

       Os comerciantes de Vila Nova, atual Pedro Velho dirigiram um pedido a Superintendência da Great Western por meio do jornal Diário do Natal, no qual solicitavam providências para a inauguração da estação, a abertura de uma estação telegráfica e a construção de um armazém para mercadorias.Eis o teor do pedido publicado no citado jornal.

Pedido justo

Tendo sido, desde junho, passado, concluído os trabalhos da Estação de Vila Nova, seção da Great Western, de Natal a Independência, sem que até esta data tenha sido inaugurada e aberta ao trafego nós comerciantes desta Vila viemos do alto da imprensa reclamar a digna Superintendência geral da mesma Companhia Great Western a quem, de direito compete providenciar sobre o caso, a fim de, com a brevidade precisa, mandar abrir ao comércio, e ao povo em geral, as portas de uma Estação telegráfica existente em dito prédio, com o que será praticado um ato de Justiça e digno de louvor.

Vila Nona antiga Cuitezeiras parece que não é dos lugares que menos rende a companhia, pois, nos anos de safra regulares, poderá exportar (cálculo médio) cinco mil sacos de algodão e de quinze a vinte mil ditos de cereais, sem contar a exportação de açúcar, que não é pequena.

         A digna Companhia Great Western, muito acertaria ainda em mandar edificar em Vila Nova, um armazém para carga, o que pedimos desde já e esperamos ser atendidos. Vila Nova, 11 de Julho de 1904. Os comerciantes. (DIÁRIO DO NATAL, 11/07/1904, p.2).

         Como visto a cima o prédio da estação estava já concluído desde junho de 1904, mas somente seria inaugurado em 01/09 daquele ano.

         Quanto ao pedido da construção do armazém, o mesmo foi atendido, pois em Vila Nova foi de fato construído um armazém próximo a estação. Ambos foram demolidos pela população.

   A baixo na imagem se pode sinalizada por setas a estação e o armazém da cidade de Pedro Velho. O edifício destoa dos demais prédios do trecho Natal a Nova Cruz se assemelhando mais aos do ramal Nova Cruz-Guarabira construídos na mesma época pela GWBR, concessionária da ferrovia a época.

      A falta de conhecimento da história local pode causar sérios danos a memória de um lugar por não se conservar aspectos importante da vida de um povo.

     Foi o que ocorreu em Pedro Velho-RN onde a nova estação que foi inteiramente construída com os recursos da própria comunidade já não existe mais, tendo sido demolida por achar a população que ela não tinha mais serventia. Que tremendo engano.

A NOVA ESTAÇÃO DE CANGUARETAMA


        A estação de Canguaretama foi inaugurada em 31/10/1882 estava localizada no distrito da Penha a 1 km da sede municipal, ou seja, da cidade de Canguaretama, razão pela qual a estação era mais conhecida posto que o nome exibido no dístico da estação era PENHA e não CANGUARETAMA. 

        Desde o inicio  do tráfego da ferrovia o povo da cidade de Canguaretama tentou mudar a localização da estação solicitando inclusive diretamente ao Imperador Dom Pedro II a mudança da estação em 1885, pedido esse que foi negado pelo governo imperial por meio do então ministro da agricultura Afonso Pena, que viria ser na República presidente do Brasil e visitaria o RN para inaugurar a EFCRGN em 1906.

Sobre a nova estação de Canguaretama

  De  acordo com o jornal  A União em 21/12/1905 o ministro da viação havia aprovado e submetido a comissão das estradas de ferro arrendadas a GWBR, a planta de um edifício a ser construído no local da estação da Penha, na Estrada de Ferro de Natal a Independência.( A UNIÃO, 21/12/1905, p.1).

 A comissão das estradas de ferro arrendadas a GWBR submeteu à aprovação do ministro da viação, Lauro Muller, a planta de um edifício a ser construído no local da estação da Penha, na Estrada de Ferro do Natal a Independência. (A NOTICIA, 21/12/1905, p.1).

        Conforme o Relatório do Ministério da Agricultura de 1906 relativo a ano anterior “foi destruído por incêndio o barracão de madeira que servia de estação na Penha, havendo sido já aprovados a planta e orçamento para o edifício da nova estação” (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1906, p.292).Assim, fica-se sabendo que na Penha existia um barracão de madeira que servia de estação e que um novo edifício seria erguido no transcurso daquele ano de 1906.

         O decreto nº 5837, de 09 de janeiro de 1906 aprovou a planta e o orçamento para a construção de uma estação na Penha, na linha de Natal a Independência (Guarabira), da rede de viação férrea arrendada pela Great Western of Brazil Railway Company.  (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1907, p.323).

       No relatório do ano de 1907 foi relatado que “construiu-se no ano findo [1906] uma estação nova, cujo plano e orçamento foram aprovados pelo dec. N. 5.837 de 9 de janeiro”. (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1907, p.364. Grifo nosso).

     Em 1909 foi assentado um desvio morto na Penha. (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1909 p.168).

      Assim sendo, o prédio atual da estação de Canguaretama é o que foi construído no ano de 1906 cuja planta arquitetônica destoa dos demais prédios do ramal Natal a Nova Cruz construídos na mesma época da primitiva estação da Penha. O estilo arquitetônico adotado na nova estação de Canguaretama se assemelha as existentes no ramal Nova Cruz-Guarabira, provavelmente obedecendo a planos da GWBR que era a concessionária da ferrovia a época.













Pesquisa e texto: João Batista dos Santos. Fotos: Google Earth.





segunda-feira, 9 de novembro de 2020

SOBRE K-XIMBINHO

A Noite,1947,p.3.


           Sobre o músico taipuense Sebastião Barros escreveu o suplemento do jornal A Noite em 1947 o qual estava ele de volta a integrar a Orquestra Tabajara: O nome de Caximbinho é Sebastião Barros, nascido no Rio Grande do Norte, e é um veterano na orquestra, apesar de se haver desligado várias vezes, quando esteve antes no Rio integrando o conjunto de FonFon.Já foi tenorista da própria “Tabajara” e hoje desincumbe-se do comando do quinteto de saxes. Músico de reconhecida capacidade, Caximbinho é dono de elevado senso modernista. Como compositor tem nome feito: é autor do chorinho “Sonoroso”, um grande sucesso no ano que passou, gravado pela orquestra, como também “Sonhando”. (A NOITE, 11/03/1947, p.33). 
          Ele próprio preferia dessa forma ‘K-Ximbinho’ o seu nome artístico. O citado jornal diz ainda que K-Ximbinho estava no Rio Grande do Norte naquele ano de 1947 quando foi convidado por Severino Araújo a integrar novamente a famosa Orquestra Tabajara”, o que fez, porém por pouco tempo, pois, logo após ele se radicou no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

SOBRE O CEMITÉRIO DE TAIPU

 

Até meados do século XIX os corpos eram enterrados dentro das igrejas que com o tempo passou a ser um sério caso de saúde público daí o surgimento dos cemitérios, também chamados de campo santo. A capela de Nossa Senhora do Livramento não registra nenhum sepultamento em seu interior, pois não existe nenhuma lápide nela que comprove a presença de inumação na igreja. Assim, se presume que já havia um cemitério na povoação de Taipu ao tempo da construção da capela a qual deu inicio após 1860.

Sobre o cemitério de Taipu a menção mais antiga por nós encontrada remonta ao ano de 1873. Trata-se de um episódio envolvendo o padre Joaquim de Vasconcelos, então vigário em Ceará-Mirim.

O caso

Segundo consta no jornal A Luz no dia 12/04/1873, Sábado de Aleluia, “não quis o dito padre que fosse enterrado  no cemitério da povoação  do Taipu o cadáver do ancião João Rodrigues” (A LUZ ,21/06/1873,p.4, o grifo é nosso).

De acordo com o citado jornal o motivo alegado pelo padre Joaquim de Vasconcelos para o não sepultamento em cemitério do ancião João Rodrigues foi que “na hora suprema respondido negativamente a pergunta que se lhe fez” (A LUZ ,21/06/1873,p.4). O padre havia perguntado a João Rodrigues se ele queria se confessar o qual respondeu negativamente. De acordo com o jornal A Luz todas as perguntas feita pelo padre a João Rodrigues eram respondidas negativamente porque o ancião já não estava no uso de suas faculdades mentais.

Segundo o citado jornal, entretanto, João Rodrigues deu durante sua longa vida sempre exuberantes provas de seu espírito religioso onde pela quaresma confessava-se ele e sua família e pagava o passaporte, como chamavam os matutos, a desobriga.

A família de João Rodrigues “no auge de sua dor, e consternado por ver a memória de seu chefe exposta a execração, implora e invoca o nome de Deus para que o padre revogue sua fatal sentença”. (A LUZ, 21/06/1873, p.4).

O padre Joaquim de Vasconcelos, no entanto, "com sua voz tremula e rouquenha ordena que o cadáver não seja sepultado no cemitério”.

De acordo com o jornal A Luz o acontecimento era assunto de conversa no Taipu.

O jornal termina dizendo “um dia, porém, o povo compreenderá entre outras cousas que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”.

Considerações

Mesmo sendo de responsabilidade administrativa civil, os enterros passavam antes pelos procedimentos religiosos. Assim, cabia ao padre autorizar ou não os sepultamentos. No caso a cima a pergunta que fica é: se o padre não autorizou o sepultamento no cemitério da povoação onde foi então sepultado João Rodrigues?

Outra coisa que nos chama a atenção é o fato de o jornal terminar dizendo “que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”. Seria João Rodrigues não católico para não ser autorizado a ser sepultado em campo santo católico? Ou talvez maçom?         O citado jornal era publicado em Natal e o mesmo exibia em sua capa o objetivo de suas páginas que era a causa da maçonaria, dedicava-se assim a causas anticlericais e ressalta-se ainda que a época do ocorrido na povoação de Taipu estava-se em curso a Questão Religiosa, que foi a questão envolvendo o bispo de Olinda, dom Vital e o Império, no tocante a proibição por parte do bispo dos católicos professarem ou ao menos participar da Maçonaria.

O fato é que já havia um cemitério na povoação do Taipu e segundo as leis que diziam respeito a construção de campos santos a época os mesmos deveriam ser construídos ao menos a distância de 1 km da povoação. Como se sabe é mais ou menos essa a distância entre a cidade e o cemitério de Taipu.

Há ainda no cemitério de Taipu antigos túmulos que remetem ao final do século XIX. O cemitério de Taipu foi ampliado em espaço para enterros ao menos duas vezes ao longo do tempo.

Efeméride

         Quando ocorreu a enchente de 1964 derrubou a ponte rodoviária que ficava próxima ao cemitério outra ponte deveria ser construída e para isso o traçado da rodovia foi redefinido, ocorreu pois, que o novo traçado deveria excluir o cemitério da cidade o que gerou grande celeuma na população que recorreu até ao governador para salvar os mortos ali enterrados.O cemitério foi poupado e o traçado redefinido passando a pista quase rente a parede do cemitério.

 

 

Cemitério de Taipu, década de 1950.Acervo de Gustavo Praxedes.

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

NOTAS PARA A HISTÓRIA JUDICIÁRIA DE TAIPU


 Criado o município de Taipu em 10/03/1891 o mesmo passou a ter autonomia política  e administrativa tendo sido desmembrado do município de Ceará-Mirim, porém, ainda ficou sendo sufragâneo da Comarca e da Paróquia daquele município vizinho.

No tocante a justiça a situação mudaria em 1903 quando foi criado o distrito judiciário de Taipu pela  lei nº  196, de 22 de Agosto de 1903.Eis o teor da citada lei:

Lei  nº  196, de 22 de Agosto de 1903.Cria no município do Taipu um distrito judiciário.

O Governador do estado do Rio Grande do Norte faço saber que o Congresso Legislativo decreta o eu sanciono a seguinte lei:

 Art. 1. É criado no município do Taipu um distrito judiciário.

Parágrafo Único — O novo distrito constituirá o 5º da comarca do Ceará-Mirim.

Art. 2. —O Governador do Estado providenciará no sentido de instalar-se o distrito, logo que seja possível.

 Art. 5. Revogam-se as disposições em contrario.

Palácio do Governo, 22 de Agosto de 1903, 15º da República.

Alberto Maranhão.

   Joaquim Soares Raposo da Câmara.

         O distrito judiciário de Taipu como visto a cima passaria a integrar o terceiro distrito da Comarca de Ceará-Mirim. Foram nomeados  Juízes distritais: Miguel Eustáquio da Cruz, Pedro Guedes da Fonseca Paiva e  Carlos Alberto Davim.

         Em 1906 a situação judiciária no município de Taipu era a seguinte:

 Suplente do juiz seccional: 1º Manoel Eugênio de Andrade, 2º: Vicente Rodrigues da Câmara e 3º: João Soares da Silva Filho.

 Ajudante do procurador seccional: Vicente Paulino de Moura Carvalho. Promotor: João Ferreira de Miranda.

Escrivão: José Martins Fernandes.

Juízes distritais: 1º: Miguel Eustáquio da Cruz, 2º: Pedro Guedes de Paiva Fonseca e 3º: Cândido Ferreira de Miranda.

Em 1910 a situação era  seguinte:

Juiz de direito: Umetério Fernandes Raposo de Melo.

Suplentes do juiz substituto seccional: 1º. Manoel Eugênio Pereira de Andrade, 2º: Vicente Rodrigues da Câmara e 3º: João Soares da Silva Filho

Ajudante do procurador seccional: Vicente Paulino de Moura Carvalho

Promotor: João Ferreira de Miranda Câmara.

Escrivão: José Martins Fernandes.

Juízes distritais: 1º. Miguel Eustáquio da Cruz, 2º. Pedro Guedes de Paiva Fonseca e 3º. Candido Ferreira de Miranda.

A mesma composição seria citada até 1915, provavelmente repetição de nomes devido a falta de atualização das informações referente ao município.

       Em 1924 os cargos de juízes distritais eram ocupados respectivamente por Miguel Eustáquio da Cruz, Antônio Guedes da Fonseca e Jerônimo do Nascimento.

         Como tabelião e escrivão Luiz Ferreira de Miranda e como oficial de Justiça Antônio Eugenio de Andrade.

 Já na justiça federal João Soares da Silva exercia a função de juiz substituto seccional, sendo seus suplentes José Joaquim de Vasconcelos e Pedro de Paiva Fonseca. O ajudante do procurador da República era Vicente Paulino de Moura Carvalho. A situação permaneceu tal e qual em 1926.     

         Em 1927 havia os representantes da justiça federal em Taipu os quais eram Pedro Guedes de Paiva Fonseca, ocupando o cargo de juiz seccional, sendo seus suplentes Manoel Eugenio de Andrade, Sebastião Leite da Fonseca. O cargo de adjunto do procurador da República estava vago naquele ano.

         Já o juiz distrital era Higino Onorato de Oliveira, sendo seus suplentes Manoel Juvêncio da Câmara e João Soares Sobrinho.

         O escrivão e tabelião era Luiz Ferreira de Miranda e o oficial de Justiça Honório Alves Ribeiro.

Em 1929 Substituto do juiz substituto seccional: Pedro Guedes de Paiva Fonseca. Suplentes: Manoel Eugênio de Andrade. Sebastião Leite da Fonseca. Adjunto do procurador da república: vago.

Em 1935 o Termo Judiciário de Taipu passou fazer parte da Comarca de Baixa Verde.

Em 1939 foi nomeado Manoel Soares da Silva para exercer o cargo de 2º juiz municipal do Termo judiciário de Taipu durante o triênio 1938-1940 (A ORDEM, 16/03/1939, p.1).

         Em 13/01/1943 o interventor federal assinou o decreto nomeando Sinésio Ferreira da Cruz para exercer o cargo de adjunto de promotor público do Termo Judiciário de Taipu, da Comarca de Baixa Verde que se achava vago.

         Outro decreto do interventor nomeava Maria Alves da Rocha, José Alves Ribeiro e Gabriel Fernandes Campos para exercerem os cargos de juiz de paz do Termo Judiciário do Taipu no triênio 1943-1945 servindo um em cada ano. (A ORDEM, 13/01/1943, p.2).

          Já em 14/05/1943 foi nomeado Tamire Miranda, aprovado em concurso, para exercer o cargo de escrivão e tabelião público do cartório único do Termo Judiciário de Taipu da Comarca de Baixa Verde (A ORDEM, 14/05/1943, p.2). Tamires Miranda assumiu  a vaga deixada pela tabelião Luiz Ferreira de Mirnada cuja aposentadoria foi concedida pelo governo do estado em 28/12/1943 (A ORDEM, 17/03/1943, p.2).

         Em 29/01/1944 foi nomeado José Marinho Alves da Rocha para exercer o cargo de adjunto do promotor público do Termo judiciário de Taipu que se achava vago. Outro decreto naquele mesmo ano nomeava José Alves ribeiro, Manoel Soares da Silva e Gabriel Fernandes Campos para durante o triênio 1944-1946 exercerem os cargos  de 1º,2º e 3º juiz distrital em Taipu, servindo um em cada ano.(A ORDEM,29/01/1944,p.5).

      Em 1947 exercia a função de juiz em Taipu João Manoel de Maria (A ORDEM, 28/12/1947, p.4). O mesmo jornal cita naquele mesmo ano Custódio Toscano de Brito como juiz municipal em Taipu ( A ORDEM, 19/07/1947, p.2).

         Em 1952 o Diário de Natal cita o juiz Joaquim Arnaud Gomes Neto exercendo a função de magistrado municipal em Taipu (DIÁRIO DE NATAL, 04/05/1952, p.8).

Já em 1954 o jornal o Poti cita Valtércio Bandeira como juiz municipal de Taipu (O POTI, 01/08/1954, p.8). Já em 1958 novamente João Manoel de Maria aparece como juiz em Taipu (DIÁRIO DE NATAL, 08/09/1958, p.7).

Inauguração do Fórum de Taipu                                                  

Dando prosseguimento ao seu programa de terceiro ano de governo o Mons. Walfredo Gurgel inaugurou o Fórum Desembargador José Gomes da Costa em Taipu.

Fórum de Taipu. Fonte: biblioteca IBGE, década de 1960/70.

     O prefeito de Taipu, Geraldo Lins de Oliveira, e a juíza da comarca, Gilka Farkat, expediram convites a várias autoridades civis e jurídicas do Estado, sendo grande o número de pessoas que começou na manhã do dia 31/01/1969, a se deslocar para Taipu. Foi a primeira comarca de primeira entrância a ser inaugurada naquele fórum judiciário. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 31/01/1969, p.7).

    Em 1984 o prédio do fórum passou por reformas até 2004 quando foi reformado novamente.

       A comarca de Taipu foi extinta em 2018.

Fórum de Taipu. Fonte: arquivo das irmãs do ICM, década de 1960/70.

Fórum de Taipu, 2015.Fonte: próprio do autor.