quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

SOBRE A NOVA MATRIZ DE ALEXANDRIA

 

De acordo com o jornal A Ordem era deveras animador o movimento religioso da cidade de Alexandria em torno da magnífica e oportuna ideia da construção de uma nova igreja para a Matriz da paróquia, dado o estado da então atual matriz, que era ainda muito pequena e em tipo colonial, não podia calar o espírito generoso e progressista do povo deste Município, contando com o apoio e possível auxilio do bispo da Diocese de Mossoró, dom Jaime Câmara.

A iniciativa partiu do prefeito e encontrou franco apoio de todas as classes, já tendo a subscrição em seu favor, que foi apenas apresentada no perímetro da cidade, atingindo o valor aproximado de 12:000$000.

         De acordo com o citado jornal, eram diversas as contribuições de 500$000 e 400$000, sendo notável o gesto do Sr. Elísio Maniçoba, que cedeu gratuitamente o barro para todo o tijolo da construção do edifício.

         Foi contratada e está em andamento a fabricação de 120 milheiros de tijolos para a edificação, que se iniciaria no mês de outubro do ano de 1938. (A ORDEM, 07/10/1938, p.2).

        A paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Alexandria foi criada por decreto diocesano de 25/10/1936 de Dom Jaime de Barros Câmara, primeiro bispo da diocese de Mossoró. 

                                              Aspectos de Alexandria












PANORAMA DE BAIXA VERDE EM 1930


De acordo com o jornal Diário de Noticias o relatório apresentado a Intendência Municipal de Baixa Verde, pelo prefeito João Severiano da Câmara, era um documento que atestava ao mesmo tempo a inteligente ação do administrador e a riqueza do município.O município fora criado pela lei n.º 697 de 29 de outubro de 1928, pelo desmembramento de Touros, Taipu e Lajes.

         Baixa Verde progrediu neste espaço de tempo, graças aos esforços do seu primeiro prefeito, que muito bem soube aproveitar as suas fontes de renda. Mais uma vez evidencia, pois, como bem disse o Sr. João Severiano da Câmara, o axioma “dividir para bem administrar". E neste ponto o relatório a que se faz referencia tece justos elogios ao presidente do Estado, Juvenal Lamartine, autor da lei que criou o novo município. Os elogios eram também, extensivos a todos os funcionários municipais, porque bem cumpriram seu dever.

         O relatório do prefeito João Câmara, era de acordo com o citado jornal, um verdadeiro histórico do município, o qual começava tratando dos limites e passando ao funcionalismo, à escrita, à instrução, aos edifícios públicos, à viação, ao abastecimento de água, às eleições, ao júri, às visitas, ao campo de aviação, à agência dos correios, ao telégrafo, ao culto religioso, à luz elétrica, às obras públicas, aos decretos, leis e resoluções da intendência, à divisão fiscal, ao campo de demonstrações, à divida flutuante, às verbas, à receita e finalmente à despesa do município.

         Alguns capítulos desse relatório foram referencias no citado jornal, sendo o que se seguem.

         A receita do município foi de 76:473$200 e a despesa de 79:087$550, o que é admissível, porque não se interrompeu nenhum serviço, porque não poucas foram as obras realizadas.

         Tratando da receita e da despesa não pode deixar de fazer referencia a divida  do município, divida que não contraiu, mas que herdou da sua antiga situação de parte de outros municípios.

Esta divida é de 34:751$030 e esta devidamente explicada. Foi contraída para a construção do grupo escolar José da Penha, o que custou 60:000$000.Como os municípios não tiveram dinheiro todo, foi feito um empréstimo com João Câmara & Irmão, na importância acima, e como o grupo passou a pertencer ao novo município, ele ficou com a responsabilidade da dívida. O prefeito atual já regularizou a situação de semelhante compromisso em prestações anuais de 6:000$000 cada uma, além de uma prestação de 4:751$030 para antes daquelas.


Aspectos de Baixa Verde, década de 1940.


Outro capítulo que mereceu atenção do jornal Diário de Noticias foi referente ao Campo de Demonstração, que transcreveu as palavras do prefeito João Câmara:

“Baixa Verde, o município de maior produção algodoeira do Estado, não poder deixar de, em breve, construir o seu campo de demonstração, quiçá, contando para isso com a colaboração do Dr. Otávio Lamartine, inteligente e dedicado diretor do Serviço de Algodão do Estado, que, num gesto louvável e patriótico, pôs  espontaneamente a disposição do Município os seus largos conhecimentos técnicos e as máquinas necessárias àquele serviço”.

O jornal também transcreveu o que  disse o relatório do prefeito João Câmara sobre o abastecimento de água do município de Baixa Verde.

“É um dos problemas mais importantes para a vida econômica do Município. Formado de territórios áridos, sem fontes perenes, sem rios, e, em geral, inadaptados para açudagem, a resolução da magna questão tende a ser feita por meio de poços tubulares, servidos por moinhos de vento.O exmo Sr. Presidente do Estado, dr. Juvenal Lamartine, sempre voltado para tudo quanto diz respeito a prosperidade e desenvolvimento do nosso querido Estado, não esqueceu esta parte relevantíssima para o progresso do Município e assim não hesitou, apesar da exiguidade da Receita Estadual, de lançar mãos dos dinheiros  públicos , mandando, num gesto do mais alto alcance, abrir em toda a zona algodoeira, desprovida de água, poços tantos quantos necessários. Assim foram perfurados os de Palestina, Pereiros, Cabaço Preto, Terra Santa, São Luiz e São João, destes, foram instalados e estão funcionando os de Palestina e Pereiros. Além disso, foram desobstruídos também os de Queimadas, Escadilha e Nazaré. Existem, também, um em Buraco Seco, em perfeito estado de funcionamento, acionado por uma bomba manual, e outro nesta vila, funcionando normalmente. Na povoação de Parazinho há um poço movido por um motor a gás pobre, que apesar de se propriedade particular, muito em concorrido para o desenvolvimento agrícola da região. Por mais que me externasse a respeito, todas as minhas expressões seriam pálidas e poucas par dizer de que representa par a vida econômica e agrícola do Município o seu abastecimento de água”.

tratando da viação, capitulo que mereceu especiais cuidados do prefeito João Câmara, dizia o relatório coisa realmente interessantes segundo o citado jornal, no qual “durante a sua curta existência, teve o município construídas e ampliadas as suas estradas de rodagem, que vão já a 450 km, sobressaindo entre elas a que liga o município a Macau”.


Aspectos de Baixa Verde

Assim terminava o relatório do prefeito João Câmara:

“Srs. Intendentes. A sobriedade de expressões deste ligeiro relatório não se explica unicamente, como vos há de parecer, pela exiguidade de tempo.Se é verdade que os meus afazeres me atarefam demasiadamente, não me permitindo, mesmo se o quisesse, realizar digressões e explanações mais extensas em torno dos problemas que de mais perto reclamam a atenção e a vista do meu governo, que tais são abordados aqui, é preciso, entretanto, dizer-vos que assim procedendo, fico coerente com os meus princípios e as minhas ideias administrativas. Isso porque, à parte do direito alheio de pensar diversamente, acho que todos os administradores deviam ter por divisa a expressão “rex no verba”[1].Sim, porque são as ações e não as personalidades e que as destacam da impramatura comum dos indivíduos; com ações é que se constrói a economia dos povos; são os homens de ações que vanguardeam as coletividades progressistas.

E para confirmá-lo, é nosso contemporâneo e prodigioso valor do “yankee” – homem de ação por excelência, magnetizando o universo com a potencia estupenda da sua riqueza. Sistematizando a vida e realizando-a, portentosa e nobiliante, no trabalho fecundo de todos os dias sem o desperdício do seu tempo, tornando-o assim eminentemente produtivo, tem o americano conseguido standartizar a sua atividade de maneira que o maravilhoso progresso do seu país é um resultado direto e imediato do seu trabalho.

O que cumpria, por força de lei, trazer ao vosso conhecimento, aqui está. É este relato de um ano apenas da vida autônoma do Município e dentro de tão curto período, sem levar em conta o esforço para organizá-lo nos moldes constitucionais, muito creio já ter conseguido, com as afirmações reais do nosso trabalho aqui enumeradas e que tendes por outro lado também, diariamente, debaixo das vossas vistas. E se nenhum coeficiente indicasse o nosso progresso e esforço, só o vulto da nossa existência livre, sobrepujando de muito a de inúmeros outros municípios, populosos e antigos, o atestaria sobremaneiramente.

O que resta, afinal, é a satisfação da consciência tranquila de haver cumprindo o meu dever, procurando corresponder à confiança daqueles que me trouxeram até aqui e o que me cumpre agora é agradecer-vos a solidariedade inquebrantável e o apoio incondicional com que, numa perfeita harmonia de vistas, colaborastes comigo no labor de todos os dias, para levar adiante, forte, vigorosa e crente do seu esplendido futuro, a terra nascente par ao triunfo da nossa Baixa Verde estremecida. (DIÁRIO DE NOTICIAS, RJ, 18/07/1930, p.6).


Prefeito João Severiano da Câmara.

o relatório que provavelmente não existe mais nos arquivos da prefeitura e da câmara do atual município de João Câmara, outrora Baixa Verde, seria hoje uma preciosa relíquia arqueóloga para rememorar os primeiros passos do município autônomo de Baixa Verde.

Pelos enxertos extraídos do relatório do prefeito de Baixa Verde, percebe-se a erudição do prefeito João Câmara.



[1] Do latim: “o rei não fala”.Tradução livre.

SOBRE A REMODELAÇÃO DA MATRIZ DE AREIA BRANCA


Areia Branca estava ressurgindo no campo religioso segundo o jornal A Ordem em 1943.Orgulhava-se a cidade de possuir uma população exclusivamente católica, sendo limitados os núcleos de acatólicos que haviam naquela terra.

         De acordo com citado jornal, a igreja matriz de Areia Branca passaria naquele ano de 1943 por grandes reformas. Foi dado inicio aos trabalhos no ano de 1936 com a construção de uma majestosa torre avaliada em 50:0004000 (50 contos), tendo sido bondosamente custeada pelo industrial Francisco Ferreira Souto, para quem os católicos de Areia Branca teriam sempre o coração agradecido, conforme o citado jornal.

         A nave e as demais partes esperavam reformas estando já ao é da obra o material cuja aquisição foi devida a cooperação espontânea dos católicos que desprenderam generosamente suas esmolas e ao gesto louvável de Dom Jaime Câmara, que ofertou a importância de 5:000$000 (cinco contos).

         Era o pároco da freguesia naquele ano de 1943 o Pe. Ismar Fernandes, inamovível e “sua ação tem sido benfazeja. É batalhador incansável em prol da causa de Cristo”, segundo A Ordem.Incentivador de todo o progresso religioso de Areia Branca, estava o padre Ismar Fernandes, dirigindo a contento o rebanho a si confiado pela Providência.


Detalhe da torre da igreja matriz de Areia Branca, 2015.

         Graças a suas brilhantes iniciativa, o movimento religioso era confortador na paróquia de Areia Branca que ganhou o epíteto de “Cidade Eucarística” pelo bispo de Mossoró, Dom Jaime Câmara. A cidade havia realizado um Congresso Eucarístico Paroquial sob a sábia orientação do Mon. Leão, então vigário da paróquia. O movimento religioso, após aquele Congresso foi duplicado, segundo o jornal A Ordem.

       Foram canonicamente eretos os seguintes movimentos religiosos na paróquia de Areia Branca: Congregação Mariana, Filhas de Maria, Liga Católica, J.M.J, Apostolado da Oração, Cruzada Eucarística, Conferência de N. S. da Conceição, de N. S. do Perpétuo Socorro e de S. Sebastião, Damas de Caridade, Arquiconfraria de N. S. do Perpetuo Socorro, Ordem Terceira de São Francisco e Obras das Vocações Sacerdotais.

       De acordo com o jornal A Ordem “que os dirigentes desta terra congreguem todas as forças para que ela continue à vanguarda das notáveis cidades do Rio Grande do Norte”. (A ORDEM, 22/01/1943, p.2).

SOBRE A VILA DE MONTANHAS

 

         O povoado de Montanhas cresceu as margens da estrada de ferro de Natal a Nova Cruz cujo traçado dos trilhos permitiu ali uma estação que fora inaugurada em 31/10/1882. Primeiramente o povoado pertenceu ao município de Nova Cruz e depois ao município de Cuitezeiras, atual Pedro Velho.

         O povoado de lento progresso ao que parece estava florescendo na década de 1930, conforme registrou o jornal A Ordem “tivemos o prazer de assistir a uma linda festa escolar na florescente vila de Montanhas, ontem um povoado sem importância, hoje quase uma cidade...”.


Aspectos da antiga estação ferroviária de Montanhas, já demolida.


De acordo com o mesmo jornal o desenvolvimento daquela vila dava-se graças a operosidade do prefeito Manoel Gadelha, que atendendo ao reclamo dos habitantes construiu em Montanhas o edifício das Escolas Reunidas, um mercado público e a estrada de rodagem ligando a sede do município àquela vila, “dando-lhe outra vida e mais progresso” disse o referido jornal.

Sobre a festa escolar

Sobre a festa escolar tratava-se do encerramento do ano letivo das Escolas Reunidas Carlos Gomes.

Pela manhã, ao som do Hino Nacional, cantado por todos os alunos, houve o hasteamento da Bandeira. As 09h00 foi celebrada uma missa pelo padre Bianor Aranha e realizada a primeira comunhão de 42 alunos, “após o que fez o conhecido orador sacro lindo sermão alusivo ao ato”, segundo o jornal citado.

A tarde teve lugar uma concorrida sessão cívica, num dos salões do edifício das Escolas Reunidas, na qual discursou a inteligente aluna Maria Nazaré Pinheiro, “que com palavras repassadas de amo, expressou, em nome de seus colegas, a gratidão que devem os alunos aos seus mestres”.A diretora da escola, Maria Miranda pronunciou em seguida um lindo discurso, “sendo a sua oração um hino a causa do ensino”.

Depois dos discursos foi aberta ao público a exposição dos trabalhos realizados pelos alunos da escola.

De acordo com o jornal citado essa exposição de trabalhos era um primor de arte e de bom gosto, mereceu dos visitantes os maiores elogios.

O pe. Bianor Aranha assim se expressou: “com a maior satisfação acedi ao convite da professora Maria Miranda, para assistir a exposição dos trabalhos das alunas das Escolas Reunidas Carlos Gomes, senti-me surpreendido diante do esforço das dignas professoras e do aproveitamento de suas educandas, parabenizo-as sinceramente”.

O prefeito Manoel Gadelha, que segundo o jornal A Ordem era um entusiasta do ensino no município, com sua esposa, D. Maria Augusta, assim manifestaram-se: “ visitando, a gentil convite da professora Maria Miranda, a exposição de trabalhos destas Escolas, temos a magnífica impressão que nos proporcionam as cousas maravilhosas.A nossa admiração é tanto maior, porque apreciamos bem o esforço, a dedicação constante da dirigente Maria Miranda, no sentido de bem cumprir o seu dever, captando essa simpatia e essa confiança dos pais de família e a veneração de seus alunos, de que se tornou tão justamente digna.Louvores, portanto, a operosa Dirigente e sua distinta companheira Hilda Machado, merecedora também das palavras que aqui sinceramente  deixamos”.

E foi sempre assim que se expressaram os que tiveram a satisfação de visitar naquele dia as Escolas Reunidas de Montanhas em 19/11/1938.

Fonte: A Ordem, 11/12/1938, p.2.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A INAUGURAÇÃO DA NOVA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE ESTREMOZ


         Quão grata surpresa foi encontrar justamente hoje essa noticia da inauguração da nova estação de Estremoz-RN que ocorreu em 13/12/1952, portanto, há exatos 68 anos.

De acordo com o jornal Diário de Natal “conforme foi anunciada pela imprensa, inaugurou-se ontem [13/12/1952] a nova estação de Estremoz da Estrada de Ferro Sampaio Correia...” (DIÁRIO DE NATAL, 14/12/1952, p.1.Grifo nosso).

         O melhoramento fazia parte do plano di diretor daquela ferrovia potiguar, o engenheiro João Galvão de Medeiros.

         A solenidade foi pela manhã daquele dia 13/12/1952, contando com a presença do diretor da EFSC, além de autoridades e funcionários da mesma ferrovia.

           Abaixo o aspecto do prédio da estação de Estremoz inaugurado em 13/12/1952, onde se vê igualmente uma das automotrizes que havia na EFSC para o transporte do subúrbio a época entre Natal e Ceará-Mirim, o chamado "motriz".


Foto Diário de Natal, 14/12/1952, p.1.

Essa outra foto mostra o flagrante da inauguração quando o padre Pedro Luz, diretor do serviço social da EFSC dava a benção do prédio da nova estação de Estremoz. 

                     

Foto Diário de Natal, 14/12/1952, p.1.

  A baixo o comparativo das imagens do dia da inauguração e atualmente.



O ESTADO DA ESTRADA DE FERRO SAMPAIO CORREIA EM 1958

 

         Em 1958 o leitor Jaime Dantes de Oliveira publicou na revista Maquis sua triste experiência numa viagem de trem da Estrada de Ferro Sampaio Correia.

         Jaime estava passando por Natal e precisava prosseguir viagem, tendo sido informado de que deveria partir as 17h00 um trem que o levaria a seu destino.

         As 16h30 estava ele na estação, esperando o trem, que afinal só saiu as 17h30, levado pela locomotiva 109.

         Eram 5 vagões, sendo dois carros de 2ª classe e 3 de carga. ”Acontece que os carros de segunda representavam o papel dos de 1 e o de carga substituíam os de segunda”.

         Após andar 10 km o atraso já não pequeno, mas ai, é que a coisa ficou feia, disse Jaime Dantes. A locomotiva não tinha capacidade para puxar os 5 vagões. O remédio foi voltar a Igapó, localidade próxima a Natal e esperar por socorro. Eram já 19h30.As 22h00 chegou outra locomotiva (nº 107) que rebocou a composição, inclusive a locomotiva nº 109, para a oficina de reparos, pois que ela também precisava de conserto. Somente as 22h50 Jaime Dantes pode prosseguir na sua viagem.

Em resumo: um percurso normalmente feito em 1 hora e 30 minutos foi feito 10 horas. E as verbas da Estrada de Ferro Sampaio Correia continuam servindo para que os apadrinhados construam e comprem fazendas e propriedades, dizia a citada revista.

                                  Locomotiva 109 da EFSC





O relato a cima serve para ilustrar o estado já em decadência da principal ferrovia do Rio Grande do Norte aquela época.

 

 Fonte: Revista Maquis,1958,p.33.

O MUNICÍPIO MAIS POBRE DO RIO GRANDE DO NORTE EM 1957

 

Em 1957 o IBGE declarou o município de Marcelino Vieira como sendo o mais pobre do Brasil. Foi o suficiente para o município ser alçado aos holofotes da imprensa nacional devido sua condição nada lisonjeira. José Calazans Fernandes, o prefeito de Marcelino Vieira, foi naquele ano ao IV Congresso dos Municípios realizado na então capital federal, Rio de Janeiro.

         Ao desembarcar no Rio de Janeiro disse a reportagem de um dos jornais de lá “eu represento o município mais pobre do Brasil de acordo com as estatísticas do IBGE. Em compensação, Marcelino Vieira é o lugar em cuja feira mais se vende versos dos cantores do Nordeste”. (DIÁRIO DE NATAL, 27/04/1957, p.1).

Sem nada

         Sem escolas, sem hospitais, sem médico, sem padre na igreja, sem qualquer auxilio do governo federal, assim foi descrito o município de Marcelino Vieira, que foi considerado pelo IBGE o município mais pobre do Brasil.

Pedir ajuda

         O prefeito José Calazans Fernandes foi ao Rio de Janeiro participar do IV Congresso dos Municípios, mas também ver se conseguia do governo federal algum auxilio para o seu município.

         Foi o prefeito que mais deu entrevistas a imprensa carioca. Mas não participou de nenhuma das reuniões do Congresso, pois adoeceu logo que chegou ao Rio, indo parar num hospital. Foi ele quem disse: “sujeito a uma longa caminhada para chegar ao Rio e mostrar que existe um município tão pobre no Brasil, e que seu prefeito adoece só numa viagem a caminho da Capital Federal, não tive oportunidade de assistir a uma só reunião do Congresso. Assim mesmo, não consta que alguma coisa  de útil tenha sido resolvida”.

         De acordo com o prefeito José Calazans Fernandes, para participar do Congresso, a prefeitura de São Paulo, havia gastado mais de 200 mil cruzeiros, que era toda a arrecadação do município de Marcelino Vieira durante um ano (189 mil cruzeiros pra ser mais exato). José Calazans Fernandes para poder participar do Congresso, gastou Cr$ 12 mil só de passagens.

         Atravessou o rio, que estava cheio, por cima de árvores, já que no seu município não existia pontes. Andou em lombo de burro, cano, jipe e automóvel, até pegar o avião. Falou de sua cidade, onde foi eleito na chapa da UDN, para mostrar-lhe o esforço em sobreviver. Não tinha luz, a única diversão era um rádio, que era escutado por todos os 1.050 habitantes de Marcelino Vieira, e que era o único vinculo ao resto do Brasil. Precisava de água encanada, esgoto, hospital, escola e também um padre.

         Marcelino Vieira estava entregue a própria sorte. A arrecadação era pequena, apesar das riquezas inexploradas no seu solo (Schelita, mineral atômico, era uma delas).

         E o auxilio federal? Perguntou um repórter.

         “Só temos a cota que é de lei e assim mesmo, quando as injunções não impedem que o dinheiro chegue até o município”, respondeu o prefeito José Calazans Fernandes. (MAQUIS, 1957, p.29).

 “Vim ver se consigo livrar minha terra dessa triste evidencia”

         José Calazans Fernandes viajara 60 léguas em lombo de burro e mais 2.000 km de avião para chegar até o Rio de Janeiro. “Não vejo glória nenhuma em ser representante do município mais pobre, mas vim ostentar esse titulo para ver se consigo livrar a minha terra dessa incomoda evidencia estatística”, disse o prefeito de Marcelino Vieira.


José Calazans Fernandes, prefeito de Marcelino Vieira em 1957.
Foto: Revista Maquis, 1957,p.29.


         Defendendo seu município disse o prefeito José Calazans Fernandes “minha terra é a mais pobre, mas poderia ser a mais rica, porque o seu solo tem schelita, berilo, água marinha, salitre e outras minerais inexploradas, pois falta água e vias de locomoção para os transportes”.

Por que era Marcelino Vieira o município mais pobre?

         Marcelino Vieira não tinha luz, água, esgoto, hospitais, escolas. A agência dos Correios e Telégrafos eram sustentados com os parcos recursos da municipalidade, porque não tinha prédio próprio. A arrecadação do município, por ano, era de pouco mais de 190 mil cruzeiros. Sem um agente de estatístico, obrigava seu prefeito a andar 5 léguas (30 km) para levar as informações ao funcionário do IBGE em Pau dos Ferros.Sem estradas, os caminhos carroçáveis os que ligavam o município à Capital do Estado, distante 60 léguas, a Mossoró, principal cidade do Oeste, a Pau dos Ferros, Apodi, Luiz Gomes, Alexandria e outros municípios mais próximos. Nunca se alcançava Natal com menos de 3 dias de viagem.

         Quem adoecia de qualquer moléstia grave em Marcelino Vieira estava condenado a morrer não da própria doença, mas em consequência da longa caminhada que era obrigado a fazer em lobo de burro ou sobre a carroça de um caminhão a para achegar ao hospital mais próximo, que ficava em Mossoró, distante 30 léguas. Quem precisasse de um padre, tinha que viajar 30 km para chegar a Pau dos Ferros, que era sede da paróquia. Quem necessitasse do médico tinha que fazer o mesmo trajeto, pois, era também em Pau dos Ferros que estava  radicado o único médico de toda a região. "Na minha terra costuma-se dizer que ali é proibido adoecer ou morrer”, declarou o prefeito José Calazans Fernandes.

Pequenos e grandes problemas

         Para ilustrar a situação vivida em Marcelino Vieira, bastava dizer que há tempos o prefeito havia pleiteado ao Governo do Estado uma verba de 30 mil cruzeiros para fazer obras de emergência na única escola mantida pelo Estado na cidade. Precisava comprar bancos, onde os meninos se sentassem e tapar uns buracos, por onde a água da chuva entrava, danificando o prédio, disse o prefeito de Marcelino Vieira.

         Aconteceu que, diante da insistência do prefeito em obter a verba, o secretário de Educação, se deslocou da Capital para o interior e chegando a Marcelino Vieira foi inspecionar o grupo escolar. Deparou-se o secretário com os meninos sentados no chão, sem livros e sem cadernos, apressou-se em perguntar quantos deles já estavam em condições de votar. Ao mesmo tempo em que fazia a pergunta, comunicava que acabara de dar dois milhões de cruzeiros para a construção de uma nova escola no município vizinho de Alexandria, onde já existiam duas e onde o chefe político o apoiava.Assim, como se via, pequenos problemas sem tornavam grandes, pela falta de espírito público dos dirigentes.

Costumes e cultura

A gente da cidade (cerca de 1.050 habitantes a época) dedicava-se a pequenas indústrias e ao comercio, 2 padarias, 20 mercearias, 3 sapatarias e 1 curtume. Como diversão, havia apenas um rádio, na casa do prefeito. A cidade era composta de 300 casas.


Fonte: Enciclopédia dos municípios, IBGE,1960.

         A população dos sítios (cerca de 5.000 pessoas) vivia da cultura do feijão, milho, algodão mocó, arroz, cana-de-açúcar, mandioca, oiticica e mamona em pequena quantidade.

         A feira de Marcelino Vieira, realizada todas as segundas-feiras, também era dia de missa na cidade, foi em outros tempos, uma das mais fartas e mais baratas da região.

         Aquele ano de 1957, porém, estava reduzida a quase nada, em virtude de concorrências dos demais municípios vizinhos. Em toda a zona rural havia 23 escolas e na cidade existia apenas duas,sendo um municipal e a outra estadual.a frequência no sítios era de poucos menos de 200 alunos e na cidade era de 190 alunos.

Reivindicações

         O prefeito de Marcelino Vieira havia levado uma lista de reivindicações, as quais constavam de água, luz, esgoto, hospital, estradas e tudo mais que o município de Marcelino Vieira não tinha para atender a uma população de 3.000 habitantes, dos quais 65% eram analfabetos e nenhuma atividade econômica definida.

         O prefeito de Marcelino Vieira trazia para o Rio de Janeiro algumas reivindicações, as quais eram: fazer um açude, o Maniçoba I, já projetado desde 1950, mas nunca construído, o hospital, serviço de água, um prédio para os Correios e Telégrafos (já havia aprovada uma verba no último orçamento do governo federal de 150 mil cruzeiros para isso) e escolas, “vindo de tão longe para pedir tão pouco” declarou o prefeito José Calazans Fernandes e ainda “acho que só compensa porque minha terra é mesmo a mais pobre. E não vejo nisso nenhum desdouro, porque, segundo disse, se Marcelino Vieira fosse lembrada e a decantada política municipalista uma realidade, o município poderia ser um dos mais ricos, tem schelita, tantalita, água marinha, salitre, cristal de rocha e muitas riquezas minerais inexploradas”. (CORREIO DA MANHÃ, 30/04/1957, p.8-10).

                                         Aspectos de Marcelino Vieira


Fotos: Enciclopédia dos Municípios, IBGE, 1960.


         Falando ao jornal A Noite disse o prefeito de Marcelino Vieira “cheguei com o titulo de prefeito do município mais pobre do Brasil. É esta a minha credencial. Pretendo, porém, mostrar como vive a minha gente dentro das atuais condições de vida do Nordeste e como poderia viver, se os recursos e a política municipalista tão decantada chegasse até lá”.

Meio século de existência

O município de Marcelino Vieira tinha mais de meio século de vida.foi criado em 1874 pela lei 690 termo judiciário do município de Pau dos Ferros, da mesma comarca, com o nome de Paz da Vitória.A sua historia estava identificada com a luta do sertão contra Lampião que por ali passou em 1927, oferecendo combate a população numa localidade próxima chamada Caiçara, perdendo ali dois de seus “cabras’.

         Paz da Vitória era o caminho natural dos tropeiros que descendo ds Serra do Martins e atravessando o vale do Apodi, se dirigiam em direção ao Cariri ou a Paraíba. Por isso, logo no começo de sua fundação, a qual se devia em parte ao velho Marcelino Vieira, chefe de uma tradicional família da região e que acabou por dá nome ao município, a vila prosperou e cresceu para estacionar alguns, depois, durante a grande seca de 1877. Paz de Vitória foi um dos lugares mais assolados por aquela estiagem.

 A vida em Marcelino Vieira era em função de um rio estreito, o que nasce ao pé da serra do Panatis e que quando enchia cobria os baixios, possibilitando a agricultura.

         A feira era o maior acontecimento da vida de Marcelino Vieira, realizada semanalmente, coincidindo com o dia da missa, quando o padre se deslocava de Pau dos Ferros para dizer missa. Os moradores vinham dos sítios, com a melhor roupa, os melhores vestidos e essa era a oportunidade de rever amigos e parentes.

         A feira tomava conta de toda a rua principal, chamada de rua de cima, por que não tinha nome oficial e ali se vendiam e se trocava de tudo, burros, pimenta de macaco e banha de lagarto contra mordida de cascavel. Um dos negócios mais típicos era a venda ou troca de animais. Havia um pregoeiro oficial da localidade que era Severino Bagatela, um paraibano de Catolé do Rocha.

Povo sofredor

         Reunindo gente de todos os matizes s endo entroncamento de caminhos para o Ceará e Paraíba, o município de Marcelino Vieira era porem, um lugar pacato, onde vivia uma gente sofredora que já havia atravessado diversas secas, como as de 1877, 1932 e 1943, comendo peixe e batata doce, à beira dos açudes de Maniçoba, Gangorra, João Gomes, Lajes, Varzea Grande, saco, Pico e outros.

 O povo de Marcelino Vieira gostava de ouvir o único rádio existente no município, onde todas as noites era grande a aglomeração em frente a casa do prefeito José Calazans Fernandes, que colocava o rádio a todo volume para contentar o povo. (TRIBUNA DA IMPRENSA, 24/04/1957, p.2).

De acordo com o jornal Tribuna da Imprensa o prefeito de Marcelino Vieira ouviu dizer lá em sua cidade (certamente no rádio do município que era de sua propriedade) que o governo pretendia ajudar os municípios, veio então ver de perto até onde ia o municipalismo de JK. (TRIBUNA DA IMPRENSA, 27-8/04/1957, p.4).

         Uma audiência do prefeito de Marcelino Vieira com o presidente da República foi pedida pelo deputado Antônio Martins Fernandes na tarde de 20/05/1957 no Palácio do Catete. José Calazans Fernandes pediria nessa audiência ao presidente Juscelino Kubistchek a liberação de uma verba de 150 mil cruzeiros, votada em orçamento da República, para aquele ano de 1957 destinada a construção de uma sede par os Correios em seu município e que segundo soube do Cel. José Alberto Bittencourt, diretor geral do DCT, estava incluída no plano de economia do Governo.

         Como o ministro da viação, o prefeito de Marcelino Vieira pretendia obter a verba para construção do açude Maniçoba I cujos estudos e planos estavam  concluídos desde 1952.O açude viria a beneficiar mais de 600 famílias, teria a capacidade de resistir a várias secas e seria o único com tais características em todo o município numa zona castigada pela secas. (A NOITE, 27/05/1957, p.15).

         De acordo com outros jornais cariocas, o prefeito de Marcelino Vieira compareceu ao Congresso dos Municípios viajando por conta própria, pois pretendia mostrar as autoridades como vivia a gente do município mais pobre do Brasil.

         Todas as informações do município foram entregues num memorial ao presidente da República e ao ministro da viação por intermédio do Jornal do Brasil.

         “Sou apenas um, entre muitos, em cujas portas certamente milhares de flagelados estendem a mão”, disse o prefeito José Calazans Fernandes e continuou “condoído diante da imensa legião de deserdados da sorte, devolvo a V. Exas., as súplicas a mim dirigidas, não por me furtar a socorrer alguém com um prato de comida, mas por não dispor mais de recursos, nem representar força eleitoral capaz de despertar o interesse dos que manipulam os dinheiros públicos”.

         O memorial do prefeito José Calazans Fernandes tinha duas laudas e vinha assinado por mais de 50 pessoas escolhidas ente os elementos mais representativos de Marcelino Vieira. Sugeria ao presidente da República e ao ministro da viação a realização de obras já estudadas e programadas, mas que se encontravam paralisadas, como melhor maneira de socorrer o povo.

                                     Aspectos de Marcelino Vieira


Fotos: Enciclopédia dos Municípios, IBGE,1960.


Em 1958 o município de Marcelino Vieira foi invadido por mais de 3.000 flagelados famintos, para ali atraídos pelo alistamento do Batalhão Rodoviário para a construção da estrada ligando aquele município a Alexandria. Por falta de gêneros, o Batalhão só alistou 560 homens e os restantes se alojaram nas ruas da cidade,s em ter o que comer, apelando para o prefeito, que depois de esgotar os últimos recursos, apelava para o governo federal. (JORNAL DO BRASIL (RJ), 16/05/1958, p.10).

Em 1958 o repórter Calazans Fernandes do Jornal do Brasil, foi candidato a deputado estadual do Rio Grande do Norte. Ele era filho do prefeito de Marcelino Vieira, que havia sido considerado o município mais pobre do Brasil segundo o IBGE.

sábado, 12 de dezembro de 2020

SOBRE A ESTAÇÃO DE CAJUPIRANGA


         A estação de Cajupiranga foi construída no km 23,140 da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz, tendo sido inaugurada em 28/09/1881 no primeiro trecho da ferrovia compreendido entre Natal e São José de Mipibu.

    De acordo com o relatório do presidente da provincia de 1883 as paradas de Pitimbu e Cajupiranga se achavam conservadas naquele ano, assim como as demais da Estrada de Ferro de Natal a Nova. (RELATÓRIO, 1883, p.11).

        A estação de Cajupiranga era utilizada pela população que habitava o vale homonimo assim como das regiões do interior do estado que embarcavam os produtos ou viajavam para Natal e demais cidades ao longo da ferrovia a aprtir da estação de Cajupiranga.

     De acordo com o relatório do ministério da agricultura de 1907 naquele ano a estação de Cajupiranga auferiu a quantia de 2:877$250 réis. (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1907, p.372), a renda provavelmente proveniente dos engenhos da região.

Ruínas da estação de Cajupiranga.


A mudança da estação para Parnamirim

         A florescente vila de Parnamirim há tempos reclamava uma estação ferroviária naquela localidade, pois a que servia a comunidade era a de Cajupiranga distante daquela vila.

Foi atendendo ao que expôs o Departamento Nacional de Estradas de Ferro, que o ministro da viação autorizou a mudança da estação de Cajupiranga para o local em que se encontrava a Base de Parnamirim. (A ORDEM, 01/09/1943, p.2).

De acordo com o jornal a Ordem em aviso da diretoria da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte foi entregue ao trafego público em 15/09/1943 a estação ferroviária de Parnamirim. ”É mais um importante melhoramento introduzido pela Central sempre empenhada em bem servir ao nosso público” escreve o citado jornal (A ORDEM, 15/09/1943, p.1).

Foi a primeira estação inaugurada após a fusão do trecho ferroviária Natal a Nova Cruz com a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte o qual passou ser apenas uma ferrovia a partir de 1939.

Sobre o vale e a povoação de Cajupiranga

      Pelo vale do rio Cajupiranga e Pitimbu passava a antiga estrada que ligava a Paraiba ao Rio Grande do Norte pelo litoral.Em alguns trechos foi necessário se construir algumas pontes como as que foram citadas ao longo do tempo nos relatórios dos presidentes da província.

     No relatório do presidente da província de 1863 constava que ele próprio havia examinado as duas pontes que ficavam na estrada que ligava a Capital a São José de Mipibu, respectivamente as pontes de Pitimbu e Cajupiranga, e orçou em r$5.986:620  as despesas com os reparos de que elas precisavam,o que equivaliam a uma reconstrução pelo péssimo estado em que se achavam,sendo 1:952:590 para a ponte de Pitimbu e 2.033;900 para a de Cajupiranga. (RELATÓRIO, 1863, p. A-5).

     Em 1873 as pontes do Pitimbu e Cajupiranga foram novamente incluídas nas obras que necessitavam serem feitas na estrada que ligava Natal a São José de Mipibu no valor de r$ 3:500$000. (RELATÓRIO, 1873, p.32).

    Em 1885 o relatório do presidente da província afirmava que as obras das pontes do Cajupiranga e Pitimbu foram concluídas ,ficando reparadas com madeira de lei as suas estivas e guardas.A do Pitimbu estava apoiada sobre paredões de pedra e cal feitos solidamente em cima de estacas e os aterros com fileiras novas de estacas de cada lado, também elevados a altura superior a um palmo e meio ao nível da ponte, em desconto de que pudesse abater o transito. (RELATÓRIO, 1885, p.16-17).

   O vale do Cajupiranga por está em terrenos de alagadiços próximo ao litoral sofria constantemente as inundações as quais muito contribuíam para interromper o trafego ferroviário da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz, como aconteceu em 1881, quando por alguns dias esteve interrompido o transito da estrada de ferro de Natal a Nova Cruz visto terem sido abatidas algumas pontes com a força da torrente, entre estas pontes estava a de Cajupiranga, que a direção da ferrovia tratou logo de reconstruir (JORNAL DO COMÉRCIO, 14/06/1881, p.1).

    Na seca que ocorreu entre os anos de 1877 e 1879 foi fundada pelo presidente Lobato Marcondes um colônia para retirantes em Cajupiranga, tendo sido reunidos cerca de 6.600 pessoas no local, muitas das quais foram utilizadas nos trabalhos de construção da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz.

   A experiência, no entanto, se mostrou desastrosa devido a má administração de seus diretores e pelo impaludismo que ali reinou com violência fazendo numerosas vitimas.

     O vale do rio Cajupiranga junto com o do Pitimbu e Japecanga eram onde se produzias os cereais e cana de açúcar do município de Natal.Em 1893 existiam em Natal 7 engenhos de fabricação de açúcar e aguardente, sendo 2 movidos a vapor e 5 por tração animal.Tendo a produção do açúcar, tendo sido calculada a produção aquele ano entre 700 a 900 kg e a de aguardente a 150.000 litros aproximadamente.

O Distrito de Cajupiranga

     Como era de se esperar um núcleo urbano se formou no entorno da estação de Cajupiranga logo após sua inauguração.A região sempre esteve subordinada administrativamente ao municipio de Natal.

O relatório do governo do estado de 1893 cita Cajupiranga como um dos distritos policiais existentes no município de Natal. (RELATÓRIO DO GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO NORTE, 1893, p.61).

O jornal A República cita Cajupiranga como povoação em 1902 (A REPÚBLICA, 07/07/1902, p.1).

Senhor de Engenho

 O jornal A República cita o major Antonio de Carvalho como senhor de engenho em Cajupiranga. (A REPÚBLICA, 22/05/1902, p.4).

O Engenho Santo Antonio

      Um dos engenhos a vapor existentes no vale do Cajupiranga era o Engenho Santo Antonio.Em 1928 ele foi posto a venda e pelo anúncio publicado no jornal Diário de Pernambuco fica-se sabendo como ele estava constituído.

         “Vende-se uma bem montada propriedade no Vale de Cajupiranga distante de Natal 22 quilômetros com engenho a vapor que produz diariamente 25 formas de açúcar, alambique, aviamento para fabricação de farinha, terra para plantação de cana com capacidade para 3.000 sacos de açúcar.

         Outro Vale sem estar cultivado que também presta-se para toda cultura, bastante árvores frutíferas já botando e muitas novas, coqueiros botando e 800 pés novos.

         Animais suficientes para o trabalho, 14 burros para tração, 2 para sela, vacas para leite, 24 bois de carro, 3 carros, um caminhão Chevrolet em perfeito estado e um cercado na mata com 12 km de circunferência para criação, etc.A tratar com Virgílio Lins, engenho Santo Antonio, Cajupiranga”.  ( DIÁRIO DE PERNAMBUCO, p.27/09/1929, p.7).

A Base Aérea

Com a construção da Base Aérea de Parnamirim, no tempo da II Guerra Mundial, o incipiente povoado ali próximo existente floresceu e de desenvolveu tornando-se em pouco tempo uma próspera vila.

Muitas terras que ali se situavam pertencia ao antigo Engenho Santo Antônio ou Cajupiranga que foram aforadas e vendidas pelo Estado a particulares. Em março de 1945, porém, surgiram os herdeiros do espólio antigo engenho, que deram inicio a uma das mais longas batalhas judiciais do Estado para reaver a posse daquelas terras.

O vale do Cajupiranga pertenceu ao município de Natal até 1948 quando ocorreu naquele ano a emancipação do então distrito e vila de Parnamirim constituindo-se novo município.

A construção da Base Aérea, no entanto, determinou a decadência de Cajupiranga e postreiormente o deslocamento do núcleo urbano para Parnamirim que é a atual sede municipal, porém o mais antigo núcleo urbano deste município foi sem dúvidas o Cajupiranga, que figura atualmente como um bairro de Parnamirim.