quinta-feira, 31 de março de 2022

OS MELHORAMENTOS NA EDIFICAÇÃO DA CIDADE DE CAICÓ A PARTIR DE 1890


         o jornal O Povo na edição do dia 02/11/1890 estampou um artigo onde apresentava os melhoramentos que vinha sendo feitos na edificação da cidade de Caicó ainda que timidamente.As informações contidas naquele artigo nos fornece hoje detalhes importantes para se compreender a evolução urbana da “Capital do Seridó”.

         De acordo como o referido artigo quem passasse pela cidade de Caicó anterior a 1890 notaria com tristeza o estacionamento geral, um desanimo completo, sinal evidente de decadência.

         A edificação de Caicó era má, sem gosto e sem arte, com casaria desmorando-se, as ruas emporcalhadas, montões de lixo por toda a parte, as casas despovoadas, o comércio sem vida, reduzido à pequena proporções,e sempre decadente.Esse foi quadro pintado de Caicó pelo referido jornal.

         Porém, há alguns anos tudo foi se reanimando e como que renascendo para uma vida nova.Surgiram novas edificações,melhoraram-se as antigas e o comércio prosperou e tomou movimento crescente a ponto de Caicó se constituir num pequeno empório comercial que já dava um aspecto de praça.

         Como consequência desse estado de prosperidade, Caicó aumentava a cada dia a sua edificação e já se tornava pequena e insuficiente a área em que estava edificada a cidade, apesar de que a cidade estivesse colocada num terreno tão impróprio e inconveniente para a edificação de uma bela povoação.

         Conforme o citado jornal parecia que os primitivos povoadores de Caicó nunca tivessem a ideia de que a cidade chegasse a passar de uma aldeia, quando começaram a construí-la dentro de um buraco e no meio da serrotagem que tantos inconvenientes trazia à saúde pública.

         Era preciso reparar o erro dos antepassados, sugeria o jornal O Povo.O perímetro urbano da cidade não comportava mais novas edificações.A cidade tendia a aumentar e era necessário abrir novas ruas em terreno mais apropriado, como por exemplo, em direção ao rio Barra Nova.

         A planície que se estendia da rua do Rosário até a ribanceira do rio poderia se prestar perfeitamente a novas e belas edificações.




Aspectos de Caicó.

         A Intendência Municipal deveria tomar em consideração o assunto e sujeitá-lo a um estudo consciencioso. Esse terreno, eram os únicos adaptáveis ao desenvolvimento das edificações, que a época pertenciam ao herdeiros do finado Aladim, poderiam ser desapropriados ou aforados por uma quantia módica, de que a Intendência poderia indenizar, cedendo-o por preços convenientes aos novos edificadores.

         Poderia-se assim dar maior impulso ao engrandecimento material da cidade, abrindo novas ruas largas e espaçosas que muito contribuiriam para o seu aformoseamento.

         De acordo com o jornal O Povo a Intendência de Caicó não poderia se descuidar do futuro engrandecimento da cidade e deveria aproveitar a boa disposição dos seus habitantes que se mostraram desejosos de trabalharem pela prosperidade da cidade como vinha se verificando desde a publicação do código de posturas relativa a limpeza exterior das casas e asseio das ruas.

         Enquanto houvesse a boa vontade, enquanto o comércio se tornasse uma fonte de riqueza, enquanto os habitantes do município afluíssem à cidade e todos quisessem ter suas casas, era preciso tratar de engrandecê-las e aformoseá-las.

         O jornal O Povo se absteve de fazer  considerações relativas a vantagem de melhorar o tipo das edificações e a introdução de novos modelos de casas simples, mais elegantes, por ser uma questão mais complicada e que necessitava sobretudo que “fossemos dotados de melhor gosto e de uma certa vaidade e luxo, que ainda não se coadunam com os nossos costumes”, escreveu o referido jornal.

         Ainda era cedo para poder incutir no animo do povo caicoense como seria belo e edificante

fazer no meio daqueles sertões aspérrimos uma cidade elegante, espécie de Oasis onde o viajante descansasse as vistas cansadas da escabrosidade daquele solo.

         Por ora, bastava de tratar de dar impulso a vida que começava a nascer na cidade de Caicó e quando essa vida já circulasse em novas ruas, artérias novas do progresso, o citado jornal trataria então do aformoseamento dos sertões do Caicó.Fonte: O Povo, 02/11/1890,p.1.

Em 23/11/1890 o jornal O Povo voltou a escrever sobre o aformoseamento da cidade de Caicó, desta vez tratou sobre a arborização.Segundo o referido jornal a arborização das ruas e praças da cidade além de ser um grande aformoseamento, era além disso, um meio altamente higiênico  de melhorar as condições climáticas de Caicó.

         Dentre os melhoramentos materiais de que precisava a cidade de Caicóa arborização estava em lugar saliente e confiava o citado jornal que os poderes públicos e a iniciativa de particulares não iriam descuidar desse assunto. (O POVO, 23/11/1890, p.1).

         Já em 27/11/1890 o jornal O Povo escreveu que caminhava para a realidade as medidas tomadas pela Intendência Municipal para dotar a cidade de Caicó de melhoramentos indispensáveis e de há muito tempo reclamadas pela salubridade pública.

         Assim, seria feita a arborização do largo da Matriz que seria em breve iniciada, não só com a finalidade de ter um ponto de recreio,como e principalmente, para dotar a cidade de um elemento que era tão necessário a sua respiração, como eram os pulmões à vida do individuo.




Largo da matriz de Caicó, decádas de 1920/30.


         As fontes públicas seriam fiscalizadas, a fim de que pudesse ser evitada  porcaria que constantemente aparecia nesses lugares.A Intendência proibiria o uso das vazantes numa extensão de 200 braças a cima das ditas fontes, impedindo assim que de envolta com a água fossem filtrados os sais do estrume com que costumavam os vazanteiros adubar a área do rio Seridó, a fim de aumentar a sua fertilidade.

         Seria considerado de utilidade pública e ficaria sujeito a desapropriação o terreno que ficava situado entre os rios Seridó e Barra Nova e sudoeste da cidade, que segundo jornal O Povo era o único terreno que se prestava a edificação e para onde a cidade tenderia a estender-se.

         Seria nesse terreno que se poderia construir um cemitério que substituísse o existente que era pequeno e muito arruinado, e cujas terras demasiadas gordas, já custavam a consumir os cadáveres.

         A construção de um novo cemitério era tanto urgente pois se vinha notando que com as primeiras chuvas do inverno coincidia com o aparecimento de febres de mau caráter e a desenteria, e essa alteração da saúde pública era sem dúvida, segundo o jornal O Povo, devida a infiltração das águas pluviais que depois de banharem o cemitério, corriam pelas ruas da cidade, impregnando o solo dos detritos animais, que em abundância existiam na cidade dos mortos. (O POVO, 27/11/1890, p.1).




Aspectos atuais de Caicó.


segunda-feira, 28 de março de 2022

A INAUGURAÇÃO DA AGÊNCIA DO BANDERN EM PEDRO AVELINO

 

 

A implantação da agência do BANDERN em Pedro Avelino deveu-se a iniciativa do então prefeito José Adécio Costa que segundo O Poti: “tanto ‘brigou’ que conseguiu a implantação da agência do Banco do Estado do Rio Grande do Norte-Bandern, para a sua cidade”.(O POTI,31/08/1980, p.19).

         De acordo com o jornal O Poti em 12/10/1980 prosseguiam as obras de reforma do prédio que serviria de sede para a agência do BANDERN. Segundo organograma, no dia 15/12/1980 as obras já estariam concluídas, entrando na fase de instalação de móveis, utensílios, guichês,etc. (O POTI, 12/10/1980, p.23).

A inauguração

          A agência do BANDERN em Pedro Avelino foi inaugurada em 21/06/1981 as 09h00. Além do governador Lavoisier Maia, estiveram presentes os secretários Iberê Ferreira de Souza, Tarcisio Cavalcante, Marlúzia Saldanha, Vauban Bezerra, Ronaldo Fernandes, vários presidentes de empresas de economia mista, parlamentares,o prefeito de Natal, José Agripino,  prefeitos da Região Central, composta de 14 municípios e Diretoria do BANDERN. (O POTI, 21/06/1981, p.3).Foi a 27ª agência do BANDERN a ser inaugurada no Estado.

De acordo com o Poti, o prefeito José Adécio promoveu uma das maiores festas populares naquela cidade para receber o governador Lavoisier Maia e comitiva, que foi ali inaugurara agência do BANDERN e outras obras da administração municipal. (O POTI, 21/06/1981, p.24).

Conforme  a propaganda do Bandern no jornal O Poti, o banco ocupava um novo espaço no interior do Estado, ampliando sua atuação em defesa dos interesses das atividades básicas do Rio Grande do Norte, chegando a vez da cidade de Pedro Avelino, região algodoeira, de cereais e de pecuária de ter um agência do BANDERN (O POTI, 26/06/1981, p.7).Assim como em Pedro Avelino, toda a região central do Estado teria mais um suporte para o seu desenvolvimento.

Prédio onde funcionou a agência do BANDERN em Pedro Avelino.Foto: O Poti, 26/06/1981, p.7.

O BANDERN encerrou suas atividades em 1990 sendo extinto posteriormente.

A agência do Bradesco

         Além do BANDERN outra agência bancária foi inaugurada em Pedro Avelino naquele ano de 1981, sendo desta vez a do Bradesco, que seria inaugurada em 01/09/1981. (O POTI, 30/08/1981, p.8).

domingo, 27 de março de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE III) A CATEDRAL NEOGÓTICA

 A catedral neogótica 

Dom Marcolino de Souza Dantas tomou posse como 4º Bispo da diocese de Natal em 29/06/1929. Foi ele que retomou em 1933 a ideia da construção da nova catedral de Natal só que dessa vez com um novo projeto arquitetônico em estilo neogótico como veremos adiante.

Projeto da nova catedral de Natal em estilo neogótico.

Para iniciar a obra da nova catedral dom Marcolino tinha que reaver o terreno da Praça Pio X pertencente a diocese e que por  aquele tempo estava servindo como praça pública construída pela prefeitura de Natal.

A justificativa para se construir a Nova Catedral de Natal na década de 1930 era que o Rio Grande do Norte estava passando por um surto evolutivo muito acentuado no inicio daquele período, devendo esse progresso ao governo do interventor Rafael Fernandes “que não poupava esforços para dotar sua terra de tudo o que se faça preciso para ser vantajosamente comparada aos outros Estados nordestinos” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1936, p.3).

Assim, se verificava na capital potiguar não só um elevado crescimento demográfico, mas também um crescimento socioeconômico que se refletiria na arquitetura dos edifícios públicos e residências particulares, sobretudo nos bairros da Cidade Nova e Ribeira, áreas de expansão urbana e comercial da capital potiguar a época.

O quadro a baixo mostra a evolução demográfica da capital potiguar entre 1890 e 2010, período que corresponde ao inicio da construção da igreja pensada pelo padre João Maria e o ano de inauguração da nova catedral de Natal.

Evolução demográfica de Natal entre 1890 e 1940

Censo

População

1890

13.725

1900

16.056

1920

30.696

1940

54.836

Fonte: elaborado pelo autor com base nos Censos demográficos do IBGE.

Na década de 1930, período em que se retomou o projeto para a construção da Nova Catedral de Natal, não houve a realização do Censo pelo IBGE, de modo que a ideia sobre este quesito é referente ao do censo da década seguinte.

Até meados da década 1930 Natal possuía 5 igrejas, a saber: a matriz/catedral de Nossa Senhora da Apresentação, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, a igreja de Santo Antônio, respectivamente na Cidade Alta e a igreja do Senhor Bom Jesus das Dores na Ribeira e a igreja de São Pedro no Alecrim.

Assim, uma das justificativas mais usadas para a construção de uma nova catedral era o aumento populacional onde a catedral situada na Praça André de Albuquerque na Cidade Alta, já não atendia as necessidades litúrgicas da igreja católica de Natal.

         Entre 1921 e 1930 a ideia da construção da nova catedral de Natal ficou apenas nas reuniões da Comissão Central de Construção da Nova Catedral e na evocação dos fiéis para ajudar com donativos para a realização das obras.

         Por motivos de transferências dos bispos desse período, os mesmos não puderam concretizar a construção da nova catedral, no entanto, já havia sido feito planos, constituído comissões e começado pequenos trabalhos nesse sentido, mas é na década de 1930 que se dá de fato algo concreto na construção da nova catedral.

         Assim, o crescimento populacional, o crescimento socioeconômico do estado, atraindo para Natal os recursos provenientes desse desenvolvimento, a exiguidade das igrejas de Natal e a necessidade de um monumento católico símbolo da diocese, eram as justificativas a época para a construção da Nova Catedral de Natal.

De acordo com o jornal A Ordem, o bispo de Natal estava empreendendo a construção dos belos edifícios do Seminário São Pedro, do Lar do Clero, do Dispensário e da Confederação Católica a estes empreendimentos diocesanos se juntavam ainda três grandes obras que tinham suas construções animadas por Dom Marcolino Dantas na década de 1930, que eram elas, o Colégio Nossa Senhora das Neves, no Alecrim, o Colégio Santo Antônio, no Centro, o qual passou a ser regido pelos padres e irmãos Maristas a partir de 1932 e “o majestoso monumento por todos ansiosamente esperado – a Catedral” (A ORDEM, 14/07/1935, p.5).

         O  Pe. Paulo Herôncio, membro do clero diocesano de Natal, em palavras de encorajamento ditas pelas grandes realizações da Diocese de Natal, havia dito que ocupava em primeiro plano a construção do Seminário São Pedro “pelo incremento à obra das vocações” e a nova Catedral “que a operosidade incansável de D. Marcolino vai construir”. (A ORDEM, 14/07/1935, p.6).De fato foram grandes realizações incentivadas por Dom Marcolino Dantas em seu episcopado em Natal, no entanto, apena o prédio do Seminário foi concluído.

         Dom Marcolino Dantas, assim como a maior parte do pensamento católico na década de 1930, pensou em construir uma catedral em estilo neogótico. Era a tentativa da Igreja Católica de remontar a construção de imensas catedrais da Idade Média, cujo estilo dominante era o gótico, sobressaindo às imensas torres em agulha, os vitrais coloridos, as abóbadas sobrepostas nos transeptos que pareciam flutuar sobre o altar central da igreja.

Claro que o estilo neogótico tinha suas limitações, sendo que as construções de igrejas e catedrais nesse estilo arquitetônico levaram em conta as suas devidas proporções.

         Mas ideia era também trazer o fiel para a oração, cujo aspecto interno da igreja gótica se torna bem mais convidativa, sobretudo quando há a presença dos vitrais iluminando o ambiente litúrgico.

         O estilo neogótico estava em voga no Brasil, se revelando em projetos de construção de catedrais em outras capitais do país, como São Paulo, Vitória e Fortaleza, por exemplo.

A Praça Pio X

O local escolhido para a construção da Nova Catedral foi a Praça Pio X, onde antes havia sido iniciada em 1902 a construção da nova igreja matriz de Natal pelo padre João Maria cujos alicerces e algumas paredes ficaram visíveis até 1925 quando o antecessor de dom Marcolino Dantas autorizou sua demolição para ali se construir a Nova Sé.

O terreno havia sido doado pela senhora Sofia Roseli, situado num quadrilátero formado pelas avenidas Deodoro da Fonseca com a Avenida Floriano Peixoto e as ruas Açú e Jundiaí, no centro da cidade, a época, área de expansão da capital potiguar denominada de Cidade Nova, posteriormente recebendo o nome de Tirol.

O terreno era de direito e de fato da diocese e foi cedido em permuta a prefeitura até que se começassem as obras da nova catedral, não havendo data estipulada para tanto.

Em 1933 foi colocada solenemente a pedra fundamental da construção da nova  catedral, a diocese aguardavam melhores condições para se iniciar a obra, cuja a planta e a maquete se achavam expostas no palácio episcopal.

O Projeto de George Munier

         A planta da Nova Catedral de Natal elaborada pelo engenheiro George Munier já estava pronta e dentro de pouco tempo seriam iniciadas as obras.Seria uma igreja monumental com grandes proporções para uma igreja em Natal, com duas torres de 70 metros de altura e a igreja com 92 metros de comprimento e 44 metros de largura.

Planta da nova catedral de Natal em estilo neogótico.

Planta da nova catedral de Natal.Fonte: Diário de Peranambuco

         Atendendo ao pedido do bispo Dom Marcolino Dantas foi adotado pelo engenheiro francês um estilo gótico modernizado, mas sem perder as características do estilo clássico da Idade Média para a Nova Catedral segundo explicou o arquiteto George Munier ao apresentar seu projeto a imprensa de Natal onde o mesmo se encontrava para essa finalidade (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1936, p.3).

O valor da obra da construção da Nova Catedral de Natal nesse projeto de George Munier foi orçado em 2.000 contos de réis.

O engenheiro George Munier esteve em Natal em 25/09/1935 juntamente com o arquiteto Otávio Tavares a convite de Dom Marcolino Dantas para fazer o levantamento da planta da Nova Catedral (A ORDEM, 26/09/1935, p. 1)[1].

Em companhia de jornalistas de A República, dom Marcolino se deslocou em automóvel até a Cidade Nova, na Praça Pio X, para lá demonstrar aos mesmos os trabalhos  de construção da nova catedral de Natal.

Lá demoraram alguns minutos.Ali estavam parte do material com que em breve se iniciaria os trabalhos da nova catedral.

         Dom Marcolino Dantas havia conseguido do Governo Federal a extração de pedras em Macaiba, assim como o transporte e descarga no cais do porto de Natal desse material. (In: DIÁRIO DA MANHÃ, 25/08/1935, p.5).

Ao concluir a visita de inspeção divagaram os jornalistas de A República: “tínhamos em frente a praça Pio X.Olhando-a o [bispo] Diocesano chama-nos a atenção dizendo: ‘é ali a catedral...’.Separamo-nos.Naquele instante,perpassa aos nossos olhos a visão do monumento de pedra gigantesca, torres brancas em aspiração para o alto, atestando o poder da vontade e a força inquebrantável da fé”.

         De acordo com os jornalistas de A República o bispo de Natal não era somente o concretizador de ideias. Era também o perscrutador da psicologia humana, senhor do senso da justa medida,amigo da ordem e da proporção,da harmonia e sobretudo da previdência.”É preciso prever tudo”, sentenciava Dom Marcolino Dantas após cada explanação aos jornalistas. (DIÁRIO DA MANHÃ, 25/08/1935, p.5).

 Desse projeto como efetivamente foi além da colocação solene da pedra fundamental foi iniciada a sua construção feita por Dom Marcolino Dantas, mas que apesar disso os trabalhos de construção não avançaram.

Apesar de sua grande beleza estética e sua suntuosidade arquitetônica o projeto da catedral gótica de Natal não chegou a ser concretamente executado tendo a ideia ficada em latência durante as décadas seguintes.

Sobre a rejeição do projeto gótico se lia no jornal o Poti: “O antigo projeto da Catedral em estilo gótico será modificado, a fim de atender as atuais circunstâncias do custo de construção, pois o antigo projeto que estava orçado em 3 milhões de cruzeiros, há dez anos passados, hoje não se executaria por 30 milhões” (O POTI, 1955, P. 3).

E assim foi que o projeto do arquiteto George Munier e idealizado por Dom Marcolino Dantas foi rejeitado sob a alegação dos custos para sua concretização. De concreto houve a benção da pedra fundamental assim como a aquisição do material para a construção da nova catedral que foi entregue no local da obra, porém, as obras pouco avançaram e já no inicio da década de 1940 o pouco que se havia iniciado foi demolido para dá lugar a Praça Pio X.

A construção da nova catedral ficaria assim mais uma vez a espera de uma solução e realização que ocorreria somente no inicio da década de 1950 como se verá adiante.






























Imagens elaboradas por Jônatas Rodrigues, 2018.



[1] Além do projeto da nova catedral, George Munier também projetou vários prédios conhecidos em Natal como o Grande Hotel, na Ribeira e o matadouro da capital.


A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE II)

 

Natal precisava de uma nova Catedral 

Apesar de ainda ter ares de cidade pequena a capital potiguar já começava a despontar no inicio da década de 1920 com grandes progressos urbanos e aumento populacional.

O plano de expansão da cidade daria a cidade uma nova configuração urbana na Cidade Nova, que corresponde aos atuais bairros do Tirol e Petrópolis.

No início da década de 1920 a população de Natal ainda era majoritariamente católica, porém, a capital potiguar contava apenas com apenas com duas paróquias, uma na Cidade e Alta e outra no Alecrim, e espalhada pela capital potiguar modestas e pequenas igrejas e capelas.

 Foi percebendo o progresso urbanístico e o crescimento demográfico  de Natal que o segundo bispo de Natal, Dom Antonio dos Santos Cabral, sentiu a necessidade de acompanhar tais progressos por meio da construção de uma nova catedral para a sede do bispado.

A iniciativa de Dom Antonio dos Santos Cabral

         Cronologicamente e efetivamente as primeiras iniciativas para a construção da nova catedral de Natal começam com Dom Antonio dos Santos Cabral que ao assumir a diocese de Natal, em 1918, revelou certa vez a algumas pessoas mais próximas de sua convivência    que  “o quanto lhe torturava o coração ver o povo de Natal, tão grandemente católico, ter seu principal templo tão manifestamente pequeno, para os exercícios do Culto Divino” (A CATEDRAL, 1921, p.1) e por isso surgiu no espírito esclarecido de Dom Antônio a ideia de se construir a Nova Catedral do bispado a qual seria “um templo condigno aos sentimentos de Religião e Fé do povo católico de sua cidade episcopal”(A CATEDRAL, 1921, p.1).

         Por uma reflexão lógica dom Antônio dos Santos Cabral conformando-se com a falta de recursos da diocese não teve a pretensão de construir uma catedral suntuosa, monumental e enriquecida com “as mais soberbas obras de arte do mais elevado estilo, com custosos quadros e esculturas da mais grandiosa concepção artística” (A CATEDRAL, 1921, p.1), pois, se cometeria uma injustiça ao povo perante a necessidade urgente de se construir um templo para abrigar dignamente a população da capital potiguar segundo o referido jornal.

         Assim, a nova catedral pensada por Dom Antônio Cabral deveria ser modesta e majestosa, condizente aos elevados sentimentos religioso do povo potiguar e proporcional as suas condições materiais como estava sendo ponderada pela Comissão Central de Construção.

         Segundo o boletim A Catedral era uma necessidade imperiosa a construção da nova Sé de Natal, por isso ninguém poderia se omitir ajudar nessa iniciativa feliz e justa, devendo todos sustentá-la e conduzi-la à realização. E concluía o artigo em tom ufanista: “Façamos a catedral”! A ideia não morrerá, com a benção do Céu e os auxílios do povo do Rio Grande do Norte! É uma ideia vencedora. (A CATEDRAL, 1921, p. 2).

         Dom Antônio dos Santos Cabral passou pouco tempo a frente do bispado potiguar, entre 1917 e 1921, tendo sido transferido para a Diocese de Belo Horizonte, não viu seu sonho ser realizado em Natal.

         Não encontramos maiores detalhes sobre o projeto dessa catedral pensada por Dom Antônio dos Santos Cabral.

Efetivamente ocorreu a constituição de comissões em todas a paróquias da diocese de Natal para se levantar recursos para iniciar a construção da nova catedral.

         Dom Antônio dos Santos Cabral decidiu que a nova Sé seria erguida na Praça Pio X na Cidade Alta, ou Cidade Nova como era conhecida a época o local escolhido conforme constava no jornal A Noite  na edição de 06/06/1920 onde se lia “d. Antônio, bispo desta diocese [de Natal], resolveu que a construção da catedral desta cidade seja feita no bairro da Cidade Nova” (A NOITE, 1920, p.3, grifo nosso).

Em 30/06/1920 foi realizada uma reunião no salão nobre do palácio do governo com a presença de famílias católicas natalenses para tratar da construção da nova catedral. A reunião foi convocada pela comissão encarregada das obras e presidida pelo governador do estado Antônio José de Melo e Souza (A UNIÃO, 1920, p.2).

         Assim, efetivamente no período de governo de Dom Antônio dos Santos Cabral foram formadas as Comissões das Obras da Nova Catedral. Essas comissões foram formadas pelos seguintes membros:

Na Diretoria de honra estavam os seguintes membros: Antonio José de Melo e Souza, governador do estado, presidente da comissão, Desembargador Joaquim Ferreira Chaves, ministro da marinha, 1º vice-presidente, José Theotônio Freire, juiz federal, 2º vice-presidente, Desembargador Heméterio Fernandes, presidente do Superior Tribunal de Justiça, 3º vice-presidente.

A Diretoria efetiva constava dos membros: Dom Antônio dos Santos Cabral, bispo diocesano, presidente da comissão, Monsenhor Alfredo Pegado de Castro Cortez, governador do bispado, vice presidente, Moisés Soares, advogado, secretario geral, Coronel Aureliano Clementino de Medeiros, comerciante, tesoureiro.

Já os membros efetivos da comissão Pró-Catedral eram: Henrique Castriciano, vice-governador do estado, Sebastião Fernandes de Oliveira chefe de policia, Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, secretário do estado, coronel Pedro Soares de Araújo, inspetor do tesouro, Manoel Dantas, Diretor Geral de Instrução Pública, Tenente coronel Joaquim Anselmo Pinheiro, comandante do Batalhão de Segurança, Desembargadores João Dioniso Filgueira e Felipe Guerra, membros do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Antônio Soares de Araujo, juiz de direito da 1ª vara de Natal, coronel Francisco Herôncio de Melo, tesoureiro do tesouro do Estado, Ezequias Pegado Cortez, Delegado de Policia da 1ª região, Dr. Januario Cicco, Inspetor da Saúde do Porto, Adalberto Soares de Araújo Amorim, diretor da escola de Aprendizes Artífices, Alberto Roseli, advogado, João Vicente da Costa, oficial de gabinete do governo do estado, Coronel Antônio de Paula Barbosa, comerciante, coronel Jorge Barreto de Albuquerque Maranhão, comerciante, coronel Antônio Celestino da Cunha Pinheiro,  delegado fiscal do tesouro federal, coronel  Joaquim Policiano Leite, comerciante, Nestor dos Santos Lima, diretor da Escola Normal, major José M. Pinto, gerente do jornal A República, padre José de Calazans Pinheiro, professor, capitão  Manoel Inácio Barbosa, funcionário federal, major Teodorico Guilherme C. Caldas, secretário do tesouro do Estado, padre Henrique Paulssen, vigário do Alecrim, capitão Miguel Barra, comerciante, comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, diretor da escola de Aprendizes Marinheiros, Décio  Fonseca , engenheiro chefe do melhoramento do porto, Belarmino Lemos, procurador fiscal do tesouro do estado e major Teodósio Paiva, presidente da intendência (A CATEDRAL, 1921,p.3).

A Comissão Central de Construção da Nova Catedral resolveu que seriam organizadas em todos os municípios do estado Comissões Regionais com o objetivo de intensificar a propaganda da construção da nova catedral pelo interior do estado.

         Dom Antônio dos Santos Cabral que estava em viagem pelo sertão assegurou a comissão que em todas as localidades por onde fosse feitas suas visitas pastorais seriam formadas essas comissões regionais.

         De volta de suas visitas pastorais, dom  Antônio Cabral apresentou a Comissão Central de Construção da Nova Catedral as Comissões Regionais formadas no interior, que foram criadas em Lajes, Angicos, Santa Cruz, Currais Novos, São Rafael, Santana do Matos, Portalegre, São Miguel de Jucurutu.

A comissão central designou outras comissões para saírem as ruas dos bairros de Natal para recolher donativos oferecidos para a construção da nova catedral, iniciando pelos comerciantes em diversas ruas da capital “alcançando o melhor sucesso” (A CATEDRAL, 1921, p. 4).

Apelava-se ao patriotismo do povo potiguar e a vergonha de Natal não ter uma catedral condigna perante as outras dioceses. Segundo o boletim A Catedral “convocaremos os filhos do Rio Grande do Norte a este augusto e nobre empreendimento. Bastam nesse particular, as humilhações experimentadas” (A CATEDRAL, 1921, p. 2).

         Ainda segundo o mesmo boletim o Rio Grande do Norte se constituía de uma diocese com aproximadamente 500.000 habitantes onde não se poderia mais suportar o deprimente contraste nos arraigados sentimentos religiosos, oferecido pelo confronto com outras dioceses, mais pobres e menos populosas “onde o ardor patriótico, aliado ao zelo esclarecido e trabalho perseverante de seus filhos, se engrandeceu e perpetuou em magníficas e imperecíveis monumentos de Fé e Civismo” (A CATEDRAL, 1921, p. 2).

Segundo o jornal citado primeiro passo para por em pratica a ideia lançada por Dom Antonio dos Santos Cabral foi a campanha de donativos na capital e em outros pontos do estado em que se poderia considerar lançados os fundamentos dessa grande obra (A CATEDRAL,1921, p. 2).

Em seguida seriam organizadas as contribuições mensais e anuais entre os moradores da capital “desde os mais altamente colocados, até os mais humildes, sinceramente empenhados, todos, em concorrer assiduamente para a efetividade dos trabalhos” (A CATEDRAL, maio 1921, p. 2).

Em todas as paróquias da diocese, povoados, lugarejos e recantos do estado por intermédio dos respectivos vigários das paróquias esperava-se que “os habitantes do Rio Grande do Norte, pelos seus sentimentos de Fé, Patriotismo e amor a arte saberão impor-se espontaneamente um tributo de honra do qual ninguém  ousará eximir-se tão módico e suave ele será” (A CATEDRAL, maio 1921, p. 2).

A comissão solicitava que cada um dos 500.000 habitantes do Rio Grande do Norte contribuísse com a quantia de 1$000 réis, recebendo por cada oferta um cartão numerado que lhe daria direito ao sorteio de numerosos prêmios de alto valor, sendo alguns de mais de conto de réis (A CATEDRAL, 1921, p. 2). Com a transferência de dom Antônio dos Santos Cabral a ideia da Nova Sé natalense fica adormecida até a chegada do novo bispo.

Nada foi encontrado a respeito do projeto arquitetônico da Nova Catedral que teria sido iniciado durante o episcopado de dom Antonio dos Santos Cabral.

Possivelmente deveria se tratar de um projeto neoclássico como era praxe nas construções arquitetônicas durante as primeiras décadas do século XX no tocante a arquitetura e pelo espírito esclarecido do bispo, amante das artes e do classicismo católico.

A Comissão Pró-catedral formada por Dom Antônio dos Santos Cabral seguiu se reunindo para tratar dos assuntos a ela atinentes, porém, a transferência do bispo de Natal para Belo Horizonte-MG esmoreceu o trabalho da comissão em cujo período de vacância da diocese potiguar nada pode fazer a não ser esperar a nomeação do novo bispo para recomeçar os trabalhos.

Se passariam quase 3 anos até ser nomeado o 3º bispo de Natal.

A iniciativa de Dom José Pereira Alves

         Dom José Pereira Alves, foi 3º bispo de Natal, assumiu a Diocese em 1923 até 1928 quando foi transferido para a diocese de Niterói-RJ.

De sua atuação diante da construção da Nova Catedral tem-se apenas que reuniu a Comissão Diretora Das Obras da Nova Catedral sob sua presidência a qual tomou medidas pertinentes a construção daquele que seria um majestoso edifício.

Dom José Pereira convidou o engenheiro Miranda Carvalho, da comissão de fiscalização das obras do porto de Natal, a quem coube levantar a planta do local onde seria erguida a Nova Catedral (O JORNAL, 1924, p. 8).

         Foi José Pereira a ordem para ser demolida a igreja iniciada pelo padre João Maria na Praça Pio X em 1925 onde no local seria erguida a Nova Catedral.

         A transferência de Dom José Pereira Alves para a diocese de Niterói-RJ não permitiu iniciar as obras por ele pensadas e ficando latente mais uma vez o sonho da construção da Nova Catedral de Natal.

         Não encontramos maiores detalhes sobre o projeto do engenheiro Miranda Carvalho.

         Dom José Pereira era um erudito, exímio orador sacro, inteligente e amante das artes, por essas qualidades possivelmente o projeto da Nova Catedral por ele pensada fosse igualmente um projeto de arquitetura neoclássica.

         Como já visto em capitulo anterior foi ele quem ordenou a demolição da antiga igreja iniciada pelo Pe. João Maria na Praça Pio X para que em seu lugar fosse erguida a nova catedral de Natal, sua transferência para Niterói-RJ adiaria pela segunda vez os planos do povo católico de Natal de iniciar a construção da nova catedral.

         A espera pela chegada de um novo bispo encontraria a cidade já em franca expansão demográfica e urbana, ansiando o povo católico pela construção da nova catedral.

Praça Pio X na Cidade Nova onde seria erguida a nova catedral de Natal a partir de 1920.