terça-feira, 18 de maio de 2021

A SITUAÇÃO DA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE EM 1837


O Rio Grande do Norte se constituiu oficialmente uma província do Império do Brasil em 1822, sendo, portanto criadas as Assembleias Provinciais, que correspondem atualmente as Assembleias Legislativas. Assim como as de hoje essas assembleias provinciais tinha a função de elaborar as leis e fiscalizar a execução dos recursos públicos. A província era administrada por um presidente, ao qual cabiam as funções que atualmente são da alçada do governador.

Passados 11 anos da criação da Província do Rio Grande do Norte a situação praticamente em nada mudou e até mesmo a situação era precária como se verá adiante dos enxertos extraídos do relatório do então presidente da província, Manoel da Silva Lisboa.

 No tocante a situação das vila escreveu o citado presidente que : “nada posso informar-vos, não as tendo por ora visitado, porém, pelas indagações que fiz , e pala ilação que tiro da Capital, julgo existirem privadas de todos os cômodos, tendo de Vilas apenas o nome e a categoria”.

Quanto a Capital, disse o presidente da Provincia: “apesar de sua bela localidade, e das vantagens que lhe oferece a Natureza, ela não possui ainda nem aqueles mesmos reparos e cômodos de uma Vila da Europa, e mesmo de muitas do Império”.

Havia segundo o citado presidente a ausência total de edifícios, para receber as Estações Públicas, o miserável estado das ruas, que além de descalçadas, eram entulhadas de areia soltas, que embaraçava e retardava o trânsito, a carência absoluta de fontes, a negligente falta de iluminação, de um cais, de uma casa de prisão (cadeia), de um hospital e de muitas outras coisas que constituíam as regalias de uma Cidade, eram de acordo com o presidente da província : “as sensíveis privações desta Capital”.

As repartições públicas, além de mal colocadas, estavam montadas com muito pouco asseio, a secretaria do governo não tinha em que se arquivar os papeis e documentos, e seus móveis eram tão velhos e estragados que seria indecência conservá-lo ali (FALA..., 1837, p.4).

         O presidente relatou que convinha aos deputados provinciais: “que quantos antes, Vos ocupeis com todo zelo e afinco, que caracterizam o espírito comunal, esse espírito que sustenta e vivifica as instituições que dá liberdade, em melhorar a acanhada situação de Vossa Pátria [Província], cuidando do interesse público, curareis ao mesmo tempo de Vossos interesses privados e conseguireis o progresso melhoramento de Vossa própria existência” (FALA..., 1837, p.4-5.O grifo é nosso).

         Um problema antigo relatado pelo presidente Manoel Ribeiro da Silva Lisboa que já havia sido relatado por seu antecessor era o de não ter a província estradas e pontes e até mesmo de veredas transitáveis que era um dos maiores obstáculos à comunicação do interior com a Capital e a causa primordial de se esvair para as Províncias vizinhas todo o comércio lucrativo e avultado do Rio Grande do Norte (FALA..., 1837, p.5).

         Se a situação material e econômica da Província potiguar não era lisonjeira o mesmo não se dizia da tranquilidade pública, único elogio feto pelo presidente Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, que segundo ele continuava imperturbável a tranquilidade em toda a Província “louvores sejam dados à seus habitantes, que dominados do espírito de paz doméstica,se empenham em manter o sossego público, e hão constantemente fechado ouvidos às doutrinas subversivas e desprezado insinuações sediciosas de alguns vertiginosos que infelizmente se tem feito escutar em vários pontos do Brasil” (FALA..., 1837, p.5).

         No tocante a religião escreveu o presidente da província: “não me consta que o Exmo Bispo desta Diocese [de Olinda] haja em tempo algum nesta Pronvincia pastorado o seu rebanho, e muito menos procurado reformar os abusos, que se tem introduzidos ao exercício do culto Divino.Consta-me mais, que algumas das suas Paróquias existem em viuvez, e entregue a Sacerdotes, que ou pela incerteza de as alcançarem, ou menos por desleixo, pouco curam da edificação de seus Fregueses, e muito menos do esplendor e conservação das Igrejas, que existem já de todo arruinadas, ou prestes a sê-lo, o que concorre principalmente para menosprezo das coisas sagradas e esquecimento das virtudes”. (RELATÓRIO..., 1837, p.6).

         A primeira visita pastoral do bispo de Olinda após esse relatório só ocorreu em 1839 com dom João da Purificação Marques Perdigão, que percorreu boa parte do território do Rio Grande do Norte, entre Apodi e Vila Flor, passando pela Capital, o qual constatou em gênero, número e grau, o que exatamente relatou o presidente da Província 2 anos antes.

         Os municípios eram administrados pelas Câmaras Municipais e sobre ela escreveu o citado presidente da província: “apesar de termos Câmaras Municipais, não temos contudo nem o espírito, nem os benefícios da Instituição. Além de ser estreitíssimo o circulo de suas atribuições, a hierarquia de seus empregos, nem ambição, nem interesse de despertar naqueles que os ocupam, sua independência nenhuma importância lhes dando real, antes é nociva, por outorgar-lhe ensejos para subtraírem-se aos encargos que lhe são impostos, os meios deixados à sua gerência por  limitados alguns, e por odiosos outros, nada podem aproveitar aos esforços e intenções daqueles que se empenham em promover o bem dos seus Municípios; em resumo Corporações sem nexo com o Governo administrativo da Província, magistratura com prerrogativas, mas sem ação para as tornar efetivas, e administração com funções especiais, e independência, mas sem direção, sem recursos.Corrijam-se primeiro esses defeitos e haveremos então como o [a] Norte América, uma Instituição que cure incessantemente da prosperidade dos Municípios”.

Mais claro e cristalino impossível e não carece de maiores comentários a não ser que qualquer semelhança com as atuais Câmaras Municipais e Prefeituras do interior do Estado não é mera coincidência.

         Notaram que o modelo de administração pública era já em 1837 os EUA? pois é, o velho e bom Tio Sam.

         Nem acrediteis, Senhores, que com o sistema que há pouco adotásseis, de ceder às Câmara o direito de perceberem diretamente alguns dos dízimos de suas respectivas Tesourarias, haveis melhorado a sua acanhada situação, pelo contrário não endo elas larguezas para pagarem a Coletores, que ativem e recebam esses  dízimos, e tão pouco a liberdade de coagir, sem as infinitas formalidades de processo, os remissos contribuintes, essa faculdades não lhes há trazido mais que novos trabalhos, embaraços, como elas mesmas se exprimem em suas informações.

         A vista dessas razões talvez melhor lhes aproveitasse uma consignação fixada no orçamento, porém distribuída segundo a necessidade de empregar e exata informação dos melhoramentos pretendidos (FALA..., 1837, p.12).

 

         O que o presidente da província Manoel Ribeiro da Silva Lisboa disse em gentis, porém sinceras e afiadas palavras foi que alguns municípios recebiam diretamente os recursos dos impostos, mas não os empregava em beneficio dos mesmos municípios. Alguma novidade?

Como sugestão para o melhoramento da província o presidente Manoel Ribeiro da Silva Lisboa apontava a criação de uma estrada ligando a Capital ao lugar denominado Peixe Boi e abrir  outra que se dirigisse as Províncias vizinhas “Vós bem sabeis de que importância seriam  estas duas obras ao comércio, que todo se escoa para o Ceará e Paraíba” (FALA..., 1837, p.14).

         Existia já parte dos materiais para o reparo da Fonte da Bica e o dique se achava concluído, porém como a direção desta obra não foi confiada a pessoa entendida neste gênero de trabalho, não veio ela a corresponder a esperada utilidade, este erro não obstante, não me parece irremediável, e no mais breve que me for possível mandarei reparar e encetar a outra obra “sobre o que cumpre lembrar-Vos que a soma, que lhe consignásseis, não poderá pagar as despesas de na Fonte apropriada às circunstancias da Cidade.

         Ao que tudo indica a tradição de se fazerem obras públicas e deixá-las inacabadas ou mal feitas aliadas ao mau uso dos recursos públicos vem de longa data no Rio Grande do Norte.

Ainda de acordo com o citado presidente da província de menos importância não era necessária a iluminação da Capital, as construção do cais, de um mercado na Ribeira, aquele para oferecer um cômodo desembarque, este para facilitar a achada de gêneros de primeira necessidade, que eram sempre incertos encontrar em Natal e iniciar a venda de frutas e hortaliças. (FALA..., 1837, p.14).

Manuel Ribeiro da Silva Lisboa (1807 — 1838) foi presidente das províncias de Sergipe (de 13/12/1835 a 09/03/1836, e do Rio Grande do Norte, (de 26/08/1837 a 11/04/1838).Foram 8 meses apenas a frente da administração da província potiguar.

 

Fonte:          Fala com que o Exmo. Presidente da província do Rio Grande do Norte, o Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, abriu a 3ª sessão da Assembleia Legislativa da mesma província em 07 de setembro de 1837. Recife: Tipografia de M. J de Farias, 1837.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

AS RUÍNAS DE ESTREMOZ


       Em 26/07/1930 a revista Cruzeiro publicou imagens em páginas inteiras das ruinas da vila de Estremoz. As imagens feitas pelo fotografo potiguar João Alves de Melo mostram o aspecto da antiga vila com suas casinhas simples porém alinhadas num tentativa outrora de dá ordem ao arruado que deu origem a mais antiga vila do Rio Grande do Norte criada em 03/05/1760.
       Em 1930 Estremoz era distrito de Ceará-Mirim e estava em avançado estado de decadência. As ruinas mostram o estado lamentável em que se encontravam o prédio da Casa de Câmara e Cadeia situado no centro da grande esplanada.
            A baixo as imagens publicadas na citada revista.







          O município de Estremoz só foi restaurado em 1963.As construções coloniais do século XVIII já não existiam mais. Um série de  erros injustificáveis destruíram a memória daquela que foi a primeira vila criada após a reforma do Marquês de Pombal em solo potiguar.

          Ao nosso entender o município deveria ter sido mantido e criado um novo em Ceará-Mirim. A transferência da sede municipal de Estremoz para Ceará-Mirim foi o motivo que ensejou a decadência da antiga vila de Estremoz.

          É lamentável que não houve uma mentalidade de conservação dos prédios históricos em Estremoz que eram a Igreja de São Miguel e Nossa Senhora dos Prazeres, o Pelourinho no centro da praça, a Casa de Câmara e Cadeia, o Hospício (convento) dos Jesuítas, além do casario colonial que hoje seriam grandemente apreciada por turista contribuindo assim para economia local. Lamentável.Mais lamentável ainda e estranho foi que não houve por parte tanto do governo federal como estadual, muito menos municipal, de reconstruir os edifícios a cima citados.

SOBRE A INSPEÇÃO DO MUNICÍPIO DE TAIPU EM 1912


Prolegômenos

De 14/06/1910 a 12/12/1912 foram inspecionados pela Inspetoria Agrícola do 4º Distrito todos os municípios do Estado do Rio Grande do Norte. Força maior e estranha a este serviço tinha impedido a publicação oportuna destes questionários, dos quais era o quinto a ser publicado, cuja impressão só ocorreu em 1913.

Os questionários eram padronizados em ordem alfabética para todos os municípios. O município de Taipu foi inspecionado em 1912, do qual resultaram os seguintes dados.

A ordem dos questionários da Inspetoria Agrícola do 4º Distrito foi mantida por nós e estão em negrito, já as respostas foram atualizadas conforme a ortografia gramatical corrente e acrescidas em alguns momentos de algumas revisões a parte por consideramos necessárias.

Onde houver a presença de aspas as respostas foram mantidas tal e qual no referido questionário. No mais segue a resposta da inspeção ao município de Taipu.

 Agricultores: as condições econômicas foram consideradas regulares nos anos de produção e precária nos anos de seca. Os agricultores e criadores pagavam o dízimo sobre a produção agrícola e pastoril. A maior queixa dos agricultores era dos estragos causados pelas lagartas, formigas e outras pragas, da falta de chuvas, água potável e braços (trabalhadores). Os criadores queixavam-se da falta de melhoramentos do gado e meios de curar as pragas.Não foi registrado nenhum estrangeiro no município.

Águas superficiais: rio Ceará-Mirim, “não é permanente”. Não há lagoas[1].

Árvores frutíferas: Havia apenas pés de laranjeiras, pinheiras ou ateiras e cajueiros.

Alimentação população: Alimentava-se bem de carne, farinha, rapadura, etc.

Campos e pastos: Capim mimoso, milho e de galinha. Havia campos ervados.

Culturas: Algodão, mandioca, milho e feijão, ainda a cultura algodoeira a mais importante.

Colheita: não havia no geral beneficiamento de colheitas, estas eram vendidas sem beneficiar. Em 1909 não houve colheita devido a seca, sendo a de 1910 muito pequena. Não havia cultura do café.

Cereais, etc.: Ignorava-se o custo de produção de 1 litro de cereal, pois não havia registro sobre. O preço de venda era o seguinte: milho: 100 réis o litro, feijão 120 réis o quilo. O mercado comprador era o local,  havendo uma feira aos sábados. O preço de transporte quando não era feito pelo produtor era de 10 a 20 réis o litro/quilo aproximadamente.

Cana de açúcar e seus produtos: O quilo de açúcar de primeira custava 750 réis. Uma rapadura de meio quilo custava 120 réis. Um litro de aguardente custava 500 réis.

Cooperativas: não havia.

Calor e frio (temperaturas): o calor começava em outubro e o tempo fresco em maio.

Chuvas: começavam ordinariamente em março.

Condições de saúde da população: Foi descrita como “fortes e corados”.

Contabilidade: não havia registros.

Criação do município: havia a presença de bovídeos (bois), equinos (cavalos), ovideos e suideos (aves e porcos), sendo a de maior importância a criação de bovídeos e ovideos. No tocante as características da criação constava que: de bovídeos: mestiços comuns.Equídeos, ovideos e suideos: comuns.Os produtos extraídos dessas criações eram: carne, couro, crias e leite, sendo a carne e os couros os mais procurados.

Custo de criação: um cavalo de sela custava 350$000; de carga 80$000 a 100$000, um burro de sela 400$000 a 450$000, de carga 200$000; não havia animais de arado. Um boi carreiro custava 100$000, de corte de 80$000 a 100$000, touro não tinha preço fico.Um vaca leiteira produzindo de 2  a 3 litros de leite, em média custava de 80$000 a 100$000, um litro de leite custava 100 réis.

Carnes e toucinho: o quilo de carne seca custava 1$000 (“é raro haver carne fresca para negócio”). O quilo de toucinho custava 1$000. O quilo de manteiga custava 1$500, de queijo 1$000. Uma galinha custava 1$000, a dúzia de ovos 400 réis.As moléstias registradas na criação eram: tristeza, carbúnculo sintomático e catarro nasal, no geral não vinha sendo tratada.

Custo de tecidos: O preço dos tecidos era de 700 a 800 réis.

Estradas e pontes: A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte cortava o município. Há caminhos descurados e sem pontes[2].

Exportação e importação: exportava algodão principalmente e importava tecidos, ferragens, etc., e cereais nos anos de seca.

Escolas: havia escolas primárias.

Fábricas: não havia.

Farinha de mandioca e feijão: o preço de venda do quilo[3] de farinha de mandioca e de feijão era muito variável, aquele ano de 1912 era de 120 réis o quilo.

Hipotecas: Não havia imóveis hipotecados.

Habitações: foram consideradas salubres apesar de rústicas.

Instrumentos agrícolas: constava de enxadas, foice e machados.

Juros: os agricultores não retiravam dinheiro a juros.

Madeira de lei: constava de Pau d’Arco, Pau d’Óleo, Sucupira e Jataí.

Minas: não havia.

Moléstias da população e plantas cultivadas: havia as comuns[4]·. Já as pragas das plantas cultivadas eram as formigas e lagartas.

Núcleos coloniais: não havia.

Operosidade da população: o questionário registrou “gente laboriosa”.

Padrões de terras boas e inferiores: Pau d’Arco, aroeiras, cedro, etc. Já as de terras inferiores eram: Marmeleiro, catingueira, etc.

Portos: não havia.

Sementes: não havia escolhas de sementes.

Semeadura: A semeadura era realizada em covas. Começavam os agricultores a semear depois das primeiras chuvas.

Sistema de trabalho do pessoal agrícola: salários diários, mensais, empreitadas e meação.

Salários: um trabalhador rural ganhava 1$000 diários, administradores e escrivão de fazenda não havia.Um carpinteiro ganhava de 2$000 a 5$000 diários. Não havia preço determinado para cozinheiros e lavadeiras, estas cobravam por peça e os cozinheiros segundo o serviço. Os salários eram pagos diariamente.

Terras: (qualidades): foram consideradas boas, à margem do rio Ceará-Mirim, regulares à margem dos riachos, inferiores nos tabuleiros. Existiam poucas terras argilosas e alguns tabuleiros de arenosas, por serem na maioria misturadas. Geralmente eram planas e secas. Havia campos, capoeiras, cerrados e carrancos. Não havia matas (florestas).O preço era muito variável, sendo relativamente ínfimo.

         Em nota o questionário registrou que Taipu era um município como um prolongamento do de Ceará-Mirim, do qual distava 4 léguas (cerca de 20 km) ocupando uma e outra margem do rio Ceará-Mirim, tendo, em alguns lugares, mais ou menos, as mesmas terras, as mesmas culturas (exceto a de cana de açúcar, porque o terreno era quase todo ele seco), os mesmos costumes e sistemas de trabalho.

         A vila de Taipu foi classificada como “um lugarejo sem vida com poucas casas e pouco negócio”.

         O município possuía algumas escolas públicas e particulares funcionando regulamente durante os meses de verão.

         Os agricultores de Taipu foram considerados como muito atrasados, porém, trabalhadores. As habitações eram em geral sem conforto. O clima foi considerado excelente e muito seco. A população alimentava-se de carne, farinha, rapadura e café nas refeições. Todos trabalhavam e havia a falta de braços porque nos anos de seca, flagelo, o povo pobre emigrava para o Pará e Amazonas.

         Devido as águas estagnadas que no inverno ajuntavam-se nos barreiros e lagoas e que a população bebia para evitar a água salobra das cacimbas do leito do rio Ceará-Mirim apareciam as vezes moléstias diversas.

         Taipu era periodicamente assolado pelas secas.

         As terras das margens do rio Ceará-Mirim produziam admiravelmente o algodão, cuja safra nos anos de inverno haviam a 7.000 sacas que eram beneficiadas em vários locomoveis e bolandeiras movidas a animais. Era essa a única cultura digna de consideração e que constituía a exportação do município.

         As terras as margens do rio Ceará-Mirim, as várzeas de massapê, onde se cultivava o algodão, eram poucas em relação as outras, e por isso tinha alcançado certo valor, 50$000 por braça, com fundos de meia e uma légua, embora fosse uso avaliar a propriedade em globo.

         As várzeas de terra boa tinham de 100 a 200 braças de largura. AS terras dos ariscos e tabuleiros, pouco valor tinham.

Nossas considerações finais

         Esse questionário e suas respostas revelam as características agrícolas, econômicas e socais do município de Taipu no inicio do século XX, tendo assim importância significativa para a reconstrução histórica e a memória do município de Taipu.

 

Fonte: REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. Questionários sobre as condições da agricultura dos municípios do Estado do Rio Grande do Norte. Inspetoria Agrícola do 4º Distrito. Inspecionados de 14 de junho de 1910 a 12 de dezembro de 1912. Rio de Janeiro: Tipografia do Serviço de Estatística, 1913.

 

 

 

 

 



[1] Há um erro na resposta desse quesito, pois, como se sabe o rio Ceará-Mirim é perene mesmo em tempos de seca. Já no tocante a presença de lagoas existia sim várias lagoas no município, contudo sem serventia e não piscosas.

[2] A falta de pontes era relação a estradas rodoviárias, pois havia ao menos duas pontes ferroviárias no  município, que eram o pontilhão sobre o rio Gameleira, afluente do rio Ceará-Mirim na Passagem Funda com 8 metros de extensão construída em estrutura metálica e concreto rústico e a ponte do Umari com 200 metros de extensão em estrutura metálica de 5 vãos de 50 metros cada. Àquela inaugurada em novembro de 1907 e esta em agosto de 1909.O questionário omitiu ou não teve conhecimento dessas estruturas. Além delas havia inúmeros bueiros construídos ao longo da ferrovia muitos em concreto armado rústico ou trabalhados.

[3] O questionário citou “um litro” obviamente em se tratando de farinha a medida usada é o quilo.

[4] Não foi detalhada quais seriam as ‘comuns’.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

SOBRE A ESTRADA ENTRE ESTREMOZ E TAIPU


      De acordo com a fala do presidente da Província  eram de grande importância as estradas do Norte e Centro da Província, que deveriam formar duas linhas irradiando da Capital.

A primeira e principal, a do Assu, deveria abrir-se pela vereda dos sítios Serrinha, Mar Coalhado, Inhandú, evitando as 32 penosas passagens do rio Ceará-Mirim até Boa Água, como se projetou na Lei Provincial nº 51 de 29 de outubro de 1840, ou, atravessando o rio Ceará-Mirim, no Itaipú, iria por Lagoa das Pedras e Matão do mesmo sitio Boa Água, donde seguiria para o Assu, dividindo-se na Fazenda Santa Cruz para a comarca da Maioridade, e cidade da Imperatriz, tocando em Santana do Matos e Campo Grande.

Da cidade do Assu poderia esta estrada prolongar-se por Mossoró até o Ceará, em direção ao Aracati. Só com o auxilio do Estado poderia correr estas grandes artérias da riqueza e da indústria da Província. O presidente da Província  não perdia a esperança de que assim se realize (FALA...,1849, p.18).

         Em 1850 é citada a construção de uma estrada ligando a sede municipal de Estremoz a povoação de Taipu.

         Conforme relatório da secretaria da tesouraria de fazenda da província do Rio Grande do Norte de 21/04/1850 consta o seguinte termo:

Certifico que em todos os períodos mencionados na petição do suplicante, que quando haviam empregados nos serviços da estrada de Estremoz a Taipú cento e cinquenta e três operários, quer quando existiam oitenta, quer quando finalmente quarenta, sempre foram contemplados nas folhas apresentadas nesta tesouraria pelo coronel André de Paiva Ferreira de Albuquerque, administrador da referida estrada, dois bois alugados diariamente para condução da água para os jornaleiros, sem que jamais houvesse alteração para menos, quando diminuíram os números daqueles jornaleiros, quase metade e quarta parte. Certifico mais que sendo o dito coronel dispensado das sobredita administração pelo falecido presidente Dr. José Pereira de Araújo Neves, foi novamente nomeado para idêntico serviço pelo atual vice-presidente João Carlos Wanderley. Certifico finalmente que durante a primeira administração não recebeu o dito coronel gratificação alguma pelos cofres públicos, servindo gratuitamente, mas que na segunda, de que esta presentemente encarregado, tem recebido a dez mil e seiscentos rés diariamente, arbitrada pelo atual vice-presidente João Carlos Wanderley. E para constar onde convier, fiz passar a presente observância do despacho dito. Secretaria da tesouraria de fazenda da província do Rio Grande do Norte, 21 de abril de 1850. Servindo de oficial maior, Mafaldo Joaquim de Melo (JORNAL DO COMÉRCIO, 09/07/1850, p.3).

Do exposto a cima fica-se sabendo então que a estrada tinha em sua construção 150 operários inicialmente, depois 80 e finalmente 40 e estando a mesma sob a administração do coronel André de Paiva Ferreira de Albuquerque.

Por conta do crédito concedido no exercício do ano de 1850 pelo Ministério do Império para esta verba, e em virtude da autorização dada no Aviso de 18 de maio daquele ano, o presidente da província Bevenuto Augusto de Magalhães Taques mandou encetar a abertura da estrada do Norte, que levava a direção à Cidade do Aracati, da Província do Ceará, passando pela Cidade do Assu.

         Deu ele as necessárias instruções para abertura desta estrada em continuação ao aterro do Salgado até Estremoz, e desta Vila à passagem do Itaipú[1] no rio Ceará-Mirim, e daí ao sitio Boa Água, evitando-se as 32 passagens do mesmo rio pela estrada atual.

     Segundo o presidente da província, o coronel André de Paiva Pereira de Albuquerque foi encarregado desta obra, “que tem seguido com alguma morosidade” (CORREIO DA TARDE, 16/01/1850, p.2).

         Do relatório que apresentou ao seu sucessor na presidência o Sr. Bevenuto Augusto de Magalhães Taques consta que abriu-se a picada entre a Vila de Estremoz e Itaipú, e começou a abertura e destacamento da estrada com a largura de 30 palmos.

         Perceba-se que já havia uma estrada na qual havia 32 passagens pelo rio, cremos nós seja a antiga estrada que levava ao sertão por onde passou o historiador e naturalista inglês Henri Koster em 1808 em direção a Assu e a dali ao Ceará. Esta nova estrada de 1850 evitava-se a 32 passagens, ou seja, foi feita a correção do traçado para se evitar as inúmeras passagens pelo rio Ceará-Mirim.

         O relato a cima é importante, pois revela a presença da povoação do
Taipu no município de Estremoz cuja sede municipal era a vila que é a atual cidade de Estremoz. A povoação de Boca da Mata, que mais tarde seria a vila de Ceará-Mirim não passava de uma incipiente povoação pouco expressiva e quase ignorada nos relatórios da província.


Aspectos da vila de Estremoz em 1938.


[1] No mesmo relatório se cita “Taipú” e “Itaipú” tratando-se do mesmo lugar que é o atual Taipu. No tocante a Estremoz, segundo Câmara Cascudo o topônimo se grafa com S e não com X, pois o mesmo deriva da vila de Estremoz em Portugal e como tal deve ser assim grafado.

SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA EDUCAÇÃO EM TAIPU


De acordo com o relatório do presidente da província em 1866 foram postas em concurso diversas cadeiras de ensino primário, a maior parte estavam sendo regidas interinamente, eram estas cadeiras nas escolas da Cidade Alta em Natal, Macaíba, Taipu, Vera Cruz, Santana do Matos, Arez, Goianinha, Santa Cruz, Arai, Jardim, Angicos e Luiz Gomes, todas para o sexo masculino. Já para o sexo feminino eram as da Ribeira em Natal, Ceará-Mirim, Imperatriz e Assu.

         No tocante a Taipu foi aprovado em concurso Juvêncio Tacinio Xavier de Menezes para a cadeira de ensino primário do sexo masculino.

Fonte: Exposição do presidente da província do Rio Grande do Norte, José Meira em 21 de agosto de 1866. Publicado como anexo do relatório em 01 de outubro de 1866, p.8.

A cadeira de ensino primário do sexo feminino na povoação de Taipu foi criada pela lei nº 843 de 23 de junho de 1882 assinada pelo então presidente da província Francisco de Gouveia Cunha Barreto (COLEÇÃO DE LEIS PROVÍNCIAS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1882, p.9).

Consta no relatório do presidente da província do Rio Grande do Norte o nome da professora Benedita C. Cavalcanti Maracajá como regente da escola primária do sexo feminino em Taipu em 1886, de quem se presume seja a primeira professora da referida escola do sexo feminino em Taipu.

 

Fonte: relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley 2º vice-presidente da província do Rio Grande do Norte passou a administração ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Francisco Pereira de Carvalho em 11 de novembro de 1886, p.25.

O COMÉRCIO EM TAIPU


         A atividade comercial é fator de desenvolvimento de toda localidade, mesmo que ela tenha surgido de atividades agropastoris como foi o caso de Taipu. A atividade comercial em Taipu tem seus primórdios na pequena feira que se realizava na povoação. O registro mais antigo de sua existência remonta a 1877 quando foi citada pelo historiador Manoel Ferreira Nobre em sua obra Breve Noticia sobre a Província do Rio Grande do Norte publicada em 1877, onde escreveu: “Taipu, cinco léguas ao Poente da vila, edificada irregularmente; pouco trato comercial, com uma pequena feira, e exporta algodão e courama” (NOBRE, 1877, p.192).A época  a povoação do Taipu era distrito de Ceará-Mirim.

A feira era realizada embaixo de uma latada onde os habitantes compravam gêneros de primeira necessidade como milho, feijão, farinha, sal, batatas, etc.

       Segundo o que foi publicado num artigo jocoso e irônico sobre o novo município de Taipu por um autor anônimo de Ceará-Mirim publicado no jornal A República havia em Taipu em 1891 uma pequena feira sob uma latada “igual a um ninho de asa-branca, aonde alguns matutos reúnem-se para vender certos gêneros, como sejam milho, feijão, farinha, sal, batatas, etc, porém tudo em tão pequena quantidade, que um freguês dispondo-se a atacar tudo, talvez não ache em que empregar a fabulosa quantia de 100$000 réis” (A REPÚBLICA, 26/09/1891, p.4).

         Ainda de acordo com o citado jornal ao invés de obrigar os vendedores a terem suas medidas aferidas pela municipalidade, ao contrário, a intendência obrigava-os a só vender pelas medidas da mesma intendência.

         O funcionário encarregado de alugar as tais medidas da intendência foi citado pelo referido jornal apenas pelo sobrenome Ferreira, o qual não satisfeito com a medida tomada pela intendência obrigava o matuto a alugar tantas medidas quantas fossem os sacos, ou outras vasilhas em que pusesse a venda os seus produtos, dizia o citado jornal (A REPÚBLICA, 26/09/1891, p.4).

Mercado e feira em Taipu em 1965.

            A primeira propaganda de um estabelecimento comercial foi veiculada no jornal O Nortista no final do século XIX, precisamente em 22/09/1894.

       Trata-se de um anúncio da inauguração de uma padaria em Taipu. Com o titulo 'O Taypú na ponta!' o referido anúncio em tom entusiasmado faz referência a este estabelecimento comercial como um fator de desenvolvimento local e regional, pois diz o texto que as cidades da região como Jardim de Angicos e os distritos de Boa Vista (Taipu), Contador ( atual distrito de Poço Branco) e Baixa Verde ( atual João Câmara, a época distrito de Taipu) seriam beneficiadas com a instalação desta padaria.

         O anúncio e a inauguração do estabelecimento comercial se deu três anos após a emancipação política de Taipu. Em tom ufanista diz o texto: "o Taipu torna-se-á, pois d'ora em diante o centro commercial de maiores vantagens para os consumidores dos produtos de farinha de trigo [...]", assina o texto José Macário Freire, em que paira a dúvida se seria este o proprietário do referido estabelecimento. Obviamente este não foi o primeiro estabelecimento comercial em Taipu, mas foi o primeiro a ser encontrado em registro bibliográfico, o que o torna uma relíquia para a historiografia de Taipu.

Propaganda do jornal O Nortista em 1894.

          Em 1903 seria inaugurado o primeiro mercado da vila de Taipu.

O município despendeu a quantia de 1.600$000 em 1906 com uma casa que servia de mercado público (RELATÓRIO, 1905, p.75-78).

Ainda de acordo com o citado relatório haviam 20 casas comerciais, todas de pequeno giro(RELATÓRIO, 1906, p.40).

No ano de 1909 existiam em Taipu 11 negociantes de fazendas a retalhos sendo eles: Alfredo Edeltrudes de Souza, Candido Ferreira de Miranda, Francisco Correia, João Batista Furtado, João Leite da Fonseca, João Soares da Silva Filho, Joaquim Ferreira Junior, José Soares da Silva, Josino Furtado, Manoel Herodoto de Miranda, Miguel Soares da Silva.

Os negociantes de molhados e miudezas eram igualmente 11, sendo eles: Francisco Bezerra da Silva, Ismael, Mauricio da Silveira, João Gabriel Campos, Joaquim Alves da Rocha, Joaquim Pequeno de Morais, Júlio Leite da Fonseca, Luís Inácio de Melo, Rosendo Leite da Fonseca, Silvino Raposo de Oliveira Câmara, Simplício Ribeiro da Silva, Vicente Ferreira de Paula.

Em profissões diversas estavam ocupados Eduardo Davim (funileiro), Joaquim Damásio (sapateiro), Manoel Ramos de Araújo (pedreiro), Manoel Avelino dos Santos (ferreiro).

         Em 1913 o número de negociantes de fazendas a retalhos se elevou 24 comerciantes.

Em 1926 foi instalada uma agência da Caixa Rural no distrito de Baixa Verde denotando assim a crescente atividade comercial e industrial daquele distrito.Já em 1927 exerciam atividades no comércio, indústrias e profissões diversas Alfredo Edeltrudes de Souza, Antônio Justino de Souza, Francisco Nóbrega Costa, João Câmara & Irmãos, João Gabriel Campos, João Gomes da Costa, Joaquim Rebouças de Oliveira Câmara, Theófilo Furtado.

No ramo de armarinhos, fazendas, ferragens, secos e molhados eram 31 pessoas exercendo tais atividades, sendo: Antônio Gomes, Emília Leite, Fortunato Guedes de Moura, Francisco Nobre da Costa, Francisco Teixeira, Inocêncio Francisco de Barros, Ismael Mauricio da Silveira, Jerônimo Soares da Câmara, João Batista Furtado, João Câmara & Irmãos, João Gomes da Costa, João Inácio de Melo, João Leite da Fonseca, João Soares da Silva Filho, José Gonçalves de Oliveira, José Justino de Souza, José Soares da Silva, Júlio Leite, Luís Gonçalves de Oliveira, Luiz Gomes da Costa, Manuel Leite da Fonseca, Miguel Guedes da Câmara, Paulo Bilro, Pedro Baião, Pedro P. de Souza, Pedro Torquato, Rodrigues & Praxedes, Rosa Miranda Leite, Rosendo Leite da Fonseca, Salustiano da Silva, Sebastião Nunes da Silva.

Nas profissões de carpinteiros e marceneiros 5 pessoas exerciam atividades, sendo eles: José Romualdo Filho, José Romualdo Davi, Manoel Pequeno, Francisco Beraldo, Pedro Pequeno.

Havia ainda 1 ferreiro (Manoel Avelino dos Santos) e 1 fogueteiro, (Marcolino de Oliveira), 3 padarias sendo proprietários: Joaquim Matias de Lima, Minervino Ferreira da Costa e Luiz Gonçalves de Oliveira. Sapateiros eram 3, sendo eles: Antônio Francelino, Cícero Saldanha e  Francisco Regis.

Ao iniciar a década de 1930 o município de Taipu constava do seguinte panorama: havia 10 comerciantes de fazendas e retalhos, 14 comerciantes de molhados. Os profissionais autônomos que havia no município eram: 1 barbeiro, 1 ferreiro 1 funileiro, 1 pedreiro, 1 sapateiro.

De acordo com o Diário de Pernambuco, o Banco do Rio Grande do Norte mantinha uma agência em Taipu em 1935 (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 17/05/1935, p.14).

na década de 1940 segundo Anfilóquio Câmara o comércio local em Taipu não apresentava nenhum desenvolvimento e  limitando-se ao comércio varejista e tendo como produtos vendidos para fora do município algodão, peles e couros e sendo Natal o melhor mercado para escoamento da produção. (CÂMARA, 1943, p.393).

As agências, que havia na capital, do Banco do Brasil, do Banco do Povo e o Banco do Rio Grande do Norte mantinham correspondentes, na cidade de Taipu, para o trato de seus negócios.

Na cidade de Taipu funcionava uma Agência Fiscal, subordinada á Mesa de Rendas Estaduais de Ceará-Mirim. tendo sido por ela, no período de 1937-1941, feitas as seguintes arrecadações para os cofres do Estado:

Ano

Arrecadado

1937

Cr$ 21.768,70

1938

Cr$ 26.842,60

1939

Cr$ 34.632,00

1940

Cr$ 33.238.70

1941

Cr$ 32.547,00

Total

Cr$ 140.249,00

Fonte: Câmara, 1943, p.396.


       Foi na administração do prefeito Luis Gomes da Costa que foi construído o novo mercado na qual         segundo o jornal A Ordem “sob a orientação do ilustre prefeito de Taipu Sr. Luis Gomes da Costa encontra-se em construção um novo mercado para aquela cidade, estando situado em lugar inteligentemente escolhido que é na praça do comércio” (A ORDEM, 12/11/1949, p.6). Os serviços iniciados há pouco tempo achavam-se bastante adiantados, esperando-se está tudo pronto em janeiro de 1950.

 Quanto ao velho mercado uma parte foi cedida para um comerciante local “para melhorar o seu estabelecimento comercial” (A ORDEM, 12/11/1949, p.6) e outra parte seria aproveitada para a construção de um teatro municipal “após cuidadosa reforma a fim de dá mais vida a cidade” (A ORDEM, 12/11/1949, p.6.

Na década de 1950 conforme o IBGE no tocante ao comercio diz a publicação já citada que o mesmo não apresentava um grande desenvolvimento e que exportava na época algodão, couros e peles com destino a Natal. Havia no município 73 estabelecimento comerciais varejistas em 1956 (ENCICLOPÉDIA DOS MUNICIPIOS, 1958, p.166).


A rua lateral do mercado era onde se localizava as principais casas comerciais em Taipu na década de 1950.


Mercado e espaço onde se realiza a feira atualmente.

O mercado de Taipu.



Casa residenciais e comerciais se mesclam atualmente no centro de Taipu.

Fonte:

A REPÚBLICA, 26/09/1891, p.4

Câmara, Anfilóquio. Cenários Municipais (1941/1942).Natal: Oficinas do DEIP, 1943.

IBGE. Enciclopédia Dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro, 1958.

NOBRE, Manoel Ferreira. Breve Notícia Sobre a Província do Rio Grande do Norte. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1971.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

A INTRÉPIDA AVENTURA DO ESCOTEIRO POTIGUAR JOÃO CASADO ALVES DE NATAL AO EXTREMO SUL DO BRASIL

 

Essa é mais uma história intrépida, digna de roteiro de filme de aventura e que honra a memória do movimento escoteiro do Rio Grande do Norte.

Trata-se da excursão realizada pelo escoteiro potiguar João Casado Alves entre 1933 e 1936 partindo de Natal percorrendo o interior do Brasil até chegar a São Paulo. João Casado Alves levou consigo um livro onde registrava os lugares onde passava por meio da assinatura das autoridades locais que atestavam a veracidade de sua jornada.

Dos atestados que possuía João Casado Alves, constava ter o andarilho partido de Natal em 27/07/1933, viajando através dos estados do Ceará, Piauí, Maranhão. De sua passagem pelo estando maranhense registrou o jornal Noticias, de São Luiz, que o escoteiro potiguar andante esteve na redação daquele jornal onde manteve agradável palestra. O jornal apresentava a João Casado Alves votos de felicidades em sua jornada (NOTICIAS 26/10/1933, p.4).

 Já no Pará, em cujo território penetrou pela cidade de Viseu, em 28/11/1933, chegou a Belém, capital daquele estado em 23/12/1934 depois de percorrer, qual judeu errante, as seguintes localidade paraenses: Viseu, Limãoteua, Fernandes Belo, Assaiteua, Satui, Satubim, Perobinha, Aturiai, Cacaual, Brangança, Tracuateua, Miraselva, Taunay, Capanema, Peixa-Boi, Nova Timboteua, Livramento, São Luiz, Curi, Pajurá, João Pessoa, Jambu-Assu, Granja, Eremita, São Francisco, Castanhal,Apeú,Americano, Santa Isabel, Benevides, Ananideua e Muritiba.

De Belém, onde recebeu urbano acolhimento por parte do Interventor Barata e depois do necessário repouso, o andarilho potiguar prosseguiu o seu raid, passando por Carapanã, Jundiaí, Guajará-Assu, Igarapé-Assu do Bom Intento,São Domingos do Capim, Aningal, Tomé-Assu, Badajós, Miriti-Pitanga, Acará, Mujú, Igarape-Miri, Abaeté,Breves, Gurupá, Monte Alegre, Alenquer, Santarem, Óbidos, Oriximiá e Earo, onde chegou a 02/09/1934.

Ingressando no Estado do Amazonas visitou Parantins e Itacoatiara, chegando em Manaus em 10/09/1934 recolheu-se no hospital da Santa Casa de Misericórdia, como pensionista do Estado.

Com a saúde restabelecida embarcou em Manaus passando por Carauari e João Pessoa, chegando a Seabra em 20/11/1934, de onde saiu três dias depois por terra, alcançando Feijó em 28/11/1934.Daquela vila acreana partiu o andarilho em 03/12/1934, alcançando a foz do rio Jurupari em 05/12/1935 e a  vila de Castelo em 16/12/1934  fazendo escalas pelos seringais Brasil, Cruzeiro, Terra Nova, Nova Esperança, do rio Muaco, e Maloca, do rio Macapá, aportando na cidade de Sena Madureira, em canoa, no dia 21/12/1934.

O jornal Reforma, da cidade de Seabra, município de Taraucá, no Território do Acre registrou que vindo de Manaus chegou ao porto daquela cidade no dia 20/08/1934 pela manhã o barco Waltina, sob o comando do capitão Felipe de Paula Benfica, o qual dentre os passageiros estava o escoteiro potiguar João Casado Alves em 3 classe (REFORMA, 25/08/1934, p.4).

A capital acreana o andarilho potiguar chegou em 18/02/1935. João Casado Alves foi hospedado no hotel Madri e cercado de fraternal simpatia pela colônia potiguar e prosseguiu na sua aventura aos primeiros dias de março, rumo ao rio Madeira, via Abunã (O ACRE, 24/02/1935, p.4).

Á chegada do escoteiro potiguar andante a rio Branco, capital do então território do Acre, assim se expressou o jornal O Acre: “como estamos na terra das piracemas, mais uma oportunidade temos na presente edição de noticiar a realização de outra aventura, cujo protagonista é o jovem João Casado Alves, membro do grupo de escoteiros do Alecrim, localizado na cidade de Natal , capital do Rio Grande do Norte, chegando a esta capital a 18 do corrente pela estrada Acre-Yaco”.

No mesmo dia da sua chegada o jovem João Casado Alves procurou a redação do citado jornal apresentando dois grandes volumes de atestados firmados por autoridades de todas as categorias e pessoas gradas dos lugares por ele percorridos, donde se verificava que o seu intuito era de realizar um raid pedestre em torno do Brasil.

Prosseguindo viagem pelos sertões do Brasil, João Casado Alves percorreu o então Território do Guaporé (atual estado de Rondônia) adentrando daí no Mato Grosso.

De acordo com o Correio Paulistano o intrépido escoteiro potiguar João Casado Alves havia chegado a São Paulo em 10/06/1936 e assim se expressou o referido jornal sobre o feito de João Casado Alves: “pondo em prática aquela expressão ‘meter o pé no mundo’, João Casado Alves, é um andarilho que procede do tórrido chão do Rio Grande do Norte, de onde partiu nos alvores de 1933, estando presentemente em nossa capital. Na visita que fez à nossa redação, esse denodado indiferente aos mais rápidos meios de transporte, criados pelo vigésimo século, relatou-nos passagens curiosas de seu raid pedestre através dos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas, Acre e Mato Grosso.

Chegando em Itapura, território mato-grossense, por aquela cidade entrou no Estado de São Paulo, seguindo para as cidades de Novo Horizonte, Valparaiso, Araçatuba, Penapólis, Lins, Bauru, São Manuel, Botucatu, Avaré, e etc., ganhando, alcançando assim a capital paulistana.

De São Paulo pretendia João Casado Alves continuar a “meter o pé no mundo” indo par ao sul do Brasil, assegurando que dentro de mais dois anos, atingiria o extremo sul do continente.

Ainda de acordo com o Correio Paulistano escreveu sobre a audaciosa aventura do escoteiro potiguar: “a locomotiva, o Zepellin, o avião e o automóvel, parece ‘café pequeno’ para quem tem tanta vontade de andar a pé” (CORREIO PAULISTANO, 10/06/1936, p.3).

O jornal A Noticia, da cidade de Joinville em Santa Catarina, registrou que havia chegado em 29/08/1936 procedente de Campo Alegre, o escoteiro potiguar João Casado Alves, tendo percorrido quase todo estado catarinense.

Até aquela data o destemido escoteiro andante já havia percorrido os Estado do Rio Grande do Norte, de onde partiu em 27/07/1933, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas, Território do Acre, Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, destinando-se para o Rio Grande do Sul.

Em visita a redação do referido jornal, João Casado Alves declarou que pretendia concluir a sua longa jornada, através dos mais longínquos sertões do Brasil, no ano de 1939, fazendo-se sempre se acompanhar pelo seu fiel companheiro, o cão policial Sentinela. O escoteiro potiguar permaneceu em Joinville três dias e em seguida prosseguiu com destino a Florianópolis (A NOTICIA,JOINVILE, 30/08/1936, p.12).

Em 25/09/1936 o escoteiro potiguar João Casado Alves esteve na redação do jornal A República, de Florianópolis, capital catarinense, o qual se propôs a realizar o raid pedestre através de todo o Brasil, com a finalidade de estudar o solo, as belezas e a gente brasileira.

Iniciou a excursão em 27/07/1933, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, tendo percorrido quase todo o Brasil. Declarou aos jornalistas do referido jornal que pretendia chegar de volta a Natal em 1939 quando daria por terminada o seu audacioso empreendimento.

O Tenente João Casado Alves fez sua excursão acompanhado por um cão policial que atendia pelo nome de Sentinela.

O jornal A República desejou ao jovem potiguar êxito completo em sua excursão (A REPÚBLICA, SC, 26/09/1936, p.7).

Não encontramos noticias a respeito do retorno de João Casado Alves a cidade de Natal de onde partira em 27/07/1933 percorrendo a pé o interior até o extremo sul do Brasil.

O roteiro do filme está pronto, aguarda-se apenas quem queira criá-lo e contar essa intrépida aventura desse escoteiro potiguar. É pena que histórias desse tipo não interessem aos produtores e cineastas brasileiros, cinema no Brasil só dá futuro se for de desgraça, violência, apologia a sexo e droga e ideologia de gênero, infelizmente é a mais pura e cristalina verdade.

Continuaremos a pesquisar sobre a aventura de João Casado Alves, por enquanto ficamos com o que temos.

Imagem feita pelo jornal Correio Paulistano por ocasião da vista do escoteiro potiguar ra redação do referido jornal.