quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SOBRE OS ESTRONDOS DE BAIXA VERDE EM 1949


      Há muitos anos se ouviam falar nos estrondos de Baixa Verde que se faziam ouvir algumas vezes por ano.Os moradores mais antigos de Baixa Verde afirmavam que os estrondos eram ouvidos desde 1915, desde então, em anos intercalados eram ouvidos tais estrondos.
     Em noites de muita calma, ouvia-se ao longe, um barulho como um tiro de canhão, que cresciam em intensidade, a tal ponto das pessoas afirmarem de estarem sentindo a terra tremer.
     Certo morador de João Câmara afirmava ter ouvido no dia 24 de dezembro de 1946 aproximadamente as 7h30 um grande estrondo acompanhado de tremor de terra. Disse ele ter tido a impressão de que fora um tambor de 2 a 3 mil quilos que tinha arriado de uma certa altura, a uns 500 metros de distância.
   A população de Baixa Verde e redondezas testemunhavam tais fatos amedrontada pois que os estrondos a cada dia se faziam mais frequentes e aumentando igualmente de intensidade.
      Em 1949, por exemplo, novos casos de estrondos e abalos foram relatados pelos moradores de Baixa Verde trazendo grande pavor e nervosismo a população.Em 19 de abril de 1949 um sábado, das 8h da manhã até a madrugada foram ouvidos cerca de 11 estrondos na cidade de Baixa Verde todos acompanhados de tremores de terra.
      No dia 22/04/1949 a partir das 20h começou a estrondar até altas horas da madrugada, onde foram contados até 19 estrondos, ora fracos, ora fortíssimos.
      Varias famílias ficaram sobressaltadas e altas horas da madrugada valera-se de suas orações para se tranquilizar.A situação parecia aterradora, haviam familias já se retirando do município com receio de acontecer algo mais grave.O certo era que a população desconhecia a origem daqueles fenômenos até então.
    A população enviou um telegrama ao governador José Augusto Varela no sentido de se tomar providencias para investigar os fenômenos geológicos que estavam ocorrendo em Baixa Verde, a intenção era que o governador entrasse em contato com técnicos do governo federal intendidos do assunto para investigar tal casos, no entanto até aquele momento não havia sido dada resposta alguma por parte do governador.
    A solução encontrada pelo povo de Baixa Verde foi apelar a imprensa para que se divulgasse a situação caótica que se verificava na cidade a fim de sensibilizar o governador para se tomara as devidas providências para tranquilizar as famílias que lai residiam.




A Ordem, 03/03/1949, p. 6.

SOBRE A CONSTRUÇÃO DO AÇUDE PEDRA D’ÁGUA EM BAIXA VERDE PELA FIRMA JOÃO CÂMARA & IRMÃO EM 1947


        A firma João Câmara & Irmão estava construindo um açude em Baixa Verde em 1947 e conforme se li ano jornal a Ordem “ merece aplausos da população de Baixa Verde a firma João Câmara & Irmão que dentro de poucos meses terminará a construção de um grande açude capaz de resolver toda a situação angustiosa da população baixa-verdense nos anos secos”.
           Desde o ano de 1945 a firma estava empenhada na construção do açude de Pedra d’água com capacidade para 3.700,00 m³ de água, situado ao sul da cidade. A obra estava sob a responsabilidade do engenheiro agrimensor Francisco Alves Maia, o qual estava “desempenhando os serviços com competência”.
        Na construção desse açude a firma já havia contribuído com mais Cr$ 400.000,00 e pretendia ainda canalizar a água para a cidade, pois “somente assim ficará resolvido o grande problema de água de Baixa Verde que a poucos anos passados a população viveu dias amargurados a espera do precioso líquido[...]”.A iniciativa da firma João Câmara & Irmão era louvável porque em tempos de seca a população tinha que se deslocar até 4,5 km para conseguir encontrar água para consumo e também esperar até dias pela chegada do trem da Estrada de Ferro Sampaio Correia que trazia água da lago de Extremoz para ser distribuída na cidade.
         Além dessa auspiciosa noticia a população de Baixa Verde também tinha outras razões para comemorar naquele ano, pois “as vazantes colossais que desde agora estarão fornecendo batas e no próximo verão termos milho, feijão, o jerimum etc”. Acrescente-se também que foram colocados uma grande quantidade de curimatãs para produção que seriam colhidos em no máximo um ano.



Fonte: a ordem, 31/03/1947, p.2.

SOBRE O GRUPO ESCOLAR CAPITÃO JOSÉ DA PENHA DE BAIXA VERDE EM 1947


    Sobre o grupo escolar capitão José da Penha escreveu o engenheiro agrônomo Álvaro Ferreira Neves em 1947 quando esteve visitando Baixa Verde:
    “Este modelar estabelecimento é dirigido pela ilustre professora Maria Guimarães, que alia à sua reconhecida capacidade profissional, uma superior educação cívica, manifestada para com as colegas, os visitantes e seus alunos. Ela acumula a direção do Grupo à cátedra do 5º ano cuja turma conta com 19 alunos de ambos os sexos.
    Entre suas auxiliares destaca-se a prof. Maura Santos, que é daquelas capacidades profissionais apaixonadas pela profissão. Ela leciona o 1º ano cuja turma consta 43 alunos de ambos os sexos.
       A disciplina da turma chama a atenção imediatamente; o progresso de seus alunos entusiasma a qualquer visitante, notando-se mesmo, um esforço titânico dos alunos em aprender o que ensina a extraordinária Mestra. Mas há um tal de Raul, espécie de azougue sobre papel que causaria inveja até ao CAPIROTO...
     A turma do 2º ano é dirigida pela prof. Maria Fernandes da Mota e Silva; a do 3º e 4º ano pela prof. Glaucia Amélia de Paiva. A 1ª consta de 31 alunos, a 2ª de 51.Numa ligeira demonstração, feita em minha presença, provaram serem detentoras de capacidade profissional superior ao cargo. Tive vontade de ser alunos daquele Grupo, ao menos para ajudar ao Raul a quebrar os vidros e as telhas...
    O estabelecimento está dotado de abundante e moderno material escolar, afirmando a Diretora que todos os pedidos feitos o Diretor Geral do Departamento de Educação tem sido satisfeito com toda a presteza.
   O curso de alfabetização está funcionando sob orientação técnica da Sta Engracia Varela, cuja a frequência, porém, deixa a desejar.
   A visita do engenheiro agrônomo Álvaro Ferreira Neves ocorreu em 17 de junho de 1947 já a publicação do seu relato no jornal A Ordem ocorreu em 08 de julho de 1947.


  Fonte: A Ordem, 08/07/1947, p. 4.




      O quadro resumo foi elaborado por mim a partir das informações a cima.

Quadro resumo
Perfil do Grupo escolar Capitão José da Penha de Baixa verde em 1947
Ano
Professora
Nº de alunos
Maura Santos
43
Maria Fernandes da Mota e Silva
31
3º e 4º
Glaucia Amélia de Paiva
51
Maria Guimarães
19
Curso de alfabetização
Engracia Varela
Não informado
Total de alunos
------------------
144


Fonte: elaborado a partir das informações do relato do engenheiro Álvaro Ferreira Neves in: A Ordem, 08/07/1947, p. 4.



     O grupo escolar Capitão José da Penha foi inaugurado em 1927, está vivenciando este ano de 2017 seu 90º aniversário.Vida longa a esta que é a segunda casa de educação mais antiga da região do Mato Grande, sendo o posto de primeiro destinado ao Grupo escolar Joaquim Nabuco de Taipu inaugurado em 1919.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

NÃO HÁ PERIGO DE VULCÃO NEM TERREMOTO EM BAIXA VERDE: MAIS UMA EXPLICAÇÃO PARA OS ABALOS


      Os estrondos continuaram a serem sentido em Baixa Verde no ano de 1952. Conforme se lia no jornal A Ordem “nos últimos dias [...] fortes estrondos têm sido ouvidos em todos os recantos da cidade de Baixa Verde, fazendo com que as casas estremeçam caindo barro das paredes” (A ORDEM, 04/03/ 1952, p. 4).     A população ficou inquieta registrando-se novamente a saída de várias famílias da cidade. Os técnicos que examinaram os casos de abalos sísmicos registrados anteriormente afirmaram que a ocorrência não deveria causar preocupações na população porque eram fenômenos explicados cientificamente (A ORDEM, 04/03/ 1952, p. 4). Em agosto novas repetições de estrondos no Torreão.

Não há perigo de vulcão nem terremoto em baixa verde: mais uma explicação para os abalos
    eis a seguir o relatório apresentado pelo Dr. Wilhem Kegel sobre os fenômenos de Baixa Verde dizia:
    É claro que os estrondos que neste município por vezes acontecem, assustam o povo que não conhece as causas do fenômeno.
    Sem duvidas são produzidos por movimentos no subsolo. Não existindo, aqui galerias e poços de minas, nem grandes pedreiras, estes movimentos devem ser causas naturais.
  Pode-se absolutamente excluir a possiblidade, que os estrondos sejam causados por atividades vulcânicas, agora subterrânea, mas talvez no futuro, seguidos por extrusões superficiais em maior escala. Os vulcões são localizados em todo o mundo, nas regiões da crosta da terra é fraca, como nos Andes, no México, no Japão e em outros lugares. Por isso não existe nenhum vulcão no território do país e não há motivos nenhum que no futuro esta situação possa mudar, sendo pois, qualquer medo neste sentido de maneira alguma admitido.
   A situação é semelhante com respeito aos grandes terremotos. São muito raros nesse país, mesmo os de pequena intensidade ao passo que nos estados dos Andes acontecem de vez em quando de maneira catastrófica. A estrutura interna da crosta terrestre nesta região do nordeste, a firmeza e estabilidade até grande profundidade, excluem inteiramente a probabilidade de um terremoto catastrófico.

Explicação
     A única solução do problema é a seguinte: ao norte de Baixa Verde estende-se a vasta região onde o subsolo até mais de 200 metros de profundidade, consiste em calcário. Ele é depositado em camadas horizontais e cortado por fendas mais ou menos verticais.
   A substancia do calcário é solúvel na água, motivo por que a água desta região em geral é dura e pesada e não sempre potável. A permeabilidade das camadas calcaria a água é maior que das demais pedras e rochas, por isso a água meteórica inflltra-se rapidamente no subsolo, um fenômeno bem conhecido, por exemplo, no curso do Riacho Seco. A água continua seu caminho no calcário até um lugar muito baixo onde reaparece uma fonte. Para a região norte de Baixa Verde, esta fonte é a de Pureza. Tal regime de água é bem conhecido em todo mundo.
  No seu caminho através das camadas calcarias, a água dissolve muita substancia delas, processo este observável, por exemplo, na Casa de Pedra ou na própria fonte de Pureza. Esta perda de substancia leva à formação de buracos, de fendas abertas, de cavernas e grutas. Em outras regiões são conhecidas cavernas e vazios de um comprimento de muitos quilômetros.
     Aqui, a formação de grandes cavidades torna-se difícil, por causa do grande numero de fendas verticais que cortam as camadas.
    Sendo assim, a situação subterrânea, o teto de uma cavidade não mais trazendo o peso das camadas sobrepostas cai. Este processo é acompanhado por um barulho e as vezes por um ligeiro abalo do subsolo.
   Este fenômeno causa os estrondos, que mostram certas diferenças da intensidade, naturalmente, segundo a quantidade de pedras desmoronada.
   Sendo aqui as condições pouco favorável para a formação de grandes cavernas, este processo não pode se tornar se tornar demais extenso. Entretanto é possível que um abalo desata outro o que parece ter sido realizado no passado.
      Destarte, na superfície podem formar-se pequenas cavidades, em geral não imediatamente depois do estrondo, mas de pouco em pouco, é o grande numero dos sumidouros, existindo no areal calcário, deve resultar pelo menos parcialmente, deste processo.

Não há perigo
      Não se tem notícia alguma, que por este processo qualquer homem sofreu um dano. No futuro também não se dará. Em resumo, é inteiramente excluído, que nesta região formar-se-á um vulcão ou que acontecerá um terremoto catastrófico. Os estrondos continuarão; podem interromper-se por anos, mas devem repetir-se. Entretanto, é totalmente improvável que se tornem bem mais intenso que no passado.
      Por isso, o povo pode tranquilizar-se. Não há motivo nenhum de medo ou de desconfiança no futuro.ao contrário, parece que o município, sendo as condições favoráveis, está marchando para uma grande prosperidade”. Baixa Verde, 28 de março de 1952. Wilhem Kegel, geólogo da divisão do Departamento Nacional de Produção Mineral.



 Fonte: A Ordem, 03/03/1952, p. 4.

A EXPLICAÇÃO DE ROBERT GREENWOOD PARA OS ABALOS DE BAIXA VERDE


   Após o prefeito de Baixa Verde solicitar ao governo do estado um estudo acerca dos abalos sísmicos no município, o governo do estado por sua vez entrou em contato com o DNPM que enviou o engenheiro Robert Greenwood para a cidade de Baixa Verde a fim de estudar o fenômeno. Eis abaixo na integra o teor do relatório do citado engenheiro.
    O engenheiro do Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM Robert Greenwood apresentou o seguinte relatório para explicar os abalos sísmicos da cidade de Baixa Verde e que estavam causando pânico na população daquela cidade.

Relatório
Tremores de terras - Baixa Verde – Rio Grande do Norte

     Por ordem do Sr. Diretor do DPNM eu fiz uma viagem para estudar tremores de terra na cidade de Baixa Verde, Rio Grande do Norte, cheguei ao local as 16 horas do dia 27.12.50, fiquei até as 7 horas do dia 29. As 18 horas do dia 27 eu ouvi um estrondo parecido com trovão distante, de duração dum segundo, entretanto sem sentir tremor de terra. Houve outro estrondo segundo informações, as 23 horas dessa noite, o que não me acordou.
   Segundo o Sr. Prefeito da cidade, e outras pessoas, esses estrondos são conhecidos em Baixa Verde por quarenta anos, porem nos últimos meses tornaram-se mais fortes e mais frequentes, até 14 por dia, acompanhados as vezes por tremores ligeiros da terra.
    A historia de gases vindo da terra não se confirmou. Algumas casas da cidade sofreram fendaduras nas paredes por causa dos choques, mas não apareceu nenhum deslocamento na superfície da terra, nem na estrada de ferro que passa pelo meio da cidade. A população do local ficou alarmada por causa  desses fenômenos desconhecidos, e o Sr. Prefeito quis conseguir um estudo sismográfico para o localizar a fonte dos estrondos.

Geologia
      A cidade de Baixa Verde acha-se numa planície ondulada, interrompida a 2 km ao oeste por uma pequena serra de rochas graníticas. Algum afloramento na cidade propriamente dita, e outras nas vizinhanças, mostram que a cidade fica numa base segura de rochas. Arqueanas, duras e antigas, de modo que não há nenhum perigo de a terra afundar.
    2 ou 3 km ao norte da cidade aparecem as rochas sedimentares da faixa litoral vão dai até o mar com 60 km de extensão. Eu atravessei esta faixa até 12 km ao norte da cidade onde eu vi somente calcário, em camadas de mergulho suave ou horizontais. Num dos afloramentos vistos apareceram buracos dissolvidos por água.

Explicação dos tremores
     A grande camada de sedimentos calcários, que se encontra ao norte de Baixa Verde, estende-se em cima da superfície erodida das rochas Arquenas. A água das chuvas em vez de correr em riachos, entra nas fendas do calcário, o qual é facilmente dissolvido. Dessa maneira abre-se um sistema de buracos e canais nas partes profundas do calcário, e de vez em quando as camadas devem ajustar-se a essa condição fazendo deslocamentos pequenos. Tais deslocamentos são suficientes para dar estrondos e os tremores de terra sentidos no local.
      Outra explicação, menos provável, é a possibilidade duma falha antiga nas rochas Arqueanas, também fazendo ajustamentos pequenos, de alguns centímetros talvez. Em qualquer caso não há perigo da terra afundar em Baixa Verde, ou de acontecer coisa pior do que os tremores do tipo conhecido.
            Robert Greenwood – Engenheiro de minas da DNPM.


Fonte: A Ordem, 18/01/ 1951, p. 4.


PRIMEIRAS EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS PARA OS ABALOS SÍSMICOS DE BAIXA VERDE


     Os abalos sísmicos que estavam ocorrendo em na Serra do Torreão em Baixa Verde, não eram inéditos, segundo o jornal a Ordem.
      No município de Surubim, no estado de Pernambuco, na Serra da Pá Virada, havia também estrondos, abalos sísmicos, fendas que eram abertas nos cimos das serras, trincaduras nas paredes dos edifícios. Em São Paulo os mesmos ruídos eram ouvidos e causavam mal-estar na população, mesmo que não fossem abalos sísmicos, a impressão que dava era que fossem de fato tremores de terra, Em Natal, havia o Morro do Estrondo e tal alcunha não tinha por explicação outra gênese.
     Segundo o jornal A Ordem “em Baixa Verde tive a oportunidade de ouvir os ruídos pela madrugada de 16 do corrente e os pouco segundos que duraram, me fizeram mal-estar, a mim como a toda gente. Imagino o que sejam os mais fortes e de maior duração” (A ORDEM, 28/12/ 1950, p. 4 ).
     A hipótese de que um vulcão estaria entrando em erupção na qual espalharia lavas por toda parte, foi imediatamente refutada, pois no Brasil não há vulcões, mesmo que tivessem havido há milênios passados, estariam extintos.
     Os relatos históricos davam conta de registros de abalos sísmicos também na região sul do Brasil com poucos prejuízos materiais.
      As explicações para os abalos em Baixa Verde ainda não haviam sido dadas oficialmente pela Ciência. No entanto, uma possível causa seria que camadas terrestres estavam em desajustes pela infiltração das águas pluviais e o movimento continuo do planeta explicariam os ruídos ou estrondos causados pelas tentativas de reajustamento.
      Os sismos, eram naquela época, classificados em dois grupos: cliptogênicos ou geológicos e dinâmicos externos. Os cliptogênicos são tremores de terra cuja a origem é profunda e cujos abalos se propagam a grandes distâncias. Os dinâmicos externos são devidos principalmente aos deslocamentos das rochas que formas a crosta da terra nas camadas do solo ou do subsolo, mas sempre próxima a superfície.
   Os abalos de Baixa Verde foram classificados aquela época como sendo dinâmicos externos, e até aquele momento considerados inofensivos e de todo inócuos, os quais não deveriam causar pânico na população, pois, “o povo progressista de Baixa Verde tem em Nossa Senhora Mãe dos Homens a mesma Nossa Senhora do Estrondos que há de defende-lo contra todos os perigos e ameaças do futuro” (A ORDEM, 28/12/ 1950, p. 4).




Fonte: A ORDEM, 28/12/ 1950, p. 4.

ABALOS EM BAIXA VERDE EM 1950


    Estranhos fenômenos foram registrados em Baixa Verde no ano de 1950, entre eles, 8 tremores de terra em poucas horas. Os abalos estavam enchendo a população de preocupação. Segundo publicado no jornal A Ordem: “Ontem ao meio dia surgiu formidável estrondo, resultando ficarem rachados diversos muros, bem como quebrando telhas de várias residências” (A ORDEM, 01/12/1950, p. 4).
    O agente da estrada de ferro Sampaio Correia, Aurélio Soares de Góis, informava que a população de Baixa Verde estava em verdadeiro sobressalto, com mulheres dando ataque na via pública. Ainda segundo o funcionário da EFSC, não era pequeno o numero de pessoas que estavam abandonando a cidade em direção a capital.
      Entre 12h e 13h novos estampidos foram ouvidos, ao total foram 8 abalos ouvidos pela população, sendo o primeiro o de maior intensidade.

Em outras épocas
      Em diversas épocas do ano, antes do inverno, os habitantes ouviam ruídos, como se fossem paredes caindo. Diziam os mais antigos moradores da cidade que já em 1919 os abalos sísmicos eram ouvidos e sentidos em Baixa Verde.

Em Lajes
      Por um longo período os abalos não foram sentidos mais em Baixa Verde, no entanto, o fenômeno passou a ser sentido em Lajes, a época denominada Itaretama. O prefeito de Lajes, comunicou o fato as autoridades em Natal.
     O então governador José Varela, levando a sério os fenômenos sentidos naquela região do estado, entrou em contato com autoridades do assunto para se fazer estudos indispensáveis, a fim de tranquilizar a população de Lajes.Os estampidos e pequenos tremores não foram mais ouvidos pela população, justamente quando o inverno começou a cair naquela região, na qual o fenômeno dos tremores parecia ser ponto de origem.

De volta a Baixa Verde
      Quando tudo estava esquecido pelo povo, eis que os tremores voltaram a serem ouvidos e sentidos em Baixa Verde, na qual volta a população a ter intenso nervosismo perante o fenômeno dos abalos sísmicos.
    Segundo o jornal a Ordem “dezenas de pessoas estão apelando as autoridades competentes, no sentido de tomar as providencias indispensáveis, a fim de que aquele povo volte de novo a paz de espirito” (A ORDEM, 01/12/1950, p. 4).
        A população ouviu o primeiro abalo as 11h45, a qual ficou alarmada com o forte estrondo acompanhado de forte tremor de terra causando graves crises nervosas em diversas senhoras. Inúmeras famílias estavam procurando transporte para se retirarem do município. O clima era de sobressalto na cidade.
      Mais de cinco abalos continuaram a serem sentido durante a noite, até o meio dia do outro dia, sendo o ultimo o mais forte sentido durante aquela noite.
       Segundo o funcionário da EFSC Raimundo Fernandes, cerca de 17 famílias saíram da cidade, esperando o trem motriz M-2 que fazia aquela linha as terças, quintas e sábados e esperava-se que mais famílias tomassem o trem com destino a Natal (A ORDEM, 01/12/1950, p. 4).

Continuam os abalos
      Os abalos continuaram a serem sentidos pela população de Baixa Verde. Segundo o jornal a Ordem “os mesmos estrondos continuam sendo ouvidos em número sempre crescente” (A ordem, 13/12/1950, p. 4). Foram registrados nada menos que 10 abalos em Baixa Verde naquele dia, estando grande parte da população abandonando-a, enquanto outras famílias permaneciam no mesmo local sem poderem deixar a cidade propriamente dita, conforme seu desejo.
    Apelava-se as autoridades do estado para que o fenômeno dos abalos sísmicos fosse levado a sério e que junto ao ministério da agricultura fosse se providenciassem a vinda de técnicos para se fazer os estudos que a população julgava indispensável.


Fonte: A ORDEM, 01/12/1950, p. 4; 13/12/1950, p. 4.

EXTREMOZ A ÉPOCA DA CHEGADA DA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO RIO GRANDE DO NORTE

       A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, antiga reivindicação dos produtores e donos de engenhos do vale do Ceará-Mirim, foi inaugurada em 13 de junho de 1906, no trecho entre Natal e a cidade de Ceará-Mirim.
        Eis como estava caracterizado Extremoz a época da chegada da ferrovia.
    A época Extremoz era distrito de Ceará-Mirim, embora sua edificação remontasse ao século XVII, quando ali foi criada uma aldeia missionária pelos padres da Companhia de Jesus, os jesuítas, com o intuito de catequizar os índios que tinha ali suas tabas.
     Os seus habitantes mantinham-se de pequenas lavouras cultivadas a margem da lagoa que lhe dava nome. Já havia alcançado a condição de vila e sede do município, na época da chegada da ferrovia, achava-se em decadência.
      Por meio da resolução provincial de Nº 321 de 18 de agosto de 1855 foi transferida a sede municipal para a povoação de Ceará-Mirim, sendo esta elevada a categoria de vila.
       A lagoa de Extremoz, era o principal atrativo do então distrito de mesmo nome, com seus 18 km de extensão. As construções antigas do século XVII, como  a igreja e o antigo convento dos jesuítas estavam em ruínas, causado pelo a abandono, fruto da transferência da sede municipal e da paróquia.
       O distrito de Extremoz tinha em 1906 cerca de 60 casas e 300 habitantes.

A estação 
     A estação de Extremoz foi construída no km 21 da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte tendo sido inaugurada em 13/06/1906. Extremoz alcançou autonomia politica e administrativa somente em 1963, de modo que a estação passa a ser efetivamente deste município a partir desse ano, antes disso era pertencente ao município de Ceará-Mirim.  
     O edifício ainda em sua configuração arquitetônica original, foi adaptada para servir atualmente como parada dos trens metropolitanos da CBTU.




Fonte: Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia (RN), 1906, p. 63-64.

CEARÁ MIRIM A ÉPOCA DA CHEGADA DA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO RIO GRANDE DO NORTE



        A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, antiga reivindicação dos produtores e donos de engenhos do vale do Ceará-Mirim, foi inaugurada em 13 de junho de 1906, no trecho entre Natal e a cidade de Ceará-Mirim.
            Eis a seguir um panorama de como estava caracterizado o município quando a ferrovia foi ali inaugurada.

Aspectos gerais
     O município compreendia os distritos de Ceará-Mirim, Extremoz, Capela, Genipabu, Carnaubal e Muriú. A paróquia dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Sede comarca. Cultivava-se extraordinariamente a cana de açúcar. A população era de 26.000 habitantes e 796 eleitores.
       A cidade sede do município, se situa a margem direita do rio com o mesmo nome, foi elevada a esta categoria em 09/07/1882, tinha 680 casas, 2.720 habitantes.
    Os distritos tinham a seguinte demografia: Extremoz: 60 casas e 300 habitantes; Genipabu: 30 casas e 180 habitantes aproximadamente; Jacumã: 42 casas e 220 habitantes; Muriú: 55 casas e 330 moradores; Queri: 31 casas e 150 moradores; Capela: 40 casas e 26 moradores e Jacoca: 35 casas e 180 moradores.
     O município possuía 2.800 km² de extensão. Limitava-se a época com Touros ao norte, a leste com Oceano Atlântico, São Gonçalo a sul e Taipu a oeste.

Hidrografia

Rios
       O município é banhado pelos rios, Ceará-Mirim, com nascente em na Serra do Cabugi, cortando os municípios de Jardim de Angicos e Taipu, começava a banhar o município de Ceará-Mirim no lugar Duas Passagens[1], desaguando no Oceano depois de 8 léguas dentro do município. Pouco piscoso, formava pequenos poços, no entanto, muito fertilizava com as grandes enxurradas do inverno as terras do extenso vale do Ceará-Mirim. Em alguns lugares as vazantes estavam obstruídas pelo leito do rio.
     O Água Azul, com nascente no proprio município no lugar Nascença, correndo de noroeste para leste depois de um percurso de 2 léguas, entrava no rio Ceará-Mirim pelo norte. Igualmente pouco piscoso, era, no entanto, um dos poucos rios perenes do estado. Fertilizava em todo seu percurso o vele por onde passava e banhando a povoação de Capela.
        O Maxaranguape. Com nascente no olho d’água de Pureza, servi de limites entre o município com o de Touros. Prestava-se pouco a pesca, perene em todo seu curso em cerca de 6 léguas, dava lugar a excelentes vazantes em épocas de estio.

Riachos
    O Massaranduba, tinha sua nascente em Serrinha, correndo em direção sudeste desaguando ao sul da lagoa de Extremoz.
    O Mudo, com nascente em Taipu correndo de oeste a leste banhando a povoação de Jacoca, prestava-se a vazantes, desaguava também na lagoa de Extremoz.
      O Riachão, com nascente ao norte da povoação de Capela correndo de oeste para leste, formando pequenos poços piscosos, encontrava-se com o rio Maxaranguape depois de um percurso de mais de 3 léguas.
   O Queri, com nascente ao norte a cidade, correndo de noroeste para sudoeste, depois de um percurso de 1 légua entrava no rio Ceará-Mirim, não prestava para a indústria da pesca.

Lagoas
     A de Extremoz, com 18 km de extensão. A de Gaspar, com 2 km de extensão e 600 metros de largura e a de Mineiro, com 700 metros de extensão e 200 metros de largura.
         Todas eram pouco piscosas e sem rendimentos para o município.

Serras
       Não havia serras nem matas, de modo que a madeira para construção vinha de outros municípios.

Economia
        O município era considerado o mais fértil do estado, onde se cultiva em grande escala além da cana de açúcar, feijão, milho e algodão.
      O grande vale do Ceará-Mirim devidamente cultivado seria uma fonte perene de recursos para os sertanejos nos tempos de calamidade, porém, havia grande falta de investimentos, sobretudo de capitais, onde a lavoura se achava em verdadeira penúria de longo tempos.
        No vale havia 51 engenhos onde se fabricavam açúcar, rapadura, mel e aguardente, destes, 34 eram movidos a vapor e 17 por tração animal. Havia 100 casas de farinha e uma fabrica de descaroçar algodão movido a vapor. O plantio de cereais e outras culturas era feito em cerca de 400 roçados que em épocas de invernos regulares a safra atingia a marca de 200 mil sacos, a de algodão 2.000 sacos, 2.000 de milho e feijão.
      Com relação ao comércio havia a importação de fazendas, ferragens e gêneros de estivas, com movimentação em torno de 300 contos. Existiam 35 estabelecimentos comerciais e uma fundição.

Transporte
        Antes da chegada da Estrada de Ferro, o transporte de mercadorias era feito por animais regulados por 2.000 réis por carga na distancia máxima de 6 léguas.

Prédios públicos da intendência
       Eram prédios públicos da intendência municipal na cidade o mercado, a escola de instrução primária, a sede da intendência e a fonte pública. Os 2 primeiros eram otimamente construídos.

Instrução pública
      Haviam 4 escolas primárias, 2 para cada sexo, sendo a frequência diminuta.

Cultura
      Havia uma associação literária com 50 associados.

Situação judiciária
Jurados: 300
Juízes distritais:
Alexandre Lopes de Vasconcelos
Lourenço de Araújo Correia
Torquato Dantas da Câmara.

Intendência municipal
Francisco Dantas Cavalcante – presidente.
Intendentes: Felismino do Rego Dantas Noronha.
                    José Fernandes Raposo de Melo.
                    Pedro José Antunes de Miranda
                    Boaventura Dias de Sá.
                    Inácio Justino Mendes Teixeira.
                    José Olímpio Alves de Oliveira.
Suplentes:    Pedro José de Vasconcelos
                   Antônio Xavier Pereira Sobral.
                   Manoel Alves de Oliveira
                   Manoel Gomes da Silva
                   Antônio Fernandes de Oliveira.
                   Antônio Matias de Lima
                   Joaquim Gregório Romero.

Receitas e despesas
        A receita no ano de 1906, foi de 14:182$00 e igualmente a despesa.
Agências dos correios e telégrafos
        O município possuía uma de cada.

Em 1910
        Três anos após a inauguração se dizia sobre Ceará-Mirim:
        A sua principal riqueza consistia na fabricação de açúcar, aguardente e nas culturas de milho, feijão, arroz, café, tabaco, etc.
      Sobre a cidade se dizia: “Esta pitoresca cidade que se acha edificada em dois bairros é de clima agradável, quer pelos ventos dominantes, quer pela proximidade do mar. Tem bons prédios, bonitas praças e avenidas” (ALMANAQUE LAEMMERT: ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL (RJ), 1910, p. 1010-1011),
       As coletorias estadual e federal já haviam sido instaladas. Possuía um jornal semanal, A Evolução, dirigido por Antônio Alves. Haviam duas bandas de música, a 12 de outubro, dirigida por Venerando Consentino e a 5 de maio, dirigida por Prisco Rocha.
     Naquele ano existiam, negociantes: 20. Advogados: 1. Barbeiros: 9. Carpinteiros: 4. Ferreiros e caldeireiros: 2. Funileiros: 2. Médico: 1. Mecânicos: 3. Pedreiros 2. Farmacêuticos: 3. Sapateiros: 1. Engenhos: 32. Agricultores e lavradores: 31. Capitalistas: 5.

A estação
        A estação da cidade de Ceará-Mirim foi inaugurada em 13 no km 39 da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. O prédio da estação foi desativado em 1997.Foi restaurado e atualmente abriga um centro cultural mantido pela prefeitura. Ao seu lado fica a estação terminal dos trens metropolitanos da CBTU construída em 1982.


Fonte: Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia (RN), 1906, p. 63-64. Almanaque Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ), 1910, p. 1010-1011.



[1] Presentemente Duas Passagens é distrito de Taipu.