segunda-feira, 18 de abril de 2022

O COLÉGIO DE EDUCANDOS ARTÍFICES

 

        Quando se fala no ensino profissionalizante do Rio Grande do Norte vem logo em mente o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia-IFRN, cujo nome primitivo foi Escola de Aprendizes Artífices, instituição criada pelo Governo Federal em 1909 e instalada em Natal no ano de 1910.

         Porém, o que pouca gente sabe é que o Rio Grande do Norte teve um Colégio de Educandos Artífices que foi uma instituição criada por meio de uma lei provincial. É sobre este estabelecimento de ensino que trataremos a seguir.

         O Colégio de Educandos Artífices de Natal[1] foi criado pela Lei Provincial nº 376, de 09 de agosto de 1858 e inaugurado em 02/12/1858, tendo sido fixado o número de 20 alunos para seu funcionamento o qual as vagas foram preenchidas no ato de sua inauguração.

         O presidente da Província expediu um regulamento em 09/10/1858 no qual procurou consultar todas as medidas conducentes a prosperidade de tais instituições assim como restava-lhe a escolha do diretor do referido estabelecimento de ensino cujas qualidades deveriam ser zelo, inteligência e dedicação para que “soubesse fazer valer os sacrifícios despendidos pela província para a realização desse importante impulso dado à educação industrial [...]”.(RELATORIO..., 1859, p.11).O presidente da província ainda dizia em seu relatório que folgava em acreditar que a Administração da Província não foi infeliz em tão difícil empenho.

         Foi nomeado interinamente para o cargo de Diretor do CEAN o cidadão Francisco José Pereira Cavalcante de Albuquerque.

         O CEAN foi inaugurado sem um edifício próprio o qual de acordo com o relatório do presidente da província só com alguma demora poderia ser  construído, por isso foi alugado a propriedade do cidadão José Quintiliano da Silva, que era a época um dos mais espaçosos prédios da Capital potiguar.

         O currículo inicial do CEAN constava das cadeiras de primeiras letras,  princípios religiosos, geometria e mecânica aplicada as artes e música.

         Para os cursos profissionalizantes foram montadas oficinas de alfaitaria, carpintaria, sapataria e pedreiro.Já para as profissões de ferreiro,serralheiro, marceneiro, canteiro e tanoeiro não foram feitas oficinas em virtude do limitado número de alunos que contava o estabelecimento de ensino, o qual seria impossível que cada um dos alunos frequentassem mais de uma oficina.

         De acordo com o relatório do diretor do CEAN apresentado em 20/01/1859 as aulas de primeiras letras estavam sendo frequentadas por todos os alunos e apresentava grandes progressos, em consequência dos desvelos que mostrava o professor na explicação das matérias a seu cargo.

A aula de música estava também sendo frequentada por todos os alunos com muito aproveitamento,  a qual estava sob os cuidados do professor José Leão de Melo Açucena,o qual recebeu dignos elogios não só pelo interesse que vinha demonstrando no progresso dos alunos, como pela atitude generosa em recusar os vencimentos que lhe foram estabelecidos oferecendo assim gratuitamente a prestação de seus serviços.

         As aulas de geometria e mecânica começaram a funcionar no inicio de 1859 tendo sido nelas matriculados 9 alunos e sendo nomeado para reger ambas as disciplinas João Nunes de Campos, engenheiro civil e diretor das obras públicas da Província.

         Na oficina de alfaiataria foram matriculados 8 alunos e nela já estavam sendo fabricados 20 jaqués, 100 calças e 20 peças de pano para uso do estabelecimento e seria ali preparado o fardamento do corpo de policia, segundo as ordens expedidas pelo presidente da província para essa finalidade.

         Na oficina de sapataria trabalhavam 5 educandos que tinham aprontados 44 pares de calçados para uso do estabelecimento e do hospital de caridade e ficando em andamento o calçado do corpo de policia.

         Na oficina de carpintaria estavam trabalhando apenas 2 educandos onde estavam sendo preparadas várias obras de madeiras e entre outros utensílios para a aula de geometria.

         Por falta de obras de pedreiros no estabelecimento as aulas estavam sendo realizadas fora do estabelecimento, sobretudo nas obras públicas tendo estas aulas 5 alunos matriculados dedicando-se a este oficio.

         Como visto quase todos os objetos manufaturados nas oficinas do CEAN eram destinados para uso dos educandos e do próprio estabelecimento e nem mais se poderia exigir no curto espaço de dois meses de seu funcionamento.

         De acordo com o presidente da província a instituição do CEAN foi um grande passo que dera a Província nas vias do progresso e tendo sido um melhoramento que honrava os legisladores que propuseram sua lei de criação.

         O presidente relatou ainda que a disciplina no CEAN era exercida com regularidade tendo sido por ele frequentemente testemunhada e tudo levava crer que um futuro ladeado de venturas estava reservado a esse nascente estabelecimento de ensino, se continuassem a ser prodigalizados os cuidados que lhe eram devidos,no entanto, escreveu o presidente da província que “é forçoso confessar que só com muita lentidão poderá ele atingir o fim que se propõe conservado nas condições acanhadas em que se acha”.

         Por isso o aumento do número de alunos era uma necessidade para que pudessem ser frequentadas todas as oficinas criadas em proveito de um mais vasto plano no ensino das artes.

      As maiores despesas do CEAN eram as que se referiam ao pessoal empregado, sendo elas as mesmas quaisquer que fossem o número de aluno matriculados, vindo somente a acrescer pouco mais do subsidio concedido para a alimentação dos estudantes. (p.12).

         O quadro as seguir mostra as despesas com o CEAN:

Vencimento do diretor

143,353

Vencimentos do almoxarife

20,000

Subsidio aos 20 aprendizes

300,000

Aquisição dos utensílios necessários para a instalação do Colégio

1:500,745

Compra de instrumental

1:751,095

Material de expediente

74,990

Aluguel da casa em que se achava instalado o estabelecimento

25,113

Total

3:843,277

Fonte: relatório..., 1859, p.41. Anexo.

     Segundo o relatório da tesouraria da província a despesa com o CEAN foi de 5:245$686. (RELATÓRIO..., 1859, p.35).

         No ano de 1860 aos 20 alunos da instalação do CEAN foi acrescido mais 9 que entraram naquele ano.Segundo o relatório do presidente da Província apesar das dificuldades inerentes ao começo dessas casas o estabelecimento de ensino vinha lutando e era de se esperar que iria melhorar sensivelmente.

         Para o presidente da província a primeira necessidade do CEAN era a falta de um edifício com as precisas condições para dormitório dos alunos, sala de estudos e refeição, assim como salas especiais para as diversas oficinas. A votação de uma quantia para a construção desse edifício seria um ato muito conveniente da parte da Assembleia Provincial, escreveu ainda o presidente da Província.

A renda do CEAN no ano de 1859, que foi o primeiro ano da instituição, subiu a 2:323$680 réis, sendo provável, segundo prognósticos dos presidente da província que se fosse em escala ascendente ate que pudesse fazer face as depesas, se houvesse um bom regime e severa economia.

         Naquele ano de 1860 alguns instrumentos musicais estavam estragados tendo o presidente da província mandado buscar outros em Pernambuco para os substituir, assim como algumas óperas de autores célebres. (RELATÓRIO..., 1860, p.9-10).

         Em 1861 contava o CEAN com 30 alunos, dos quais o presidente da província fez despedir 7 que ou tinham mau procedimento e pouco ou nenhum adiantamento, ou não se achavam tão desamparados que carecessem absolutamente da caridade pública.Foi ainda a necessidade de economizar os recursos financeiros da província que levou o presidente da província a tomar essa medida, segundo escreveu o mesmo em seu relatório.

         Dos 23 educandos matriculados, todos frequentavam as aulas de primeiras letras e a maior parte deles a de música, com algum adiantamento.

         A cadeira de geometria achava-se vaga desde 05/03/1859 e de acordo com o presidente da província não convinha por ora aumentar a despesa pública como provimento daquela cadeira e como paliativo quando os alunos estivessem em condições de aplicar-se a esse ramo de instrução poderiam os mesmos cursar a disciplina no Ateneu, sendo convenientemente vigiados durante o seu trajeto de um estabelecimento para outro. O mesmo se dizia o presidente da Província do ensino primário se fosse suprimida a respectiva cadeira.

         Das 9 oficinas criadas para o estabelecimento de ensino apenas 3 estavam providas em 1861, sendo elas as de alfaiataria e a de sapataria que eram ambas regidas por um dos alunos, já a de carpintaria estava paralisada desde 01/10/1861 por falta de um banco e ferramentas.

         Segundo o Presidente da Província: “a lentidão com que ali se trabalhava, os mesquinhos frutos até então obtidos, o atraso dos 3 discípulos que aplicavam-se ao oficio e a pouca atividade de seu mestre,me convenceram da vantagem de suprimir por ora uma despesa que não será suficientemente compensada,enquanto a província não puder pagar maior salário a um bom oficial,e fazer aquisição dos utensílios necessários para o serviço”. (RELATÓRIO..., 1861, p.13).

         Apesar das más condições de funcionamento do estabelecimento de ensino nas oficinas de sapataria foram manufaturados 580 obras em 1860,e na de alfaiataria 792.Os educandos da oficina de sapataria mostravam assim seu adiantamento em relação aos da de alfaiataria, tendo esta 4 alunos com bom aproveitamento.Outros alunos pouco ou nenhum aproveitamento vinham tendo.

         A receita do estabelecimento de ensino daquele ano de 1860 foi de 11:350$029 para uma despesa de  8:739$199, resultando em saldo de 1:590$083.Havia ainda a importância de 1:590$080 proveniente da confecção das peças do fardamento da companhia de policia, manufaturados pelos alunos do CEAN e que  não foram computados nas receitas por não ter sido entregue a respectiva quantia pela Tesouraria Provincial. (RELATÓRIO..., 1861, p.13).

         Para o Presidente da Provincia, por esses resultados bem se poderiam inferir quais seriam as vantagens de tão importante estabelecimento, se ele estivesse convenientemente estruturado,visto que numa província onde as artes mecânicas ainda se achavam no mais deplorável atraso,muito se aproveitariam as obras públicas e particulares com a existência de oficinas regulares, que além de darem emprego e instrução a muitos operários, forneceriam seus produtos mediante um lucro razoável, poupando o incomodo e demora que se tinha de sofrer na aquisição de objetos que forçosamente se mandavam vir de outras províncias, para onde eram remetidas grandes quantias de recursos financeiros com aquisição desses objetos podendo assim tais recursos permanecer na província potiguar.

Infelizmente o Colégio de Educandos Artífices de Natal não foi inaugurado sob os melhores auspícios.

         O pouco escrúpulo com que se vinham admitindo os alunos de certa idade e alguns de má índole, que mais ou menos pervertiam os espíritos com depravação eram, segundo o Presidente da Província, os exemplos que mais dificultavam a prosperidade do CEAN.

         O edifício terreno que fora escolhido para a fundação do Colégio, apesar de ser um dos mais vastos de Natal, não tinha ao menos as necessárias acomodações para as oficinas.Era baixo, pouco ventilado reunia ainda outras condições desfavoráveis para seu funcionamento.A sala mais espaçosa que servia de dormitório tinha apenas 40 palmos de frente e 27 de fundo.A enfermaria funcionava num pequeno quarto escuro e contiguo à oficina de sapataria.Ali foram tratados 12 alunos doentes no ano de 1860.

         A fisionomia da maior parte dos alunos revelava sofrimentos físicos e parecia justificar o juízo do médico acerca da insalubridade do edifício.

         Para amenizar o Presidente da Província ordenou que se fizessem exercícios físicos moderados nos domingos e dias santos, e que durante qualquer enfermidade os alunos  fossem tratados no hospital de caridade que tinha melhore condições para esse fim.

         De acordo com o Presidente da Província na impossibilidade de se construir por ora um edifício apropriado ou de se obter qualquer outro melhor pra alugar ele já teria mandado fazer os consertos indispensáveis na casa que servia de sede para o CEAN, se não estivesse embaraçado o estado das finanças da Provincia. Entretanto, o proprietário do imóvel reclamava o cumprimento da condução do contrato que obrigava ao governo provincial a realizar tais consertos.

         Diante da necessidade de dar bom alojamento aos alunos o Presidente da Provincia considerava as outras obras no estabelecimento secundárias e dela mais ou menos dependente.

Para permanecer tão benéfica instituição o Presidente da Provincia solicitava a Assembleia Provincial para alterar o seu regulamento. A redução de pessoal incumbido da administração do Colégio, redistribuindo convenientemente o serviço dos respectivos empregados, o aumento razoável dos salários para os professores, enquanto estes não pudessem ser substituídos por alunos das oficinas suficientemente adiantados, algumas disposições regulamentares relativas aos alunos que em certa idade deveriam deixar o Colégio ficando todavia sujeitos a diversas obrigações para compensarem a província das despesas que com eles foram feitas, além de outros, eram os pontos principais sobre o que deveria versar a reforma do regulamento do CEAN. (RELATÓRIO..., 1861, p.13).

       No dia 02/12/1861, data que marcava o aniversário do Imperador Dom Pedro II, houve as 17h00 um cortejo em homenagem  ao augusto monarca.A tropa da guarda nacional aquartelada sob o comando do capitão Manoel Ferreira Nobre Junior e a banda de música do Colégio de Educandos Artifices, formou uma guarda de honra que foi postada em frente ao palácio do governo fazendo ali as continências militares. ( O DOIS DE DEZEMBRO, 03/01/1861, p.3).

         Já em 1862 escreveu o Presidente da Província a respeito do CEAN: “a instituição de um asilo, onde fossem recebidos e educados até um certo número de meninos desvalidos, concebida e realizada por um dos meus honrados antecessores, foi sem contestação um grande melhoramento, de que ele quis dotar a província ; outras os tem iguais que hão dado ótimos frutos.Mas devo dizer,que sendo a instituição por sua natureza de caridade, foi o colégio de educando artífices montado como industrial e lucrativo, admitindo-se por alunos moços feitos e afeitos a vícios, com o fim de aproveitar de seus trabalhos em lucro do estabelecimento;erro que trouxe o descrédito do colégio, que veio a tornar-se um foco de imoralidade antes, do que uma casa de educação”.

         E foi assim que o Presidente da Província encontrou o CEAN naquele ano de 1862 sem prestar-se aos desígnios de seu fundador, e exigindo diariamente uma despesa forçada, a que estava o tesouro provincial impossibilitado de fazer, razão pela qual resolveu ele dissolver o CEAN provisoriamente até que a Assembleia Provincial deliberasse a respeito.

         Entretanto, o  Presidente da Província entendia que o CEAN não deveria ser extinto, mas que continuasse como estava até que as finanças da província comportassem a sua reorganização e tivesse condições de o sustentar. (RELATÓRIO..., 1862, p.25).

         Porém, o CEAN foi extinto definitivamente e sua breve existência atesta que houve ainda no período imperial a iniciativa da Provincia do Rio Grande do Norte em estabelecer um Colégio cuja  finalidade era a educação profissional.

         Tudo indica que a extinção do CEAN ocorreu naquele mesmo ano de 1862, pois os relatórios subsequentes não o citam mais.

           Não encontramos imagens do casarão pertencente a José Quintiliano da Silva, o qual abrigou o CEAN, assim como sua localização na Capital potiguar.

            As imagens a baixo são da Escola de Artifices Aprendizes de Alagoas, atual IFAL, em 1910, elas demonstram como deveriam ter sido as aulas ministradas no CEAN, guardadas as devidas proporções e os tempos históricos que separam ambas instituições, foram postas aqui meramente para ilustrar o texto a cima.








Referências

Relatório que à Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte apresentou no dia 14 de fevereiro de 1859, por ocasião de sua instalação o Exm. Sr.Presidente da Província Dr.  Antonio M. N. Gonçalves. Maranhão: Tipografia comercial de Antonio Pereira Ramos de Almeida, 1859.

Relatório com que o Exm. Sr. Dr. José de Oliveira Junqueira abriu a sessão da Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte em fevereiro de 1860. Pernambuco: Tipografia de M. F de Faria, 1860.

Relatório que o Exm. Sr. Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior presidente da Provincia do Rio Grande do Norte apresentou à respectiva Assembleia Legislativa Provincial na sessão ordinária de 1861. Ouro Preto: Tipografia Provincial, 1861.

Relatório apresentado à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte na sessão ordinária de 1862 pelo presidente da província o comendador Pedro Leão Veloso. Maceió: Tipografia do Diário do Comércio, 1862.



[1] As fontes consultadas indicam o referido estabelecimento sem mencionar o nome Natal que é um acréscimo nosso para indicar o local onde estava instalado o citado Colégio.

sábado, 2 de abril de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE 5) AS OBRAS PARALISADAS


Quando em 1954 dom Eugênio Sales foi nomeado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Natal, de novo surgiu a ideia de retomar a construção da nova catedral de Natal.

         De acordo com o jornal A Ordem, estando o projeto da catedral neogótica antiquado foi encomendado um novo projeto em estilo neorromânico ao arquiteto Calixto de Jesus, autor do projeto da Basilica Nacional de Aparecida-SP.

         Em 07/02/1956 foi dado inicio a construção pelas partes de trás, que correspondia a Cúria Metropolitana, e posteriormente várias dependências do Movimento apostólico e social da Arquidiocese (Movimento de Natal).

Corria o ano de 1964 e as obras estavam paralisadas e muitas pessoas pediam explicações sobre o andamento das obras.Desde 1962 a construção da nova catedral estava sob a direção do Pe. Eymar Monteiro.

Em sua prestação de contas sobre o andamento das obras de construção da nova catedral, o Pe. Eymar Monteiro expôs no jornal A Ordem que antes dele assumir a direção das obras as mesmas já estavam paralisadas e haviam dividas para pagar a companhia responsável pela construção que de inicio tão bem organizada funcionou satisfatoriamente estava praticamente extinta, contando-se somente com poucas contribuições de algumas pessoas que continuaram com suas arrecadações ou mensalidades ainda estavam ajudando para a realização da obra.

O Pe. Eymar Monteiro fez o balanço das principais dividas, sendo as de maior urgência as que deveriam ser pagas fosse como fosse e as outras que pertenciam as obras em geral passariam para a responsabilidade da Arquidiocese, como Institutos, indenizações, luz, água,etc.

De acordo com o referido padre,ele havia encontrado uma despesa de  Cr$ 14.000,00 com empregados que embora sem trabalhar não poderiam ser dispensados e aos poucos foram eles passando para o Serviço de Assistência Rural-SAR, tendo sido esta a primeira economia feita para solucionar as despesas existentes.

A arrecadação mensal era diminuta e uma vez parados os trabalhos arrefeceu a campanha que visivelmente estava reduzida a zero.

No tocante a construção da catedral propriamente dita, o Pe. Eymar Monteiro explicitou que da nave central nada havia sido construído e somente alguns arcos e alguns alicerces que ainda estavam naquele estado de construção.

Ao passo que as partes da adjacências como a Cúria Metropolitana, salões, sacristia, etc., estavam em bom andamento, tendo sido empregados todo o capital até então arrecadado.

De acordo com o Pe. Eymar Monteiro deveria se dá prioridade para a contribuição dos fieis para a Emissora de Rádio da Arquidiocese (Rádio Rural de Natal) e para o jornal A Ordem, pois estes dois meios de comunicação poderiam atingir um maior numero de católicos ao passo que a nova catedral beneficiaria a um numero restrito de fiéis, principalmente os que moravam no subúrbio da Capital talvez nem chegassem a ela visitar.

A construção da nova catedral era importante,mas como naquele momento não se poderia construí-la era necessário que se fizesse outra coisa que poderiam  substituir muito bem sua presença, e esta substituição estavam na Rádio e no Jornal da Arquidiocese.

O Pe. Eymar Monteiro sinalizava ainda que já andava em curso a modificação do projeto neorromânico ao afirmar que: “além disso comecei a planejar uma catedral mais simples.Uma espécie do que se faz hoje para as grandes indústrias (Guararapes) ou para os estádios de esportes (Palácio dos Esportes, Ginásio Silvio Pedrosa, etc).Uma coisa mais simples e mais ampla que custasse menos e  que fosse de encontro ao progresso do tempo.Levaria muito tempo [menos] para construir e sairia muito mais barato”. A ideia, segundo o mesmo sacerdote ainda não havia “pegado” apesar de ter uma centenas de simpatizantes, contudo a corrente dos conservadores, dos tradicionalistas achavam imprudente um projeto nas linhas modernas para a nova catedral de Nossa Senhora da Apresentação.

Este era o estado das coisas em relação a construção da nova catedral de Natal passados 10 anos do inicio da construção do projeto neorromânico.

      Haviam poucas contribuições e de longe chegavam alguns donativos, através de um programa de rádio que se mantinha na Emissora de Educação de Natal ainda se fazia a campanha para a construção da nova catedral e prosseguimento das obras com a ajuda dos fiéis.

    Com o dinheiro arrecadado até então o Pe.Eymar Monteiro pode construir mais dependências da cátedra que custaram Cr$ 2.000.000,00.Estes salões foram entregues a Cooperativa da Arquidiocese e ao Secretariado Nacional para o Nordeste da CNBB, e ambos estavam prestando um bom serviço, tendo sido gasto quantia de Cr$ 900.000,00 para a construção do Secretariado da CNBB.

         A prestação de contas da sua gestão a frente das obras de construção danova catedral de Natal apresentada pelo Pe. Eymar Monteiro no jornal A Ordem constava do seguinte:

Discriminção

Valor em Cr$

Auxilio diversos recebidos

877.080,00

Arrecadação de ouvintes

645.980,00

Contribuição de zeladoras

103.000,00

Outras donativos

350.000,00

Total

1.976.060,00

Despesas

 

Pagamento de dívidas atrasadas

707.000,00

Construção

1.384.000,00

Total

2.093.000,00

Fonte: A ORDEM, 13/01/1964, p.6.

     Havia, portanto, um déficit de Cr$ 116.940,00 que foi coberto com os auxílios a construção da Igreja do Pe. João Maria do Alto Juruá, no bairro de Petrópolis (atual igreja de Nossa Senhora de Lourdes). (A ORDEM, 13/01/1964, p.4-6).

E assim, naquele ano de 1964 e nos posteriores o prédio da nova catedral em construção estava com suas obras paradas, onde o mato daninho crescia no interior dos muros que cercava a obra.

        A baixo imagens que mostram aspectos das obras da nov catedral de Natal paralisadas ao longo do tempo.

 


Fonte: O Poti, 1973, p. 11 e Jaeci E. Galvão/SEMURB, 2006, respectivamente.



Foto: Diário de Natal, 1973, p. 1 e 5, respectivamente.


Foto: O Poti, 26/09/1971, p.1.

Foto: Diário de Natal, 06/09/1971,p.3


Foto: Diário de Natal, 27/08/1971, p.1



A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE 4) A CATEDRAL NEORROMÂNICA

 

       Com a nomeação para Administrador Apostólico da Arquidiocese de Natal de Dom Eugênio Sales em 1954 a ideia da construção de uma Nova Catedral voltou a ser discutida, dessa vez com um novo projeto a fim de atender as circunstâncias da época no tocante ao custo da construção[1].

       O novo projeto apresentado substituiu a arquitetura gótica pela neorromana, com capacidade para acomodar até 6.000 pessoas.

         Esse projeto para a nova catedral de Natal coube ao arquiteto Calixto de Jesus Neto, o mesmo que havia projetado a Basílica de Aparecida, assim, foi abandonado o estilo gótico do primeiro projeto e em seu lugar surgiu um novo em estilo neorromano.

         Em 18/09/1955 o arquiteto autor do projeto da Nova Catedral esteve em Natal para apresentar numa conferência os detalhes do projeto e justificando as modificações introduzidas na planta original.

Projeto de Calixto de Jesus Neto para a nova catedral de Natal em 1955.

O projeto de Calixto de Jesus Neto

         De acordo com o projeto do arquiteto Calixto de Jesus Neto, a catedral seria construída em forma de cruz e ornamentada com duas torres, porta principal, batistério, altares laterais, altar-mor no centro da nave com visão de qualquer ângulo, coro, sacristia, capela do Santíssimo Sacramento.A igreja teria capacidade para 2.000 pessoas sentadas e 4 mil em pé.

Suas proporções seriam de 80m de comprimento por 72m de largura. Na frente seria feito um jardim para ornamentar o espaço externo da catedral.Foi incluso ainda no projeto a construção do palácio arquiepiscopal anexo ao corpo da catedral.


Fonte: O Poti, 1955, p. 8 e Diário de Natal, 1973, respectivamente.

        Como visto pela planta do projeto a catedral em estilo neorromano seria majestosa do ponto de vista estético e monumental arquitetonicamente.


O inicio das obras

         As obras desse projeto se iniciaram na comemoração do cinquentenário de morte do Pe. João Maria em 16/10/1955 com a benção da pedra fundamental, nos dias seguintes o material foi encostado na praça Pio X para dar início às obras de fato.

Neste evento dom Eugênio Sales fez uma alocução aos presentes em que dentre outras coisas destacou que aquela data não poderia ser melhor para reiniciar o sonho começado pelo padre João Maria  de dotar Natal de uma catedral.Ali, na praça, local escolhido pelo padre João Maria, se daria a concretização desse sonho, segundo afirmou dom Eugênio Sales (O POTI, 1955, p.4).

Ainda segundo ele:

Aguardamos ansiosos a entrega por parte da prefeitura, da praça que é nossa, da Arquidiocese. Este terreno nos pertence, nele sonhou o padre João Maria a ereção de sua Igreja Nova, nele será erguida o grande monumento de nossa fé. Uma catedral é a profissão religiosa de um povo, de uma cidade. Uma catedral, igreja mãe da Arquidiocese, é o testemunho aos pósteros do amor a Deus e a fidelidade a Igreja em uma região e por parte de gerações (O POTI, 1955, p.4).

Iniciavam-se assim as campanhas para a construção da Nova Catedral da parte Dom Eugenio Sales. Nas campanhas estampadas nos jornais de Natal se lia “Nenhum católico pode ficar indiferente a campanha pró-construção da nova catedral de Natal. A grandiosidade da obra requer a colaboração de todos” (O POTI, 1955, p.4).

Inicialmente foram construídas a sacristia, o arquivo da cúria, as salas de expediente, a biblioteca e capela particular do Arcebispo, igualmente foram levantados os alicerces e subiram as paredes, faltando o revestimento e o piso.

Em 1956 alguns metros de alicerce já haviam sido concluídos. A prefeitura de Goianinha foi a primeira prefeitura do estado a conceder auxilio para a construção da Nova Catedral de Natal, em projeto aprovado pela câmara municipal a prefeitura destinaria a quantia de 5 mil cruzeiros anualmente até a conclusão da obra (O POTI, 1956, p. 8).

         Outras campanhas foram sendo feitas em prol da construção da Nova Catedral.






























Projeto de Calixto de Jesus Neto para a nova catedral de Natal em 1955.
Imagens elaboradas por Jônatas Rodrigues a pedido do autor do blog, 2018.



[1] Dom Eugênio de Araújo Sales foi  o 1º Bispo Auxiliar de Natal nomeado em  01/06/1954 e em 1962 foi designado administrador apostólico da Arquidiocese de Natal, função que exerceu até 1965. Em 1964 foi nomeado administrador apostólico da Arquidiocese de São Salvador da Bahia.