K-Ximbinho


      Sebastião de Barros mais conhecido como K-Ximbinho   foi arranjador, clarinetista, compositor, maestro e saxofonista. Nasceu no dia 20/01/1917  em Taipu-RN e lá começou a tocar clarineta.Ainda criança decidiu ser musico, e não só músico, mas sim um bom músico. A família não conseguiu demovê-lo dessa ideia ainda criança.Foi coroinha da igreja matriz de Taipu, no órgão que havia na igreja aproveitava o tempo para tocar o instrumento quando não estava fazendo as funções que o cargo exigia, ou seja, ajudar o padre na missa.
       Seu pai Pedro Francisco de Barros se opunha a vocação musical do filho, queria que o menino o ajudasse no armazém que possuía em Taipu como de fato o fez, K-ximbinho ajudou o pai nos afazeres do armazém comercial, como todo pai de sua época, ele queria para o filho uma profissão mais honrada e de prestigio social que não a musica. Os integrantes da banda de musica da cidade iam ao armazém do pai de K-ximbinho para tocar e beber, o pai naturalmente achava que aquela era uma profissão de boêmios e não queria isso para o seu filho. Seu pai desejava que ele fosse fazer medicina em Natal.
      Entre 8 e 9 anos compôs seu primeiro choro. Já tinha alguma noção de música, pois ficava do lado de fora da sede da banda de música da cidade olhando como os alunos faziam para aprender as notas musicais.



K-Ximbinho
      Certo dia preferiu jogar bola na rua ao invés de ir ajudar o seu pai no armazém, o pai foi buscá-lo com raiva e o tirou do jogo puxando-o pela orelha até chegar em casa onde o trancou no quarto.E foi no quarto sob o castigo, triste e choroso, compôs seu primeiro choro, surrão, clara alusão ao que acabara de fazer em sua traquinagem pueril.A musica foi composta na sua pequena flauta de bambu.Se o pai era contrário a vocação musical do filho, a mãe ao contrario o apoiava, e era nela que K-Ximbinho encontrava abrigo para prosseguir firme em seus propósitos de seguir a carreira musical.


K-Ximbinho se apresentando em boite no Rio de Janeiro, década de 1950.
      Atingindo a juventude chegou a pertencer a banda da cidade de Taipu, mais ele queria alçar voo maiores. Quando se mudou para Natal ingressou na banda de musica do grupo de escoteiros do Alecrim. Atingindo a idade adulta decidiu alistar-se no exercito justamente para poder estudar musica, pois ele achava que as bandas militares eram as melhores escolas de musicas da época. Foi no exercito que ganhou o apelido de K-ximbinho, como de praxe no exército, todos ganhavam apelido. A alcunha lhe caiu bem por que se assemelhava com um saxofonista que fora integrante da banda do exercito e que quase não tirava o instrumento da boca.Adotou o apelido porem alterando a grafia usando as letras K e X.Também tocou saxofone e requinto.


A carreira
      Em 1938 passou a integrar a Orquestra Tabajara de Severino Araújo, e quatro anos mais tarde radicou-se no Rio de Janeiro, desligando-se da orquestra.Tocou em outras orquestras na década de 1940, e foi também músico de estúdio, acompanhando cantores.
      Cansado da rigidez que havia no serviço militar, em 1942 aceitou o convite do pistonista Porfirio Costa e partiu com este para o Rio de Janeiro onde veio a integrar a banda Fon Fon uma das mais famosas da época.Permaneceu na orquestra de Fon fon por 3 anos.Foi então que em 1945 ingressa na orquestra  do maestro Severino Araujo, onde passou a tocar sax alto e não clarinete, mas preferiu dedicar-se ao clarinete quando conheceu Zé Bodega que considerava uma dos melhores no sax.
             Por volta de 1946 voltou a ingressar na Tabajara, que foi a primeira a gravar uma composição de sua autoria, o clássico choro "Sonoroso".
      No Rio de Janeiro teve contato com o jazz, mas, não se deixou influenciar por esse ritmo. Acreditava ele que o choro era o equivalente brasileiro do jazz americano.O chora permitia ao artista improvisar, criar e dava maior liberdade de execução ao musico.dizia ele que o choro não deveria perder seu espírito, a sua estrutura, fosse de duas ou três partes.



capa de um disco de K-ximbinho

            Depois de estudar teoria musical com o maestro Koellreuter e tocar em boates, fez uma turnê pela Europa, na década de 50.De volta ao Brasil, trabalhou como arranjador na Odeon e na TV Globo. Outras de suas composições também se tornaram clássicos do choro, como "Eu Quero É Sossego", "Saudades de um Clarinete" e "Gilka".
           Diversas bandas apresentavam musicas de K-Ximbinho em apresentações na Radio Nacional, como a orquestra do maestro Chiquinho, que realizava seus concertos as quartas-feiras das 12h05min as 12h30min na Radio Nacional. No programa do dia 31/12/52 ele executou com sua orquestra o choro  ‘sempre’ de K-Ximbinho [A NOITE, 30/12/52, p.10].  Em  09/07/1954 k-ximbinho participou de uma homenagem ao pianista Jacques Klein, a Jam Session foi realizada  na boite Beguin. [A NOITE, 07/07/54, p.12]. 
          Em 13/06/1955 esteve se apresentando na boite Rose Garden, no bairro do Leme no Rio. Nesse mesmo ano deixou a continental para assinar contrato com a Odeon, grava os sucesso ‘mulambo’ e ‘ a chuva caiu’ e ficou em segundo lugar no premio do melhores da música popular brasileira daquele ano, e perdeu para o maestro Severino Araújo da orquestra Tabajara que ficou em primeiro lugar. A eleição foi feita por 33 críticos e pessoas da imprensa de RJ e SP. Em 04/08/1955 se apresentou na boite Sacha’s onde esteve soprando seu sax. [A NOITE, 05/08/1955, p.21]. Em 13/06 /1955 se apresentou no Jam session na boite rose Garden Club no Leme
      Já em 1956 foi contratado pela gravadora Odeon que com sua experiência de clarinetista, compositor e arranjador entraria em contato com o publico daquela gravadora, lança o LP ritmo e melodia. Ainda nesse ano K-Ximbinho esteve presente no II grande concerto  brasileiro de  jazz no Golden Room do Copacabana Palace. Na ocasião ele acompanhou com seu conjunto a cantora Julie Joie que interpretou a canção ‘tenderly’.
           
K-Ximbinho


         Nas  criticas que recebeu Paulo Medeiros escreveu  que K-ximbinho juntamente com seu conjunto gravaram pela Odeon o samba ‘molambo’ de Jaime Florence e Augusto Mesquita, devido sua constante gravações, o jornalista despejou em sua coluna que a música estava ameaçada em  torna-se um chateação igual aos Pobres de Paris [ULTIMA HORA, 24/06/1956, p.2]  a critica só não foi completa por que o referido jornalista resolveu elogiar a outra face do LP com as musicas ‘arrasta sandália’ de Osvaldo Vaques e Aurélio Gomes como sendo uma boa pedida para quem gostava de instrumental.
          Em 1959 já na Polidor apresentou se novo LP ‘K-Ximbinho e seus plaboys’. Em 1978 ganhou o primeiro lugar no festival de choros realizado pela TV Bandeirantes o qual surpreendeu a muitos que ainda não o conheciam. Acompanhado do grupo Rio Antigo executou a musica ‘manda brasa’.Em 1979 K-Ximbinho se apresentou no planetário da Gávea, junto com o conjunto nó em pingo d’água.Em 1981 foi lançado um disco póstumo de K-ximbinho com o titulo K-ximbinho, saudades de clarinete. 

 A Família
            K-ximbinho casou aos dezoitos anos com Maria Stella com quem viveu até o fim de sua vida. Teve sete filhos, 6 meninas e 1 menino.Nenhum dos 7 filhos herdou a vocação musical do pai.Deu a todos liberdade de escolha e nunca os pressionou a seguir na vida musical.
       Segundo escreveu Gilka em seu diário, uma de suas filhas, K-ximbinho era um “homem de pouco sorriso, muito caráter, grande personalidade, rico de confiança nos seus próprios atos” [JORNAL DO BRASIL, 14/09/1981 p. 6]. Ele não gostava de tocar em casa na frente da mulher e dos filhos segundo sua filha Gilka. De suas composições, ‘ternura’ era a preferida de sua esposa, além disso compôs e ‘Gilka’ para sua filha e ‘Deninho Chegou’ para  o neto.

O fim
        K-Ximbinho sofria de reumatismo crônico, a isso se seguiu a descoberta de problemas renais que foram descobertos depois de exames realizados para se fazer uma cirurgia de catarata. A morte o alcançou  34 dias depois de sofrer um derrame no dia 24/05/1980
           
Sempre se aperfeiçoando
            Nunca parou de estudar música e disso tinha orgulho. Em sua formação musical fez cursos com Joachim Koellreuttter e já no fim da vida fazia um curso por correspondência na Berkeley School  nos EUA.
 Em seu processo criativo nunca utilizava diretamente o instrumento, ia primeiro para a pauta para depois usar o instrumento musical. Às vezes utilizava-se do piano para experimentar harmonias.
         Ele acreditava que uma orquestra era um lugar em que havia espaço para todos brilharem, era um conjunto, uma equipe, não precisava que ninguém desse seu ‘show’ particular. Era esta convicção que tinha desde quando começou a ser arranjador. Quando fazia arranjos musicais não puxava a sardinha pro seu lado dedicando as melhores partes da musica para o clarinete, instrumento que mais gostava e da qual era exímio tocador.Ele dava grande importância a liberdade criativa dos músicos que tocava junto com ele.
           Além da orquestra Tabajara, tocou na orquestra de Napoleão Tavares e em outras do Rio, São Paulo e Brasil a fora.Ao viajar por conta própria à Itália apresentava-se gratuitamente onde houvesse um grupo de música. Foi ‘autoconvidado’ da orquestra do cassino de Monte Carlo. Os passageiros do navio em que viajou de volta ao Brasil se encantaram com sua musica tendo sido uma grande atração a bordo do navio. K-Ximbinho teve uma intensa atividade na música, tocava em bailes e boites, gravando discos, participando de programas de rádio e televisão.

Característica típica de K-Ximbinho
    Ele tocava com uma expressão peculiar, com os olhos apertados num sorriso, demonstravam a expressão de felicidade que K-ximbinho sentia quando estava tocando. Essa atitude revelava o jeito esperto de quem sabia de tudo.Calado, taciturno, sorria apenas quando tocava.


Homenagens
        Vários artistas e grupos musicais homenagearam o músico taipuense K-Ximbinho. Em 1977 o quinteto Villa Lobos que havia aderido ao choro com bom gosto e competência  colocou K-Ximbinho num disco lançado naquele ano com a música ‘sempre’, esta seria interpretada em diversos shows do grupo.Airton Barbosa o líder do grupo o tinha como referencial musical além de outros .Em 1978 Sergio Assad fez um recital no cineclube Paulo Pontes do Campo Grande onde tocou de Bach a K-ximbinho.
         Em 1983 foi homenageado pelo conjunto Nó em pingo d’água nos saraus da Cidade Nova, no Rio de Janeiro. Em 1984 o conjunto Chorus também o homenageia tocando no planetário da cidade do Rio na Gávea, o choro sonoroso, um dos mais famosos de K-Ximbinho, se não o mais. No mesmo ano o grupo Água Doce colocou no repertório do seu disco a música perplexo de K-Ximbinho. Em 1988 Rafael Rabelo e Paulo Moura tocaram em um shows em Ipanema  canções de K-Ximbinho.
         Em 2000  grupo choro combinado em sua apresentação no teatro municipal de Niterói tocou a musica sonoroso de K-Ximbinho dentre as que estavam no repertorio da apresentação. Sonoroso foi o titulo de estreia desse grupo.Em 2001 o grupo Cinco em ponto, apresentou-se no Terraço Acústico tocando também canções de K-ximbinho. Também em 2001 a Orquestra Petrobras Pró-música interpretou canções de K-Ximbinho no teatro municipal de Niterói no projeto prata da casa.
        Em 2009, foi homenageado pelo grupo Flautistas da Pro Arte com o espetáculo "K-Ximbinho - Um mestre do sopro" em espetáculos apresentados no Teatro Municipal do Jockey, na Sala Baden Powel e no Jardim Botânico, todos no Rio de Janeiro. Na ocasião foram apresentadas suas obras "Sonoroso", "Mais uma vez" e "Sonhando", todas com Del Loro; "Tô sempre aí"; "Ternura"; "Simoninha na Barra"; "Tudo passa"; "Sempre"; "Velhos companheiros"; "Auto-plágio"; "Eu quero é sossego", com Hianto de Almeida; "Teleguiado" e "Catita". 
         Em 2010, as gravações dos choros "Sonoroso", "Meiguice" e "Mais uma vez", com Del Loro, na interpretação da Orquestra Tabajara, foram incluídas no CD 4 da coletânea "Chorinho do Brasil - Vol. 2" da Warner Music.
       O grupo choro na praça interpretou musicas de K-Ximbinho durante apresentação na Praça Arariboia em Niterói em 2004. O grupo se apresentou em outras áreas da cidade de Niterói levando o choro a praça e nele tocando K-ximbinho entre outros compositores. Cultuado, admirado e respeitado por músicos como Paulo Moura, Severino Araujo, Abel Ferreira entre outros, K-ximbinho é de certo ponto menos conhecido do que mercê ser. As gravadoras deixaram de gravar suas canções, andou esquecido do publico.
       K-ximbinho considerava que as músicas eletrônicas eram uma vitória da máquina sobre o instrumentista, no entanto tinha uma visão sábia e atitudes compreensivas sobre a modernidade no que tange a musica. Nunca foi obcecado pelo sucesso embora tocar fosse a razão de existir de sua vida. Gostava de tocar, embora no fim da vida tivesse deixado de fazê-lo.
     Segundo o maestro Paulo Moura, K-Ximbinho foi "o mais original dentre os instrumentistas que se dedicaram à orquestra popular urbana". Dedicou-se ao "jazz", ao choro e ao conjunto regional. "Sua atuação no "jazz" do Brasil é marcada pela criação de formações camerísticas, orquestrando para instrumentos até então pouco utilizados (...)
         

Frases de K-Ximbinho

“O que eu gosto, mesmo é de tocar. É de saber que o que eu estou tocando agrada aos outros, emociona os outros” [JORNAL DO BRASIL, 14/09/1981 p. 6].

“Pode haver felicidade maior que a musica?”.

“Então eu quis sair disso procurando outro caminho, outra linha melódica... e achei”.


Acervo musical
            Ei algumas musicas que compõem o acervo musical de K-Ximbinho.

Auto plágio ∙ Choro.
Catita ∙ Choro.
Deninho chegou ∙ Choro.
Eu quero é sossego ∙ Choro.
Gilca ∙ Choro.
Bodega  ∙ Choro.
K-Ximbinho∙ Samba /Choro.
Mais uma vez ∙ Choro.
Manda brasa K-Ximbinho∙ Choro.
Meiguice ∙ Choro.
Penumbra ∙ Choro.
Perplexo ∙ Choro.
Quando te vejo ∙ Choro.
Sempre ∙ Choro.
Simoninha na Barra ∙ Choro Baião.
Sonhando ∙ Choro.
Sonoroso Choro.
Ternura ∙ Choro.
Tô sempre aí ∙ Choro.
Tudo passa ∙ Choro.
Velhos companheiros ∙ Samba Canção.
Viajando ∙ Choro.

Discografia
Perplexo/Tudo passa, 1953.
Começou o baile/Baião potiguar, 1954.
Um clarinete à jato/Fim de semana em Paquetá, 1954.
A fonte secou/Gilka, 1955.
Ama-me ou esquece-me/Murmurando, 1956.
Le rififi/Jura, 1956.
Molambo/Arrasta a sandália, 1956.
Suba espuma/Esperando você, 1956.
Em Ritmo de dança, 1958.
O Samba de Cartola, 1959.
K-Ximbinho e Seus Play Boys, 1961.
- Saudades de um clarinete, 1980.

 Álbum póstumo
            Álbum lançado em 1981 após sua morte esse foi o último disco de K-Ximbinho. O disco é composto pelas seguintes faixas:
Lado A - Eu quero é sossego, Sempre, Meiguice, Tô  sempre aí, Gilka, mais uma vez.
Lado B - Velhos companheiros, Penumbra, Simoninha na barra, Ternura, Autoplágio, Catita.

Fontes: Revista Noite ilustrada, Jornal do Brasil, A Noite.



Partituras


          A baixo duas partituras de músicas de K-Ximbinho.






4 comentários:

  1. Fontes? Bibliografias?

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    1. Se se desse ao trabalho de lero texto veria que estão citadas as fontes no mesmo.

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  2. É uma honra saber que o nosso município de Taipu, no Rio Grande do Norte, um artista de renome nacional na música (MPB), como é o nome de K-Ximbinho.

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    1. Surgiu levando a nossa identidade de taipuenses.

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