Em
08/01/1922 foi inaugurada a estação da então povoação de Gaspar Lopes,
posteriormente Epitácio Pessoa e atual cidade Pedro Avelino, portanto, há 100
anos. Eis a seguir a história dessa estação.
Em
1914 foi autorizada pelo Governo Federal a construção do ramal de Macau na
Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, cujo traçado partindo de Lajes
deveria atingir a cidade portuária de Macau.
Foi uma construção demorada e por diversas vezes paralisadas
por falta de recursos, até então que no inicio da década de 1920 a construção
tomou impulso por meio da determinação do então presidente da República, o
paraibano Epitácio Pessoa.
As obras de construção da estação de Gaspar Lopes ao que
tudo indica se iniciaram em 1921, pois de acordo com o relatório do ministério
da viação e obras públicas ela já é citada naquele ano. ”Foi feita a construção
de desvios e de um triângulo de reversão na estação Epitácio Pessoa”. (Relatório
do Ministério da Viação e Obras Públicas, 1921, p.258).
A inauguração
A inauguração dos primeiros
27 km dos mais de 80 km que deveria ter o referido ramal entre Lajes e Macau ocorreu em 08/01/1922.
Naquele dia foi inaugurada a estação da então povoação de
Gaspar Lopes, do município de Angicos, que em homenagem ao presidente da
República que possibilitou as obras de construção do trecho ferroviário até
aquela povoação teve seu nome alterado naquele mesmo ano para Epitácio Pessoa.
O Diário de
Pernambuco registrou a solenidade de inauguração da estação de Gaspar Lopes na
edição do dia 20/01/1922.
De
acordo com o citado jornal, as 08h00 do dia 08/01/1922 partiu de Natal o trem
especial, levando o governador do Estado, com suas casas civil e militar,
desembargadores do Superior Tribunal de Justiça, Henrique Castriciano, vice
governador; Teotônio Freire, juiz seccional; autoridades estaduais e federais,
representantes da imprensa, funcionários da EFCRGN, etc., viajando em carro
anexo a banda de música do Batalhão de Segurança.
Em Taipu, o trem especial ainda recebeu mais convidados. Chegados
a Baixa Verde, realizou-se um lauto almoço, servido por senhoras e senhoritas
daquela povoação.
Na
estação de Jardim subiram mais convidados no trem e chegando a vila de Lajes, a
estação já estava apinhada de cavalheiros. Houve ali uma pequena demora onde
novos convivas tomaram o trem e recomeçando a marcha.
As 15h50 o trem especial se aproximou da estação de Epitácio
Pessoa.
Uma girândola fendeu os ares e vivas foram erguidos dr. Ferreira Chaves, ao governador Antonio de Souza, ao presidente Epitácio Pessoa e ao engenheiro da EFCRGN João de Sá e Benevides.Ao descer do carro o governador enquanto a banda executava o hino do Estado, a multidão aclamava-o.
A
seguir dirirgiram-se todos a uma vasto salão da estação, vistosamente decorado,
destacando-se a bandeira nacional.Ali fora servido uma taça de champagne,
falando o engenheiro João Benevides, que disse do seu prazer por aquele fato,
exaltando as qualidades do presidente Epitácio Pessoa e do governado Antonio de
Souza, a quem brindou.
O governador agradeceu o brinde e lembrou o grande progresso
que realizava aquele ato, falando ainda sobre o nordeste, suas necessidades,
bem conhecidas pelo presidente da República, na qualidade de filho da zona
flagelada pelas secas.
O Sr. Luiz Fassino de Menezes fez então um discurso, em nome do povo do lugar, expressando a satisfação de todos pelo passo que se dava em Gaspar Lopes, doravante Epitácio Pessoa.Depois disto, o governador com sua comitiva, fez um passeio ao povoado que apresentava muitas possibilidades de progresso.
A comitiva pernoitou em Baixa Verde e no dia seguinte regressaram, "todos satisfeitos da viagem e
do acolhimento que tiveram em todo o seu percurso". (Diário de Pernambuco, 20/01/1922,
p.4).
Segundo o jornal O Paíz o diretor da EFCRGN,
engenheiro João Sá e Benevides, deu a festa de inauguração da estação de Gaspar
Lopes um caráter festivo muito atraente.(O Paíz,12/01/1922,p.2).
A
repercussão
Os jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro registraram a
inauguração da estação de Gaspar Lopes.
Segundo o Correio Paulistano: “NATAL, 9 (A)- Inaugurou-se
ontem o trecho da Estrada de Ferro Central [do Rio Grande do Norte] de Lajes a
Gaspar Lopes, com um percurso de 27 quilômetros. A Estação da povoação de
Gaspar Lopes recebeu o nome de estação Epitácio Pessoa”.(Correio Paulistano, 10/01/1922,
p.2.O grifo é nosso).
Ainda segundo o citado jornal o governador do Estado,
acompanhado de sua casa civil e militar e de outras autoridades e
representantes da imprensa, compareceram ao ato da inauguração, pronunciando um
discurso ao mesmo alusivo.Era o governador a época Antonio de Souza Melo.
Respondeu ao discurso diretor da EFCRGN, o engenheiro Sá e Benevides.
Já o jornal carioca O Paíz assim registrou acontecimento: “O
Sr. Ministro [da justiça] recebeu ontem do doutor Sá e Benevides, diretor da
Central do Rio Grande do Norte, um telegrama, comunicando haver concluído um
trecho de 27 quilômetros do ramal de Macau e ter inaugurado, como presença do
governador do Estado e pessoa gradas, a estação Epitácio Pessoa”. (O Paíz, 14/01/1922,
p.3.Grifo nosso).
O teor completo do telegrama recebido pelo ministro foi
publicado pelo O Jornal, segundo o qual: ”tenho a honra de comunicar a v.ex.
que depois de oito anos de paralisação da linha em Lajes, atendendo às justas
aspirações dos sertanejos, pude realizar economias na verba de custeio do
tráfego e assim concluir a construção de um trecho de 27 quilômetros do ramal
de Macau. Com a presença do governador do Estado, chefes das repartições e
avultado número de pessoas, acabo de inaugurar, com solenidade a estação de
‘Epitácio Pessoa’, tributo de respeito e gratidão dos habitantes de uma
florescente vila sertaneja e de reconhecimento da política que v. ex
patrioticamente dirige ao benemérito padroeiro dos filhos do nordeste. Queira
v. ex. aceitar minhas cordiais congratulações”. (O Jornal, 14/01/1922, p.3).
Naquele
mesmo ano de 1922 a construção prosseguiu até
o povoado de Carapebas, atual cidade de Afonso Bezerra, tendo sido feito
os estudos de uma variante de 4 km, no sentido de aproximar a linha daquele
povoado, e sendo aproveitado o trecho, já quaser concluído, na extensão de
10,260 km além da estação de Epitácio Pessoa.
A
importância da estação para o crescimento de Epitácio Pessoa
A povoação de Epitácio
Pessoa prosperou graças ao cultivo do algodão em seu território, sobretudo pela
firma João Câmara & Irmãos, que mantinha ali uma filial daquela grande
empresa sediada em Baixa Verde, atual João Câmara.
A estação ferroviária em muito contribuiu para o crescimento e desenvolvimento da povoação por que por meio dela eram exportados os produtos da cotonicultura e demais produtos agrícolas que ali se cultivavam.Além disso, o transporte de passageiros contribuiu para alargar os horizontes da população da florescente povoação de Epitácio Pessoa.
Outra finalidade social desenvolvida pela estação
ferroviária de Epitácio Pessoa foi assistência aos flagelados da seca do ano de
1937.
Naquele ano o governador Rafael Fernandes recebeu telegrama
enviado da povoação de Epitácio Pessoa, informando que em consequência da seca
ali reinante, já se verificavam mortes por fome.
O povo faminto, havia atacado vários casas comerciais, a fim
de obter viveres.A ordem foi restabelecida a grande custo pelas autoridades.A
população de Epitácio Pessoa sofria também os horrores da sede, faltando água
numa vasta extensão dos arredores.A pequena quantidade de água que ali chegava
era levada pelo trem da EFCRGN, a uma distância de 150 km, ainda assim uma lata
d’água de 5 litros era vendida a 2$000.(Correio de S. Paulo, 29/03/1937, p.1).
A água era levada pelos trens que eram abastecidos com água
da lagoa de Estremoz e distribuída para a população.
O
municipio
De acordo com o jornal A Ordem em 29/10/1937 o governador do Estado assinou o decreto elevando a categoria de vila a povoação de Epitácio Pessoa. (A Ordem, 29/10/1937, p.2).Segundo um artigo publicado no jornal Diário de Noticias em 12/06/1937 a povoação de Epitácio Pessoa, no municipio de Angicos, servida pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, se desenvolvia animadoramente em qualquer aspecto em que se procurava encará-la.
Dispunha de magníficas possibilidades agrícolas, já pelo
espírito progressista de seu povo, já pela fertilidade de seu solo, o antigo
povoado de Gaspar Lopes se desenhava aos olhos de quem o visitava como um
recanto de prosperidade e de grandeza.
A povoação de Epitácio Pessoa distava de Angicos, a sede
municipal, 38 km e possuía vários prédios importantes, dentre os quais
destacava-se as Escolas Reunidas, as Usinas de Algodão pertencentes a Sinbra e
a firma João Câmara & Irmãos e o mercado público, que acabava de passar por
uma reforma graças a visão administrativa do prefeito de Angicos, Baltazar
Pereira.
Entretanto,como acontecia relaitivamente a outros povoados de Angicos, o de Epitácio Pessoa tinha seu valor na agricultura, sendo sem contestação, a mais agrícola de todas as povoações do municipio.Ali plantava-se com muito êxito o algodão mocó e o verdão, e especialmente na chapada da Serra Verde, que ficava ao lado da povoação.
Um problema, porém, estava a exigir a atenção do governo,
para que melhores possibilidades pudesse atingir Epitácio Pessoa o grau de
desenvolvimento que lhe estava reservado, que era a falta d’água.
Conforme vinha sendo demonstrado, o único remédio para sanar esse mal, que aquele ano de 1937 atingira proporções assustadoras, era a construção do açude a 2 km da povoação, cujo projeto se encontrava nas mãos do ministro da viação para os devidos fins.Satisfeita essa aspiração, não se tinha dúvida que Epitácio Pessoa continuaria a progredir sucessivamente, para maior grandeza do municipio de Angicos e do Rio Grande do Norte, dizia o referido artigo. (Diário de Noticias, 12/06/1937, p.37).
O distrito foi criado com a
denominação de Epitácio Pessoa, pelo decreto estadual nº 603, de 31/10/1938,
subordinado ao município de Angicos e elevado à categoria de município com a
denominação de Pedro Avelino, pelo decreto estadual nº 146, de 23/12/1948,
desmembrado de Angicos,com sede no então distrito de Pedro Avelino, ex-Epitácio
Pessoa e instalado em 01/01/1949.
A partir daquele ano a estação também teve o nome alterado para o do municipio que fora criado.O municipio está a 158 km de distância de Natal, a capital do Estado.
A
desativação da estação
A estação de Pedro Avelino foi desativada para o tráfego de passageiros em 1977 e para o de cargas em 1998, desde então ficou sem utilidade e em virtude da ação do tempo veio a se deteriorar quando veio ruir parcialmente em meados dos anos 2000.
A baixo imagens da estação em estado de ruína.
O
tombamento
O Prédio da Estação Ferroviária, em Pedro Avelino, foi
tombado pela Fundação José Augusto por sua importância cultural para o Estado
do Rio Grande do Norte em 06/09/2006.
A
recuperação
Em 2013 foi anunciado pela
prefeitura de Pedro Avelino que o prédio da estação ferroviária da cidade seria
recuperado por meio de um acordo e convênio como o Governo Federal, tendo sido
este o primeiro passo para a preservação do monumento histórico que em muito
contribuiu para o crescimento socioeconômico da atual cidade de Pedro Avelino.
O local daria lugar a um Centro Cultural tendo a obra sido
orçada em R$ 341.250,00 disponibilizada pelo Ministério do Turismo em 2013.
A seguir imagens da estação em reformas em 2015.
As obras foram concluídas em 2016 e no ano seguinte a estação ferroviária de Pedro Avelino foi entregue novamente a serventia pública como um centro cultural.
A lei municipal Nº 762-2018 da prefeitura de Pedro Avelino denominou a Casa de Cultura Estação Ferroviária Manoel Valério ao prédio da antiga estação ferroviária de Pedro Avelino.
De acordo com a referida lei o antigo prédio que fora recuperado com recursos federais tinha por objetivo abrigar atividades e projetos da cultura local.A Casa de Cultura Estação Ferroviária Manoel Valério está situada na rua Epitácio Pessoa, na cidade de Pedro Avelino.
Nas imagens que se seguem a estação já recuperada e entregue a serventia pública.
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