quinta-feira, 24 de julho de 2025

SOBRE A ESTAÇÃO DO BALDUM

 

         A estação do Baldum foi construída no km 53 da Estrada de Ferro de Natal a Nova, tendo sido inaugurada em 31/10/1881, na segunda seção de construção da referida ferrovia.

         Em 1882 o bispo de Olinda, José Pereira da Silva Barros, esteve em visita ao Rio Grande do Norte passando freguesia de Arez para onde se dirigiu em no trem da Estraada de Ferro de Natal a Nova Cruz.

         Na sua comitiva estava o médica Luiz Carlos Lins Wanderley o qual fez o registro de toda a visita pastoral e compilou posteriormente em livro.

         Segundo ele:” o Baldum fica á 12 quilômetros da estação de S. José, e é o lugar de parada do trem. Não é uma vila, nem uma aldeia, nem uma pousada sequer. É um ponto convencionado entre a companhia inglesa e os Srs.-Hermino Pegado e João Pegado, que, tendo os seus engenhos de açúcar ali perto, este ao poente e aquele ao nascente da via férrea, para ali mandam os seus produtos para serem transportados ao Natal. (Wanderley, 1882, p.126).

Ao finalizar a visita a paróquia de Arez o bispo retornou a estação do Baldum par aeseprar o trem e retornar para Natal.

“O trem ainda lá não estava, e S. Exc, abrigado á uma sombra, conversava alegremente com os seus companheiros. Quinze minutos depois chega o trem. Não havia tempo a perder. Feita uma despedida geral, S. Exc. mete-se em o seu carro com os seus padres.O trem partiu”. (Op.Cit., p.130).

Presentemente as ruínas da antiga estação do Baldum podem ser vistas a margem da estrada de rodagem que se dirige ao municipio de Arez.Alguns trechos ainda estão com os trilhos.


Ruínas da estação do Baldum


Fonte:

Visita Episcopal do exm. E Revm Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley. Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.

Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.


SOBRE A VISITA DO BISPO DE OLINDA A POVOAÇÃO DE ESTREMOZ

 

         Em 1882 o bispo de Olinda, dom José Pereira da Silva Barros, esteve em visita pastoral ao Rio Grande do Norte.

Partindo de Natal para realizar a visita pastoral a freguesia do Ceará-Mirim em 14/08/1882 o referido bispo passou pela povoação de Estremoz.

De acordo com o relato da visita pastoral feita por Luis Carlos Lins Wanderley as 09h00 da manhã “chegava a pequena comitiva à passagem da vila de Estremoz, ai o foguete do ar anunciou aos habitantes da pequena vila a aproximação de S. Exc. Ryma, e dentro em pouco sucediam-se os cavaleiros que vinham ao obsequioso encontro do viajante querido”. (Wanderley,1882,p. 24).

 Já próximo da vila, o bispo desceu do seu cavalo e, rodeado de povo, seguiu a pé e em direção a Igreja de São Miguel, que fazia parte do antigo convento dos jesuítas.

Segundo o citado cronista :”A antiga vila de Guagiru, hoje Estremoz, que foi sede da freguesia e que por lei provincial passou a pertencer  paróquia do Ceará-Mirim, pode ser considerada uma ruína, como é o seu convento, a sua Igreja, a sua casa de câmera e tudo mais”.(Op.Cit).

E continuou : “O povo ali é pobre e indolente. Vive da pequena lavoura que lhe facilita um terreno ubérrimo e fertilíssimo. Ali não há nenhum comércio, nenhuma indústria, nenhuma arte, Um professor de 1ª letras, um subdelegado e um inspetor de quarteirão são as potestades do lugar. Nem sequer um capelão!” (Op. Cit).

Apesar da extrema pobreza e insignificância da povoação de Estremoz o bispo,  perspicaz e atilado, compreendeu logo que se achava no meio de um povo, feliz pela crença religiosa e desditoso pelo abandono à própria inércia.

Em atos sucessivos, o bispo  percorreu a Igreja, revistou os altares e examinou o estado do convento; e depois de um substancial almoço que lhe ofereceu o vigário José Alexandre, cedeu às instancias do povo e administrou o sacramento do crisma á 285 fiéis que de momento se apresentaram

 Por fim o bispo dirigiu-lhes a palavra sagrada, animando-os em sua fé, aconselhando-os em suas práticas, no amor ao trabalho e na devoção sincera ao Deus verdadeiro, Filho da Virgem Maria. Era como um pai extremoso a conduzir pela mão um filho cego. “E que prazer tão santo, que consolação tão doce, que expansão tão de dentro da alma não se difundia por todo aquele povo !.” (Op.Cit).

Sobre os momentos vividos pela população de Estremoz Luiz Carlos Lins Wanderley anotou: “Os seus benditos, as suas ladainhas, as suas jaculatórias, cantadas em coro pelas mulheres; os seus arcos de parágrafos brancos, enfeitados de flores campesinas, o seu embevecimento em contemplar a face do seu Bispo, o seu afã em beijar lhe o anel do pescador, eram as provas que lhe podia dar do seu muito amor e respeito. Dava quanto tinha, e em retribuição S, Exc. lhe prodigalizava a mais terna condescendência, o mais doce carinho. Oh! só a religião do Crucificado sabe dispensar esses momentos de celestial ventura para aqueles que sofrem e crêem”.(Op.Cit., p.25).

Aproximando-se a hora da partida e os cavaleiros iam chegando e agrupavam-se ao lado do convento, onde o bispo passara as horas caniculares.

O sino repicava e as mulheres cantavam seus benditos em coro pleno. As 140h30 o bispo montou á cavalo e partiu, lançando sua benção ao povo.

Na viagem de Estremoz a Ceará-Mirim registrou Luiz Carlos Lins Wanderley: “O caminho que vai de Estremoz ao Ceará-Mirim é um deserto, em todo o rigor da expressão. Nem uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. São 24 kilometros de fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão grande número de cavaleiros em uma hora dada”. (Op. Cit).

As turmas sucediam-se umas as outras, sem interrupção. Eram como vagas oceânicas: não chegava uma sem à sequencia de outra. 33 cavaleiros partiram de Estremoz, e ao chegar a vila de Ceará-Mirim contavam-se mais de 250.

De acordo com o Diário de Pernambuco o bispo de Olinda em sua passagem pela povoação de Estremoz recebeu e ouviu com toda a atenção a queixa de suas ovelhas, pela falta de sacramentos em que muito esperavam, viu e conheceu a necessidade que havia da criação de uma nova freguesia tirada do Ceará-Mirim. Constava que o bispo tomou providências para que cessassem a falta de sacramentos entre suas ovelhas.( Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2).

Convento e igreja de São Miguel Arcanjo em Estremoz, onde o referido bispo fez visita pastoral em 14/08/1882.

A última visita de um bispo em Estremoz ocorrera em 1839, a época Estremoz era a sede da paróquia, passados 43 anos, nessa nova visita a povoação de Estremoz se apresentava reduzida a ruínas e constando com capela sufragânia da paróquia de Ceará-Mirim.

A nova paróquia sugerida pelo bispo no relato a cima seria criada na povoação do Taipu cuja capela era a de Nossa Senhora do Livramento, porém, essa só viria a ser criada em 18/04/1913.

Sobre o bispo Dom José Pereira da Silva Barros

         Dom José Pereira da Silva Barros, primeiro e único conde de Santo Agostinho (Taubaté, 24 de novembro de 1835 em Taubaté-SP, foi um religioso católico; bispo de Olinda e do Rio de Janeiro. Foi o último bispo de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Nomeado bispo em 13/05/1881. Foi Bispo de Olinda de 1881-1891 quando foi transferido para a então Diocese do Rio de Janeiro, onde morreu em 15/04/1888 aos 62 anos.

 Dom José Pereira da Silva Barros


Sobre Luiz Carlos Lins Wanderley

         Luiz Carlos Lins Wanderley era médico e foi ele encarregado de cuidar das pessoas desvalidas acometidas pela varíola na povoação de Estremoz no ano de 1881.

De acordo com o jornal Reforma em resposta ao oficio de 12/09/1881 em que transmitiu por cópia o delegado de policia do distrito de Estremoz pedindo providências no sentido de serem tratados os indivíduos da cariola que ali se tinha desenvolvido com intensidade, o presidente da província declarava-lhe que naquela data havia nomeado o médico Luiz Carlos Lins Wanderley em comissão par encarregar-se do tratamento dos referidos indivíduos. (Reforma, 24/09/1881, p.2).

         O médico Luiz Carlos Lins Wanderley deu por encerrada a sua comissão na povoação de Estremoz em 21/09/1881, por haver extinta a varíola na povoação de Estremoz e outros pontos da região. (Reforma, 28/11/1881, p.3).

         No ano seguinte ele se faria presente na comitiva que acompanhou o bispo de Olinda em visita pastoral a freguesia de Ceará-Mirim passando pela povoação de Estremoz como visto a cima.

Fonte:

Visita Episcopal do exm. e  Revm Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley.Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.

Reforma, 24/11/1881, p.2 e 28/11/188, p.3.

Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2.

Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.