Em 1882 o bispo de Olinda, dom José Pereira da Silva Barros,
esteve em visita pastoral ao Rio Grande do Norte.
Partindo
de Natal para realizar a visita pastoral a freguesia do Ceará-Mirim em
14/08/1882 o referido bispo passou pela povoação de Estremoz.
De acordo
com o relato da visita pastoral feita por Luis Carlos Lins Wanderley as 09h00
da manhã “chegava a pequena comitiva à passagem da vila de Estremoz, ai o foguete
do ar anunciou aos habitantes da pequena vila a aproximação de S. Exc. Ryma, e
dentro em pouco sucediam-se os cavaleiros que vinham ao obsequioso encontro do
viajante querido”. (Wanderley,1882,p. 24).
Já próximo da vila, o bispo desceu do seu
cavalo e, rodeado de povo, seguiu a pé e em direção a Igreja de São Miguel, que
fazia parte do antigo convento dos jesuítas.
Segundo
o citado cronista :”A antiga vila de Guagiru, hoje Estremoz, que foi sede da
freguesia e que por lei provincial passou a pertencer paróquia do Ceará-Mirim, pode ser considerada
uma ruína, como é o seu convento, a sua Igreja, a sua casa de câmera e tudo
mais”.(Op.Cit).
E continuou
: “O povo ali é pobre e indolente. Vive da pequena lavoura que lhe facilita um
terreno ubérrimo e fertilíssimo. Ali não há nenhum comércio, nenhuma indústria,
nenhuma arte, Um professor de 1ª letras, um subdelegado e um inspetor de
quarteirão são as potestades do lugar. Nem sequer um capelão!” (Op. Cit).
Apesar
da extrema pobreza e insignificância da povoação de Estremoz o bispo, perspicaz e atilado, compreendeu logo que se
achava no meio de um povo, feliz pela crença religiosa e desditoso pelo
abandono à própria inércia.
Em
atos sucessivos, o bispo percorreu a
Igreja, revistou os altares e examinou o estado do convento; e depois de um
substancial almoço que lhe ofereceu o vigário José Alexandre, cedeu às instancias
do povo e administrou o sacramento do crisma á 285 fiéis que de momento se
apresentaram
Por fim o bispo dirigiu-lhes a palavra
sagrada, animando-os em sua fé, aconselhando-os em suas práticas, no amor ao
trabalho e na devoção sincera ao Deus verdadeiro, Filho da Virgem Maria. Era
como um pai extremoso a conduzir pela mão um filho cego. “E que prazer tão
santo, que consolação tão doce, que expansão tão de dentro da alma não se
difundia por todo aquele povo !.” (Op.Cit).
Sobre
os momentos vividos pela população de Estremoz Luiz Carlos Lins Wanderley anotou:
“Os seus benditos, as suas ladainhas, as suas jaculatórias, cantadas em coro
pelas mulheres; os seus arcos de parágrafos brancos, enfeitados de flores
campesinas, o seu embevecimento em contemplar a face do seu Bispo, o seu afã em
beijar lhe o anel do pescador, eram as provas que lhe podia dar do seu muito
amor e respeito. Dava quanto tinha, e em retribuição S, Exc. lhe prodigalizava
a mais terna condescendência, o mais doce carinho. Oh! só a religião do Crucificado
sabe dispensar esses momentos de celestial ventura para aqueles que sofrem e crêem”.(Op.Cit.,
p.25).
Aproximando-se
a hora da partida e os cavaleiros iam chegando e agrupavam-se ao lado do
convento, onde o bispo passara as horas caniculares.
O
sino repicava e as mulheres cantavam seus benditos em coro pleno. As 140h30 o
bispo montou á cavalo e partiu, lançando sua benção ao povo.
Na viagem
de Estremoz a Ceará-Mirim registrou Luiz Carlos Lins Wanderley: “O caminho que
vai de Estremoz ao Ceará-Mirim é um deserto, em todo o rigor da expressão. Nem
uma casa, nem uma palhoça, nem um albergue qualquer. São 24 kilometros de
fastidiosa monotonia; nunca, porém, por aquelas paragens atravessou tão grande
número de cavaleiros em uma hora dada”. (Op. Cit).
As
turmas sucediam-se umas as outras, sem interrupção. Eram como vagas oceânicas:
não chegava uma sem à sequencia de outra. 33 cavaleiros partiram de Estremoz, e
ao chegar a vila de Ceará-Mirim contavam-se mais de 250.
De acordo
com o Diário de Pernambuco o bispo de Olinda em sua passagem pela povoação de
Estremoz recebeu e ouviu com toda a atenção a queixa de suas ovelhas, pela
falta de sacramentos em que muito esperavam, viu e conheceu a necessidade que
havia da criação de uma nova freguesia tirada do Ceará-Mirim. Constava que o
bispo tomou providências para que cessassem a falta de sacramentos entre suas
ovelhas.( Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2).
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Convento e igreja de São Miguel Arcanjo em Estremoz, onde o referido bispo fez visita pastoral em 14/08/1882. |
A última
visita de um bispo em Estremoz ocorrera em 1839, a época Estremoz era a sede da
paróquia, passados 43 anos, nessa nova visita a povoação de Estremoz se
apresentava reduzida a ruínas e constando com capela sufragânia da paróquia de
Ceará-Mirim.
A nova
paróquia sugerida pelo bispo no relato a cima seria criada na povoação do Taipu
cuja capela era a de Nossa Senhora do Livramento, porém, essa só viria a ser
criada em 18/04/1913.
Sobre
o bispo Dom José Pereira da Silva Barros
Dom José Pereira da Silva
Barros, primeiro e único conde de Santo Agostinho (Taubaté, 24 de novembro de
1835 em Taubaté-SP, foi um religioso católico;
bispo de Olinda e do Rio de Janeiro. Foi o último bispo de S. Sebastião do Rio
de Janeiro. Nomeado bispo em 13/05/1881. Foi Bispo de Olinda de 1881-1891 quando foi transferido para a
então Diocese do Rio de Janeiro, onde morreu em 15/04/1888 aos 62 anos.
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Dom José Pereira da Silva Barros |
Sobre
Luiz Carlos Lins Wanderley
Luiz Carlos Lins Wanderley era médico e foi ele encarregado
de cuidar das pessoas desvalidas acometidas pela varíola na povoação de
Estremoz no ano de 1881.
De acordo
com o jornal Reforma em resposta ao oficio de 12/09/1881 em que transmitiu por
cópia o delegado de policia do distrito de Estremoz pedindo providências no
sentido de serem tratados os indivíduos da cariola que ali se tinha
desenvolvido com intensidade, o presidente da província declarava-lhe que naquela
data havia nomeado o médico Luiz Carlos Lins Wanderley em comissão par
encarregar-se do tratamento dos referidos indivíduos. (Reforma, 24/09/1881, p.2).
O médico Luiz Carlos Lins Wanderley deu por encerrada a sua
comissão na povoação de Estremoz em 21/09/1881, por haver extinta a varíola na
povoação de Estremoz e outros pontos da região. (Reforma, 28/11/1881, p.3).
No ano seguinte ele se faria presente na comitiva que
acompanhou o bispo de Olinda em visita pastoral a freguesia de Ceará-Mirim
passando pela povoação de Estremoz como visto a cima.
Fonte:
Visita Episcopal do exm. e Revm Sr. D. José Pereira da
Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley.Natal:
Tipografia do Correio do Natal, 1882.
Reforma, 24/11/1881, p.2 e 28/11/188, p.3.
Diário de Pernambuco, 25/08/1882, p.2.
Pesquisa: João Santos, 24/07/2025.