sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

MEMÓRIA DO ACESSO A ÁGUA EM TAIPU

 

O município de Taipu, assim como muitas outras áreas rurais do Nordeste, sempre enfrentou desafios relacionados ao acesso à água, especialmente em períodos de estiagem.

Este trabalho se propõe a fazer um resgate do acesso a água na região do município de Taipu, com ênfase na instalação de poços tubulares e artesianos pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS.

A história do acesso à água na vila de Taipu é a história da resistência de um povo diante da escassez.

Das cacimbas cavadas com esforço coletivo aos modernos sistemas de abastecimento, a trajetória revela criatividade, organização comunitária e o papel decisivo das políticas públicas.

Conhecer essa história é também reconhecer que o direito à água é um direito à vida, e que o futuro de Taipu continua a depender da gestão sustentável de seus recursos hídricos.

A ação governamental em prol das populações que sofriam pela falta de água

Em 1904 o Governo Federal havia nomeado uma comissão incumbida de projetar as obras necessárias para prevenir os efeitos das inconstâncias climáticas no Estado estando empenhada em realizá-las aos poucos, dentro dos recursos orçamentários.

Por  iniciativa do ministro da indústria, Lauro Muller, foi escolhido o engenheiro Antonio Olinto para estudar nos EUA, Egito e Algéria os poços artesianos e os trabalhos de irrigação que transformaram naqueles países, enormes extensões de terrenos, outrora estéreis, em férteis campos de cultura agrícola.[1]

            O decreto nº 6.323, de 10 de janeiro de 1907 criou o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, que dentre suas finalidades também estava a de proceder estudos sobre fatos relativos ao suprimento de água tanto para irrigação, como para fins domésticos e industriais e sobre  poços artesianos e outros.

            O decreto nº 210, de 23 de dezembro de 1909, do governo do Estado, sistematizou os serviços a se fazer contra os efeitos das secas no Rio Grande do Norte.

            Dentre as ações estava a perfuração de poços nas povoações e nas várzeas dos rios secos nos lugares onde se houvesse verificado a existência de água no subsolo.

            Os poços nas povoações seriam construídos e explorados pelo Governo do Estado, nos termos do decreto nº 208, de 20 de outubro de 1908, e poderiam ser arrendados ou vendidos às Intendências ou particulares; e os das várzeas seriam construídos para os proprietários dos respectivos terrenos, mediante contrato prévio.[2]

O decreto nº 294, de 1 de dezembro de 1910 aprovou os contratos celebrados entre o Governo do Estado e a Companhia Nacional Brasileira Norte Riograndense de Poços Tubulares para a perfuração de 300 poços no Estado.[3]

Origem e expansão dos poços artesianos no Mato Grande

No Brasil, a utilização de águas subterrâneas remonta à colonização, com poços escavados simples (“cacimbões”) e nascentes aproveitadas.[4]  

Com o crescimento populacional e a urbanização, houve necessidade de perfurações mais profundas e tecnicamente aprimoradas para garantir abastecimento sustentável. 

No Nordeste, as estiagens severas e a irregularidade pluviométrica forçaram governos e comunidades a apostarem nos poços artesianos como alternativa de convívio com a seca. 

Na região do Mato Grande, esse processo provavelmente seguiu um roteiro parecido: a partir de meados do século XX, governos estaduais e federais passaram a incentivar a construção de poços em áreas rurais, via programas de convivência com a seca, subsídios e apoio técnico.

Dentre os impactos socioeconômicos trazidos pela perfuração de poços na região do Mato Grande podemos citar os seguintes:

-Abastecimento doméstico: as famílias que dependiam de fontes superficiais ou de água de chuva puderam dispor de água mais confiável durante o ano inteiro. 

- Produção agrícola e pecuária: com água disponível, pequenas roças, criação de animais e pequenas agroindústrias ganharam maior estabilidade. 

- Saúde pública: a disponibilidade de água limpa reduziu problemas de doenças relacionadas à água contaminada ou insuficiente. 

- Educação e permanência na zona rural: escolas rurais puderam funcionar melhor quando havia água próxima; com isso, famílias tenderam a permanecer no campo.

A criação da IFOCS

Criada em 1909, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS tinha como missão executar obras permanentes que mitigassem os efeitos da seca no Nordeste.

Criada como resposta às grandes secas do final do século XIX, a IFOCS foi uma das primeiras tentativas institucionais de enfrentamento da seca no Brasil. Seu foco era ampliar a oferta hídrica nas áreas mais vulneráveis do semiárido nordestino, especialmente por meio da construção de açudes e da perfuração de poços profundos.

Na década de 1930, já consolidada como instituição técnica, passou a investir fortemente na perfuração de poços tubulares em diversos municípios do Rio Grande do Norte.

O legado da IFOCS no Mato Grande é incontestável: mais que obras físicas, deixou uma herança de infraestrutura hídrica e esperança.

A atuação da IFOCS no Mato Grande potiguar foi um marco histórico na luta contra a seca. A perfuração de poços tubulares não apenas salvou vidas, mas transformou paisagens humanas e sociais.

Entender esse processo é fundamental para valorizar o papel da engenharia social no semiárido e refletir sobre soluções sustentáveis para o futuro hídrico do sertão.

A implantação de poços artesianos ou tubulares representou uma solução tecnológica para comunidades rurais cuja fonte de água superficial era irregular ou insuficiente.

O acesso à água no municipio de Taipu

A vila de Taipu possui uma trajetória marcada pela constante luta de seus habitantes pelo acesso à água.

Desde os primeiros núcleos populacionais formados no século XIX até as intervenções públicas do século XX, o abastecimento hídrico sempre foi uma questão central para a sobrevivência e o desenvolvimento da comunidade.

A vila foi erguida e se desenvolveu na margem direita do rio Ceará-Mirim, que na zona urbana da cidade toma o nome de rio da Buraca, mas, ironicamente a população pouco se serviu da presença desse curso d’água, devido a alta salinidade da sua água.

Como solução para o abastecimento d’água na incipiente povoação do Taipu do Meio, primitiva denominação da atual cidade de Taipu, a população cavava nas margens do rio pequenas cacimbas em busca do liquido precioso.

            Em 1879 já existia um açude na povoação de Taipu, que fora construído dentro das obras e serviços para dá trabalho aos flagelados pela seca que assolava a província naquele ano. Esta obra teve importância visto que os habitantes vinham sofrendo consideravelmente com a falta desse beneficio.[5]

De  acordo com o relatório do governo do Estado de 1905, havia em Taipu dois açudes públicos, um na povoação de Baixa Verde, em bom estado, e outro na Vila, estragado em consequências das inundações de 1895. Além destes, havia 8 açudes particulares, todos de pequena capacidade.

No Riacho do Coité, do Barreto[6] e do Carrapato, haviam lugares apropriados à açudagem.

A convite do engenheiro José Luiz Batista, chefe da construção da EFCRGN, o engenheiro Antonio Olinto fez uma excursão em 19/07/1907 a Taipu, para ver o estado das obras daquela ferrovia e, além disso, fazer um ligeiro exame do vale do rio Ceará-Mirim quanto as trabalho que ali deveria ser conveniente fazer contra os efeitos da seca.

            A chuva que caiu insistentemente até Taipu prejudicou em parte a finalidade da excursão, o que não deixou de ser alegremente comentado pelos excursionistas, que viajaram debaixo de aguaceiros em companhia do superintendente das obras contra as secas, espetáculo certamente raro de se ver na zona flagelada pela seca.

            Em todo caso, porém, o referido engenheiro, no seu plano sistemático de sondagens, para conhecer a natureza dos terrenos, logo que se ultimassem o lançamento dos trilhos da EFCRGN até Taipu, mandaria perfurar na vila um poço a jusante da grande barragem que estava sendo feita perto da vila pela estrada de ferro.[7]

            A “grande barragem”, na verdade, trata-se do açude existente nas proximidades da estação ferroviária de Taipu, existentes até os dias atuais, que na cidade de Taipu é conhecido por Açude da Estrada de Ferro.

            Açude esse que pouca serventia obtinha a população da vila de Taipu devido a salobridade da água que nele havia, impossibilitando o uso doméstico.

De acordo com o jornal A República o engenheiro Antonio Olinto dos Santos Pires, chefe da superintendência das obras contra as secas, mandou um de seus auxiliares apressar a perfuração do poço de Guanduba, no municipio de São Gonçalo e iniciar a sondagem para a abertura de outros em Taipu.[8]

 

Em 1908 foram realizadas essas sondagens em Taipu, onde só existia água salobra, imprópria para usos domésticos e até mesmo para o abastecimento das locomotivas da EFCRGN. Entretanto, não foi possível iniciar o trabalho por falta de pessoal e de material disponível.[9]

            Toda a população da região supria-se de água nas cacimbas abertas no leito arenoso do rio Ceará-Mirim, sendo a água sempre salobra, grossa, detestável, como se observava no Umari, cujos habitantes iam se abastecer no Jardim, a 6 km de distância, o mesmo se dava dali até Ladeira Grande e Taipu, encontrando-se apenas água tolerável em Boa Vista.

            Na região de Poço Branco obtinha-se água em cacimbas de três metros de profundidade, dando-se, porém, a singularidade de que esta, regularmente potável nos primeiros dias, ia se tornando progressivamente salgada até ficar intolerável.[10]

            Era, pois necessário procurar ali camadas mais profundas, porque os sedimentos de toda a zona eram salinos e comunicavam esta propriedade ás águas que nos mesmos se infiltravam.

            Entre dias 01 e 28/02/1913 foram realizados os estudos do Açude Tupi em Taipu, ao custo de 4:241$500.[11]

Com as grandes secas do final do século XIX e início do século XX, a vila de Taipu passou a ser incluída nas ações emergenciais do poder público.

Sob a coordenação da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS foram escavados os primeiros poços cacimbões e perfurados poços tubulares na região.

Esses poços, muitas vezes de profundidade superior a 40 metros, passaram a garantir abastecimento mesmo nos períodos mais críticos. Em alguns pontos da vila, foram construídos chafarizes de alvenaria, onde a água era bombeada manual ou mecanicamente e distribuída à população em filas diárias.

A construção e entrega à população de Taipu de um poço viria a amenizar o sofrimento da população pela falta de água potável na então vila de Taipu.

            No decorrer do ano de 1917 foram realizadas diversas obras hídricas pela IFOCS na interior do Estado, dentre as quais a perfuração de um poço tubular na vila do Taipu.

         Esse poço tinha 37m de profundidade e capacidade para fornecer 4.000 litros de água por hora. Estava aparelhado com um moinho tipo ‘Gloosier’, o qual era acionado por uma bomba de tubos de sucção e de descarga de 4 e 2 polegadas respectivamente, além disso havia um reservatório de ferro, com capacidade para 5.000 litros, ligado a um chafariz munido de torneiras.

         Em 20/11/1917 esse poço já havia sido concluído e de acordo com as formalidades regulamentares, a IFOCS fez a entrega do poço à intendência de Taipu, a qual caberia a responsabilidade de bem conservá-lo e fornecer água a qualquer pessoa, desde que seja para um fim útil, ou para ocorrer a necessidade domésticas ficando aquela repartição exonerada inteiramente de todo e qualquer conserto, reparo ou obra complementar de que viesse necessitar o poço.[12]

Poço tubular de Taipu



Fonte: acervo pessoal do autor, data ignorada e colorizada por meio de tratamento digital de Inteligência Artificial. IA Studio.

            Do local onde foi construído o poço tubular da IFOCS em 1917 restavam as ruínas da estrutura no ano de 1985 quando naquele ano o local foi urbanizado tendo sido construída a praça Adão Marcelo da Rocha e a Escola Municipal Tancredo Neves, atualmente Escola Municipal Francisca Avelino.

            A Inspetoria Federal de Obras Contras as Secas em 1920 projetou a construção do açude “Tupi” com capacidade de 2.728,640m³ e em 1936 procedeu a estudos complementares em um outro, denominado “Taipu” com capacidade de 158.000,000 de m³, mas não levou a efeito, a construção de qualquer um dos dois.

            No ano de 1936 a IFOCS também daria inicio a sondagem para a construção da barragem sobre o rio Ceará-Mirim na localidade Jacaré, no então distrito de Poço Branco. A barragem serviria mais para contenção das cheias que periodicamente destruía as plantações do vale do rio Ceará-Mirim e inundava a Vila de Taipu, causando grandes estragados em ambos. Esta barragem só viria a ser iniciada em 1959, quando Poço Branco ainda constituía-se distrito do municipio de Taipu e concluída em 1970, já tendo sido aquele distrito criado municipio, desde 1963.

Em relação  a açudes particulares, existiam alguns, mas todos pequenos.

A região da Serra Verde

A região da Serra Verde era uma imensa parte de terras devolutas do Estado encravada entre os municipios de Touros, Taipu, Macau e Angicos.

A parte que cabia ao municipio de Taipu era uma imensa planicie praticamente desabitada cuja cultura algodoeira ali começava a florescer graças aos empreendimentos da firma João Câmara & Irmãos.

O Estado possuía terras em lugares de excelentes salubridade, e apropriada à fundação de núcleos de trabalhadores, dentre esses lugares aproveitáveis para essa finalidade, existia o extenso planalto de Baixa Verde, de reconhecida fertilidade, com proporções para vir a constituir um grande centro agrícola, desde que fossem ali perfurados poço tubulares.

De acordo com o relatório do governador do Estado de 1915 para demonstrar a capacidade de produção daquelas terras bastava assinalar que nelas viviam uma considerável população de lavradores, na sua totalidade entregue, durante seis meses do ano, em transportar a água necessária para uso doméstico de distâncias maiores de 4 a 5 léguas, visto a serra não ter, de inverno a verão, aguada de nenhuma espécie. [13]

Até aquele ano era crença geral a impraticabilidade dos poços tubulares, convicção inteiramente desfeita depois do poço perfurado, com maior proveito, por um particular, no lugar Riacho Seco.[14]

A cultura do algodão ali não prosperaria sem a presença dos poços tubulares e artesianos que foram instalados, tendo sido os primeiros, no então distrito de Baixa Verde por volta de 1916 e em Parazinho em cerca de 1926.

Não se encontrava nessa região nenhum rio, riacho ou garganta apropriada à construção de uma barragem. O subsolo, entretanto, dada a sua formação geológica, prestava-se bem para a perfuração de poços tubulares do tipo dos que a IFOCS vinha abrindo desde muitos anos.

Como o desenvolvimento da cultura algodoeira no Estado dependia do aproveitamento dessas chapadas, os poços em apreço tinham essa finalidade econômica.

E assim foi que o governo do Estado se empenhou em disseminar esses poços as centenas, pelas diversas regiões do Estado, inclusive na região da Serra Verde.

            De acordo com o Relatório do governador José Augusto de 1927 era o meio que se lhe afigurava mais eficiente para levar a efeito melhoramentos indispensaveis ao progresso do Rio Grande do Norte.[15]

            A região denominada Serra Verde foi assim uma região emblemática em questão de aceso a água.

Com o intuito de amenizar as condições de vida dos habitantes da Serra Verde, onde havia a absoluta ausência de mananciais, na extensão de dezenas de léguas, roubando aos que ali trabalhavam metade do ano em longas caminhadas para o litoral e para o sertão, em cujas fontes iam buscar a água de que se serviam para todos os misteres, o govenardor do Estado iniciou em 1916 a perfuração de um poço, que, infelizmente, não atigira o lençol aquoso, apesar da consideravel profundidade  alcançada pela perfuratriz.[16]

            Ali se desenvolvia a cotonicultura, onde os que se dedicavam a lavoura algodoeira lutavam incessantemente com a falta d´água, tendo que colhê-la a grandes distâncias em poços perfurados pela IFOCS, pelo governo do Estado, das prefeituras ou por particulares.

O Estado do Rio Grande do Norte manteve assim contratos com a IFOCS para perfuração de poços tubulares, os quais se destinavam ao abastecimento das populações e dos rebanhos nas zonas onde não era possível se construir açudes como os vastos chapadões da Serra Verde.

Essas chapadas compreendiam muitos milhares de quilômetros quadrados de terras fertilíssimas, ainda incultas por falta de reservatórios d’água para o suprimento das populações que se localizavam naquelas regiões.

O aspecto físico e uniforme pela grande extensão da sua planície, a invariabilidade da vegetação e a natureza das suas terras, tornava a paisagem monótona devido a ausência de acidentes geográficos notáveis e pela constância com que teimava em agrupar por toda parte as mesmas espécies de vegetais.[17]

Em 1927 o governo do Estado reconstruiu poços na região de Serra Verde, em colaboração com a IFOCS.[18]

            Entre 1927 e 1928 dentre os serviços de perfuração e aparelhamento de poços na região de Serra Verde, na parte que cabia ao municipio de Taipu, feitos pela IFOCS em colaboração com o governo do Estado se destacam os seguintes:

Poço Palestina

            Situado a 27 km ao poente da estação de Baixa Verde e a 12 km a noroeste do povoado de Queimadas. O inicio da perfuração desse poço ocorreu em 14/12/1927 e concluído a 14/07/1928, contendo o mesmo as seguintes características:

Profundidade

105m

Revestimento com tubos de 6”

22m

Nivel máximo do lençol d’água

94,70m

Nivel estável do lençol d’água

94,70m

Vazão horária (litros)

1.000l

Qualidade da água

Calcária

Fonte: Relatórios dos Presidentes dos Estados Brasileiros, 1929, p.128.

A Despesa da perfuração desse poço foi de 13:461$634, sendo 1:319$054 por conta da IFOCS e 12:142$580 por conta do governo do Estado

Poço Oiticica

            Situado no povoado de Nazaré, ficando a 7 km ao nascente da povoação de Queimadas e a 22 km da estação de Baixa Verde.

O inicio da desobstrução desse poço ocorreu a 22/11/1927 e concluido a 31/07/1928, estando suspenso o serviço de desobstrução entre 01/12/1927 e 22/07/1928.

            Com os serviços de desobstrução desse poço foram gastos 1:362$000, sendo 1:318$000 por parte do governo do Estado e 44$000 por parte da IFOCS.

            Foi instalado nesse poço uma bomba manual Rumsey, service esse concluido em 05/09/1928, tendo sido a despesa de 2:689$476, dos quais 339$000 por conta do governo do Estado e 2:350$476 por conta da IFOCS.

 

Poço Cabeço Preto

            Estava situado a 25 km a oeste da estação de Baixa Verde, tendo sido iniciado a sua perfuração a 28/09/1928 e concluído a 31/12/1928.Tinha esse poço as seguintes caracteristicas:

Profundidade

102m

Revestimento com tubos de 6”

69,50m

Nivel máximo do lençol d’água

85m

Nivel estavel do lençol d’água

87m

Vazão horária (litros)

1.000l

Qualidade da água

calcária

Fonte: Mensagem do Presidente do Estado do Rio Grande do Norte, 1929, p.128.

A despesas com a perfuração desse poço foi de 9:562$161, sendo 3:614$261 por conta da IFOCS e 5:947$900 por conta do governo do Estado.

O distrito de Baixa Verde

            O jornal Gazeta de Natal na edição do dia 01/06/1889 registrou a nomeação de uma comissão formada em Ceará-Mirim pelo padre Frederico Augusto Raposa da Câmara, presidente, o juiz municipal Francisco de Sales Meira e Sá e o major Elpidio Furtado de Mendonça, sendo esta comissão encarregada da construção de um açude na povoação de Baixa Verde onde seriam empregados as vitimas da calamidade da seca, sendo destinando um salário de r$ 500 para os homens e r$300 para as mulheres  e r$ 200 para as crianças.[19]

Dessa forma, a povoação de Baixa Verde seria aquela época pertencente ao município de Ceará-Mirim.

As obras do referido açude continuaram no ano seguinte como se vê no expediente do dia 07/02/1890 do governo do Estado onde o governador Adolfo Afonso da Silva Gordo assinou decreto autorizando a comarca de Ceará-Mirim “a designar pessoas idôneas e de confiança para se encarregar da direção das obras de construção do açude no lugar Baixa Verde dessa freguesia [...]”.[20]

            O distrito de Baixa Verde foi criado por meio da lei municipal nº 2, de em 22 de dezembro de 1892 e incorporado ao municipio de Taipu, criado este no ano anterior.

            A localidade se iniciou de forma incipiente ainda no final do século XIX, porém, só tomou fôlego com a construção da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN cuja estação foi ali inaugurada em 12/10/1910, atraindo para seu entorno a população que se concentrava no povoado de Assunção.

A instalação dos primeiros poços profundos ou tubulares em Baixa Verde foi resultado de ações conjuntas entre o governo estadual, a IFOCS e autoridades locais.

Essas estruturas permitiram extrair água de qualidade razoável mesmo durante os períodos de seca extrema, representando um avanço em relação aos poços escavados manualmente ou às cacimbas.

Os poços tubulares trouxeram mudanças significativas para a vida da povoação, depois vila e por fim a cidade de Baixa Verde, tais como:

- A segurança hídrica para populações isoladas;

- A redução da mortalidade animal e melhora na produção agrícola de subsistência;

- A fixação da população rural, reduzindo os fluxos migratórios sazonais;

- O estímulo à organização comunitária, já que os poços se tornavam centros de convivência e solidariedade.

Além disso, a existência de água acessível permitiu a continuidade das atividades escolares, religiosas e comerciais em tempos de estiagem.

O distrito de Baixa Verde pertenceu ao municipio de Taipu até 29/10/1928 quando foi emancipado e criado municipio.

Os poços tubulares da IFOCS: marco do desenvolvimento de Parazinho

         Parazinho surgiu numa região de difícil acesso a água potável, essencial em qualquer aglomerado humano para a sua sobrevivência.

             A região no entanto, era propicia a plantação da cultura do algodão. Para resolver o problema do acesso a água o Governo Federal por meio da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS (atual DNOCS), perfurou vários poços na região mais assolada pelas secas, muitos na região que atualmente compreende o território do município de Parazinho.

            Os primeiros poços em Parazinho foram instalados pela firma João Câmara & Imrãos ainda na década de 1920 e forma determinantes para o adensamento populacional da região que resultou no surgimento da povoação.

            A povoação de Parazinho pertenceu  inicialmente ao municipio de Taipu e passou a jurisdição de Baixa Verde a partir de 1928 com a criação deste municipio.

O distrito de Barreto

            O povoado de Barreto é citado no Dicionário Corográfico do Brasil em 1913 no municipio de Taipu.[21]

            O distrito de Barreto estava situado a 28 km de distância da sede municipal de Taipu.

            A região do Barreto era a região mais árida do município de Taipu e muito carente de acesso a recursos hídricos,

A situação precária do abastecimento de água da cidades de Taipu

Em 1943, segundo Anfilòquio Câmara, o serviço de abastecimento d’água da cidade de Taipu era precário.[22]

            Já a região oeste do município ressentia-se da falta d’água, não permitindo que a agricultura tomasse ali, o desenvolvimento que seria de desejar. Nas épocas de estiagens, os seus habitantes tinham de procurar o liquido precioso a grandes distâncias, até para os animais.[23]

A perfuração de poços tubulares pela IFOCS, o que, aliás, ainda não havia sido feito em Taipu aquela época, minoraria sensivelmente a situação daquela região do municipio.

Segundo Anfilóquio Câmara poderia um desses poços ser localizado nas imediações povoado de Barreto[24] e outro próximo a Belo Horizonte[25], zonas essas de população relativamente densas e muito agrícolas.[26]

Em 1952, o prefeito Luís Gomes da Costa, disse em seu relatório que a cidade de Taipu ressentia-se da falta de um reservatório para água, “pois na estação do estio, recebendo água para seu abastecimento da Vila de Estremoz, transportada pela Estrada de Ferro Sampaio Correia, há muita dificuldade na conservação do precioso liquido que pode ficar exposto a poeira e facilmente poluir-se”. [27]

Disse ainda o prefeito de Taipu em relação a construção desse reservatório que: “considero assunto de grande relevância esse beneficio a população de minha terra. Penso que todos saberão compreender o alcance da obra de interesse verdadeiramente coletivo”.[28]

Ainda em 1954 a cidade de Taipu permanecia com grandes problemas relacionados ao abastecimento de água.

Foi graças aos esforços e a boa vontade do engenheiro João Galvão de Medeiros, diretor da Estrada de Ferro Sampaio Correia, que a população foi abastecida de água potável durante aquele ano de 1954, conduzido o precioso liquido da lagoa  de Estremoz em carros tanques, sendo fornecidos semanalmente 45.000 litros.

Em seu relatório, o prefeito Tamires Miranda disse que providenciou, também, a abertura de duas cacimbas no rio que vinha fornecendo água para o gasto e até para beber, uma delas deixando fornecer um liquido bem tolerável.[29]

O poço construído pela IFOCS encontrava-se sem funcionar por falta de manutenção desde 1959.

Em meados da década de 1960 a situação da cidade de Taipu continuava sem solução para os problemas da falta d’água.

Em 25/04/1967 o deputado estadual Magnus Kelly apresentou requerimentos que foram lidos no expediente da Assembleia Legislativa abordando o apelo ao governador do Estado para que a Companhia de Águas e Solo-CASOL providenciasse o funcionamento do poço tubular de Taipu que dependia de raparos na engrenagem do cata-vento que estava sem funcionava havia 8 anos.[30]

Respondendo ao apelo do referido deputado, o governador do Estado transmitiu a Assembleia informação recebida da CASOL, sobre o poço tubular da cidade de Taipu, onde a CASOL afirmava desconhecer a construção do referido poço, que coube sua construção ao DNOCS (antiga IFOCS), e que seria aconselhável dirigir-se àquela repartição, até mesmo porque a CASOL não dispunha de verba no seu orçamento para aquele ano para recuperação de poços.[31]

Na década de 1970 a cidade de Taipu ainda sofria dos mesmos problemas e vexames para obter água potável para o consumo de sua população.

De acordo com informações colhidas da CAERN sobre os serviços de abastecimento de água de Taipu, a empresa havia informado ao deputado Magnus Kelly que o ponto em estudo era a localização do Poço Amazonas que serviria de manancial para o abastecimento da cidade.

A solução definitiva para o problema de abastecimento de água em Taipu só ocorreu no início da década de 1980, tendo sido realizados naquele ano os estudos pela CAERN para viabilidade da adutora de Pureza.

A adutora de Pureza

Em 1981 o ministro Mário Andreazza garantiu recursos ao governador Lavoisier Maia para a construção da adutora do Mato Grande.

O governador Lavoisier Maia em visita a Taipu, Poço Branco e João Câmara em 31/07/1982 anunciou a implantação do serviço de abastecimento de água, com captação na fonte de Pureza.[32]

 Do manancial de Pureza sairia a água que abasteceria 55 mil habitantes das três cidades: Taipu, Poço Branco e João Câmara. O governo do estado em convênio com o BNH investiu cerca de 1 bilhão e 300 milhões de cruzeiros.

Em 02/03/1982 a CAERN abriu a licitação para a construção da adutora do Mato Grande.A instalação da adutora de Pureza levaria água para os municípios de João Câmara, Poço Branco e Taipu. Ela retiraria a água da fonte localizada na cidade de Pureza, cuja fonte é a nascente do rio Maxaranguape.

Na época de sua instalação a adutora beneficiou uma população de 25 mil habitantes entre os três municípios, deste total 75% se concentrava na cidade de João Câmara, cidade polo da região do Mato Grande.

A adutora custou Cr$ 1,6 bilhão e visava atender uma população total de 50 mil pessoas. O sistema consta de um conjunto de adutoras que somadas possuem 50 km de extensão, diâmetros variando entre 150 mm e 400 mm.

Possui  3 estações elevatórias, uma das quais com vazão de 260 m³/h, outra com 204m³/h e a terceira com 43m/h todas equipadas com sistemas de eletrobombas.

O sistemas conta ainda com 4 reservatórios, sendo dois em João Câmara, um com capacidade para 3,2m³ e outro com 150m³; o de Poço Branco com capacidade de 350m³ e o de Taipu com 400m³.

A rede de distribuição tem 37.998m de extensão, sendo 28.640 em João Câmara; 5.858 em Taipu e 3.500 em Poço Branco.

            A adutora atende diretamente aos municipios de Taipu, Poço Branco, Bento Fernandes e João Câmara.

Considerações finais

A história do acesso à água do municipio de Taipu é marcada por lutas, adaptações e transformações ao longo do tempo. Situada em uma região de clima semiárido, a população local sempre conviveu com a irregularidade das chuvas e com os longos períodos de estiagem, fatores que tornaram a busca por fontes seguras de abastecimento uma necessidade constante e ironicamente banhada pelo rio Ceará-Mirim, pouco dele se servia devido a salobridade de suas águas que as tornava impróprias para o consumo humano.

Nos primórdios de sua formação, os habitantes de Taipu dependiam dos recursos naturais mais imediatos: cacimbas abertas à beira dos rios temporários, barreiros improvisados para acumular a água das chuvas e pequenos açudes comunitários.

 Essas fontes, embora vitais, eram limitadas e vulneráveis, pois muitas vezes secavam nos meses de seca prolongada, obrigando famílias inteiras a se deslocarem por longas distâncias em busca de água para beber, cozinhar e dar de beber aos animais.

Com o crescimento do povoado e a organização da vila, nas primeiras décadas do século XX, surgiram iniciativas de melhoria no abastecimento. A perfuração dos primeiros poços artesianos, ainda de forma incipiente, representou um avanço importante, pois diminuía a dependência exclusiva das águas superficiais.

Os locais de captação e distribuição de água se tornaram espaços de convivência. Os chafarizes funcionavam como pontos de encontro, onde circulavam informações, se fortaleciam laços comunitários e se consolidavam redes de solidariedade. A água, além de necessidade básica, tornava-se símbolo de pertencimento e identidade local.

Antes da implantação de qualquer estrutura pública, os moradores da vila dependiam de fontes naturais como cacimbas escavadas à mão, barreiros e olhos-d'água. Localizados geralmente em baixios ou próximos a leitos de rios temporários, esses reservatórios acumulavam a água das chuvas e eram utilizados para o consumo humano e animal.

A manutenção dessas fontes era feita de forma coletiva. Durante os verões prolongados, era comum haver disputas e até racionamentos informais entre famílias e vizinhos. A água era carregada em latas ou potes de barro, por crianças, mulheres e jumentos.

 

Ainda na segunda metade do século XX a população de Taipu permanecia refém da falta d’água, tanto pela estiagem prolongada, como pela ausência de um reservatório suficiente para atender as demandas da população.

Foi somente no inicio da década de 1980 que se consolidaram as mudanças mais profundas. A chegada da adutora e a implantação de sistemas de abastecimento controlados pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) trouxeram maior regularidade ao fornecimento para a população urbana de Taipu.

A água encanada, ainda que com limitações, transformou o cotidiano de muitas famílias, trazendo mais dignidade e melhores condições de saúde.

Na zona rural, contudo, os desafios persistiram. Muitas comunidades continuaram dependendo dos carros-pipa enviados pelo Exército e pela Defesa Civil, principalmente em épocas de estiagem mais severa.

A realidade do sertanejo de Taipu ainda refletia a histórica desigualdade no acesso à água: enquanto parte da cidade dispunha de rede de abastecimento, os moradores da zona rural mantinham viva a luta pela sobrevivência diante da escassez.

Assim, a trajetória do acesso à água em Taipu não é apenas um relato sobre infraestrutura hídrica, mas também sobre resistência e adaptação cultural. É a história de um povo que, geração após geração, reinventou seus modos de viver para enfrentar a seca, buscando na água não apenas a sobrevivência, mas também a esperança de dias melhores.

Poço tubular em Taipu em local ignorado.Fonte: Biblioteca IBGE.




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Referências

Almanaque Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial, Rio de Janeiro, 1913.

Brasil. Ministério da Viação e Obras Públicas. Relatório Apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro de Estado da Indústria, Viação e Obras Públicas Miguel Calmon Du Pin e Almeida no ano de 1908. Vol. III. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.

_____, Introdução do Relatório Apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Dr. Pedro de Toledo Ministro de Estado da agricultura, Indústria e Comércio no ano de 1913. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1913.

Câmara, Anfilóquio. Cenários Municipais (1941-1942). Natal: Oficinas do D.E.I.P, 1943.

Da Fonseca Cardoso, F. B. Poços Tubulares Construídos no Brasil. Revista Águas Subterrâneas, 2008.

Estado do Rio Grande do Norte. Atos Legislativos e Decretos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte 1909. Natal: Tipografia d’A República, 1910.

______, Atos Legislativos e Decretos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte 1910. Natal: Tipografia d’A República, 1911.

_____, Mensagens lidas perante o Congresso Legislativo do Estado na Sessão extraordinária de janeiro de 1905 segunda sessão da quinta Legislatura a 14 de julho do mesmo ano pelo governador Augusto Tavares de Lyra. Natal: Tipografia d’A Rpública, 1906.

______, Mensagem lida perante o Congresso Legislativo do Estado na abertura da Terceira Sessão da Quinta Legislatura a 14 de julho de 1906 pelo Governador Augusto Tavares de Lyra. Natal: Tipografia d’A República, 1907.

_____, Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da Terceira Sessão da Oitava Lesgislatura em 1º de novembro de 1915 pelo governador Desembargador Joaquim Ferreira Chaves. Natal: Tipografia d’A República, 1915.

______, Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da Primeira Sessão da nova Legislatura em 1 de novembro de 1916 pelo governador Desembargador Joaquim Ferreira Chaves.Natal, 1916.

______, Mensagem lida perante a Assembleia Legislativa na abertura da Primeira Sessão da [...] Legislatura em 1º de outubro de 1927 pelo presidente José Augusto Bezerra de Medeiros.Natal: Tipografia d’A República, 1927.

Jornais

A Noite. Suplemento: Seção de Rotogravura, Rio de Janeiro-RJ.

A República, Natal-RN.

Diário de Natal, Natal-RN.

Diário de Noticias, Rio de Janeiro- RJ.

Gazeta do Natal, Natal-RN.

Jornal do Recife, Recife-PE.

O Poti, Natal-RN.

 



[1] Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia, 1906, p.25.

[2] Atos Legislativos e Decretos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, 1909, p.100.

[3] Op.Cit., 1910, p.13.

[4] Da Fonseca Cardoso, F. B. Poços Tubulares Construídos no Brasil. Revista Águas Subterrâneas, 2008.

[5] Jornal do Recife, 19/01/1879, p.2.

[6] Atual cidade de Bento Fernandes.

[7] A República, 20/07/1907, p.1.

[8] Op.Cit. 12/08/1907, p.1.

[9] Relatório do Ministério da Agricultura, 1908, p.285.

[10] Op.Cit., p.286.

[11] Relatório do Ministério da Viação e Obras Públicas, 1913, p.819.

[12] Gazeta de Noticias 20/11/1917, p.6.

[13] Relatórios do Presidente do Estado do Rio Grande do Norte, 1915, p.21.

[14] Local situado entre os municipios de Taipu e Touros, atualmente entre os municipio de Taipu e Pureza.

[15] Mensagem do Presidente do Estado do Rio Grande do Norte, 1927,  p.145.

[16] Op.Cit., 1916, p.13.

[17] A Noite: Suplemento: Secção de Rotogravura (RJ), 19/01/1935, p.4.

[18] Mensagem do Presidente do Estado do Rio Grande do Norte, 1927, p.133.

[19] Gazeta do Natal, 01/06/1889, p.2

[20] A República, 26/03/1890, p.3.

[21] Almanaque Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial, 1913, p.93.

[22] Câmara, Anfilóquio. Cenários Municipais, 1943, p.395

[23] Op.Cit.

[24][24] Atual cidade de Bento Fernandes.

[25] Atualmente distrito do municipio de Bento Fernandes.

[26] Op.Cit, p.392.

[27] Diário de Natal, 03/05/1952, p.1.

[28] Op.Cit.

[29] O Poti, 17/09/1954, p.3.

[30] Diário de Natal, 25/04/1967, p.3.

[31] Diário de Natal, 01/06/1967, p.5.

[32] O Poti, 1982, p.12.

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