sábado, 3 de junho de 2023

SOBRE O IMBRÓGLIO POLÍTICO EM TORNO DA INAUGURAÇÃO DA PREFEITURA DE BAIXA VERDE


 Prolegomenos

Em 07/07/1934 o Jornal do Recife publicou uma entrevista feita com João Câmara, superintendente da firma comercial e industrial que levava seu nome e chefe político em Baixa Verde e região do Mato Grande o enxerto a  baixo foi a introdução da referida entrevista a qual foi realizada na sede da firma em Baixa Verde cujos jornalistas ali chegaram "após uma estafante viagem de automóvel.

“O Dr. João Câmara é, no Rio Grande do Norte, uma exposição de natural preponderância na vida política e comercial. Homem de trabalho e ação, com uma atividade à americana, nos seus negócios João Câmara construiu na sua terra, um empório comercial agrícola, que é Baixa Verde, centro de intenso progresso e relevante destaque na terra Potiguar”.

“Fomos encontrá-lo em Baixa Verde, após uma estafante viagem de automóvel. O Sr. João Câmara, com seu cavalheirismo proverbial e com a sua reconhecida bondade, recebeu-nos gentilmente e se prontificou logo a conceder a entrevista para o Jornal do Recife”.

Demissão de José Carrilho da Fonseca e nomeação de Odilon Cabral de Macedo

De acordo com João Câmara em entrevista ao Jornal do Recife, quando o interventor Mario Câmara assumiu o governo encontrou na direção do municipio de Baixa Verde José Carrilho da Fonseca, elemento estranho e posto à frente da prefeitura contra a vontade do povo pelo governo Bertino Dutra.”Esse prefeito fez administração desastrada e política de exclusivismo e paixões, cercado de auxiliares estranhos também ao municipio, capazes de todos os desatinos”, disse João Câmara.

         O interventor Mário Câmara, conhecedor dessa situação de anomalia, procurou fazer uma visita ao municipio onde assistiu de perto os desmandos do aludido prefeito.

         Pressentindo que a situação era insustentável, o interventor pediu a João Câmara que indicasse uma pessoa capaz de dirigir com senso e aptidões verdadeiras o municipio de Baixa Verde.

João Câmara respondeu ao interventor que só poderia escolher dentre os seus amigos, no que o interventor concordou, fazendo João Câmara então a indicação de Odilon Cabral de Macedo, que segundo João Câmara conseguiu restabelecer a ordem e o progresso do municipio.

A construção do prédio da prefeitura de Baixa Verde

         João Câmara disse que o novo administrador além de muito que realizou, sentindo a necessidade de tinha de um prédio próprio para a prefeitura, o quartel e almoxarifado e não possuindo a prefeitura fundos necessários para uma obra assim de tanta relevância, comunicou a ele seus planos e imediatamente ordenou João Câmara que a firma da qual era chefe –João Câmara & Irmãos – pusesse a disposição da prefeitura a importância de r$ 36:000$000 sem juros e para pagamento quando a mesmo estivesse em condições.

         O edificio da prefeitura custaria o dobro da quantia emprestada se fora o absoluto critério com que foi construído, disse João Câmara.

Convite de Odilon Cabral ao interventor para inaugurar a prefeitura de Baixa Verde

         Com a conclusão da construção, o prefeito Odilon Cabral foi a Natal onde convidou o interventor Mário Câmara para que marcasse o dia da inauguração do prédio da prefeitura de Baixa Verde, declarando o interventor não ser possível se afastar da sede do governo dentro de 8 ou 10 dias, e que o prefeito retornasse que logo lhe fosse possível marcaria o dia para a inauguração em apreço.

         João Câmara e seus amigos se reuniram para oferecer ao interventor Mario Câmara um banquete de 50 talheres, sem cor política e sem compromissos partidários, apenas como uma homenagem ao Chefe do Estado, no dia em que ele fosse para a aludida inauguração.

Odilon Cabral de Macedo é surpreendido com a noticia de sua demissão

         Voltando Odilon Cabral ao municipio de Baixa Verde foi surpreendido com a noticia divulgada por elementos do Partido Social Nacionalista, de que seria demitido com as demais autoridades e que a prefeitura seria inaugurada por membros daquele partido, os quais eram inimigos políticos e pessoais tanto de Odilon Cabral como de João Câmara,visto ter sido negociado um acordo com o interventor, com a condição de serem demitidos os elementos do Partido Popular e passassem o Partido Social Nacionalista a ocupar os respectivos cargos.

A demissão de Odilon Cabral de Macedo se confirmou

Sabedor dessa noticia, o prefeito Odilon Cabral voltou imediatamente a Natal pelo primeiro trem que partiu de Baixa Verde. Lá chegando procurou se encontrar com o interventor, a titulo de visita, tendo Mário Câmara ido ao seu encontro, dizendo-lhe que pretendia fundar um partido político no Estado, e que nesse caso, precisaria dos seus serviços para chefiar a nova corrente política em Baixa Verde.

Odilon Cabral disse então que na qualidade de prefeito estava com Mário Câmara, mas que politicamente dentro do municipio nenhum elemento tinha e que sendo nomeado por indicação de João Câmara a pedido dele de forma alguma chefiaria um partido político de oposição a João Câmara.

Mário Câmara não se conformou com as alegações de Odilon Cabral e insistiu para que ele refletisse e chefiasse o seu partido em Baixa Verde.

         Odilon Cabral mostrou-se irredutível no seu ponto de vista e o interventor declarou se preciso dessa maneira modificar a situação do municipio,no que Odilon Cabral pôs imediatamente nas mãos do interventor o cargo de prefeito que estava ocupando em Baixa Verde.

         Mário Câmara pediu ao prefeito demissionário que inaugurasse a prefeitura, que era o resultado do seu esforço à frente da administração do municipio e que ele como elevação de vistas, com senso e honestidade também soube conduzir, no que não foi nem podia ser atendido por Odilon Cabral de Macedo, que disse ao interventor não ter feito mais nem menos ao municipio do que ter cumprido o seu dever e que a inauguração deveria ser feita com seus atuais correligionários, “que francamente, não sei se os são, dado o que aqui [em Baixa Verde] diziam de s. exc., até as vésperas da negociação em apreço”, disse João Câmara.

Demissão do prefeito de Taipu em solidariedade ao seu colega de Baixa Verde

         Em solidariedade ao prefeito de Baixa Verde o prefeito de Taipu, Rosendo Leite da Fonseca, também pediu demissão do cargo, pois era igualmente do mesmo grupo político de João Câmara.

Renomeação de Odilon Cabral de Macedo

         Os ânimos parecem que já tinham se acalmado em 03/11/1935 pois naquele dia Odilon Cabral de Macedo foi renomeado para o cargo de prefeito de Baixa Verde.

         Quanto ao prédio da prefeitura não sei quem de fato o inaugurou.





Prefeitura de João Câmara (ex BaixaVerde),2023


Edificio da prefeitura de Baixa Verde em 1945.

João Câmara em 1934.


Fonte: Jornal do Recife, 07/07/1934, p.2.Fotos: Revista Vamos Lêr!, 1945, p.56. Diário da Manhã, 15/04/1934,p.38.

sábado, 19 de novembro de 2022

O CENTENÁRIO DA ESTAÇÃO DE PEDRO AVELINO

 


Em 08/01/1922 foi inaugurada a estação da então povoação de Gaspar Lopes, posteriormente Epitácio Pessoa e atual cidade Pedro Avelino, portanto, há 100 anos. Eis a seguir a história dessa estação.

Em 1914 foi autorizada pelo Governo Federal a construção do ramal de Macau na Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, cujo traçado partindo de Lajes deveria atingir a cidade portuária de Macau.

         Foi uma construção demorada e por diversas vezes paralisadas por falta de recursos, até então que no inicio da década de 1920 a construção tomou impulso por meio da determinação do então presidente da República, o paraibano Epitácio Pessoa.

         As obras de construção da estação de Gaspar Lopes ao que tudo indica se iniciaram em 1921, pois de acordo com o relatório do ministério da viação e obras públicas ela já é citada naquele ano. ”Foi feita a construção de desvios e de um triângulo de reversão na estação Epitácio Pessoa”. (Relatório do Ministério da Viação e Obras Públicas, 1921, p.258).

A inauguração

         A inauguração dos primeiros 27 km dos mais de 80 km que deveria ter o referido ramal  entre Lajes e Macau ocorreu em 08/01/1922.

         Naquele dia foi inaugurada a estação da então povoação de Gaspar Lopes, do município de Angicos, que em homenagem ao presidente da República que possibilitou as obras de construção do trecho ferroviário até aquela povoação teve seu nome alterado naquele mesmo ano para Epitácio Pessoa.

          O Diário de Pernambuco registrou a solenidade de inauguração da estação de Gaspar Lopes na edição do dia 20/01/1922.

De acordo com o citado jornal, as 08h00 do dia 08/01/1922 partiu de Natal o trem especial, levando o governador do Estado, com suas casas civil e militar, desembargadores do Superior Tribunal de Justiça, Henrique Castriciano, vice governador; Teotônio Freire, juiz seccional; autoridades estaduais e federais, representantes da imprensa, funcionários da EFCRGN, etc., viajando em carro anexo a banda de música do Batalhão de Segurança.

         Em Taipu, o trem especial ainda recebeu mais convidados. Chegados a Baixa Verde, realizou-se um lauto almoço, servido por senhoras e senhoritas daquela povoação.

Na estação de Jardim subiram mais convidados no trem e chegando a vila de Lajes, a estação já estava apinhada de cavalheiros. Houve ali uma pequena demora onde novos convivas tomaram o trem e recomeçando a marcha.

         As 15h50 o trem especial se aproximou da estação de Epitácio Pessoa.

        Uma girândola fendeu os ares e vivas foram erguidos dr. Ferreira Chaves, ao governador Antonio de Souza, ao presidente Epitácio Pessoa e ao engenheiro da EFCRGN João de Sá e Benevides.Ao descer do carro o governador enquanto a banda executava  o hino do Estado, a multidão aclamava-o.

A seguir dirirgiram-se todos a uma vasto salão da estação, vistosamente decorado, destacando-se a bandeira nacional.Ali fora servido uma taça de champagne, falando o engenheiro João Benevides, que disse do seu prazer por aquele fato, exaltando as qualidades do presidente Epitácio Pessoa e do governado Antonio de Souza, a quem brindou.

         O governador agradeceu o brinde e lembrou o grande progresso que realizava aquele ato, falando ainda sobre o nordeste, suas necessidades, bem conhecidas pelo presidente da República, na qualidade de filho da zona flagelada pelas secas.

       O Sr. Luiz Fassino de Menezes fez então um discurso, em nome do povo do lugar, expressando a satisfação de todos pelo passo que se dava em Gaspar Lopes, doravante Epitácio Pessoa.Depois disto, o governador com sua comitiva, fez um passeio ao povoado que apresentava muitas possibilidades de progresso.

         A comitiva pernoitou em Baixa Verde  e no dia seguinte regressaram, "todos satisfeitos da viagem e do acolhimento que tiveram em todo o seu percurso". (Diário de Pernambuco, 20/01/1922, p.4).

Segundo  o jornal O Paíz o diretor da EFCRGN, engenheiro João Sá e Benevides, deu a festa de inauguração da estação de Gaspar Lopes um caráter festivo muito atraente.(O Paíz,12/01/1922,p.2).

A repercussão

         Os jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro registraram a inauguração da estação de Gaspar Lopes.

         Segundo o Correio Paulistano: “NATAL, 9 (A)- Inaugurou-se ontem o trecho da Estrada de Ferro Central [do Rio Grande do Norte] de Lajes a Gaspar Lopes, com um percurso de 27 quilômetros. A Estação da povoação de Gaspar Lopes recebeu o nome de estação Epitácio Pessoa”.(Correio Paulistano, 10/01/1922, p.2.O grifo é nosso).

         Ainda segundo o citado jornal o governador do Estado, acompanhado de sua casa civil e militar e de outras autoridades e representantes da imprensa, compareceram ao ato da inauguração, pronunciando um discurso ao mesmo alusivo.Era o governador a época Antonio de Souza Melo. Respondeu ao discurso diretor da EFCRGN, o engenheiro Sá e Benevides.

         Já o jornal carioca O Paíz assim registrou acontecimento: “O Sr. Ministro [da justiça] recebeu ontem do doutor Sá e Benevides, diretor da Central do Rio Grande do Norte, um telegrama, comunicando haver concluído um trecho de 27 quilômetros do ramal de Macau e ter inaugurado, como presença do governador do Estado e pessoa gradas, a estação Epitácio Pessoa”. (O Paíz, 14/01/1922, p.3.Grifo nosso).

         O teor completo do telegrama recebido pelo ministro foi publicado pelo O Jornal, segundo o qual: ”tenho a honra de comunicar a v.ex. que depois de oito anos de paralisação da linha em Lajes, atendendo às justas aspirações dos sertanejos, pude realizar economias na verba de custeio do tráfego e assim concluir a construção de um trecho de 27 quilômetros do ramal de Macau. Com a presença do governador do Estado, chefes das repartições e avultado número de pessoas, acabo de inaugurar, com solenidade a estação de ‘Epitácio Pessoa’, tributo de respeito e gratidão dos habitantes de uma florescente vila sertaneja e de reconhecimento da política que v. ex patrioticamente dirige ao benemérito padroeiro dos filhos do nordeste. Queira v. ex. aceitar minhas cordiais congratulações”. (O Jornal, 14/01/1922, p.3).

Naquele mesmo ano de 1922 a construção prosseguiu até  o povoado de Carapebas, atual cidade de Afonso Bezerra, tendo sido feito os estudos de uma variante de 4 km, no sentido de aproximar a linha daquele povoado, e sendo aproveitado o trecho, já quaser concluído, na extensão de 10,260 km além da estação de Epitácio Pessoa.

A importância da estação para o crescimento de Epitácio Pessoa

        A povoação de Epitácio Pessoa prosperou graças ao cultivo do algodão em seu território, sobretudo pela firma João Câmara & Irmãos, que mantinha ali uma filial daquela grande empresa sediada em Baixa Verde, atual João Câmara.

     A estação ferroviária em muito contribuiu para o crescimento e desenvolvimento da povoação por que por meio dela eram exportados os produtos da cotonicultura e demais produtos agrícolas que ali se cultivavam.Além disso, o transporte de passageiros contribuiu para alargar os horizontes da população da florescente povoação de Epitácio Pessoa.

      Outra finalidade social desenvolvida pela estação ferroviária de Epitácio Pessoa foi assistência aos flagelados da seca do ano de 1937.

        Naquele ano o governador Rafael Fernandes recebeu telegrama enviado da povoação de Epitácio Pessoa, informando que em consequência da seca ali reinante, já se verificavam mortes por fome.

         O povo faminto, havia atacado vários casas comerciais, a fim de obter viveres.A ordem foi restabelecida a grande custo pelas autoridades.A população de Epitácio Pessoa sofria também os horrores da sede, faltando água numa vasta extensão dos arredores.A pequena quantidade de água que ali chegava era levada pelo trem da EFCRGN, a uma distância de 150 km, ainda assim uma lata d’água de 5 litros era vendida a 2$000.(Correio de S. Paulo, 29/03/1937, p.1).

         A água era levada pelos trens que eram abastecidos com água da lagoa de Estremoz e distribuída para a população.

O municipio

         De  acordo com o jornal A Ordem em 29/10/1937 o governador do Estado assinou o decreto elevando a categoria de vila a povoação de Epitácio Pessoa. (A Ordem, 29/10/1937, p.2).Segundo um artigo publicado no jornal Diário de Noticias em 12/06/1937 a povoação de Epitácio Pessoa, no municipio de Angicos, servida pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, se desenvolvia animadoramente em qualquer aspecto em que se procurava encará-la.

       Dispunha de magníficas possibilidades agrícolas, já pelo espírito progressista de seu povo, já pela fertilidade de seu solo, o antigo povoado de Gaspar Lopes se desenhava aos olhos de quem o visitava como um recanto de prosperidade e de grandeza.

         A povoação de Epitácio Pessoa distava de Angicos, a sede municipal, 38 km e possuía vários prédios importantes, dentre os quais destacava-se as Escolas Reunidas, as Usinas de Algodão pertencentes a Sinbra e a firma João Câmara & Irmãos e o mercado público, que acabava de passar por uma reforma graças a visão administrativa do prefeito de Angicos, Baltazar Pereira.

         Entretanto,como acontecia relaitivamente a outros povoados de Angicos, o de Epitácio Pessoa tinha seu valor na agricultura, sendo sem contestação, a mais agrícola de todas as povoações do municipio.Ali plantava-se com muito êxito o algodão mocó e o verdão, e especialmente na chapada da Serra Verde, que ficava ao lado da povoação.

      Um problema, porém, estava a exigir a atenção do governo, para que melhores possibilidades pudesse atingir Epitácio Pessoa o grau de desenvolvimento que lhe estava reservado, que era a falta d’água.

         Conforme vinha sendo demonstrado, o único remédio para sanar esse mal, que aquele ano de 1937 atingira proporções assustadoras, era a construção do açude a 2 km da povoação, cujo projeto se encontrava nas mãos do ministro da viação para os devidos fins.Satisfeita essa aspiração, não se tinha dúvida que Epitácio Pessoa continuaria a progredir sucessivamente, para maior grandeza do municipio de Angicos e do Rio Grande do Norte, dizia o referido artigo. (Diário de Noticias, 12/06/1937, p.37).

        O distrito foi criado com a denominação de Epitácio Pessoa, pelo decreto estadual nº 603, de 31/10/1938, subordinado ao município de Angicos e elevado à categoria de município com a denominação de Pedro Avelino, pelo decreto estadual nº 146, de 23/12/1948, desmembrado de Angicos,com sede no então distrito de Pedro Avelino, ex-Epitácio Pessoa e instalado em 01/01/1949.

         A partir daquele ano a estação também teve o nome alterado para o do municipio que fora criado.O municipio está a 158 km de distância de Natal, a capital do Estado.

A desativação da estação

         A estação de Pedro Avelino foi desativada para o tráfego de passageiros em 1977 e para o de cargas em 1998, desde então ficou sem utilidade e em virtude da ação do tempo veio a se deteriorar quando veio ruir parcialmente em meados dos anos 2000.

           A baixo imagens da estação em estado de ruína.

    







O tombamento

         O Prédio da Estação Ferroviária, em Pedro Avelino, foi tombado pela Fundação José Augusto por sua importância cultural para o Estado do Rio Grande do Norte em 06/09/2006.

A recuperação

      Em 2013 foi anunciado pela prefeitura de Pedro Avelino que o prédio da estação ferroviária da cidade seria recuperado por meio de um acordo e convênio como o Governo Federal, tendo sido este o primeiro passo para a preservação do monumento histórico que em muito contribuiu para o crescimento socioeconômico da atual cidade de Pedro Avelino.

      O local daria lugar a um Centro Cultural tendo a obra sido orçada em R$ 341.250,00 disponibilizada pelo Ministério do Turismo em 2013.

     

        A seguir imagens da estação em reformas em 2015.



     As obras foram concluídas em 2016 e no ano seguinte a estação ferroviária de Pedro Avelino foi entregue novamente a serventia pública como um centro cultural.

       A lei municipal Nº 762-2018 da prefeitura de Pedro Avelino denominou a Casa de Cultura Estação Ferroviária  Manoel Valério ao prédio da antiga estação ferroviária de Pedro Avelino.

      De acordo com a referida lei o antigo prédio que fora recuperado com recursos federais tinha por objetivo abrigar atividades e projetos da cultura local.A Casa de Cultura Estação Ferroviária Manoel Valério está situada na rua Epitácio Pessoa, na cidade de Pedro Avelino.

       Nas imagens que se seguem a estação já recuperada e entregue a serventia pública.











quinta-feira, 3 de novembro de 2022

A VISITA PASTORAL DO BISPO DA PARAÍBA A TAIPU EM 1903

 

         E quando menos esperamos encontramos um verdadeiro achado arqueológico para a história de Taipu.Trata-se da visita pastoral de Dom Adauto de Miranda Henriques, bispo da então Diocese da Paraíba, da qual o Rio Grande do Norte fazia parte de sua jurisdição.

         De acordo com o jornal A Imprensa, órgão hebdomadário do Mosteiro de São Bento da Paraíba, atual João Pessoa, o bispo diocesano no afã de visitar todas as paróquias de sua Diocese resolveu seguir no principio de junho de 1903 para concluir o ciclo de sua Visita Pastoral.(A Imprensa,01/03/1903,p.3-4). O itinerário constava de visitas as paróquias do sertão paraibano, sertão, seridó, região central e litoral potiguar.

         No tocante ao itinerário do Rio Grande do Norte constava a visita do referido bispo aos seguintes lugares: Serra Negra do Norte, Jardim de Piranhas, Caicó, São Miguel do Jucurutu, Flores (atual Florânea), Jardim (atual Jardim do Seridó), Acari, Currais Novos, Angicos, Jardim de Angicos, Touros, Taipu, Ceará-Mirim e Macaíba, das quais Flores, São Miguel de Jucurutu e Taipu não eram paróquias.

          Em  07/06/1903 o referido jornal registrou que  Dom Adauto de Miranda Henrique havia decidido empreender a Visita Pastoral que tinha adiado.De acordo com o jornal citado: “é verdade que o tempo é difícil, mas S.Exc. ardente em desejos de levar o pão do conforto espiritual a seus caros filhos longe das mais longas distâncias do alto sertão não trepida diante dos sacrifícios”.( A Imprensa, 07/06/1903, p.2).

          As dificuldades do tempo a que aludia o jornal era a seca que grassava em boa parte do percurso escolhido pelo bispo para realizar sua visita, no entanto, o mesmo jornal dizia que o povo desejava sofregamente a visita.

        Sendo assim, o bispo diocesano saiu da capital paraibana em 11/06/1903, tendo a sua Visita Pastoral iniciada oficialmente no dia 14/06/1903 e concluída em 06/09/1903.Não encontramos os dias em que Dom Adauto esteve em Taipu, mas de acordo com a sequência dos lugares os quais seriam por ele visitado, a visita a Taipu possivelmente ocorreu em entre meados de agosto e o inicio de setembro de 1903.

       Na comitiva do bispo estavam os padres Inácio de Almeida, que também era jornalista e José Tomás, potiguar de Alexandria que mais tarde viria a ser o  primeiro bispo da Diocese de Aracajú-SE.

       Do resultado da visita pastoral de Dom Adauto de Miranda Henriques em Taipu consta da realização de 1.560 crismas, distribuídas 987 comunhões e realizados 77 casamentos de pessoas concubinadas. (A Imprensa, 27/09/1903, p.3).

         De Taipu o bispo seguiu para a paróquia de Touros passando por Maxaranguape e retornando pela paróquia de Ceára-Mirim.

         Essa foi a segunda vez que um bispo visitou Taipu, tendo sido a primeira em novembro de 1839, pelo bispo de Olinda, Dom João da Purificação Marques Perdigão, portanto, um espaço de tempo de 54 anos separam ambas as visitas pastorais.

         Nestes 54 anos muita coisa havia mudado em Taipu. Na primeira visita pastoral a vila se quer existia, nesta segunda a vila constituída em 10/03/1891 era a sede municipal. Na primeira visita foi dada pelo bispo de Olinda a autorização para se construir a capela de Nossa Senhora do Livramento, nesta segunda visita, a capela já estava concluída e apta a realizar todas as funções litúrgicas como visto do resultado da visita pastoral de Dom Adauto.

         Outro fato histórico liga Dom Adauto a Taipu, posto que foi ele quem transferiu a sede da paróquia de Ceará-Mirim para a capela de Taipu entre julho de 1896 e agosto de 1897.

         Do itinerário desta visita de Dom Adauto no Rio Grande do Norte o referido jornal só registrou a visita a paróquia de Caicó e os resultados gerais da mesma.

         Dom Adauto de Miranda Henriques fez um percurso de 248 léguas a cavalo.

Dom Adauto de Miranda Henriques
(Areia, 30/08/1855 —João Pessoa, 15/08/1935).


sábado, 29 de outubro de 2022

ATA DE INSTALAÇÃO DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO DE NOVA CRUZ

 

Em 28/01/1900 o jornal paraibano A Imprensa publicou a ata de instalação do Apostolado da Oração da paróquia de Nova Cruz. A época a paróquia pertencia a Diocese da Paraíba. Eis a seguir o teor da referida ata.

Ata  da instalação do Apostolado da Oração e Liga do Sagrado Coração de Jesus na Igreja Matriz da Freguesia  de Nossa Senhora da Conceição de Nova Cruz

Aos dezessete de Dezembro de mil oitocentos e noventa e nove, pelas cinco e meia horas da tarde, o Rvm. Vigário,na Igreja Matriz, perante muitos fiéis, declaro instalada esta freguesia de Nova Cruz, a grande obra do Apostolado da Oração, a grande obra do Apostolado da Oração e a Liga do Sagrado Coração de Jesus, tendo como centro a Matriz da mesma freguesia.-Ao ato, que foi precedido de uma tríduo em honra e glória do Sagrado Coração de Jesus, durante cujos exercícios o Rvm. Vigário explicou a origem, fins, graus e vantagens do Apostolado da Oração, além de muitos fiéis tomaram parte os associados instaladores que [ilegível] previamente pelo santo tribunal da penitência no mesmo dia as dez horas da manhã, se confortaram com um delicioso manjar dos Anjos, recebendo o dulcíssimo Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento do Altar.

A hora marcada o Rvm. Vigário, Diretor Local, procedeu a benção das medalhas, coroas e bentos e fazendo a chamada das Zeladoras e mais associados, entregou a cada uma das Zeladora e associados seus respectivos títulos e insígnias, depois do que prostradas em frente do Sagrado Coração de Jesus, a Secretária Zeladora leu o ato da Consagração e em seguida foi entoada a Ladainha, terminando todo o ato coma Benção do Santíssimo Sacramento.

 Foi assim instalada a grande obra do Apostolado da Oração e Liga do Sagrado Coração de Jesus naquela igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição de Nova Cruz, tendo sido eleitas as Exmas. Sras. Emidia Ferreira Mouzinho, secretária zeladora; Maria Alipia de Alustão, tesoureira zeladora; Ambrozina Maria Alves Pereira, zeladora.

E para constar, eu Emidia Ferreira Mouzinho, Secretária Zeladora a escrevi.

Vila de Nova Cruz, 17 de Dezembro de 1899.

Vigário Tomás de Aquino.

Diretor Local.

Emidia Ferreira Mouzinho.

Secretária Zeladora.

Maria Alipia de Alustão.

Tesoureira Zeladora.

Ambrozina Maria Alves Pereira.

Zeladora.

Fonte: a imprensa, 28/01/1900, p.3.

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Assim, o Apostolado da Oração é uma associação religiosa que existe naquela paróquia de Nova Cruz desde 17/12/1899.







A INSTALAÇÃO DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO DE CEARÁ-MIRIM E A CONCLUSÃO DA MATRIZ


“Uma nova era de bênçãos e felicidades acaba de descortinar-se para a vasta paróquia”.Assim iniciou o artigo publicado no jornal A Imprensa a respeito da instalação do Apostolado da Oração em Ceará-Mirim.

         De acordo com o referido jornal a providencial obra do Apostolado da Oração que tantos benefícios vinham já derramando em muitas paróquias para a gloria de Deus e salvação das almas, e que há algum tempo constituía o mais suspirado desideratum (desejo) do povo católico do Ceará-Mirim, foi instalada naquela cidade no dia 01/01/1900 por entre as mais genuínas expressões de uma santo contentamento.

         Celebrava-se pela mesma ocasião a festa do Orago, a excelsa Virgem da Conceição, que fora transferida para aquele dia por causa dos trabalhos da matriz.

Os trabalhos da matriz

         De há muito os cearamirinenses se esforçavam correspondendo ao apelo de seu zeloso e ativo pároco, por preparar de um modo condigno da majestade do culto divino a sua matriz, e apesar da crise que naqueles anos vinha atravessando, conseguiram fazer, se não todo o trabalho complementar, ao menos uma grande parte de serviços que muito melhorariam as condições do majestoso templo, aquele ano já reconhecido como um dos primeiros do norte do Brasil.

         O jornal tecia elogios a comissão encarregada das obras da matriz, que não tinha poupado sacrifícios no intuito de bem desempenhar sua tarefa, assim como a todos que concorreram com seu generoso óbolo para a decoração da daquela igreja.

         Os trabalhos realizados na igreja matriz de Ceará-Mirim  necessários a celebração da festa da padroeira  e instalação do Apostolado da Oração terminaram no dia 30/12/1899 e no dia seguinte, a tarde teve lugar a novena cantada em honra da Imaculada Conceição, encerrando-se o ato com a benção do S.S.Sacramento.

A festa da padroeira

         Raiando a aurora do dia 01/01/1900 muitos eram os trabalhos a vencer nesse dia.

     Pelas 06h30 da manhã chegou o cônego  Fernando Lopes e Silva, vice-diretor diocesano do Apostolado da Oração, que celebrou,as 07h00, a missa no altar do Sagrado Coração de Jesus,magnificamente decorado e iluminado, e distribuiu a comunhão a cerca de 100 pessoas. Durante a missa foram entoados ao som do órgão, maviosos hinos sacros.

         As 08h00 o vigário de Touros, o Pe. Frederico Câmara, celebrou no altar-mor, distribuindo ainda a sagrada comunhão a diversas pessoas.As 09h00, no patamar da igreja matriz procedeu-se a benção dos 2 novos e grandes sinos que haviam chegados recentemente do Recife, assistido por 3 seminaristas e muitas pessoas que formavam uma grande e compacta multidão de povo.

A  instalação do Apostolado da Oração

         As 10h30 começou a cerimônia da instalação do Apostolado da Oração.O Diretor local, o vigário Paulino Duarte, paramentado para a missa solene, subiu ao altar-mor juntamente com os padres Frederico Câmara, servindo como Diácono, e o Diácono Agnelo Fernando de subdiácono, dirigiu a cerimônia o cônego Lopes.Em seguida, este em nome do diretor local, declarou instalado na paróquia o Apostolado da Oração e fez a chamada das pessoas nomeadas para os cargos de zeladores, que foram as seguintes: Maria da Purificação Pereira Wanderley, presidente das zeladoras, Bernadina Carolina Cavalcante Maracajá, secretária, Maria Carolina de Arruda Maracajá, tesoureira; Josefa Maria Cavalcante Rocha, Antonia Emilia Pereira Sobral, Francisca Lidia Pereira Lago; Joaquina Bernadina da Silva, Francisca Senhorinha Barbalho Bezerra; Águeda Ferreira; zeladoras.Francisco das Chagas Fernandes, Leão Fernandes, Manoel do Nascimento Silva, zeladores.

         Ao final foram benzidas pelo Pe. Paulino Duarte as cruzes e medalhas e respectivos diplomas e distribuídas a cada um dos zeladores segundo as formalidades do Manual do Apostolado da Oração.

         Seguiu-se a missa solene, dirigindo a orquestra o hábil e conhecido maestro Luiz Monteiro.

    Ao evangelho fez a pregação o cônego Lopes um substancioso sermão sobre a Virgem Imaculada,sendo ouvido como religioso silencio pelo numeroso auditório que enchia o vasto templo.

         Após a missa solene abriu-se a inscrição para os Associados do Apostolado da Oração, alistando-se no momento 85 pessoas.

A benção da pia batismal

        As  16h00 houve a benção da fonte batismal em uma pia nova de mármore, ofertada a matriz pela Sra. Vitória Duarte, mãe do vigário de Ceará-Mirim.

A procissão 

         As 17h00 desfilou a procissão percorrendo as ruas da cidade as imagens do Sagrado Coração de Jesus, conduzida esta pelas associadas, seguindo-se o Santo Lenho, levado sob pálio.Acompanhava o préstito a filarmônica Cearamirinense, executando diversas peças de seu repertório, e grande concurso de povo que não obstante o mau estado sanitário da cidade por causa da varíola, compareceu em considerável número.

         Ao recolher-se a procissão houve ainda sermão pelo cônego Lopes que dissertou vantajosamente sobre a origem do Apostolado da Oração e convidando todos os católicos a abrigarem-se debaixo da bandeira do Sagrado Coração de Jesus,incitou de modo especial aos zeladores a trabalhar com zelo e denodo na grande obra de salvação das almas.Depois do sermão foram cantadas as ladainhas de Nossa Senhora e o Tantum Ergo.Foi dada a benção com o S.S. Sacramento, exposto na custódia, como término de tão significativa festa que gratas impressões deixou nos corações do povo cearamirinense, produzindo abundantes frutos espirituais.

Elogios a comissão e ao vigário

Não deviam ser olvidados os serviços generosamente prestados pela comissão de festejos nomeada pelo Pe. Paulino Duarte a qual envidou todos os meios para o maior brilhantismo da solenidade.Mostrou-se como sempre incansável o vigário daquela freguesia quer na direção dos trabalhos, quer no confessionário ou em todos os atos da festa.

  A primeira sexta-feira do mês

       No dia 05/01/1900, primeira sexta-feira do mês, houve missa celebrada pelo Pe. Paulino Duarte, diretor local do Apostolado da Oração, no altar do Sagrado Coração de Jesus, acompanhada a hinos sacros, recebendo a sagrada comunhão os zeladores e mais de 50 associados.

         Finda a missa, o vigário fez uma breve prática sobre o amor do Coração de Jesus e deu a benção do S. S. Sacramento.

         Neste dia inscreveram-se ainda muitos associados, elevando-se o número a 131. A tarde teve lugar a primeira reunião do conselho de zeladores, presidida pelo diretor local.

         O jornal referido terminava a narração dizendo: “ queira o admirável Coração de Jesus abençoar e fazer frutificar para sua maior glória a semente plantada nos corações dos cearamirinenses. Laus Deos et Marie”.(A Imprensa, 21/01/1900,p.3).

         Assim, esta associação religiosa existe há 120 anos na paróquia de Ceará-Mirim.

      Naquele ano como visto a cima foram realizados serviços importantes na matriz que se não a deixaram terminada ao menos ao ponto de serem realizadas as celebrações.A matriz de Ceará-Mirim começou a ser erguida em 1865.Naquele ano também foi adquirida a pia batismal de mármore.Não sei se ainda é a mesma, pois há alguns anos recente a matriz passou por uma restauração.