terça-feira, 7 de abril de 2015

Taipu no livro as pelejas de Ojuara de Ney Leandro de Castro ( Parte I)



            O livro As pelejas de Ojuara do potiguar Ney Leandro de Castro conta a história de Ojuara, outrora Araújo, mascate sedutor que em suas andanças pelo interior do estado acaba por se prender a um casamento que o deixa preso a mulher e ao sogro, em bom potiguarês: virou manicaca da mulher, cansado da situação resolve ’matar’ o Araujo e dá vida a Ojuara, Araújo ao contrário. Na pele de Araujo se aventura pelo Rio Grande do Norte onde encontra Bruxos, Valentões, mentirosos, prostitutas, vaqueiros, assombrações entre outros personagens na áspera paisagem do sertão nordestino. O romance também é composto de uma áurea de magia, com cavalos que levantam voo, terras onde corre rios com leite e mel, pavões misteriosos, briga de guerreiros, duelo contra o Príncipe das Trevas.
            O personagem percorre o interior do estado ‘cujo o contorno de um elefante mal ajambrado’ como diz o narrador (p.13) e nessas andanças de cidade em cidade Ojuara passa por Taipu onde “logo na entrada da cidade, o sol já se pondo, Ojuara viu uma nuvem escura encobrir a bola de fogo que incendiava o céu” ( p.175).Tratava-se de uma nuvem de pássaros, mais precisamente de papagaios “ reclamando da vida com seus gritos agudos, se recolhiam aos ninhos”.Taipu era a terra deles” (p. 175).O narrador acrescenta ainda que “todo taipuense tinha ódio de quem chamava sua cidade de terra dos papagaios” (p. 175).
            A lenda  de que Taipu é a  terra dos papagaios é tradicional em todo estado do Rio Grande do Norte.Difícil saber como surgiu essas e outras subsequentes com o tema dos papagaios referentes a Taipu.Ai via minha ignota contribuição para esclarecer tal lenda.Taipu é cortada pelo rio Ceará-Mirim que segundo Câmara Cascudo (2002) significa rio dos papagaios pequenos, ora ocorre que vizinha a Taipu tem um cidade que se denomina justamente com o nome do rio em questão, não deveria ser esta a “terra dos papagaios”? Ocorre que a cidade de Ceará-Mirim sempre foi mais desenvolvida que Taipu que já fora distrito seu e é compreensível que houvesse as comparações entre os dois lugares sendo Ceará-Mirim ‘superior’ a Taipu a população queria sempre se sair na vantagem em relação a Taipu o que lhes dava a alcunha de terra do papagaio.O papagaio é uma ave que imita a voz humana e a repete, daí o termo ser inaceitável por parte da população de Taipu por ser um termo pejorativo em que se quer dizer que o povo de Taipu repete o que os outros dizem, em outras palavras não tem personalidade própria, o que é inaceitável pelos taipuenses.Dai surgiram as lendas em relação a ‘brabeza’ dos taipuenses quando se dizia que Taipu era a terra do papagaio.
            A lenda de Taipu como terra dos papagaios vem de tempos imemoráveis e ninguém sabe ao certo como surgiu tendo inclusive variantes que fogem a veracidade histórica e registrada ao gosto de quem as conta.
             Ney Leandro de Castro inseriu em seu romance a famosa história do homem com o panariço que passava por Taipu no trem onde:
 O homem ia pra Natal de trem, por amor de operar um panariço no dedo fura-bola. Na estação de Taipu, o caningado do panariço doendo que só a gota serena, o homem resolveu botar o dedo pra fora da janela, pra tomar um ventinho e aliviar a dor. Mas em Taipu não é só proibido se falar de papagaio como também é desaforo fazer o gesto com o fura-bolo curvado, a mão fechada, como quem diz me dá o pé, meu loro.
         Pois o homem estava lá, com dedo inchado na janela do trem. Um menino vendedor de rolete de cana, vendo aquele gesto de mangação com sua terra, tacou um porrete em cima do dedo: tribufu!O desgraçado deu um berro do tamanho do trem, foi pus pra tudo que é lado, o carnegão saltou lá fora. Nem precisou ir pra Natal sarjar o panariço. (p. 176).
            E o narrador acrescenta que “Ojuara riu sozinho da desgraça alheia” (p. 176). Pois bem, era assim que a população de Taipu reagia a quem os ofendesse com o gesto do ‘me dá o pé loro’.Como em todo livro que é mutilado quando vira filme a passagem do panariço foi omitida do filme O Homem que desafiou o Diabo de 2007 adaptado do livro em questão.




Fonte:CASTRO, Ney Leandro.As pelejas de Ojuara: a verdadeira história do homem que virou bicho.Natal: A.S.Editores, 2002.

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