quinta-feira, 10 de maio de 2018

UM DOS MAIORES IMBRÓGLIOS POLÍTICOS DE TAIPU


O caso envolvendo o prefeito Geraldo Lins de Oliveira, seu vice Luis Faustino e a Câmara de Vereadores de Taipu entre 1978 e 1979 foi um dos mais emblemáticos conflitos políticos da política local.Enquanto não se resolvia o imbróglio político a cidade estava entregue a própria sorte esperando uma solução.

O caso
Tudo começou quando o prefeito Geraldo Lins teve uma trombose súbita no meio da rua no dia 20/08/1978, levado as pressas para o hospital ficou internado por 26 dias. Enquanto esteve internado a prefeitura foi entregue aos funcionários e de acordo com a lei vigente a época quando o prefeito se ausentasse por mais de 30 dias sem autorização da Câmara de Vereadores perderia o mandato.
No 28º dia alguns vereadores pegaram Geraldo Lins no colo e o levaram a prefeitura, onde assinou o seu ponto, sendo levado a seguir para o hospital onde lá permaneceu por mais 30 dias, segundo o vice-prefeito Luis Faustino do Nascimento e  20 e poucos dias segundo  o prefeito Geraldo Lins e o presidente da Câmara a época José Alves Ribeiro.
Luis Faustino foi aconselhado pelo seu advogado Ney Lopes de Souza e pelo tabelião Aluízio Viana de Miranda a assumir o cargo  enquanto o prefeito se encontrasse ausente, foi o que fez o vice-prefeito com o respaldo  da Justiça.Em contrapartida, os funcionários abandonaram a prefeitura, liderados pela tesoureira, Maria do Livramento Santos e com a ordem da Câmara de Vereadores, fazendo com que Luis Faustino estivesse por mais de 20 dias na prefeitura vazia.
Entrando com uma ação judicial, a Câmara de Vereadores de Taipu, tentou cassar o mandato do vice-prefeito, que por sua vez entrou com um mandato de segurança obtendo na justiça a determinação para que a Câmara  declarasse vago o cargo de prefeito e o empossasse assim como a ilegalidade de qualquer ato da Câmara cassando seu mandato.
A Câmara de Vereadores negou-se a cumprir a ordem judicial alegando que o juiz não tinha poder para cassar o mandato de prefeito mas sim somente a Câmara poderia fazer tal coisa.
Essa era a situação até aquela data. O prefeito Geraldo Lins continuava no cargo e o vice-prefeito havia se mudado para Ceará-Mirim onde aguardava o desenrolar do processo na justiça.
Segundo o ex-presidente da Câmara, José Alves Ribeiro, a Câmara havia impedido a posse do vice-prefeito alegando que este teria invadido a prefeitura enquanto o prefeito Geraldo Lins se encontrava no hospital internado, sem autorização da Câmara.Ele também havia dito que  Geraldo Lins não havia se ausentado por mais de 30 dias, porque sempre aparecia na prefeitura carregado ou não, por volta do 28º dia durante todo tempo em que esteve doente, sendo assim não havia respaldo legal para cassar seu mandato.

Geraldo Lins se defende
Já o prefeito Geraldo Lins alegava que não deu posse ao vice-prefeito Luis Faustino durante o tempo em que esteve doente porque este nunca foi pedir e porque ele poderia voltar logo a assumir a prefeitura segundo lhe afirmavam os médicos.
Geraldo Lins ainda negou ao jornal Diário de Natal que a prefeitura estivessecomandada pela tesoureira Maria do Livramento Santos, que não permitia que o vice-prefeito não assumisse para que este não ficasse sabendo da verdadeira situação da prefeitura e para onde iria o dinheiro dela, negou também que favorecesse alguns vereadores com sistemas de vales para que os funcionários comprassem no comércio mantido pelo presidente da Câmara Walter Soares de Miranda, pelo dobro do preço cobrado em outros locais e que a cidade se encontrasse abandonada porque suas condições físicas não permitiam que ele pudesse administrar com firmeza a prefeitura.
Geraldo Lins afirmou que conservava o senso, que poderia conversar e resolver todos os problemas administrativos como se gozasse de saúde perfeita ‘pois o que é preciso é que o prefeito saiba adinistrar, que tenha o seu senso perfeito, então está apto para governar, e é assim que me encontro’ afirmou Geraldo Lins.
Geraldo Lins disse ainda ao referido jornal que depois de ficar doente já havia feito diversas benfeitorias na cidade, como encomendar água, já que não havia água encanada na cidade, estava construindo um posto de saúde, uma praça e um matadouro.

O contraditório
Contradizendo o que afirmara o prefeito Geraldo Lins o vereador Sebastião Ferreira da Cruz, que apoiava o vice-prefeito Luis Faustino, fez um retrato nada animador da cidade e do município.
Afirmava ele que o município estava entregue a sua própria sorte, pois o dinheiro da prefeitura só beneficiava os vereadores José Alves Ribeiro, Walter Soares de Miranda e Emanoel Romeiro Cavalcanti, que segundo ele, eram os vereadores que mais falavam e combatiam o prefeito, e que depois que ele arranjou uma ‘bocas’ para eles passaram a apoiá-lo.
A cidade quando chovia era lama pura, afirmava o vereador Sebastião Ferreira da Cruz, disse ainda que não havia saneamento básico, rede de esgoto, nem água encanada, sendo esta retirada de cacimbas ou de poço e água para beber e era comprada a Cr$ 15,00 por 40 litros.
As estradas carroçáveis que ligava o município a outros da região estavam se fechando por falta de manutenção, as escolas estavam semi destruídas, o médico que ganhava Cr$ 6.500,00 por mês para vir ao município 4 vezes por mês quando vinha ficava bebendo com uma amiga do prefeito e não atendia ninguém, as ruas estavam cheias de buracos.Segundo o vereador Sebastião Ferreira da Cruz a cidade era a própria imagem do abandono porque o prefeito Geraldo  Lins não tinha mais condições de saúde para administrar estando todas as pessoas que orbitavam junto ao prefeito administrando a prefeitura segundo o vereador.

O que alegava o vice-prefeito
Já o vice-prefeito alegava que ficou provado que não houve arrombamento da prefeitura de sua parte que segundo ele a prefeitura estava constantemente aberta o que fez com que o capitão Galvão  enviado pela Secretaria de Segurança, para constatar o arrombamento, deu até um alerta para o presidente da Câmara Walter Soares de Miranda, dizendo que uma prefeitura não poderia ficar da forma que estava, constantemente aberta, exposta a curiosidade pública, por conter documentos importantes para a cidade, disse Luis Faustino.
Ainda segundo Luis Faustino disse ao jornal Diário de Natal, a cidade se encontrava na maior esculhambação, com todo mundo mandando na prefeitura, porque o prefeito é tão bom que até se torna ruim, porque não conseguia impedir que fizessem com ele tudo o que queriam.
Luis Faustino disse ainda que estavam impedindo que ele assumisse a prefeitura porque era uma pessoa firme, que tinha força, língua afiada e não tinha medo de denunciar o que estava errado. Segundo disse Luis Faustino o dinheiro da prefeitura desaparecia  e ninguém sabia para onde ia, e segundo ele, só poderia saber para onde ia o dinheiro da prefeitura caso ele entrasse na prefeitura, e era por esse motivo que não o deixavam entrar na prefeitura.Para Luis Faustino o prefeito Geraldo Lins não era má pessoa mas que não tinha  mais condições de saúde para administrar.
Luis Faustino aguardava a decisão judicial alegando que estava passando por dificuldades financeiras pois não estava recebendo seu salário de vice-prefeito, alem de muitas pressões que o obrigaram a se mudar para a cidade de Ceará-Mirim.

A cidade
Segundo o jornal a cidade de Taipu era uma cidade quente, esburacada e monótona. Os 15 mil habitantes do município viviam da criação de gado e agricultura de cereais e algodão.Além dos problemas citados pelo vereador Sebastião Ferreira da Cruz, a cidade não oferecia muito o que fazer aos jovens. Não havia cinema, tinha dois clubes que funcionam nos fins de semana com ritmos de discoteca e segundo uma jovem da cidade ‘ a gente só faz fofocar e ver televisão, porque não tem o que fazer’. Os homens trabalhavam, conversavam entre si e jogavam buraco.
A cidade tinha um médico, um hospital maternidade, um dentista que atendia 4 vezes por mês, três grupos escolares, os quais ofereciam ensino de 1º grau [ que segundo o vice-prefeito estavam parados].Não havia água encanada na cidade, sendo esta retirada de um poço movido a moinho de vento, no entanto, o moinho não estava funcionando.

A matéria foi publicada no jornal Diário de Natal em 06/03/1979, p. 7.


Os personagens dessa histórias

Fonte, Diário de Natal, 06/03/1979, p. 7.


OBS. O texto a cima foi a transcrição por nós encontrada da matéria feita pelo referido jornal Diário de Natal o qual havia enviado um repórter para Taipu para cobrir o fato que se desenrolava na cidade o qual gerou uma extensa matéria jornalistica na qual foram expostas as opiniões de todos os lados.
Para efeito de publicação neste nosso blog fizemos uma síntese do que foi publicado no referido jornal, não retiramos nem acrescentamos nada além do que foi escrito no jornal, tão pouco emitimos no texto e pós-texto por nós publicado qualquer opinião ou juízo de valor a cerca do fato relatado ou das pessoas citadas.A intenção foi apenas relatar um fato histórico que é público e notório em Taipu e até hoje lembrado pelas pessoas da época do desenrolar de tais fatos.
Como o espaço é democrático e a finalidade do mesmo é suscitar o debate de ideias as pessoas citadas nesta postagem ou seus familiares tem todo o direito de se manifestarem bastando para isso entrar em contato conosco.

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