A Imperial Estrada de Ferro do Natal a Nova a Nova (após a proclamação da
República foi suprimida a referência ao império) como se sabe foi a primeira
ferrovia a ser construída e inaugurada no Rio Grande do Norte.Sua construção
trouxe um grande entusiamo tanto do ponto de vista politico como econômico,
visto que a época ferrovia era sinônimo de progresso e desenvolvimento.Entretanto,
o entusiamo inicial foi cedendo lugar ao pessimismo e decepção em decorrência
dos déficits que se verificavam nas rendas da citada ferrovia.
         Várias razões convergiam
para a ocorrência dos déficits da Estrada de Ferro do Natal a Nova
Cruz.Tentaremos expor alguns neste artigo.
         Quando a Estrada de Ferro do
Natal a Nova Cruz foi construída e inaugurada o Rio Grande do Norte constituía uma província do Império do Brasil, tendo sido o governo imperial o fiador de sua
construção dando a empresa as garantias de juros para a realização da obra.
         A ferrovia tinha seu ponto
inicial na capital potiguar com destino a então vila de Nova Cruz numa extensão
de 121 km, passando pelas cidades e vilas de São José de Mipibu, Goianinha,
Canguaretama e vários pontos intermediários.A ferrovia cortava os vales dos
rios Pitimbu, Cajupiranga, Capíó, Papari, Cunhaú e Curimataú.
         Ao percorrer a ferrovia em
1889 um cronista da época escreveu “ percorri toda extensão da ferrovia
referida, e posso afirmar, tanto quanto é possível ao meu fraco entender, que a
mesma se acha satisaftória e convenientemente servida de boas estações,
oficinas e mais material necessário, como estrada de bitola estreita, não
conheço cousa melhor nem melhormente servida”. (CIDADE DO RIO,18/05/1889, p.2).
         Se a ferrovia apresentava
uma boa estrutura técnica de tráfego por que então aprestava a mesma déficits econômicos em suas rendas? Vejamos.
O  superintendente da
Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz, o engenheiro inglês John Morant,
apresentou em 12/04/1889 o seguinte relatório sobre as rendas da ferrovia.
 
  | Receitas da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz entre 1886 e 1888 | 
 
  | Ano | 1º semestre | 2º semestre | Total | 
 
  | 1886 | 20.417$910 | 50.250$880 | 70.668$820 | 
 
  | 1887 | 32.836$700 | 45.454$130 | 78.290$810 | 
 
  | 1888 | 29.693$820 | 43.034$250 | 72.728$070 | 
Fonte: Cidade
do Rio,18/05/1889, p.2.
 
  | Despesas da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz entre 1886 e 1888 | 
 
  | Ano | 1º semestre | 2º semestre | Total | 
 
  | 1886 | 105.176$861 | 101.630$591 | 206.807$452 | 
 
  | 1887 | 95.551$688 | 91.275$566 | 192.827$254 | 
 
  | 1888 | 74.380$467 | 77.187$594 | 151.568$061 | 
Fonte: Cidade
do Rio,18/05/1889, p.2.
         Pelo exposto a cima vê-se
que o melhor índice de receita foi verificado no 2º semestre de 1886, já o
maior número de despesa ocorreu  no 1º
semestre do mesmo ano.Analisando o triênio em questão vê-se que a ferrovia
tinha mais despesas que receitas, o que ocasionava constantes déficits em suas
rendas.
A  essa altura se pergunta o leitor quais os
motivos dos déficits.
         Um
dos motivos apontados a época era de que a região atravessada pela ferrovia não
tinha população suficiente para produzir viajantes nos trens, consequentemente,
a renda devida provenientes do transporte de passageiros era minima.
         Outro
motivo era que somente os vales atravessados pela ferrovia eram cultivados, e
apenas em pequena escala, já os tabuleiros entre os pontos cultivados e
população eram estéreis, e por estas razões a região não produzia tráfego suficiente
para auferir rendimentos a ferrovia.
Havia pois vantagem no
desenvolvimento da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz?
         Essa
é a questão que se levanta naturalmente ao ser analisados todos o fatos que contribuíam para o mau desempenho econômico da ferrovia em tela.
         Uma
solução apontada para sanar os déficits orçamentários da Estrada de Ferro Natal
a Nova Cruz era a sua ligação com a Estrada de Ferro Conde D’Eu e a Estrada de
Ferro do Limoeiro, esta na província de Pernambuco e aquela na província da
Paraíba.
         Com
esta ligação acredita-se se produziria um crescimento nas receitas de
passageiros, e também de mercadorias, uma vez que os impostos interprovinciais
fossem abolidos.Outra solução para amenziar os déficts da ferrovia era a
construção da Estrada de Fero de Ceará-Mirim como um ramal da Estrada de Ferro
Natal a Nova Cruz o que deveria produzir bons resultados.
         No
tocante a ligação interprovincial, esta já havia sido prevista no projeto
original da construção da Estrada de Ferro Natal a Nova, cuja a finalidade precípua era tirar a província potiguar do isolamento geográfico ligando-as as
duas províncias mais próximas (Paraíba e Pernambuco), o projeto dessa ligação
foi aprovado em 1884, porém somente foi concretizado em 1904 quando foi
inaugurado o ramal Nova Cruz, no Rio Grande do Norte a Guarabira, na Paraíba,
com extensão de 50 km, tendo sido este ramal construído pela empresa britânica
GWBR que era concessionária de toda a malha ferroviária do nordeste a época,
com sede no Recife.
         Quanto
ao ramal do Ceará-Mirim, este encontrou grandes dificuldades de ser realizados
devido a disputas entre a superintendência da Estrada de Ferro Natal a Nova
Cruz e os concessionários da Estrada de Ferro do Ceará-Mirim que não queira a
obra como simples ramal daquela ferrovia, mas que fosse feita uma ferrovia autônoma como previsto na lei de concessão da mesma em 1870.Além disso outra
questão era a falta de entendimento sobre o traçado da ferrovia para o vale do
Ceará-Mirim a que se sabia era o mais dese volvido e vantajoso para as rendas
provinciais.
         Os
concessionários originais dessa ferrovia queria o traçado partindo da margem
esquerda do rio Potengi num ponto denominado Coroa que ficava em frente a
capital, partindo daí em direção ao vale do rio Ceará-Mirim.
Já  os estudos feitos pela Estrada de Ferro Natal
a Nova Cruz apontava um traçado partindo de um ponto logo após o Rifoles em
Natal indo em direção ao entreposto do Guarapes, passando pelo vale do rio
Jundiaí onde estava a vila de Macaíba dai seguindo em direção a São Gonçalo
para alcançar em seguida o vale do Ceará-Mirim, o qual segundo a superintendência da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz esse traçado traria
maiores vantagens por conectar os vales dos rio Potengi e Jundiaí ao vale do
Ceará-Mirim, onde se encontrava promissoras vilas e povoados densamente
povoados ao passo que o outro traçado somente contemplaria o vale do
Ceará-Mirim, menos povoado.
         Para
se ter uma ideia da demografia da região cortada pela Estrada de Ferro Natal a
Nova Cruz apresentamos a seguir os dados do Censo de 1900.
 
  | Municípios atendidos pela Estrada de
  Ferro Natal a Nova e suas respectivas populações em 1900 | 
 
  | Município | População | 
 
  | Arês | 3.480 | 
 
  | Canguaretama | 6.303 | 
 
  | Cuitezeiras
  (Pedro Velho) | 6.690 | 
 
  | Goianinha | 7.030 | 
 
  | Natal | 16.056 | 
 
  | Nova
  Cruz | 6.485 | 
 
  | Papary
  (Nísia Floresta) | 4.700 | 
 
  | São
  José de Mipibu | 12.046 | 
 
  | Total
   | 62.763 | 
Fonte:  Sinopse do recenseamento de 31 de dezembro de
1900. Repúblca dos Estados Unidos do Brasil. Ministério da Indústria, Viação e
Obras Públicas. Diretoria Geral de Estatística. Volume: 1900. Oficina da Estatística. Rio de Janeiro. p.71-72.