sexta-feira, 4 de setembro de 2020

AS RAZÕES DOS DEFICITS DA ESTRADA DE FERRO NATAL A NOVA CRUZ

    

        A Imperial Estrada de Ferro do Natal a Nova a Nova (após a proclamação da República foi suprimida a referência ao império) como se sabe foi a primeira ferrovia a ser construída e inaugurada no Rio Grande do Norte.Sua construção trouxe um grande entusiamo tanto do ponto de vista politico como econômico, visto que a época ferrovia era sinônimo de progresso e desenvolvimento.Entretanto, o entusiamo inicial foi cedendo lugar ao pessimismo e decepção em decorrência dos déficits que se verificavam nas rendas da citada ferrovia.

         Várias razões convergiam para a ocorrência dos déficits da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz.Tentaremos expor alguns neste artigo.

         Quando a Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz foi construída e inaugurada o Rio Grande do Norte constituía uma província do Império do Brasil, tendo sido o governo imperial o fiador de sua construção dando a empresa as garantias de juros para a realização da obra.

         A ferrovia tinha seu ponto inicial na capital potiguar com destino a então vila de Nova Cruz numa extensão de 121 km, passando pelas cidades e vilas de São José de Mipibu, Goianinha, Canguaretama e vários pontos intermediários.A ferrovia cortava os vales dos rios Pitimbu, Cajupiranga, Capíó, Papari, Cunhaú e Curimataú.

         Ao percorrer a ferrovia em 1889 um cronista da época escreveu “ percorri toda extensão da ferrovia referida, e posso afirmar, tanto quanto é possível ao meu fraco entender, que a mesma se acha satisaftória e convenientemente servida de boas estações, oficinas e mais material necessário, como estrada de bitola estreita, não conheço cousa melhor nem melhormente servida”. (CIDADE DO RIO,18/05/1889, p.2).

         Se a ferrovia apresentava uma boa estrutura técnica de tráfego por que então aprestava a mesma déficits econômicos em suas rendas? Vejamos.

O  superintendente da Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz, o engenheiro inglês John Morant, apresentou em 12/04/1889 o seguinte relatório sobre as rendas da ferrovia.

Receitas da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz entre 1886 e 1888

Ano

1º semestre

2º semestre

Total

1886

20.417$910

50.250$880

70.668$820

1887

32.836$700

45.454$130

78.290$810

1888

29.693$820

43.034$250

72.728$070

Fonte: Cidade do Rio,18/05/1889, p.2.

Despesas da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz entre 1886 e 1888

Ano

1º semestre

2º semestre

Total

1886

105.176$861

101.630$591

206.807$452

1887

95.551$688

91.275$566

192.827$254

1888

74.380$467

77.187$594

151.568$061

Fonte: Cidade do Rio,18/05/1889, p.2.

         Pelo exposto a cima vê-se que o melhor índice de receita foi verificado no 2º semestre de 1886, já o maior número de despesa ocorreu  no 1º semestre do mesmo ano.Analisando o triênio em questão vê-se que a ferrovia tinha mais despesas que receitas, o que ocasionava constantes déficits em suas rendas.

A  essa altura se pergunta o leitor quais os motivos dos déficits.

         Um dos motivos apontados a época era de que a região atravessada pela ferrovia não tinha população suficiente para produzir viajantes nos trens, consequentemente, a renda devida provenientes do transporte de passageiros era minima.

         Outro motivo era que somente os vales atravessados pela ferrovia eram cultivados, e apenas em pequena escala, já os tabuleiros entre os pontos cultivados e população eram estéreis, e por estas razões a região não produzia tráfego suficiente para auferir rendimentos a ferrovia.

Havia pois vantagem no desenvolvimento da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz?

         Essa é a questão que se levanta naturalmente ao ser analisados todos o fatos que contribuíam para o mau desempenho econômico da ferrovia em tela.

         Uma solução apontada para sanar os déficits orçamentários da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz era a sua ligação com a Estrada de Ferro Conde D’Eu e a Estrada de Ferro do Limoeiro, esta na província de Pernambuco e aquela na província da Paraíba.

         Com esta ligação acredita-se se produziria um crescimento nas receitas de passageiros, e também de mercadorias, uma vez que os impostos interprovinciais fossem abolidos.Outra solução para amenziar os déficts da ferrovia era a construção da Estrada de Fero de Ceará-Mirim como um ramal da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz o que deveria produzir bons resultados.

         No tocante a ligação interprovincial, esta já havia sido prevista no projeto original da construção da Estrada de Ferro Natal a Nova, cuja a finalidade precípua era tirar a província potiguar do isolamento geográfico ligando-as as duas províncias mais próximas (Paraíba e Pernambuco), o projeto dessa ligação foi aprovado em 1884, porém somente foi concretizado em 1904 quando foi inaugurado o ramal Nova Cruz, no Rio Grande do Norte a Guarabira, na Paraíba, com extensão de 50 km, tendo sido este ramal construído pela empresa britânica GWBR que era concessionária de toda a malha ferroviária do nordeste a época, com sede no Recife.

         Quanto ao ramal do Ceará-Mirim, este encontrou grandes dificuldades de ser realizados devido a disputas entre a superintendência da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz e os concessionários da Estrada de Ferro do Ceará-Mirim que não queira a obra como simples ramal daquela ferrovia, mas que fosse feita uma ferrovia autônoma como previsto na lei de concessão da mesma em 1870.Além disso outra questão era a falta de entendimento sobre o traçado da ferrovia para o vale do Ceará-Mirim a que se sabia era o mais dese volvido e vantajoso para as rendas provinciais.

         Os concessionários originais dessa ferrovia queria o traçado partindo da margem esquerda do rio Potengi num ponto denominado Coroa que ficava em frente a capital, partindo daí em direção ao vale do rio Ceará-Mirim.

 os estudos feitos pela Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz apontava um traçado partindo de um ponto logo após o Rifoles em Natal indo em direção ao entreposto do Guarapes, passando pelo vale do rio Jundiaí onde estava a vila de Macaíba dai seguindo em direção a São Gonçalo para alcançar em seguida o vale do Ceará-Mirim, o qual segundo a superintendência da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz esse traçado traria maiores vantagens por conectar os vales dos rio Potengi e Jundiaí ao vale do Ceará-Mirim, onde se encontrava promissoras vilas e povoados densamente povoados ao passo que o outro traçado somente contemplaria o vale do Ceará-Mirim, menos povoado.

         Para se ter uma ideia da demografia da região cortada pela Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz apresentamos a seguir os dados do Censo de 1900.

Municípios atendidos pela Estrada de Ferro Natal a Nova e suas respectivas populações em 1900

Município

População

Arês

3.480

Canguaretama

6.303

Cuitezeiras (Pedro Velho)

6.690

Goianinha

7.030

Natal

16.056

Nova Cruz

6.485

Papary (Nísia Floresta)

4.700

São José de Mipibu

12.046

Total

62.763

Fonte:  Sinopse do recenseamento de 31 de dezembro de 1900. Repúblca dos Estados Unidos do Brasil. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Diretoria Geral de Estatística. Volume: 1900. Oficina da Estatística. Rio de Janeiro. p.71-72.

 

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