Lajes é um município da Região Central do Rio Grande do Norte distantes cerca de 150 km de Natal. Sua história tem um divisor de antes e depois com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN, em 1914, posto que antes dessa data figurava como distrito do município de Jardim de Angicos e naquele mesmo ano a sede municipal fora transferida para Lajes.
Eis a seguir um apanhado histórico dos
principais fatos que dizem respeito a chegada da estrada de ferro no território
do município de Lajes.
A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do
Norte trouxe ao município um grande desenvolvimento: ali existiam a Estação de
Lajes no km 148,551, a estação de Pedra Preta, no km 123,922, a parada de São
Pedro, no km 118, e a estação de Jardim, no Cardoso, no km 107,200.
O Decreto nº 10.329, de 09 de julho de 1913
havia aprovado os estudos definitivos dos primeiros 20 km do trecho
compreendido entre Lajes e Caicó da EFCRGN, e bem assim o orçamento no valor de
2.761:985$493. (RELATÓRIO DO MINISTERIO DA VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS, RJ, 1913, p.438)[1].
Até aquele ano de 1913 haviam sido
construídos 24,750 km entre Pedra Preta e Lajes e entre Lajes em direção a
Caicó 44 km. A extensão entre Pedra Preta e Lajes foi incorporada ao tráfego em
14/11/1914, tendo sido construída segundo os contratos autorizados pelos
decretos nº 7.074 de agosto de 1908 e
7.186 de 19 de setembro de 1908, os quais concediam o arrendamento da ECRGN a
empresa do engenheiro mineiro João Proença.
Em 1914 foram realizados diversos
serviços os quais foram fiscalizados e medidos pelo Governo Federal, tendo a
quantidade de valores apurados reunidos aos da parte que chegava até Lajes. Os
trabalhos e obras realizadas representavam o conjunto dos dois trechos, na
extensão total de 43,360 km.
Modificação do traçado
O traçado original da EFCRGN de 1904 previa
a linha tronco partindo de Natal passando pelo vale do rio Ceará-Mirim
atingindo o sertão do estado em direção ao Seridó. Esse traçado incluía as
seguintes localidades: Estremoz, Ceará-Mirim, Taipu, Baixa Verde, Jardim de
Angicos, Pedra Preta, Lajes, Angicos, São Rafael, Jucurutu e Caicó.
No entanto, em virtude do decreto nº
9.172, de 04 de dezembro de 1911 foi aprovado pelo Governo Federal a revisão do
contrato com a Companhia de Viação e Construções, que era a empresa que havia
arredado a EFCRGN e autorizou a modificação do traçado da linha para Caicó
passando por Angicos, a partir de Lajes, que foi abandonado, já em adiantada
construção de 46 km.
O novo traçado partia de Lajes em
direção sul para transpor os contrafortes da Serra da Borborema passando por
Currais Novos para alcançar a Caicó.
Em 09/07/1913, pelo decreto nº 10.329
foram aprovados os primeiros 20 km desse novo traçado a partir de Lajes, e, em
10/09/1913, pelo decreto nº 10.437 foram aprovados mais 43, 695 km.Em
03/12/1913 foi expedida a primeira ordem de serviço para atacar os trabalhos
nos primeiros 10 km, mas esses serviços só começaram a ter alguma intensidade
em janeiro de 1914.
Naquele ano foram concluídos nesses 10
km as alvenarias de todas as obras de arte e quase terminado o movimento de terra,
a exceção de alguns aterros muito extensos, cuja construção só era possível por
meio de trem de lastro devido a formação rochosa do terreno que muito
dificultava a abertura do solo.Foram concluídos ainda alguns cortes grandes, abertos
em rocha compacta.
Em mais de 16 km foram realizados
serviços de terraplenagem que prosseguiram com intensidade e já era
considerável o número de obras de arte concluídas ou em vias de conclusão.
O Relatório do Ministério da Viação e
Obras Públicas considerou estranho o custo elevado que no decorrer das medições
verificadas nesse trecho ultrapassaram consideravelmente o orçamento aprovado.
(RMVOP, 1913,p.86).
Até 31/12/1914 o governo tinha despedido
com a construção da linha Lajes a Caicó o valor de 2.016:783$987 assim
distribuídos:
Estudos definitivos |
50:240$000 |
Trabalhos preparatórios |
18:940$668 |
Movimento de terras e transportes |
519:709$100 |
Obras de arte |
1.418:894$219 |
Edifícios (casa de mestre de linha e de
turma) |
9:000$000 |
O decreto nº 10.795, de 04 de março de
1914 aprovou o projeto e orçamento, no valor de 185:800$879, para a construção
de um viaduto metálico na travessia da grota, entre as estacas 853 e 893, da primeira seção de Lajes a Caicó,
em substituição a uma parte de aterro e ao pontilhão projetado para o referido
local. (RMVOP, 1914, p.403).
Já o decreto nº 10.872, de 29 de abri
de 1914, aprovou os estudos definitivos e o orçamento, no valor de
1.428:517$318, dos primeiros 20 km, a partir de Lajes, do ramal de Macau. (RMVOP,
1914, p.403).
O decreto nº 11.235, de 21 de outubro
de 1914, aprovou os estudos definitivos e orçamento, no valor de 1.003:806$916,
do trecho compreendido entre os km 20 e 37, a partir de Lajes, do ramal de Macau.
(MVOP, 1914, p.407).
De acordo com o Jornal do Comércio de
Manaus, em 16/08/1914 ativaram-se os trabalhos de construção da EFCRGN onde se
esperava que dentro de 3 anos fosse vencido o trecho entre Lajes e Currais
Novos. (JORNAL DO COMÉRCIO, AM, 16/08/1914, p.1).
Ainda segundo o referido jornal haviam 1.700
trabalhadores localizados nesse trecho e duas perfuratrizes em plena atividade,
cogitando a Companhia de Viação e Construções aumentar o número de operários e
continuar a prover a construção da estrada do material necessário à uma maior
produção.
Estava também atacado em cerca de 4 km o
ramal de Macau, que dadas as condições topográficas do trecho a ser construído,
viesse a ser finalizado dentro de 2 anos.Os serviços de construção do trecho
entre Lajes e Currais Novos e do Ramal de Macau tiveram inicio sob a direção do
engenheiro Otávio Sena.
Em 1915 a ECRGN continuava a manter em
tráfego a extensão de 144,308 km, estando em construção 65 km, sendo 38 km de
Lajes a Caicó e 27 km de Lajes a Macau.
O decreto nº 11.514, de 04 de março de
1915 havia aprovado o projeto e orçamento no valor de 374:158$539, para a
construção da estação de Lajes e suas dependências. (RMVOP, 1915, p.395).
O decreto nº 11.737, de 06 de outubro
de 1915 aprovou o projeto e orçamento no valor de 84:295$404, de uma barragem
de terra com núcleo central de alvenaria em substituição do aterro e ponte
projetados para AA travessia do riacho Casinha, no trecho de Lajes a Caicó. (RMVOP,
1915, p.397).
O decreto nº 12.115, de 28 de junho de
1916 foi aprovado o projeto e orçamento no valor de 72:811$956, de uma variante
entre as estacas 1428+10 e 1523+14 do traçado aprovado do trecho de Lajes a
Caicó. (RMVOP, 1916, p.491).
Pelo decreto nº 12.239, de 19 de outubro de
1916 foi aprovado o projeto de um viaduto entre as estacas 863+19 e 872+19 da
linha de Lajes a Caicó e o respectivo orçamento no valor de 285:403$495. (RMVOP,
1916, p.493).
O decreto 12.233, de 11 de outubro de
1916 foi aprovado novo projeto para a estação de Lajes e o respectivo orçamento
no valor de 55:303$684.
De acordo com o Jornal do Comércio, o
governador Ferreira Chaves esteve em Lajes onde visitou os serviços da
construção da EFCRGN. (JORNAL DO COMÉRCIO, 05/08/1916, p.1).
Em 1917 estava em construção 52.000,00 metros
na linha tronco a partir de Lajes a Caicó e 94.391,64 metros no ramal de Macau.
Naquele ano de 1917 no trecho de 52 km
em construção da linha entre Lajes e Caicó, cuja construção foi iniciada em
1913, ainda não havia sido inaugurada a 1ª estação já denominada Recanto e
situada a 26 km de Lajes e não se podia prever a abertura do tráfego nesse
trecho devido ao pequeno número de pessoal em serviço e da falta de vigas para
pontes de 10, 15, 20 e 25 metros de vão e do atraso das obras dos viadutos das
estacas 864+10 a 872+10 e 1161+10 a 1168.
Nesse trecho, em 1917 foram executados
serviços no valor de 1.216:917$481, subindo o valor dos trabalhos a
7.345:734$653 em 31/12/1917. (RMVOP, 1917, p.141).
Em 1918 era considerável o atraso dos
trabalhos da construção do trecho entre Lajes e Caicó, iniciadas em 1913. A
inauguração da estação de Recanto, primeira a inaugurar no prolongamento,
dependia da construção de dois viadutos de 150 metros e da conclusão de
diversos aterros. (RMVOP, 1918, p.130).
Em 1919 o trecho de 51 km de Lajes a Caicó não prosseguiu regularmente a construção, estando a ponta da linha ainda no mesmo sitio no km 4 em que ficou nos anos anteriores, já as superestruturas metálicas ainda não haviam sido importadas e havia falta absoluta de dormentes.O custo total dos trabalhos até 31/12/1919 atingiu a soma de 9.245:128$435. (RMVOP, 1919, p.482).
A rescisão do contrato de arrendamento da EFCRGN
A Companhia de Viação e Construções havia
conseguido do Governo Federal em 1908 o arrendamento dos primeiros 55 km da
linha tronco da EFCRGN já construída pelo Governo Federal, da margem esquerda
do rio Potengi a Taipu, incumbindo-se de construir por empreitada uma grande
estrada de ferro de penetração que partindo de Taipu passando por Caicó,
atingisse Milagres, no Ceará.
Passados 10 anos, em 1918, mais de
atritos com as autoridades da fiscalização do contrato do que de um regular
trabalho de construção, a companhia empreiteira não havia logrado abrir ao
tráfego a estação de Lajes a 90 km de Taipu, última estação construída pelo
Governo Federal antes do arrendamento.
A revisão do primitivo contrato feita
em 18/12/1911, foi com certeza a causa principal das dificuldades na execução
do trabalho projetado, nessa revisão, depois de alterar o primitivo traçado
para se lançar a linha contra a escarpada serra da Borborema, que é um maciço
de rocha a flor do solo, no qual exigiram-se condições especais de rampas e de
curvas, absolutamente injustificáveis num Estado acidentado e de modestas
probabilidades econômicas.
As dificuldades para aprovação dos estudos e
expedição de ordens de trabalho chegaram a tal ponto que ambas as partes,
governo e companhia empreiteira, se convenceram da necessidade de um acordo
para revisão ou rescisão do contrato.
O tráfego não passava de Lajes e já se
haviam gastos 36.235$307$623, custo de edificações grandiosas na EFCRGN.
Pelos orçamentos feitos, a linha de
Lajes a Mialgres-CE não custaria menos de 61.000.000$,soma avultada deque
grande parte se empregaria nos cortes em rocha da serra da Borborema, na qual o
quilometro de linha ficaria por 398304$064,aos preços unitários de cimento e
de ferro naquela época anterior a guerra. durante
meses a Inspetoria Federal das Estradas, fez um grande esforço para se chegar a
um acordo baseado em compensações dadas no aumento da empreitada,levando-se a
linha até as margens do rio São Francisco. (RMVOP, 1920,, p.27-28).
Foi então que em 1921 o Governo Federal
rescindiu o contrato de arrendamento com a Companhia de Viação e Construções,
voltando a EFCRGN a jurisdição da União.
Ficou resolvido que o prolongamento da
EFCRGN para Caicó seria feita pelo vale do Assu, de acordo com o primitivo
traçado, abandonando a ideia de galgar e descer a serra da Borborema, em cujas
encostas pedregosas a construção de uma ferrovia exigiam gastos exorbitantes.
As obras que já haviam sido realizadas como os tuneis, rampas, viadutos e demais obras de artes ficaram abandonadas e até hoje podem ser vistas por quem pratica esportes de aventura.O prédio que seria a estação de Recanto é atualmente uma igreja
Obras abandonadas do treho entre Lajes e Recanto. |
Em 1924 no trecho de 45 km entre Lajes
e Angicos estava com o leito pronto e 28 km de obras de arte corrente e
especiais já haviam sido concluídas.O orçamento para terminá-lo era de
2.100:000$000.
Em 1927 nenhuma despesa se fez na construção
por ter sido os trabalhos paralisados ficando nesse estado de coisas até 1932
quando foi retomada a construção e concluído o trecho entre Lajes e Angicos.
No ramal de Macau a estação de Epitácio
Pessoa (atual Pedro Avelino) havia sido inaugurada em 08/01/1922 e ali ficaram
parados os trabalhos do ramal.
A estação
De acordo com o jornal Correio da Manhã
em 02/07/1914 o ministro da viação recomendou à Inspetoria Federal das Estradas
que providenciasse no sentido de ser remetida à secretaria de Estado o
orçamento complementar, correspondente ao aumento de 2,5m no raio da rotunda
projetada para a estação de Lajes, pela Companhia de Viação e Construções,
visto não ter sido indicado por aquela repartição o acréscimo correspondente no
dito orçamento. (CORREIO DA MANHÃ, 02/07/1914, p.2).
O referido jornal registrou dois anos
mais tarde que ao inspetor federal das estradas, o ministro da viação havia
comunicado que deixaria de aprovar as modificações propostas no projeto da
estação de Lajes EFCRGN, por não obedecer aos requisitos determinados por
aquela inspetoria (CORREIO DA MANHÃ, 26/06/1916, p.1).
No tocante a inauguração da estação o
jornal O Paíz registrou em 23/07/1914: “NATAL, 22. Foi inaugurada a estação de
Lajes, na Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, a 150 kilometros de
Natal”. (O PAÍZ[2],
23/07/1914, p.5). Portanto, a estação ferroviária de Lajes foi inaugura em
22/07/1914 conforme o exposto a cima.
Entretanto, de acordo com o jornal A Noite
em 04/03/1915 foi aprovado o projeto e orçamento no valor de 384:158$530 para a
construção da estação de Lajes e suas dependências. (A NOITE, 04/03/1915, p.3).
À Inspetoria Federal das Estradas foram enviadas as cópias dos orçamentos
aprovados para as obras a serem executadas na estação ferroviária de Lajes. (O
IMPARCIAL, 20/06/1915, p.6).
O jornal O Paíz registrou no ano de 1915 que
fora aprovado o projeto para a construção da estação de Lajes e suas
dependências, na EFCRGN, e bem assim o respectivo orçamento, no valor total de
384:158$538, sendo: 83:250$722 do edifício da estação, 84:250$206 do armazém de
mercadorias, 160:854$246 de um depósito de locomotivas; 45:670$072 de um abrigo
para carros e 10:131$203 de uma carvoeira. (O PAÍZ, 08/1915, p.1).
Ao inspetor de estradas o ministro da viação
dirigiu um aviso no qual fora autorizado aquele inspetor a entrar em acordo com
a Companhia de Viação e Construções para que o edifício da estação de Lajes, na
EFCRGN, fosse construíoa dentro dos limites do orçamento aprovado pelo decreto
nº 11.514, de 04 de março de 1915, e a mandar que a mesma companhia aguardasse
oportunidade para a construção das dependências de que tratava o referido
decreto.
Também mandou providenciar a execução
dos estudos necessários à solução do problema de abastecimento de água da
referida estação para que o ministério pudesse resolver definitivamente sobre a
conveniência de autorizar a construção das dependências da mesma estação. (O
PAIZ, 03/12/1915, p.2).
No ano seguinte o ministro da viação
não havia aprovado projeto e o orçamento das modificações a serem feitas na
estação de Lajes, e recomendou providencias
ao inspetor de estradas para que fossem feitos novo projeto e orçamento
de acordo com os requisitos indicados pelo ministério de viação. (O PAIZ, 25/06/1916,
p.2).
Tratava-se do parque ferroviário que seria construído em Lajes para ajusta-se ao serviço de tráfico tanto da linha tronco (Natal a Caicó) como do ramal de Macau.Ocorreu, pois que tais construções não foram se quer construídas como foio caso da rotunda.A estação de Lajes entretanto, difere das demais estações da EFCRGN pelo seu tamanho e finalidade posto que atendia a linha tronco e ao ramal de Macau.
A estação de Lajes em 1996. |
A estação de Lajes em 2012 |
A estação de Lajes em 2019. |
A estação foi desativada em 1998 quando os trens deixaram de circular pelo ramal de Macau com o transporte de sal, desde então até 2012 ficou em estado de abandono até ser assumida pela prefeitura. Após uma reforma realizada em 2018 o prédio da estação ferroviária de Lajes passou a abrigar um museu e biblioteca, além de servir para eventos culturais daquela cidade.
Sobre o município
O território que atualmente constitui o
município de Lajes vinha sendo explorado desde o começo do século 18, porque
por ali passavam as estradas que seguiam o curso do Rio Ceará-mirim, em direção
do Rio Salgado e das Ribeiras do Assu e do Apodi, rumo ao Oeste, e, pelo curso
das águas do Assu-Alto, ou Piranhas, acima, procurando a Ribeira do Seridó.
Entretanto, logo depois da implantação do regime
republicano, deu-se a criação do município de Jardim de Angicos, pelo decreto
n° 55 de 4 outubro de 1890, sendo desmembrado de Angicos o território que
constituía os distritos policiais de Jardim e Bonfim e compreendendo também a
região de Lajes.O município foi instalado solenemente no dia 22/11/1890.
Jardim de Angicos, para distinguir-se de
Jardim do Seridó, foi elevada á condição de villa e sede do novo município, em
virtude do decreto de criação. Era distrito judiciário da comarca de Ceará-Mirim;
fez parte da comarca de Angicos, criada pelo decreto n. 63 de 30 de outubro de
1890, da de Macau (decreto n. 81 de 22 de novembro 1890), da de Ceará-mirim,
novamente (lei estadual n- 248 de 26 fevereiro 1907) e da de Santa Cruz, (lei
272 de 23 de novembro de 1909) e finalmente, da do Ceará-Mirim, até 1927.
A povoação de Lajes, devido á aproximação
dos serviços da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, tomou grande
incremento e a sede do município foi para ali mudada pela lei nº 160 de 25 de
novembro 1914, que a elevou á categoria de Villa de Lajes, deixando, porém, á
antiga sede o seu anterior predicamento.
Continuando a progredir incessantemente Lajes
foi erigida em Cidade pela lei n. 572 de 3 de dezembro 1923 e, quatro anos mais
tarde, foi criada a Comarca de Lages com o distrito de Angicos (lei n- 642 de
17 de Outubro de 1927) e depois com o de Baixa Verde (decreto do Interventor Hercolino Cascardo, n. 154, de 24
outubro 1931)
A cidade de Lajes era, no começo do século
XX, a fazenda de criação de Francisco Pedro Gomes de Mello e tinha sido fundada
por José Antonio Xavier e seu irmão Francisco Padre. Ainda existe uma casa,
sita á margem direita do Rio Ceará-mirim, a leste de Lages, e que conserva na
fachada a data de 1825, como da sua construção.
Diz a tradição, porém, que o primeiro
morador da localidade foi Manoel Fernandes, que se situou no lugar «Lajedo
Grande», junto ao «Serrote do Cabaço», ao pé do rio Ceará-mirim, cerca de 1 km,
ao sul da atual Cidade. Até 1906, Lajes era somente um ponto de descanso para
os viajantes e não merecia outra referencia senão como terra excelente para
criação de gados.
Mas, a resolução tomada pela Companhia de
Viação e Construções de passar por esse lugar os trilhos da Estrada de Ferro
Central, cujo projeto era pela fazenda «Pedra Vermelha», dois km ao norte,
atraiu para Lajes, a velha fazenda de Francisco Pedro, as atenções de toda a
gente e assim que os trabalhos da construção se aproximaram, Lajes tomou um
extraordinário incremento, para logo ali se instalando casas de comércio e
pequenas industrias, famílias e trabalhadores de variadas procedências,
formando assim um aglomerado heterogêneo e interessante de alienígenas.
E esse desenvolvimento crescente determinou
a mudança da sede do município para Lajes, a sua elevação á vila.
Em 1894, a capela de Lages foi erigida
quando ali só existiam quatro casas e ficava ao leste da atual Cidade, á margem
direita do Rio Ceará-mirim.
O município de Lajes é, portanto, originário
do antigo município de Jardim de Angicos.
O município era constituído em 1922 de três
distritos administrativos: o de Lajes — sede, e os de Jardim de Angicos e Pedra
Preta, ambos administrados por subprefeitos, tendo as suas sedes a categoria de
vila.além disso existiam os povoados como centros organizados de população,
além de suas cidade e vilas, o município que eram os de Caiçara e São José.
Em 1922, a Cidade sofria as consequências da
paralisação do prosseguimento das obras da EFCRGN, em demanda do seu ponto de
destino.
Constava naquele ano de 1922 de 4 praças, 15
ruas e 4 travessas, cerca de 600 casas e 2.500 habitantes. Possuía Mercado público,
prédio da Prefeitura Municipal, (construída em 1924), o Grupo Escolar Pedro II
(edificado de 1922 a 1927, por iniciativa da Intendência e auxilio do povo e do
Governo do Estado),a Matriz de N. S. da Conceição, (erigida de 1915 a 1934), a
grande Estação da Estrada de Ferro Central, (edificada em 1918), o Edifício de
Correios e Telégrafos, foi construído em 1933 e muitos prédios de comercio e residências
particulares, que tem agradável aspecto.
Tinha Telégrafo e Correio Geral, além do da
EFCRGN, e agências de rendas federais e estaduais. Eram arborizadas a ficus
benjamim as principais praças e ruas. Tinha luz elétrica, com usina própria,
inaugurada a 10/10/1924.
Realizava-se aos sábados uma grande feira de
produtos agrícolas e de criações, atraindo feirante de grandes distâncias. A
feira de Lajes era a mais afamada e concorrida do Estado. Era o entreposto comercial
de todas as localidades do interior, porque ali chegavam as estradas de Macau,
Asu e Mossoró, e até do Seridó, para o comércio dos produtos vindos pela
Estrada de Ferro e por seus comboios enviados para a Capital e outras praças do
país.
Pelo recenseamento de 1920, o primeiro feito
após a transferência da sede municipal de Jardim de Angicos para Lajes, a
população da vila de Lajes era de 10.865 habitantes.
O município estava servido pela Estrada de
Ferro Central do Rio Grande do Norte, que tinha, nele, três estações: a
da vila, inaugurada a 14/07/1914, e as de Jardim e de Pedra Preta, ambas inauguradas
no dia 14/11/1913, e uma parada, no lugar São Pedro, inaugurada a 02/03/1932.
De Lajes partia o ramal de Macau, passando
por Epitácio Pessoa (atual Pedro Avelino), num percurso de 27 km, Carapebas
(atual Afonso Bezerra) e finalmente Macau.
Pela EFCRGN o percurso de Lajes a Natal era
de 149 km, feito em 8 horas, e ás cidades próximas de Baixa Verde e Angicos,
respectivamente, de 60 e 45 km.
Lajes foi sede de uma comarca de 1 entrância
criada pela lei n.° 642, de 17 de outubro de 1927.
Tem 1922 tinha 2 Escolas Rudimentares, 1
Escola Municipal e 2 Escolas particulares todas de ensino primário.
Da década de 1930 tem-se a construção do
prédio dos Correios e Telégrafos, ocorreu em 1932, pelo Governo Federal, a do
açougue público, em 1933, e do almoxarifado, em 1936, pela Prefeitura, além dos
trabalhos comuns indispensáveis em qualquer cidade. Apesar de muito bem
situada, com um clima agradabilíssimo e boa gente, a cidade achava-se, evidentemente,
em decadência, que se vinha acentuando desde que prosseguiram os trilhos da
EFCRGN.
Existia no município, um pequeno açude público que foi construído, havia anos pela Estrada
de Ferro Central, para seu serviço, a 3 km da cidade, conhecido pelo nome de
'‘Gavião” ,
O
ministro da viação autorizou também a construção do açude Lajinha, no município
de Lajes e o abastecimento de água à população, recomendando ainda ao diretor
da EFCRGN que a distribuição de água fosse feita gratuitamente. (DIÁRIO DA
NOITE, 22/04/1932, p.9).
Adentrado a década de 1940, haviam em Lajes 3.116
prédios, estando 551 localizados na cidade (380 no quadro urbano e 171 no
suburbano); 64 na vila de Jardim de Angicos — 42 e 22 nos dois referidos
quadros; 77 na vila de Pedra Preta, sendo 40 na área urbana e 37 na suburbana,
e 2.424 nas zonas rurais dos três distritos, ou seja, 1.343, 488 e 593,
respectivamente.
O Banco do Rio Grande do Norte e a Agência do
Banco do Povo, na capital mantinham correspondentes em Lajes.
A
pesar de servida por estrada de ferro, na década de 1940 era diminuto o
comércio de Lajes, que já havia sido, entretanto, muito desenvolvido. Isto, ao
tempo em que a cidade era ponto terminal da Estrada de Ferro Central.
No ano de 1942 o comércio era exclusivamente
a varejo, havendo apenas, fora disso, compradores de algodão e peles,
principalmente, para revenda, ora do município.
Também ocorriam bons negócios de gado em pé,
sendo Lajes um dos municípios que supria a capital com reses para corte.
Na indústria, a principal atividade era a de
beneficiamento de algodão, para o que funcionavam regularmente no município 2
usinas e 3 descaroçadores e o fabrico de cal com o aproveitamento de pedras calcárias
do município (CÃMARA, 1942, p.166)
No tocante ao urbanismo, entre praças, ruas,
avenidas e travessas, existiam em de Lajes 24 logradouros públicos.
A cidade era iluminada á luz elétrica, desde
09/10/1934, pertencendo á Prefeitura Municipal a usina, cujo motor era de 28 H.
P., que também fornecia iluminação domiciliária. Por algum tempo a luz pública
esteve interrompida, sendo, porém, restaurada a 06/08/1939, depois de ter a
usina passado por melhoramentos, com a aquisição de um alternador, postes de
cimento armado, etc.
A população local lutava com serias
dificuldades quanto ao abastecimento d’água, que era conduzida, quase durante
todo o ano, da lagoa de Estremoz, no município de Ceará-Mirim, em carros
tanques da EFCRGN, numa distância de 127 km. Não ha nenhum serviço de
assistência médico-social, nem público nem particular.
__________
Referências
DANTAS, Manoel. Denominação dos Municípios
(RIO GRANDE DO NORTE. Natal: Empresa Tipográfica Natalense, 1922, p.15.
LIMA,
Nestor. Municípios do Rio Grande do Norte. 2º Volume – F, G, J, L e M.
(Separata autorizada da Revista do Instituto Histórico). Natal: Tipografia
Santo Antonio, 1942.
Os
jornais citados nesta postagem estão no corpo do texto.
[1] Doravante sempre que citado esse documento se fará pela sigla RMVOP seguido do ano correspondente.
[2] Optamos por deixar a grafia conforme o original por se tratar de um periódico extinto e histórico.do referido jornal conforme o original.