Prolegomenos
A catedral é a igreja principal de uma Diocese. É nela que se encontra a cátedra (cadeira) do bispo, símbolo de sua autoridade como pastor e de onde transmite seus ensinamentos aos seus diocesanos e onde se realizam os principais eventos litúrgicos da diocese, como os atos da semana santa, ordenações presbiterais, etc.
Geralmente ao ser criado um bispado a igreja matriz é elevada a dignidade
de catedral, porém, nada impede que sejam construidas catedrais propriamente ditas.
As catedrais remetem ao periodo clássico da Idade Média quando surgem os grandes e magnificos edificios para o culto católico, por isso a palavra catedral tem conotação de grandeza e esplendor,visto que nas grandes catedrais além do edificio imponente haviam as grandes obras de artes sobretudo em vitrais que conferiam as mesmas sua imponência.
A Diocese de Natal foi criada em 29/12/1909 pelo papa, hoje
santo, Pio X, até então o território do Rio Grande do Norte pertencia
eclesiasticamente a diocese da Paraíba. Com a criação do Bispado do Rio Grande
do Norte, ou, Diocese de Natal, a então igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação,
que era a única paróquia da capital potiguar, foi elevada a dignidade de
catedral, tendo sido confirmado esse predicativo no ato de leitura da bula de
criação da diocese que foi lida solenemente (Te Deum) em 29/10/1909 por ato do bispo da Paraíba, dom Aurélio de
Miranda Henriques, que fora nomeado Administrador Apostólico do novo bispado
até a nomeação do seu primeiro e titular bispo, que só ocorreria em 1911.
O
primeiro bispo da diocese de Natal e a primeira catedral
O
primeiro bispo da diocese de Natal foi dom Joaquim Antônio de Almeida que tomou
posse em 11/06/1911 e permaneceu no cargo até 1915 quando renunciou por motivo
de saúde. Nesse ínterim não se tem notícias de que ele houvesse cogitado a
construção de uma nova catedral para a diocese ou que elevaria a nova igreja
matriz de Natal em construção na Cidade Nova à condição de nova catedral.
A
catedral de Natal, como já dito antes, era a igreja de Nossa Senhora da
apresentação, situada a praça André de Albuquerque na Cidade Alta. Foi ela a
primeira igreja de Natal, pequena, de arquitetura simples ao estilo barroco do
século XVII, teve sua construção iniciada em 1601, destruída ao tempo da
invasão holandesa, reconstruída após a expulsão destes, teve sua ampliação
somente em 1962 com a construção da torre, desde então, pouco ou quase nada foi
feito para o melhoramento ou ampliação da igreja e assim permaneceu até os dias
atuais limitada em suas modestas proporções arquitetônicas.
No
início do século XX o pe. João Maria, então vigário de Natal, dá início a
construção da nova igreja matriz de Natal, de maiores proporções percebendo já
a pequenez da matriz e antevendo o crescimento, assim como a população
natalense, do número de fies católicos. Essa nova igreja começou a ser erguida
num terreno situado na Cidade Nova, atualmente o bairro de Petrópolis entre as
avenida Deodoro da Fonseca e floriano Peixoto com as ruas Mossoró e Apodi. As
obras foram paralisadas com sua morte em 1905, chegou a ser retomada pelo seu
sucessor o pe Moisés Ferreira em 1907 mas não logrou êxito ficando paralisadas
logo depois.
A igreja de Nossa Senhora da Apresentação na Cidade Alta foi
a catedral de Natal até 21/11/1988 quando se inaugurou a nova e atual catedral
metropolitana na Av. Deodoro, passando a ser novamente a igreja matriz da
paróquia da Cidade Alta.Conservou honorificamente o predicamento de Catedral
Antiga.
O
sonho de uma nova catedral
O
sonho de uma nova catedral para a diocese de Natal se inicia depois que dom
Antônio dos Santos Cabral, o segundo bispo de Natal, tomou posse na Diocese em
1918.
Ele
escreveu num jornal denominado A Cathedral em 1920 que causava constrangimento
para a cidade de Natal que estava em franco progresso ter uma catedral tão
acanhada que mal podia acomodar os fiéis em tempo de grandes solenidades.
Ele
tomou a iniciativa de se construir então a nova catedral de Natal, e consciente
das condições modestas do povo potiguar, idealizou uma catedral maior que a
existente, com gosto e estilo arquitetônico e litúrgico, porém simples e a
altura que as condições do povo permitissem, posto que seriam os fiéis
católicos que contribuíram para sua construção.
De
acordo com o Jornal do Comércio de Manaus na edição do dia 26/06/1920 ia ser
iniciada a construção da nova catedral de Natal para a qual havia diversos
planos arquitetônicos. (JORNAL DO COMÉRCIO, AM, 29/06/1920, p.1).
O
local para essa nova catedral seria onde estava as ruínas da igreja iniciada
pelo pe. João Maria em 1902.
Em 30/06/1920 se reuniu no palácio do governo
a comissão formada pró-construcão da nova catedral a qual seria responsável
pela construção e arrecadação de meios para a realização do projeto. Sob a
presidência do bispo diocesano, dom Antonio dos Santos Cabral, se reuniu no
Colégio Santo Antonio, a comissão
central incumbida de promover os meios de se levar a efeito a construção da
nova catedral da diocese de Natal. (JORNAL DO COMÉRCIO, AM, 01/08/1920, p.1).
A sessão foi aberta com a palavra de dom Antonio Cabral,
bispo diocesano, que expôs a finalidade da reunião, terminando por pedir o
concurso do povo católico de Natal para a construção do novo templo.
Em seguida o bispo indicou a comissão encarregada de
promover os meios para o andamento dos serviços de construção da nova catedral
a qual estava sob a presidência do governador
do Estado, Antonio de Souza.
Por fim dom Antonio Cabral agradeceu o comparecimento de
todos, o concurso das senhorinhas encarregadas dos convites para aquela
reunião, terminando por convidar os membros da comissão para uma sessão no dia
01/07/1920 na igreja de Santo Antonio.
No salão nobre do palácio do governo onde se realizou a
reunião tocou uma grande orquestra, dando assim ao ato o máximo brilhantismo.
(DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 03/07/1920, p.4).
De
acordo com o jornal A Noite,dom Antonio Cabral, resolveu que a construção da
nova catedral de Natal seria feita no bairro da Cidade Nova. (A NOITE,
06/06/1920, p.3).
Dom Antonio dos Santos Cabral subscreveu uma doação de 2
contos de réis para o inicio das obras do templo, tendo igual gesto o coronel Francisco
Cascudo, membro da comissão e pai do ilustre escritor e folclorista potiguar
Luis da Câmara Cascudo.
Essa
comissão por sua vez deliberou que deveriam ser criadas comissões em todas as
paróquias da Diocese, que abrangia a época todo o território do Rio Grande do
Norte, e para divulgar a ideia da construção da nova catedral de Natal foi
criado o jornal A Cathedral, que até onde se sabe só teve poucas edições
naquele ano de 1920.
Em
1921 a comissão central continua em atividade conforme se registra nós jornais
da época, porém, em 1922 com a transferência de dom Antônio dos Santos Cabral
para a então Diocese de Belo Horizonte-MG interrompe as atividades da comissão
e do início das obras.
Ainda de acordo com o referido jornal em 04/02/1921
continuavam com atividade os trabalhos da comissão central para a ereção de uma
nova catedral na capital potiguar. (JORNAL DO COMÉRCIO, 04/02/1921, p.1).
A comissão central das obras da nova catedral continuava
empenhada em dar o maior desenvolvimento aos seus trabalhos apoiando em seus
grandes esforços Dom Antonio dos Santos Cabral, bispo diocesano,na construção
de um templo que serviria de Sé à Diocese de Natal.
Dom Antonio Cabral estava em constante atividade, correspondendo-se
diretamente com os vigários do interior do Estado, intensificando a propaganda
em suas freguesias a auxiliarem a ação da comissão central em todo Estado.
Resolveu-se pedir ao Rio Jornal, no Rio de Janeiro, a
abertura de uma subscrição na colônia norteriograndense sediada naquela cidade
em favor das obras da nova catedral. (JORNAL DO RECIFE, 24/09/1921, p.2).
Em novembro de 1921 foi aprovado
pelo Congresso Estadual o projeto nº 18,do deputado Pedro Soares e outros,
autorizando o Governo do Estado a entrar em acordo com a Comissão Central
encarregada da construção da nova catedral do Bispado, despendendo até a importância
de 50:000$000, para a remoção das fundações da igreja matriz iniciada pelo Pe. João
Maria, situada na Praça Pio X, no bairro da Cidade Nova, tendo em vista o
aformoseamento da praça onde seria construída a nova catedral de Natal. (DIÁRIO
DE PERNAMBUCO,30/11/1921,p.2).
Nada foi encontrado até o momento a respeito do estilo
arquitetônico adotado por dom Antonio dos Santos Cabral para o projeto da nova
catedral de Natal.Podemos supor que se foi adotado estilo em voga a época na
construção de igrejas no Brasil, este era o gótico, inclusive o estilo já vinha
sendo adotado nas igrejas do Estado e até mesmo na reforma por qual passou a antiga
catedral de Natal, entretanto o espírito esclarecido de Dom Antonio dos Santos
Cabral tendia mais para o neoclássico ou eclético.
Fica portanto a incógnita a esse respeito.
Dom
José Pereira Alves
O
terceiro bispo de Natal, dom José Pereira Alves, só tomaria posse em 1923, o
qual dá prosseguimento ao projeto de construção da nova catedral dos bispado.
Em
05/04/1924 esteve reunida a comissão diretora das obras da nova catedral sob a
presidência do bispo diocesano, dom José Pereira Alves, para tomar medidas
inerentes a construção do majestoso edifício.
Dom José Pereira Alves havia convidado o engenheiro
Miranda Carvalho, chefe da comissão
fiscalizadora das obras do porto de Natal para levantar a planta do local onde
seria erguida a nova catedral da capital potiguar. (O IMPARCIAL, 06/04/1924,
p.4).
Em
1925 ele autoriza a demolição das ruínas da igreja iniciada pelo pe João Maria
e a limpeza do terreno para ser iniciada a construção da nova catedral.
De acordo com o jornal A União a obra mais momentosa da
Diocese de Natal em 1925 era a construção de uma nova catedral, pois a antiga e
vestuta matriz, se bem que ainda completamente reformada,já não satisfazia as
necessidades do povo. (A UNIÃO, 25/12/1925, p.21).
Naquele mesmo ano de 1925 o Congresso Estadual havia votado
uma subvenção para as obras da nova catedral.
Assim, conforme
se lia no jornal O Paiz em 09/04/1925 foram inciados os serviços de construção
da nova catedral com a demolição dos antigos alicerces da igreja iniciada pelo
Pe.João Maria em 1902 na praça Pio X. (O PAÍZ, 10/04/1925, p.2).
É
desconhecido se o estilo arquitetônico proposto por dom Antônio dos Santos
Cabral foi adotado por dom José Pereira Alves nem que se tenha sido elaborado
outro projeto.
Ocorreu
que em 1928 dom José Pereira Alves foi transferido para a então Diocese de
Niterói-RJ e pela segunda vez foi interrompida construção da nova catedral de
Natal.
Em
1929 tomou posse dom Marcolino Dantas, como o quarto bispo da diocese de Natal,
porém ele só retoma a ideia de construir a nova catedral de Natal no ano
seguinte.É o que vermos na próxima postagem.