quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A CRIAÇÃO DA PARÓQUIA DE PAPARI (NÍSIA FLORESTA-RN)

        Um requerimento para a criação da freguesia de Papari foi arquivado em 1827, o conselho administrativo da província decidiu que não havia necessidade da criação da paróquia (ANAIS DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1827 p. 207). A população, no entanto, não desistiu da intenção de se criar a freguesia.
            A comissão eclesiástica do parlamento analisou o requerimento dos moradores da povoação de Papari, na província do Rio Grande do Norte, o qual expunha a necessidade de elevar a dignidade de igreja paroquial a capela de Nossa Senhora do Ó desmembrando-a da matriz de Sant’Ana da vila de São José de Mipibu.
            Segundo constava no requerimento a população alegava que a mais de 30 anos trabalhavam nessa pretensão na qual não haviam logrado êxito, tendo sido feitas muitas representações e suplicas fervorosas as autoridades eclesiásticas competentes e também as autoridades civis.
            O conselho geral havia tomado conhecimento da representação da vila de São José de Mipibu em 26/01/1831, onde, baseada nas reclamações do povo, na qual propunha ao parlamento nacional e a assembleia provincial a criação da freguesia de Papari.
            A proposta foi aceita na câmara dos deputados porem rejeitada no senado, o qual gerou na população uma sensação de descontentamento “superior a toda expressão”.
            Alegando as necessidades espirituais, os eleitores e habitantes de Papari, valendo-se do direito que a constituição do império lhes garantia, se animaram a apresentar novamente o pedido para a criação de freguesia.
             A comissão eclesiástica atenta a religiosidade do povo de Papari, assim como a modéstia, perseverança e luta diuturna para conseguir tal intento, julgou atendíveis  as razões apresentadas para a criação da freguesia, pela natureza do objeto, pelo direito que lhes garantia a constituição, pela diuturnidade de seus sofrimentos dos seus males e por ter havido o projeto votado pelo conselho geral da província e não podendo a comissão deixar de ser insensível a sorte dos suplicantes [o povo] que “não devem merecer à esta augusta câmara menor consideração  e desvelo do que outros pontos do Brasil” era de opinião que fosse deferido de pronto o requerimento para que fosse criada a freguesia de Nossa Senhora do Ó em Papari.

Criação
            Conforme consta nos Anais do Parlamento Brasileiro (1833, p. 94 ) assim a Assembleia Geral Legislativa resolveu:
Art. 1º- Fica desmembrada da matriz de Sant’Ana da vila de São José de Mipibu e elevada à igreja paroquial a capela de Nossa Senhora do Ó da povoação de Papari.
Art. 2º- A Câmara municipal respectiva lhe fixará os limites mais análogos e adaptados as circunstâncias locais, proporcionado e harmonizando, quando for possível, os interesses e comodidades dos paroquianos de uma e outra freguesia.
Art. 3º - Ficam revogadas as disposições em contrário.

            A lei fora assinada no Paço da Câmara dos Deputados em 10 de julho de 1 833.Assinada por Francisco de Brito Guerra, Antônio Maria de Moura e Manoel Inácio de Carvalho.
            Aprovada a resolução a mesma foi determinada a imprimir-se. A regência em nome do Senhor Dom Pedro II consentiu.

A matriz
            A matriz de Nossa Senhora do Ó, padroeira do município de Nísia Floresta, outrora Papari, teve sua construção iniciada em 1735 e concluída em 1756, pelos padres Capuchinhos italianos. A igreja conserva sua arquitetura barroca original. A imagem da padroeira chegou ao município trazida pelos colonizadores que se estabeleceram em  Papary em meados do século XVII.


Igreja Matriz de Nísia Floresta, 2015. João Batista dos Santos

Aspecto interno da igreja matriz de Nísia Floresta, 2015.João Batista dos Santos

Imagem da Nossa Senhora do Ó, padroeira de Nísia Floresta, 2015.João Batista dos Santos.




Fonte: Anais do Parlamento Brasileiro, Rio de Janeiro, 1827, 1833.




quarta-feira, 25 de outubro de 2017

DESCRIÇÃO DO MUNICÍPIO DE TOUROS EM 1881

         A descrição foi enviada da casa de Câmara Municipal de Touros [1] em 20 de agosto de 1881 para ser apresentado a uma exposição que se realizaria na corte imperial em setembro daquele ano.

História
      Ignorava-se a data em que a vila havia sido primitivamente habitada por pescadores e agricultores. Até junho de 1831 foi capela filial de Extremoz. Por meio da lei provincial de 14 de junho de 1831 foi criada a freguesia do Senhora bom Jesus dos Navegantes e por resolução de 11 de abril de 1833 ocorreu a elevação do povoado a condição de vila e por meio da Lei Nº 21 de 2 de março de 1835 o povoado de Touros foi desligado do município de Extremoz.
            Naquele ano de 1881 o município estava assim caracterizado:

Caracterização física
            Do lado sul e oeste é este município coberto de matos. Ao norte e leste  é geralmente plano até e beira mar. Pelo interior tem campos extensos de tabuleiros para criar e matos próprios para agricultura.
          O município tinha extensão de 32 léguas de frente e 6 a 10 de fundo, apresentava muitos portos, sendo os principais o da vila, o da povoação de Maracajaú à nascente e o da povoação de Caiçara ao poente da vila, além destes existiam outros nos pequenos povoados e lugares não povoados. Não haviam ilhas no município.
          Sobre as serras se dizia “ existe um lombo de serra nos limites deste município com o de Ceará-Mirim ao poente, denominado Serra Verde cobertos de matos próprios de plantação, entre este lombo e o mar tem um pequeno serrote denominado Serra do Cotia, proprio de criação de gado”.
             Os risos citados eram em número de 4, sendo os principais o Guamaré, o qual era salgado e de franca para navegação para iates, barcaças e canoas, este rio divida o município de Touros com o de Macau. O rio Maxaranguape, permitia a uma pequena distância a navegação de canoas e jangadas, com nascente no lugar denominado Pau Ferro a 7 légua da foz no mar no lugar denominado Maxaranguape, uma milha à nascente do Cabo de São Roque, este rio dividia o município de Touros com o de Ceará-Mirim. O rio Punaú, não era navegável em razão de não ser cultivado, com nascentes em no olho d’água Catolé, na lagoa de Punaú, Gulandim e Saco, estes confluíam para o lugar denominado Fonseca de onde partia o rio até o mar.  O rio Boqueirão não era navegável por ser razo e secando no verão. 
           O município tinha lagoas e algumas despejavam agua no inverno no mar e eram abundantes em peixes.
            Frutas silvestres: caju, mangaba, araçá cambuim, guabiraba, guajiru, catinga, murici, pitomba, oiti de cheiro, oiti turubá, cajarana, araçá de jacu, massaranduba, abaia, bacupari, uvá.
         Animais silvestres: tatus de diversas qualidades, viados, raposas,maritaca, preá, tamanduá, cutia, guaxinim, gato do mato, maracajá, onças de diversas cores.
         Aves silvestres: jacús, pombas, surienas, garça, maçarico,marreca,paca, pará, jaçanã, sabiá, papagaio, periquitos, jandaia, cancão, gavião, carcará, urubu, bem te vi, canário, galo de campina, corrupião, verdelino, algumas destas prejudicavam as lavouras. As abelhas ofereciam saboroso mel, tais eram: Jandaira papa terra, arapuá, tobiba, mosquito, pimenta, cupira, amarela, cabeça preta.
           O mar oferecia uma diversidade de peixes: pescada, xareu, tainha, bicuda, garabebeu, anchova, bonito, guaiba, serra, campurupim, caval, dentão, cioba, garopa, sirigado, mero, arabaiana, pargo, piracangulo, biguara, cascão de diversa qualidades.nos rios e lagoas se pescava o cará, tapucá, carapeba, camurim, tainha, piau, jacundá, traira, camarão.
            O município era considerado salubre, no entanto no inverno apareciam epidemias de maleitas, sazões e febres intermitentes, no verão poucos casos moléstias apareciam. Em 1856 o cólera morbus havia causado alguns estragos no município, já entre 1877 e 1880 a seca havia arruinado a sorte do município.
         Minerais: os minerais conhecidos no município eram pedras para construção, barro, pedra calcário no centro do município e no Parracho a 32 léguas do mar.
         Madeiras: havia diversas espécies para construção e marcenaria, sendo as principais: pau d’arco, pau ferro, sucupira, pau d’óleo, cumarú, cedro, carnaúba, aroeira, angico, frei Jorge, pereiro, imburana e mangue.
            O município se limitava com o mar pelo lado sueste, a sudoeste com Ceará-Mirim, sendo a divisão o rio Maxaranguape, pelo noroeste com o município de Macau, sendo dividido pelo rio Guamaré, pelo oeste com o de Angicos, servindo de divisão o Riacho Seco, ao norte e a leste pelo Oceano.
          Pelos resultados do último censo havia 9.326 habitantes no município, sendo 9.081 livres e 245 escravos, no entanto se presumia a diminuição da população em consequências da última seca.
           A agricultura se baseava no cultivo de cana-de-açucar, mandioca, algodão, milho, feijão, arroz, batatas. Cultivava-se também algumas espécies de laranjas, lima, romã, banana, pinha, abacaxis, graviolas, manga, jaca, goiaba, coco e dendê.
          Na época eram considerados legumes o melão, melancia e o jerimum, igualmente cultivados no município.A criação consistia em gado vacum, cavalar, ovelhas, cabras e suínos. A pequena criação se limitava a galinhas, perus, patos e guiné.A produção de pescado não se destinava só ao consumo diário da população, mas também para as salgas destinadas a exportação marítima e central.
       A indústria fabril constava da produção de açúcar, aguardente, fumo, farinha de mandioca, cordas, diversos linhos, telhas de olarias, tijolos para ladrilhos, haviam também alguns teares rústicos de tecidos grossos de algodão.
        O comércio se limitava a exportar a açúcar, farinha de mandioca, lãs, peixe seco, os demais gêneros eram consumidos no município. Importava-se ferragens, vidros, louças, tecidos e outros utensílios de fabricação estrangeira.
          Havia na vila duas escolas de instrução primaria, uma para cada sexo. No interior do município haviam duas escolas particulares.
          Em relação a divisão eclesiástica, a freguesia pertencia ao bispado de Pernambuco, com uma só paróquia denominada de Senhor Bom Jesus dos Navegantes criada em 1831.Havia uma capela filial na povoação de Caiçara a 14 léguas distante ao norte da vila.
       Segundo o relatório mencionado as obras públicas eram a igreja matriz, o paço da câmara municipal, cemitério e a ponte que atravessava a vila para a praia.
          Estava distante da capital 18 léguas ao norte, a vila de Ceará-Mirim 12 léguas ao sul, a vila de Angicos 30 léguas a oeste, a cidade de Macau 28 léguas a ao norte.

Descrição da vila
            A vila estava situada a margem do rio Jiqui, que era o nome de uma lagoa por onde passava o dito rio distante meia légua do poente da vila vindo da lagoa de Boqueirão. O terreno da vila foi descrito como sendo todo plano.As ruas da vila eram geralmente tortuosas, sendo uma largas, outras estreitas. Tinha a época 148 casas, todas térreas, 15 casas de pedra e cal, as demais eram de taipa cobertas de telhas.
            O principal edifício era a igreja matriz com 26 metros de comprimento, 17 de largura e 14 de altura, com frente para o mar.
            Havia 2 cemitérios, um público do governo provincial estava desmoronando, outro particular, dos povos, ainda por se concluir, onde erma sepultados os mortos desde 1872.A casa de Câmara era de taipa e existia desde 1877.Os demais edifícios eram de propriedades particulares. Havia uma ponte em mal estado, construída pelos cofres provinciais, pela qual passavam os habitantes da vila para a praia para comprar peixes diariamente, o qual era a principal comida dos habitantes locais.
         Em frente a vila, um pouco à nascente, havia na praia uma pedreira denominada Touro medindo 7 metros de altura e 100 de comprimento, com uma excelente planície em cima, onde segundo o relatório apresentando conviria se construir um farol para auxilio da navegação, a fim de se evitar os naufrágios que eram constantes naquela região de parrachos.
           
Fonte: Anais da Biblioteca Nacional, 1991, p.244- 246.




[1] A Casa de Câmara a época era composta por Firmino Gomes de Castro, presidente: Claudino José de Farias, Manoel da Costa Peixoto, Jacinto Januário da Costa, Izequiel Francisco da Cruz. À época o presidente da Câmara exercia a função que hoje é a de prefeito e os demais eram os vereadores.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

RELAÇÃO DOS ENGENHOS E SEUS PROPRIETÁRIOS NO VALE DO CEARÁ-MIRIM EM 1885



         Segundo publicado no Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro em 1885 estes eram os engenhos que haviam no vale do rio Ceará-Mirim naquele período.Eles foram classificados em movidos a tração animal, engenhos de açúcar e a vapor.Foram relacionados os nomes do proprietário e o respectivo engenho.

Engenhos a tração animal 
Proprietário
Engenho
Alexandre R. Santiago
Boa Vista
Braz Carrilho do Rego Barros
Engenho do Meio
Estevam Silvestre da Costa
Nascença
Eugenio José Perez
Nova Ilha Grande
Euquerio José Perez
Olho d’Água
Felismino do Rego Dantas e irmão
Ilha Grande
Heráclio de A. Vilar
Floresta
Inácio F. de Gois
Barra
João Batista de Souza Menino
Santa Maria
João F. de Magalhães
Santo Antonio
José Leonardo Dantas Soares
Rio Novo
José Ribeiro Dantas Sobrinho
Timbó
José S. Fernandes Barros
Rio Azul
Manoel Antônio de Miranda
Santa Rita
Manoel Guedes da Fonseca
Pedregulho
Manoel Nicacio Barbosa
Massagana
Olinto José Meira
Jericó
Vicente I. Pereira
Trigueiro
Total
18
Fonte: Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1885, p. 770.


Engenhos de açúcar

Proprietário
Engenho
Andrade José da Fonseca e Silva
Riacho
Ângelo V. Santiago
Maxaranguape
Carlos Manoel J. Nogueira
Limoeiro
Francisco de Albuquerque M. Lacerda
Santa Maria
Francisco Goes e Vasconcelos Borba
Linda Flor
Francisco Ferreira Nobre
Mangabeira
Francisco Inocêncio da Silva
Riachão
Guilherme da Rocha
Carnaubinha
João da Fonseca Silva Sobrinho
São João
João José da Silva
Cocorote
Joaquim Teixeira da Costa
Mangueira
Joaquim Varela Buriti
Dois irmãos
João Ernesto de Carvalho
Pau Ferro
José da Fonseca Silva
Novo Riacho
José Ferreira da Costa
Poços
José Francisco Pieira
Santa Maria

Onofre José Soares
Conceição da Mata
Bela Aurora
Tapera
Pedro da Costa Gomes

Boa Vista
Manoel Varela Santiago
Recreio
Martinho Paraquanha
São José
Miguel da Costa Gomes
Maceió
Miguel Honório da Câmara
São Sebastião
Miguel José Labóra
Rosário
Total
26

Fonte: Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1885, p. 770-71.

Engenhos a vapor
Proprietário
Engenho
Antônio de Oliveira Antunes [padre]
Imburana
Ana Pereira Sobral
Laranjeiras
Baronesa do Ceará-Mirim
São Francisco
Carlos A. Carrilho de Vasconcelos
Carnaubal
Família Furtado Mendonça Menezes
União
Felipe Bezerra C. Rocha
Cajazeiras
Francisco Xavier Pereira Sobral
Paraiso
João Xavier Pereira Sobral
Espirito Santo
Joaquim I. Pereira
Torre
Jeronimo C. Raposo da Câmara
Triunfo
José Antunes de Oliveira
Outeiro
José Felix da Silveira Varela
Ilha-Bela
José Ribeiro Dantas Sobrinho
São Pedro
Maria de C. Barroca e filhos
Verde Nasce
Miguel Ribeiro Dantas
Diamante
Samuel Bolsham
Cruzeiro
Vicente Inácio Pereira
Guaporé
Total
17

Fonte: Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1885, p. 771.

Síntese
Tipo
Quantidade
Engenhos a tração animal
18
Engenhos de açúcar
26
Engenhos a vapor
17
Total
61


Sobre o vale do Ceará-Mirim
            O vale era considerado por sua espantosa fertilidade uma das maravilhas da então província do Rio Grande do Norte, digno de ser contemplado num majestoso panorama de extensíssima e incomparável verdura oferecida a vista do observador, era também digno da atenção protetora dos governantes por sua constante produção.
            Segundo o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro o vale se estendia sobre 4 léguas de comprimento no sentido Leste-Oeste e sobre 1 légua e meia no sentido Norte-Sul e estava quase todo ocupado sem interrupções por imensas plantações de cana-de-açúcar[1].
            Das primeiras horas da manhã até a tarde o vale era digno de ser apreciado do topo de qualquer ponto elevado das belas colinas que o circundava.  Havia, no entanto, três pontos onde o observado poderia fartar a vista contemplando o vale, eram eles os Engenho Ilha Bela, Bica e o Jericó.
              A produção no vale foi estimada em   6 mil e 10 mil sacos de açúcar anualmente [2].
            As casas dos engenhos eram no geral bem edificadas, cômodas, espaçosas, sendo alguma até providas de água encanada que era obtida por meio de elevadores de moinho de vento americanos automáticos. As casas dos engenhos eram geralmente edificadas sobre uma suave colina levemente inclinada ao longo do vale.



[1] 1 légua equivale a 6 km, assim o vale media segundo o referido almanaque 19,31 km de comprimento por 9 km de largura.

[2] A época cada saco variava de 75 kg ou 5 arrobas.