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Matriz de Santana do Matos em 1942.Foto: A Ordem.
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Segundo o jornal da diocese da Paraíba, A Imprensa, somente em
09/09/1900 pode ser realizada a benção da imagem do Sagrado Coração de Jesus
que no meio das ovações de crescido número de fiéis entrou naquela vila no dia
25 de agosto, sendo seguida em seguida por aguardar-se o dia de sua benção,
depositada em casa do vigário onde deveria ter lugar aquela solenidade.
Efetivamente as 09h30 da manhã dia 09/09/1900, último dia da
festa em homenagem a excelsa padroeira de Santana do Matos, que havia começado
em 31 de agosto, teve lugar a benção da “nossa muito linda imagem do S.C. de
Jasus, na porta principal da casa do Vigário, em um troneto docemente e ricamente
adornado, tendo em cada lado dois anjinhos lindamente vestidos, que sobre a
mesma imagem deitavam flores mimosas, a capricho colhidas das nossas selvas e
jardins”.
Ao término da cerimônia a maviosa filarmônica assuense,
dirigida habilmente por seu professora Pedro Custódio, “quebrou a quietude dos
ares com os acordes e vibrações de seus instrumentos, executando o hino entoado
pelas moças e mais outras encantadoras peças do seu infido repertório”.
Depois, em direção a majestosa matriz “que à semelhança de
um paraíso” esperava estrear em seus regaços o Coração do Senhor, saiu o andor
que meiava entre duas alas organizadas por grande número de meninas e de moças,
nunca inferior a 80, entoando hinos enternecedores, todas trajando lindos
vestidos brancos, elegantemente ataviados, simbolizando, assim a pureza de
suas almas, ainda aguardando, de certo, a maior fé em seus corações, o mesmo Jesus,
recebido das mãos de seu ministro naquela mesma manhã.
Ao prestito religioso seguia o incontável número de fiéis,
que ainda traziam o maior silêncio e respeito, deparando-se sempre multidões de
devotos que, das calçadas onde se achavam, prestavam profunda cortesias e
faziam suas deprecações à imagem do Sagrado Coração de Jesus que com todo amor
e respeito era conduzido pelas zeladoras, evidenciando-se então em todas uma
alegria inefável e o sentimento religioso que vantajosamente se inoculava em
todos os corações.
E para maior realce, subiram de diversos pontos grande girândolas
de foguetes tonitruantes que casavam em harmonia com as notas sacas de peitos
robustos.
Ao chegar a matriz, em todas as feições transluzia o entusiasmo
encerrado da parte dos católicos e a satisfação da parte do Vigário, que então
custosas diligências havia conseguido realizar tão imponente solenidade.
As 17h30,conforme fora anunciado pelo Vigário,
teve lugar a procissão da imagem de Santana, orago da freguesia e da mesma
imagem do Sagrado Coração de Jesus, que foram conduzidas por aquelas donzelas
dos vestidos brancos; compreendendo-se para maior glória da Igreja, que os moços
cheios de alegria, indizíveis de sempre e revelando cada vez mais fervorosa a
sua crença e fé, unem-se com os velhos que tem a morte próxima e as ilusões
perdidas.
Ao recolher-se a procissão, seguiu a ladainha, e estando o Sacramento
exposto, o Vigário fez o ato de consagração ao Sagrado Coração de Jesus,
havendo ainda maior silêncio e respeito.
Terminando assim todas as
solenidades atinentes aos festejos tributados a Santana e ao Sagrado Coração de
Jesus, “jamais se poderá avançar que nestas paragens a religião é palavra vã ou
que dos corações de alguns se haja banido o inveterado sentimento da nossa
santa religião”
E desse modo terminou-se na maior serenidade a festa que em
honra da padroeira Santana e do Sagrado Coração de Jesus, fizeram os católicos
da freguesia de Santana do Matos, “coadjuvados pelos ingentes esforços do
inteligente, virtuoso, trabalhador e amável sacerdote João Borges de Sales, a
quem resta-me pedir desculpa por ter atacado sua modéstia”, escreveu o cronista
que relatou os atos solenes citados a cima e se assinou como “Um católico que
assistiu”.
Fonte: A Imprensa, 07/10/1900, p.3.
Pesquisa: João Santos,
14/09/2025.