Sem dúvidas o que se verá adiante constitui-se o mais importante acontecimento que ocorreu no município de Pedro Velho na década de 1950.
O mais
desconcertante ocorrido nas eleições municipais realizadas no Estado em 1952
ocorreu em Pedro Velho onde por maioria de apenas 7 votos foi eleita Maria
Doralice Teixeira, que concorreu como candidata de oposição.
De fato o
elemento feminino predominou naquelas eleições em vários municípios, não apenas
em número, nas filas a porta das mesas receptoras, mas em atividades nas ruas
como cabos eleitorais, encaminhando e orientando eleitores.
Em Pedro Velho,
ocorreu algo fantástico, a começar pelo registro dos candidatos.
Até as 15h00 do
dia em que se devia encerrar o prazo de registro, não havia aparecido o
candidato de oposição habilitado perante a Justiça Eleitoral, para concorrer ao
pleito em Pedro Velho.
De casa em casa
havia ele sido procurado, mas ninguém aceitara o cometimento.
Não era tanto a
falta de coragem de enfrentar os chefes tradicionais do município, mas
principalmente a ausência de fé, mesmo sob o regime do voto secreto, em
qualquer possibilidade de êxito nas urnas.
Maria Doralice Teixeira foi eleita prefeita de Pedro Velho,
fato considerado inédito na vida do município, onde tradicionalmente só o
situacionismo vencia. Foi talvez a maior surpresa das eleições municipais
daquele ano de 1952 em todo Estado.
Maria Doralice
Teixeira concorreu as eleições municipais pela UDN.
Maria Doralice
Teixeira era uma moça que há pouco tempo havia deixado o curso de contabilidade
do Colégio Imaculada Conceição, em Natal, do ano de 1943.
De volta ao
município de Pedro Velho ajudava o pai na escrituração da loja de sua
propriedade.
Faltando poucos
minutos para terminar o prazo de registro Maria Doralice Teixeira efetuou sua
candidatura no TRE para surpresa e espanto de todos.
Não houve tempo para comícios em praça pública. A propaganda limitou-se a simples distribuição de chapas. No dia do pleito, duas
rezes foram abatidas e seis residências de correligionários na cidade
garantiram a “bóia” dos eleitores procedentes dos distritos.
A apuração de
Pedro Velho se verificou na sede da zona eleitora, que a época era em
Canguaretama, onde estava presente Maria Luci Lira e Silva, única delegada do
partido e exclusiva artífice da candidatura da amiga que havia ficado
incrédula, lá no município de origem.
Os
escrutinadores em Canguaretama começaram a contar os votos de Pedro Velho,
esvaziadas as sete urnas da cidade, saiu Maria Doralice Teixeira com maioria de
188 votos sobre o opositor. Maria Luci Lira e Silva, delegada do partido,
começou a acreditar na possibilidade da eleição da amiga. Entraram, porém, as
duas últimas urnas, as do distrito de Montanhas e a maioria de 188 votos
começou a diminuir.
A angústia acabou com as derradeiras resistências dos nervos
da delegada. Mas, Lagoa de Montanhas também cansou, ao atingir ali o adversário
a maioria de 181.Restavam sete votos, os sufrágios fatais, que asseguraram a
Maria Doralice a prefeitura de Pedro Velho. A junta proclamou a eleita. Maria Luci, ao ouvir o veredito das urnas desmaiou, não resistiu aos 22 dias de
intenso trabalho.
Concluída a
apuração no município de Pedro Velho constatou-se a vitória de Maria Doralice
Teixeira por maioria de 7 votos sobre seu oponente Genival Azevedo, coligação
PSD-PSP.
O eleitorado a
época era de 2.185 votantes.
O resultado
geral da apuração em Pedro Velho para prefeito em 1952 foi 529 votos para Maria
Doralice Teixeira e 522 para Genival Coelho de Azevedo. Para vice-prefeito
Benedito Barbosa obteve 529 e José Pereira de Souza 522.
Maria Doralice Teixeira assumia as rédeas do município em
circunstâncias invejáveis pressa com que foi lançada sua candidatura não
deixou tempo para compromissos exceto com o povo que a elegeu. Poderia assim
fazer muito pelo seu povo.
Ao falar a reportagem do Diário de Natal referiu-se a
construção do cemitério público, ponte sobre o rio Piquiri, reconstrução da
escola isolada de Ingá, cujo prédio desabou havia tres anos, rodovias,
instrução, saúde e reforço financeiro à cooperativa local.[1]
Maria Doralice casou em 03/03/1956 com o
poeta Benedito Geraldo Maia, após o qual passou a assinar-se Maria
Doralice Teixeira Maia.
O casamento foi realizado na igreja matriz de Pedro Velho
oficiado pelo vigário da paróquia o Pe. Jalmir de Albuquerque Silva, celebrado
com efeitos civis, sendo testemunhas por parte da noiva, o Dr. José Targino e
sua esposa, Maria Luiza Targino, e por parte do noivo o deputado federal Djalma
Aranha Marinho e sua esposa Linda Cavalcanti Marinho, tendo comparecido grande
número de pessoas amigas e parentes dos nubentes que gozavam na cidade de
grande conceito.
De retorno da viagem
nupcial Maria Doralice Teixeira Maia, acompanhada do seu esposo, foi
homenageada na casa de seus pais por parte de parentes, amigos e
correligionários.
No mesmo dia deu entrevista ao jornal O Poti, no qual
declarou que prentendia continuar dirigindo os destinos de Pedro Velho com a
mesma boa intenção com que vinha mantendo, sem deixar de volver, mesmo em Natal
os seu olhos e espiríto para os problemas coletivos.
Perguntada se
tinha um plano a executar naquele momento, assim respondeu:
-No dia trinta
e um de março, quando completará o terceiro ano de minha administração,
lançarei a pedra fundamental para a construção do Posto de Saúde, como também
darei inicio a construção do nosso campo Santo, além de dar inicio a
concretização de um parque infantil e de um chafariz.
Concluindo a
entrevista expôs ainda a prefeita:
-tão logo me seja oportuno realizarei o levantamento da ponte
sobre o rio Piquiri, que divide o nosso Município com o Canguaretama, e de uma
praça no Centro da cidade, problemas que tem constituído minha única
preocupação.[2]
Maria Doralice Teixeira
registrando sua candidatura
Fonte:
Diário de Natal, 11/12/1952,p.1.
Na imagem está Maria Doralice ao centro fazendo o registro de
sua candidatura ao lado de sua amiga e mentora politica Maria Luci.