segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A PRIMEIRA PREFEITA DE PEDRO VELHO-RN

 

 

      Sem dúvidas o que se verá adiante constitui-se o mais importante acontecimento que ocorreu no município de Pedro Velho na década de 1950.  

       O mais desconcertante ocorrido nas eleições municipais realizadas no Estado em 1952 ocorreu em Pedro Velho onde por maioria de apenas 7 votos foi eleita Maria Doralice Teixeira, que concorreu como candidata de oposição.

         De fato o elemento feminino predominou naquelas eleições em vários municípios, não apenas em número, nas filas a porta das mesas receptoras, mas em atividades nas ruas como cabos eleitorais, encaminhando e orientando eleitores.

         Em Pedro Velho, ocorreu algo fantástico, a começar pelo registro dos candidatos.

         Até as 15h00 do dia em que se devia encerrar o prazo de registro, não havia aparecido o candidato de oposição habilitado perante a Justiça Eleitoral, para concorrer ao pleito em Pedro Velho.

         De casa em casa havia ele sido procurado, mas ninguém aceitara o cometimento.

         Não era tanto a falta de coragem de enfrentar os chefes tradicionais do município, mas principalmente a ausência de fé, mesmo sob o regime do voto secreto, em qualquer possibilidade de êxito nas urnas.

        Maria Doralice Teixeira foi eleita prefeita de Pedro Velho, fato considerado inédito na vida do município, onde tradicionalmente só o situacionismo vencia. Foi talvez a maior surpresa das eleições municipais daquele ano de 1952 em todo Estado.

         Maria Doralice Teixeira concorreu as eleições municipais pela UDN.

         Maria Doralice Teixeira era uma moça que há pouco tempo havia deixado o curso de contabilidade do Colégio Imaculada Conceição, em Natal, do ano de 1943.

         De volta ao município de Pedro Velho ajudava o pai na escrituração da loja de sua propriedade.

         Faltando poucos minutos para terminar o prazo de registro Maria Doralice Teixeira efetuou sua candidatura no TRE para surpresa e espanto de todos.

 Não  houve tempo para comícios em praça pública. A propaganda limitou-se a simples distribuição de chapas. No dia do pleito, duas rezes foram abatidas e seis residências de correligionários na cidade garantiram a “bóia” dos eleitores procedentes dos distritos.

         A apuração de Pedro Velho se verificou na sede da zona eleitora, que a época era em Canguaretama, onde estava presente Maria Luci Lira e Silva, única delegada do partido e exclusiva artífice da candidatura da amiga que havia ficado incrédula, lá no município de origem.

         Os escrutinadores em Canguaretama começaram a contar os votos de Pedro Velho, esvaziadas as sete urnas da cidade, saiu Maria Doralice Teixeira com maioria de 188 votos sobre o opositor. Maria Luci Lira e Silva, delegada do partido, começou a acreditar na possibilidade da eleição da amiga. Entraram, porém, as duas últimas urnas, as do distrito de Montanhas e a maioria de 188 votos começou a diminuir.

A angústia acabou com as derradeiras resistências dos nervos da delegada. Mas, Lagoa de Montanhas também cansou, ao atingir ali o adversário a maioria de 181.Restavam sete votos, os sufrágios fatais, que asseguraram a Maria Doralice a prefeitura de Pedro Velho. A junta proclamou a eleita. Maria Luci, ao ouvir o veredito das urnas desmaiou, não resistiu aos 22 dias de intenso trabalho.

         Concluída a apuração no município de Pedro Velho constatou-se a vitória de Maria Doralice Teixeira por maioria de 7 votos sobre seu oponente Genival Azevedo, coligação PSD-PSP.

         O eleitorado a época era de 2.185 votantes.

         O resultado geral da apuração em Pedro Velho para prefeito em 1952 foi 529 votos para Maria Doralice Teixeira e 522 para Genival Coelho de Azevedo. Para vice-prefeito Benedito Barbosa obteve 529 e José Pereira de Souza 522.

Maria Doralice Teixeira assumia as rédeas do município em circunstâncias invejáveis pressa com que foi lançada sua candidatura não deixou tempo para compromissos exceto com o povo que a elegeu. Poderia assim fazer muito pelo seu povo.

Ao falar a reportagem do Diário de Natal referiu-se a construção do cemitério público, ponte sobre o rio Piquiri, reconstrução da escola isolada de Ingá, cujo prédio desabou havia tres anos, rodovias, instrução, saúde e reforço financeiro à cooperativa local.[1]

Maria Doralice casou em 03/03/1956 com  o  poeta Benedito Geraldo Maia, após o qual passou a assinar-se Maria Doralice Teixeira Maia.

O casamento foi realizado na igreja matriz de Pedro Velho oficiado pelo vigário da paróquia o Pe. Jalmir de Albuquerque Silva, celebrado com efeitos civis, sendo testemunhas por parte da noiva, o Dr. José Targino e sua esposa, Maria Luiza Targino, e por parte do noivo o deputado federal Djalma Aranha Marinho e sua esposa Linda Cavalcanti Marinho, tendo comparecido grande número de pessoas amigas e parentes dos nubentes que gozavam na cidade de grande conceito.

De  retorno da viagem nupcial Maria Doralice Teixeira Maia, acompanhada do seu esposo, foi homenageada na casa de seus pais por parte de parentes, amigos e correligionários.

No mesmo dia deu entrevista ao jornal O Poti, no qual declarou que prentendia continuar dirigindo os destinos de Pedro Velho com a mesma boa intenção com que vinha mantendo, sem deixar de volver, mesmo em Natal os seu olhos e espiríto para os problemas coletivos.

         Perguntada se tinha um plano a executar naquele momento, assim respondeu:

         -No dia trinta e um de março, quando completará o terceiro ano de minha administração, lançarei a pedra fundamental para a construção do Posto de Saúde, como também darei inicio a construção do nosso campo Santo, além de dar inicio a concretização de um parque infantil e de um chafariz.

         Concluindo a entrevista expôs ainda a prefeita:

-tão logo me seja oportuno realizarei o levantamento da ponte sobre o rio Piquiri, que divide o nosso Município com o Canguaretama, e de uma praça no Centro da cidade, problemas que tem constituído minha única preocupação.[2]

Maria Doralice Teixeira registrando sua candidatura

Fonte: Diário de Natal, 11/12/1952,p.1.

Na imagem está Maria Doralice ao centro fazendo o registro de sua candidatura ao lado de sua amiga e mentora politica Maria Luci.

 



[1] Diário de Natal, 11/12/1952, p.1.

 

[2] O Poti, 25/03/1956,p.6.

 

sábado, 7 de setembro de 2024

SOBRE A PARADA DE MELANCIAS

 

         A parada de Melancias foi uma parada da linha tronco da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN construída no povoado de mesmo nome a época município de Taipu, atualmente distrito do município de Poço Branco.

         O aviso nº 201, de 09 de setembro de 1918, do ministério da viação e obras públicas, resolveu autorizar a construção de uma parada entre as estações de de Taipu e Baixa Verde, aprovando igualmente o respectivo orçamento no valor de 1:632$027.O aviso foi publicado no Diário Oficial da União em 11/09/1918.

         Foi estabelecido o local em Melancias, a época pertencente ao município de Taipu, atualmente localizado no município de Poço Branco.

         A parada de Melancias foi inaugurada em 08/09/1919.

                O Jornal, do Rio de Janeiro publicou da seguinte forma a notícia da construção da parada de Melancias: “o inspetor federal das estradas comunicou ao ministro da Viação que a população da localidade denominada Melancias, entre as estações de Taipu e Baixa Verde, construiu e ofereceu a esta estrada uma parada com o mesmo nome”. (O Jornal (RJ), 14/08/1919, p.6).

         A parada foi incorporada ao tráfego de acordo com a autorização nº 201, de 1918.

         Não obstante isso, os doadores da parada e Melancias pediram ao ministro da Viação a mudança do nome da parada para Desembargador Ferreira Chaves.

Ferreira Chaves foi governador do Rio Grande do Norte pela segunda vez de 1 de janeiro de 1914 até 31 de dezembro de 1920.

No entanto, o requerimento encabeçado por Joaquim Alves da Rocha e outros, pedindo a mudança do nome da parada foi indeferido por despacho do ministério da viação e obras públicas, o qual justificou o indeferimento à vista dos avisos nº 173 que proibia dar nomes de pessoas vivas às estações. (O Paíz (RJ), 15/08/1919, p.4).

Ao que parece a parada de Melancias foi desativada na década de 1960 pois, a mesma não consta nos horários de trens dessa época.

Na imagem a baixo é possível ver a estrutura em metal e parte da plataforma da antiga parada de Melancias. 

Ruínas da parada de Melancias


quinta-feira, 16 de maio de 2024

SOBRE A PARADA DA ASSOCIAÇÃO FEMININA DE ATLETISMO DE NATAL EM 1935

 

       Em maio de 1936 a revista paraibana Ilustração exibiu as imagens da parada da Associação Feminina de Atletismo-AFA, de Natal que ocorrera em 15/11/1935 na capital potiguar.

         Conforme a referida revista a AFA era o “jardim humano de Natal”.Era o sorrido de saúde e de beleza da “metropolizinha voluptuosa e terna, que é a primeira  na América do Sul, a dar as boas vindas aos aviões que vêm do Velho Mundo...”.

         E arrematou as ilustrações com essa declaração à capital potiguar:

         “Natal

          Cidade-Noiva...

          Cidade-Moça...

          Namorada do Atlântico...

          Natal...”

        Eram outros tempos, onde as mulheres potiguares buscavam seu lugar ao sol sem se dá ridículo de despudor dos tempos atuais.

         Dias depois, exatamente em 27/11/1935, Natal seria novamente destaque nos meios da imprensa nacional pela famigerada tentativa de golpe dos destemperados comunistas que queriam transmutar para a "Pequena Moscou" os meigos e encantadores epítetos que foram publicados  na referida revista e visto à cima.

         







Fonte: Ilustração (PB), 1ª quinzena de maio de 1936, p.6.




sexta-feira, 20 de outubro de 2023

SOBRE AREIA BRANCA EM 1939

 

Em 1939 J. A. Seabra de Melo escreveu uma reportage para a Revista de circulação nacional Carioca a respeito do municipio de Areia Branca.

Segundo o citado autor Areia Branca oferecia, em contrataste as cidades litorâneas  do Rio Grande do Norte, que ele conhecia, os aspectos de uma atividade commercial e de uma vida social intense e absorvente.Não era mais,na ideia que ele fazia, de uma cidade esqucida da civilização edas formas mais atuais do progresso, um vilarejo com algumas casas pintadas de amarelo vivo, num alinhamento regular e caprichoso.

O autor esteve em Areia Branca havia uns 10 anos passados, ou seja, por volta de 1929, e se surpreendeu pela monotonia enexpressiva das suas três ruas esburacadas e poeirentas: a rua da frente, a rua de trás e a rua do meio.

Olhando para o rio Mossoró, e com a igrejinha muito humilde e muito branca, havia ainda  a “praça” – ladeada por alguns edificios de feia arquitetura e possuindo a modestissima ornamentaçaõ de alguns ficus esgalhados e liberrimos.”Nesse quadrado e nas três artérias por onde um vento constante passava levantando poeira, inultimente procurariamos a promessa tardia ou próxima de um paralelepido”, escreveu o referido autor.

E sobre a desolação noturna de um aerial que lembrava a hostilidade de um deserto, avultava a tristeza maior de alguns pontos vagamente luminosos e indecisos com cirios em agonia.

A lua, na deliciosa maledicência dos areiabranquenses, era a colaboradora fiel e insubstituivel da usina elétrica.Com um luar esplendido e triunfal, não preciso haver luz.E não havendo luz, a cidade não viveria às escuras e tateando.As  sombras fugiam à aproximação da grande claridade fria que se derramava do céu e sobretudo era romantic e cariciosa.

Os globos elétricos, aceso ao longo das calçadas e sob a proteção dos “abat-jour”, só serviriam para acentuar a escuridão velada e cumplice…

Para J.A. Seabra havia alguns anos que Areia Branca vinha se transformando na mais encantadora das cidade.O progresso tomava conta de tudo, dando-lhe novos aspectos e lhe aumentando o fascinio.O que não conseguira foi expulsar para longe a poesia que vinha das Salinas com as suas pirâmides alvissimas e que dimanava do rio de águas turvas, onde as barcaças e os batelões pesados e chatos animavam a mais encantadora das paisagens.

A cidade recebia todas as mensagens do mundo através de mais de 50 antenas de radio, e que segundo o autor soube conserver também os costumes antigos e os usos tradicionais.”Persiste o hábito cordial e amorável das longas palestras nas calçadas, lembrando um livro original de Telmo Vergara”.

Era possivel ainda, como nos bons tempos do roamantismo, namorados timidos e corteses, para quem um olhar demorado e uma palavra no ouvido resumiam a maior das aventuras.

E nem sequer desaparecera o gusto proviciano da oratória solene e dos entusiasmos em praça pública, que sugeriam a Alcantara Machado uma página colorida e expressive.

Até mesmo o cinema, que deixara de ser mudo e havia se instalado num prédio novo e confortável, contribuia pela constância dos cartazes anunciando Tom-Mix e as series MAscote, para preserver a simplicidade dos habitants em sassuntos de arte.”E existirá, sem sombra de dúvida, um bom senso profundo na preferência dos filmes de ‘Comboy’ e das series barulhentas, diante das quais pouco valem os dramalhões em celuloide, com mulheres vampirescas e de longas pestanas enigmáticas”.

    Ao que só conservavam a attitude sonolenta diante de Greta Garbo ou das proesas épicas de Bob Steele, a cidade destinava uma praça arborizada e moderna, onde se ouviam, todas as noites, discos variados e a voz afetad do locator da Amplificadora Municipal.

Pelas necessidades mesmas da sua principal indústria, o sal, Areia Branca lembrava,na perspective das embarcações a vela grudada ao longo do cais de pedra, aquelas cidades orientais que o comércio maritime prolongava numa população ominimoda e estranha, espalhada pelos convés das enormes falúas bojudas.

No porto, onde só nas marés de janeiro os navios de pequeno calado transpunham a barra para ficar em frente a cidade, o veleiro era ainda o simbolo de uma antiga vocação para o mar.O destino dos descobridores se eternizava na aventura dos pescadorese saveireiros de Areia Branca…

    Jorge Amado poetisou em Mar Morto a vida dos homens domar, na lendária Bahia de Todos os Santos.Mas na Bahia a aventura se passava nos saveiros que o vento empurrava docemente para as cidades próximas ali na placidez da enseada.

Os navegodores obscures e intrépidos que transportavam o sal no fundo das barcaças, indo a Natal, a João Pessoa e ao Recife, reviviam na tarefa sossegada ou no combate com os temporais, a audácia daqueles marinheiros atrevidos que desconheciam o temor e viram o outro lado do mundo.

Não havia surgido ainda o narrador que lhes aprofundasse o drama obscure extraindo o excelente material de romance que ele continha.

         O municipio de Areia Branca possuia em 1939 20 salinas, com produção anual de 120 toneladas.Mais de 2.000 homens trabalhavam na safra anual, nma tarea rendosa e ingrata.

De 1932 a 1936 Areia Branca havia produzido 448.413.476 kg do melhor sal do mundo, exportando no mesmo periodo 420.955,258 kg.

Produção que se traduzia na seguinte demonstração das rendas municipais, de 1894 até 1936.

 

ano

receita

1894

6:550$000

1910

11:500$000

1927

78:820$000

1935

130:000$000 a 154:801$000

1936

148:900$000 a 243:267$351

 

População, melhoramento e instrução

A população do municipio se elevara em 1939 a 18.500 habitantes, sendo 9.000 na sede municipal, 2.500 na vila de Grosos e 7.000 nos povoaodos e nas praias.

A cidade possuia dois sindicatos, o dos estivadores e dos barcaceiros, um clube esportivo, o Centro Esportivo Areibranquense, de que era presidente Dr.Walter de Góes.A instrução primária no municipio era racional e eficiente, contando a cidade com mais de 400 alunos de ambos os sexos.

Areia Branca era servida pelas redes aéreas da Panair do Brasil e da Condor, possuindo serviço regular de transportes maritimos proporcionado pelo Lloyd Brasileiro, Companhia Nacional de Navegação Costeira, Comércio e Navegação, Wilson e várias companhias estrangeiras.

Tudo isso constituia evidentemente um indice de prosperidade que não se observava na maioria das cidades litorâneas do Estado.E Areia Branca tinha sabido compreender a sua posição de vanguarda, contribuindo com um máximo de esforço e de entusiasmo para o surto de uma indústria que entrara num período de pleno florescimento.

A baixo as fotografias que ilustravam a referida matéria.

Fonte: revista Carioca (RJ), n.194, 08/07/1939, p.10 e 64.

Trabalhador na salina em Areia Branca

Praça Coronel Fausto, Areia Branca.

Embarque de sal e vista de Areia Branca a partir do mar.

Aspecto do porto de Areia Branca.



sábado, 23 de setembro de 2023

SOBRE O NOME DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE NATAL

 

         A estação ferroviária central de Natal, situada a praça Augusto Severo, na Ribeira, tem oficialmente a denominação de “Estação Poeta Diógenes da Cunha Lima”.

         Nada contra o Sr. Diógenes da Cunha Lima, eminente homem das letras potiguar, mas a homenagem é no mínimo sem sentido e não se justifica.

         A cidade do Natal cometeu ao longo do tempo injustiças injustificáveis (com o perdão do pleonasmo) contra duas personalidades os quais mereciam serem os homenageados com a denominação do edificio da estação central de Natal.Trata-se dos ingleses Jason Rigby e John Morant.Ambos tem seus nomes atrelados intrinsecamente a Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz, a primeira ferrovia construída em solo potiguar mas, que por ironia do (ou descaso?) do destino tem seus nomes varridos dos anais da história da capital potiguar.

         Jason Rigby presidiu a comissão de engenheiros que aportou em Natal em 1878 com a missão de tirar do papel o projeto há muito tempo anunciado e desacreditado pela população natalense da construção da estrada de ferro, sendo igualmente o primeiro superintendente da Imperial Estrada de Ferro do Natal a Nova Cruz.

         Ao chegar a Natal o engenheiro Jason Rigby promoveu uma grandiosa festa para marcar o inicio das obras da ferrovia no trecho de 4 km entre a margem do rio Potengi na Ribeira e o Refoles, onde hoje se situa a estação Alecrim I.A festa movimentou toda a cidade do Natal.

         O engenheiro inglês conseguiu terminar as obras de construção da ferrovia dentro do prazo estabelecido pelo Império sob pena de caducar a concessão dada pelo Governo. E assim as obras prosseguiram entre 1879 e 1881 quando foi inaugurado o primeiro trecho entre Natal e São José de Mipibu, a segunda seção foi inaugurada em 31/10/1882, entre Papari (Nisia Floresta) e Lagoa de Montanhas (atualmente Montanhas) e a terceira e última em 04/04/1883, entre o povoado do Catolé e a vila de Nova Cruz.

         Jason Rigby permaneceu a frente da administração da ferrovia até 1885 quando foi designado pela diretoria da Great Western of Brazil em Londres para assumir a administração dessa empresa no Recife, transferindo-se então da capital potiguar para a metrópole pernambucana naquele ano.Para saber mais sobre o engenheiro Jason Rigby        

         Para substituir Jason Rigby foi designado outro engenheiro inglês, Jonh Morant, que na capital potiguar se fez ser bem quisto pela população natalense devido sua urbanidade e virtudes cavalheirescas a altura da nobreza britânica.

         Este engenheiro embora estrangeiro não se fez estranho a terra potiguar, além das atividades administrativas de seu cargo na ferrovia, John Morant se inseriu na vida da pacata e pequena capital potiguar.

         Era sempre prestativo em fornecer informações a respeito da estrada de ferro, que não raro sofria ataques da imprensa pela má qualidade dos serviços. A famosa língua ferina do povo natalense.

Foi membro da Loja Maçônica 21 de Março, seu nome era constantemente citado em obras de caridade e subscrições em prol de viúvas desvalidadas e associações beneficentes que haviam em Natal.

Em 26/07/1890 foi nomeada uma  comissão composta por Augusto Carlos de Melo L’Eraistre, procurador fiscal da tesouraria da fazenda e Jonh Morant, engenheiro chefe da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz, para examinar e declarar se as obras do mercado público da capital foram ou não executadas de conformidade com o seu contrato e respectivo orçamento, a fim de ter lugar a entrega do mesmo mercado à referida tesouraria pelo contratante Antônio Minervino de Moura Soares (A REPÚBLICA, 26/07/1890, p.1).

         Sua morte em 25/06/1891 foi sentida pela população de Natal e seu obituário feito pela Loja Maçônica da qual era membro foi carregado de elogios a pessoa que fora em vida.

         Estes dois homens é que mereceriam serem homenageados no prédio da estação ferroviária de Ribeira, mas, porém, contudo, todavia, consoante, seus nomes foram varridos para debaixo do tapete do esquecimento e os louros da vitória foram dados a outros (não que não os mereça, mas em minha insignificante opinião em outro lugar e não neste).

         Esperamos quem sabe algum dia alguma alma piedosa possa se compadecer e fazer justiça a estes dois cavalheiros da Coroa Britânica que prestaram relevantes serviços a cidade do Natal mas que foram injustamente eclipsados pela ingratidão ingrata (mais uma vez perdoe-nos o pleonasmo).