domingo, 9 de setembro de 2018

SOBRE O ATHENEU NORTERIOGRANDENSE


Prolegômenos
         O Atheneu Norteriograndense é um histórico e tradicional instituto de ensino secundário do povo potiguar que neste ano de 2018 celebrou seu 184º ano de existência.Resolvemos, por força da profissão de professor, prestar essa homenagem a esse importante estabelecimento de ensino.
         O trabalho é despretensioso, afinal, tantos e mais capacitados historiadores já fizeram e contaram a história do Atheneu, contudo, queremos dá nossa contribuição.Evidentemente, o que aqui será exposto é apenas um apanhado histórico da rica história do Atheneu, que procuramos condensar para o melhor aproveitamento do leitor.
         Sem mais tergiversação vamos ao que interessa.Boa leitura.
Origens
O Atheneu Riograndense (sua designação oficial era dessa forma) é a instituição pública de ensino secundário (antigo 2º grau) mais antiga do Rio Grande do Norte e a segunda do Brasil.
A instalação do Atheneu Riograndense se deu em 1º de março de 1834. Seu currículo escolar constava de aulas de português, latim, francês, geografia, história, aritmética e geometria.
Como não havia legislação própria para o ensino secundário o Atheneu Riograndense foi elaborado os estatutos para que o estabelecimento pudesse funcionar. Conforme o relatório do ministério do império:
o  governo aprovou a deliberação tomada pelo presidente da província do Rio Grande do Norte de mandar observar uns estatutos organizados para o regime de aulas do Atheneu da Capital daquela província, uma vez que  eles não encontrassem as leis existentes, e que com aquela instituição se não fizessem despesas além do credito nas mesmas leis consignada par a instrução. BRASIL.., 1834, p. 14 ).
         Em 1840 havia apenas 1 aluno matriculado na aula de filosofia, na de geometria 7, na de latim 28, na de francês 6 (BRASIL..., 1840,17).Em 1845 era 45 alunos matriculados (BRASIL...,1845,p. 12).Já em 1864 eram 87 matriculados (BRASIL..., 1864,p.202).Haviam 79 matriculados em 1869 (BRASIL..., 1869,p.71), já em 1870 a frequência foi de 50 alunos ( BRASIL..., 1871,p.69).
         É desconhecido por nós onde funcionou inicialmente o Atheneu. Em  26/09/1856 foi inaugurado o edifício do Atheneu.Contando com 8 cadeiras e 66 alunos matriculados.

Em 1871 a biblioteca do Atheneu constava de 373 obras e 1.461 volumes (BRASIL..., 1871, p.576). Teve a frequência de 302 pessoas que consultaram 29 obras. A biblioteca era aberta das 09h00 as 14h00 e das 06h00 as 21h30 no verão e as 21 no inverno. Segundo o relatório do império tinha tido muitos leitores (BRASIL, 1874, p.51).
Em 17/12/1872 foi assinado o regulamento nº 28 que tratava sobre a instrução pública na província do Rio Grande do Norte (Coleção de Leis Provinciais do Rio Grande do Norte, 1874, p.113).
Conforme o artigo 85 dessa lei de instrução pública o ensino secundário da província do Rio Grande do Norte seria exercido pelo Atheneu Riograndense, onde se ensinaria as seguintes matérias, em 5 cadeiras, cada um regida por um lente: língua nacional (português), língua latina (latim), língua francesa, geografia e história especialmente a do Brasil e matemáticas elementares (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,p.109-110).
         Tais disciplinas formavam um curso conforme o programa organizado pelo diretor geral com a audiência do lente (professor) e aprovação do presidente da província.
         Os alunos aprovados receberiam ao final do curso um diploma assinado pelo diretor e pelo lente, sendo que os que obtivessem esse diploma teriam preferências para o magistério e serviço públicos na província. Era livre a qualquer pessoa matricular-se no Atheneu, porém, para ter direito ao diploma deveria o aluno, obviamente, frequentar as aulas do curso para o qual se matriculou (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874, p.111).
         Para ser professor do Atheneu só poderiam se candidatar, os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, ter moralidade e religião (católica) que eram condições igualmente exigidas para se exercer o magistério na instrução primária. Deviam ainda os candidatos provarem que estavam aptos para exercer a disciplina para o qual concorriam.Essa prova de aptidão era feita perante uma comissão nomeada pelo diretor do Atheneu.
Seriam dispensados dessa prova todos aqueles que fossem graduados em qualquer faculdade nacional ou estrangeira, os que exibissem certidão de aprovação das ditas disciplinas para o qual concorria ao Atheneu e que tivesse sido cursado em estabelecimento de instrução pública do Império (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874, p.111).
Os professores do Atheneu só poderiam ser transferidos de uma cadeira para a outra, a seu pedido e ouvido o conselho diretor do Atheneu.
O ano letivo
         O ano letivo no Atheneu começava em 1º de fevereiro e terminava em 30 de novembro de cada ano. As matriculas eram abertas entre 15 e 31 de janeiro e entre 1 a 15 de junho. A matricula era gratuita e deveria ser feita na secretaria do Atheneu mediante requerimento escrito ou verbal se maior, ou de seu pai, tutor ou pessoa que representasse o requerente, se menor de idade (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,p.112).
Os professores se reuniriam nos dias 1º, de fevereiro, 1º de maio, 1º de agosto e 1º de outubro para dar conta do trabalho do trimestre e resolver sobre os exames parciais e gerais dos alunos e o programa que fosse organizado (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,112).
Além dos domingos e dias santos de guarda e dos compreendidos entre o encerramento e abertura do ano letivo seriam feriados no Atheneu os dias da Semana Santa, de Ramos até a Páscoa, o dia 1º de março que era o aniversário da instalação do Atheneu eo dias de festas nacionais. (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,112).
Em 1874 foi suprimido o cargo de bedel do Atheneu tendo o presidente da província o transferido para outra repartição da província. (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874, 113).
Era permitido aos professores do Atheneu abrir outros cursos de forma extraordinária no mesmo Atheneu de outras matérias diferentes das quais ensinavam, esse cursos seriam gratuitos e seriam considerados relevantes.
A lei nº 766 de 20 de setembro de 1875 estabeleceu um novo regulamento interno para o Atheneu Riograndense reformando até então os atuais estatutos da instituição e incumbido da policia do estabelecimento a um dos professores (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1875, p.147).
Em 1877 haviam 316 alunos matriculados. Em 1880 haviam 162 alunos matriculados. Em 1885 o Atheneu permanece sem mobília.em 188 foram matriculados 152 alunos.
Descrição do prédio do Atheneu
Uma descrição do prédio do Atheneu nos é fornecida pelo jornal Correio de Natal em 1878 onde se dizia que “mesmo o edifício do Atheneu não deixa de ter sua importância” (CORREIO DE NATAL, 1878, p.3). Segundo o referido jornal o edifício do Atheneu era um quadrilátero elevado, com saguão no centro, com espaçosos salões, esclarecidos por amplas janelas envidraçadas de forma pontiaguda. (CORREIO DE NATAL, 1878, p.3).
Em 1882 o Atheneu se apresentava sem móveis e sem disciplina, o Atheneu era qualificado de pardieiro abandonado (MENSAGEM, 1906,p.212).A culpa, segundo o governador do estado recai sobre o diretores, aos quais incumbia o cumprimento dos preceitos regulamentares; mas esses chefes se compraziam em permanecer em seus gabinetes, à hora do minguado expediente, alheios ao movimento das aulas, bem como no procedimento dos professores e alunos (MENSAGEM, 1906, p.212).Na biblioteca continuava o extravio de livros.Em 1884 o diretor do Atheneu descreve o mesmo estado de coisas do relatório anterior.
O Atheneu foi asseado mas faltava no entanto a mobília para as aulas.Continuava o relaxamento na biblioteca

A decadência
O Atheneu foi durante um bom tempo uma instituição de ensino modelar, porém nos últimos tempos do Império e inicio da República começou a ter declínio o ensino ali ministrado, chegando mesmo a decadência moral e estrutural.
Em 1889 se dizia no jornal O Povo que no Atheneu se ensinava de modo incompleto o curso geral de humanidades, havendo também cadeiras de princípios de ciências físicas e naturais e de línguas como o alemão e o italiano como se requeriam as faculdades vigentes a época.No entanto, não haviam os aparelhos indispensáveis para o ensino prático,o que é altamente censurável e deprimente contra os creditos da província segundo o referido jornal (O POVO, 29/06/1889,p.1).
Em 1891 a situação do Atheneu era desalentadora. A matricula estava reduzida e a frequência era mínima e problemático o aproveitamento (MENSAGEM..., 1891,p.12).
O decreto nº 21 de 04 de abril de 1893 reorganizou o ensino secundário do Estado, no qual ficou o Atheneu com um curso regular equiparado aos dos outros estados da União (MENSAGEM..., 1893, p.90).No entanto, a reforma do edifício do Atheneu ainda não havia sido realizada naquele ano, estando o estabelecimento de ensino necessitando dessa reforma para se restabelecer a ordem e a seriedade daquela instituição de ensino.
         Em 1893 o edifício do Atheneu era quase uma ruína de tão deteriorado que estava e pela estreiteza de suas proporções, segundo se dizia no relatório do governo daquele ano. O prédio já não oferecia as necessárias acomodações para as aulas do curso secundário conforme a recente reforma do ensino secundário. (MENSAGEM..., 1893, p.6).
         Era preocupação do governador Pedro Velho dar ao Atheneu “uma organização conveniente, mas, várias circunstancias tem oposto a execução das projetadas reformas” afirmava ele ( MENSAGEM, 1893, p.7).
         O governador ainda dizia em seu relatório que havia um geral desânimo e desgosto em relação ao ensino secundário que segundo ele parecia “ter caído entre nós num irremediável desconceito”. O governador, no entanto se msotrava esperançoso em melhorar o ensino secundário oferecido no Atheneu Riograndense. (MENSAGEM..., 1893,p.7).Em 13/10/1893 foram suspensas as atividades do Atheneu para se iniciar as devidas reformas no prédio.
         Em 1895 era citada a desmoralização dos exames do Atheneu, que segundo o relatório do governo, havia uma imigração de alunos de outros estados “que buscavam em nosso Atheneu como meio fácil e seguro de fazerem-se aprovar em 6,8,10 matérias , sem muitas vezes possuir sobre elas o mais rudimentar conhecimento”. (MENSAGEM..., 1895, p.8).
O edifício do Atheneu passou por um reforma em 1894 sendo dotado de móveis indispensáveis, porém, ainda necessitava de outros melhoramentos como salas para funcionamentos de aulas, gabinetes e laboratórios de física e química, para a inauguração do curso profissional.
O Atheneu reclamava tais adaptações para se adequar a pedagogia moderna.Era indispensável então que se provesse o Atheneu de moveis escolares, caixas para lições, coleção de figuras e sólidos geométricos, globos terrestres e celestes, cartas geográficas e do sistema métrico, instrumentos para desenhos, modelos caligráficos,livros didáticos e utensílios modernos (MENSAGEM..., 1895, p.91).
Segundo a mensagem do governador Pedro Velho ao assumir o governo ele havia encontrado o Atheneu em completa anarquia, com alunos indisciplinados, aterrorizando os funcionários encarregados da direção, danificando os móveis e paredes do edifício. O regimento interno não era observado.
Em 1897 o relatório do governador dizia que o edifício do Atheneu estava em perfeito estado, asseio e conservação, dispondo dos móveis indispensáveis (MENSAGEM..., 1897, p.116), ao eu tudo indica a reforma havia sido concluída.
Curiosidades
Pelo Atheneu passaram várias personalidade famosas do Rio Grande do Norte, sobretudo políticos, dos quais destacamos os seguintes.
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, que viria a ser o primeiro governador do estado, após a proclamação da República, exerceu a função de professor de história no Atheneu em 1888 (GAZETA DO NATAL, 1888,3). Nomeado em 1885 tendo sido aprovado em concurso, exerceu a função até ser eleito governador em 1892.
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, irmão de Pedro Velho, também foi professor do Atheneu na disciplina de aritmética.
Em 1898 foi nomeado como vice diretor do Atheneu o então bacharel Juvenal Lamartine que viria ser mais tarde governador do estado.
Augusto Tavares de Lira, igualmente governador do estado, foi professor do Atheneu nomeado em 10/0/1893. Ensinando Geometria e trigonometria e depois história.
José Augusto Bezerra de Medeiros que foi mais tarde governador do estado também exerceu a função de professor do Atheneu (A REPÚBLICA, 1902, p.1).
Mais curiosidades
No Atheneu funcionava a 3ª seção eleitoral da capital potiguar, onde votavam os eleitores dos 14º, 15º, 16º e 17 quarteirões. (GAZETA DO NATAL, 1890, p.1).
Em 1890 foi criado pelos alunos do Atheneu o periódico ‘A Evolução’ (A REPÚBLICA, 1890, p.2).
A crise persistente no Atheneu
         No desenrolar da crise política e o caos social por qual passava o Rio Grande do Norte nos primeiros anos da República o Atheneu não se viu imune a esse estado de coisas. Conforme se lia no jornal A República em 1891:
É desolador o estado da instrução entre nós, nestes últimos tempos!
O Atheneu, único estabelecimento de ensino secundário que possuímos sem número preciso de professores, sem uma razoável distribuição de matérias, sem cadeiras suficientes, sem assiduidade dos lentes. É propriamente, sede vacante, o infeliz estabelecimento e principalmente depois do funesto aracatyense amyntas barros, tendo por desgraça da pátria sido governador do Rio Grande do Norte, suprimiu cadeiras por vingança e demitiu mestres por... motivos inconfessáveis.
No Atheneu não quase o que aprender. As aulas públicas... Simplesmente um horror! Pobres professores mal pagos, mal dirigidos, mal inspecionados, mal instruídos [...]. (A REPUBLICA, 1891, p.1-2.).

         A culpa segundo a crise que se instalara no Atheneu [e em outros setores do Estado] era do então governador Amintas Barros, aracatiense, que assumira a junta governativa durante o caos político onde se verificava uma verdadeira dança das cadeiras no cargo de governador durante a transição, não pacifica do regime monárquico para o republicano.
O Atheneu precisava então de um novo plano, “mais de acordo com o moderno regime cientifico superior e com as necessidades do nosso meio: é de necessidade e alcance que o nosso Curso de Humanidade [nome que pode ficar ao novo Atheneu] não continue a ser uma fábrica de exames”. (A REPUBLICA, 1891, p.1-2. Grifo do original).Em 02/02/1902 foi dado um novo regulamento ao Atheneu.Contudo parecia que a crise no estabelecimento não recrudescia.
Conforme se lia no jornal Diário de Natal em 1906 além da crise no ensino e na estrutura física o Atheneu passava também por crises morais e servindo de cabide de empregos para pessoas estranhas. Nas palavras da critica assinada por tal José de Arimatéia:
E estamos convictos de que o Atheneu ainda é mantido pelo Estado porque justifica as propinas e os empregos para certos desocupados que são importados de outros Estados, onde não tiveram capacidade para ganhar a alimentação... Não fosse isso e até aquele velho estabelecimento teria desaparecido.
       Verdade seja dita. Como ele está [o Atheneu] faz vergonha até escrever para ler-se fora daqui.
       A biblioteca, os aparelhos do encantado laboratório, etc. causam tristeza e indignação tal é o estado de abandono e maus tratos.
       Quais são os culpados dessa situação vergonhosa? Não há quem ignore seus nomes, cognomes e apelidos. (DIÁRIO DE NATAL, 1906, p.1, grifo nosso).
         A critica não forneceu os ‘nomes, cognomes e apelidos’ dos culpados pela situação verificada naquele ano no Atheneu, no entanto, n]ao é de se imaginar que seriam os políticos da época.
Ainda segundo publicado no jornal Diário de Natal o Atheneu estava prestes a desabar depois da enxurrada que arrancou o calçamento da rua onde se localizava o prédio. (DIÁRIO DO NATAL, 1906, p.2). Necessitava o edifício de aumento, porque só funcionava com 3 salas de aulas.Naquele ano foi retirada a biblioteca para aproveitamento do espaço, onde seriam construídos cômodos para a diretoria e salão de espera e passaria a contar com as 6 salas de aulas necessárias aos diversos anos dos cursos.
Equiparado ao Ginásio Nacional
Em 1906 o Atheneu Riograndense estava equiparado ao Ginásio Nacional (MENSAGEM, 1906, p.61), equiparação dada pelo decreto da União nº 5.771 de 20 de novembro de 1906. (MENSAGEM, 1907, p.4).
Tentativas de modificar o Atheneu
Era ideia do governador Tavares de Lyra, que já fora professor do Atheneu, transformar o Atheneu em um liceu de artes e ofícios, suprimindo os exames gerais e preparatórios para se ministrar uma educação prática segundo ele, “visando preparar alunos agrônomos e profissionais que servissem ao desenvolvimento agrícola e industrial do estado”. (MENSAGEM..., 1904, p.172).
Visita do presidente Afonso Pena
Em 1906 quando esteve visitando o Estado o então presidente da republica Afonso Pena visitou o Atheneu riograndense (DIÁRIO DE NATAL, 13/06/1906,p.1.

Reformas
Em 1907 nova reforma no edifício do Atheneu onde as dependências físicas do estabelecimento seriam alargadas para atender as exigências da frequência extraordinária que era superior a sua capacidade (A REPÚBLICA, 1907, p.2).No mesmo ano foi encomendado o material para iluminação do prédio do Atheneu (a REPÚBLICA, 1907,p.1).
Parecia que um novo fôlego havia tomado conta do Atheneu, pois, ao invés das criticas apareceram menções elogiosas ao estabelecimento de ensino. Segundo o jornal A República:
A competência e zelo do corpo docente, o gosto e assiduidade da maioria dos alunos, a ordem e o asseio que se notam em todo o edifício fazem do Atheneu de hoje um instituto que se não poderá envergonhar na comparação com outros de maiores capitais, cuja superioridade única será a das dimensões que lhe faltam. (A REPUBLICA, 1907, p.1).
         Faltava apenas um novo prédio para o tradicional estabelecimento de ensino potiguar que já não comportava mais o aumento dos alunos e os novos métodos pedagógicos que preconizava ensino prático em salas e laboratórios.
O  jornal O Estudante
Em 1909 circulou o jornal O Estudante organizado pelos alunos do Atheneu (DIÁRIO DO NATAL, 1909, p.1), criado pelos estudantes do Atheneu.
A designação atual do Atheneu
Em 1911 aparece pela primeira vez num documento oficial do governo a designação de Atheneu Norte Riograndense (MENSAGEM, 1911, p.4) com três palavras distintamente grafadas com iniciais maiúsculas. Até então a designação oficial era Atheneu Riograndense. Desde então é essa a designação oficial do histórico estabelecimento de ensino secundário do povo potiguar só que com a atualização da gramática Atheneu Norteriograndense.
Novas crises
         Em 1914 o Atheneu passava por nova crise. O curso secundário do Atheneu Norte Riograndense não vinha dando resultados satisfatórios e segundo o relatório do governador Ferreira Chaves “Não convindo suprimir este importante meio de educação, seria talvez conveniente fundir todo o ensino secundário na Escola Normal, que se mostra bem aparelhada no desempenho de sua elevada missão educativa, estabelecendo ali um curso teórico para os que quisessem somente aprender as disciplinas do curso de humanidades e o curso teórico pratico aos candidatos ao professorado” (MENSAGEM..., 1914, p.28).
Em virtude da baixa frequência e matricula foi dispensada a equiparação do Atheneu ao Colégio Nacional Pedro II em 1919 tendo sido restabelecida a equiparação no ano seguinte, porém o Atheneu continuava com baixa matricula. Em 1923 o Atheneu funcionou apenas com 23 alunos matriculados. (MENSAGEM..., 1923, p.15)
Conforme constava no regimento interno do Atheneu ao final do ano letivo havia a distribuição de prêmios aos alunos que se destacavam nos exames parciais e gerais, geralmente era concedida uma medalha de prata com os dizeres ‘honra ao mérito’, a solenidade de entrega era realizada no teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranhão).
Câmara Cascudo e seu filho profesores do Atheneu
Câmara Cascudo e seu filho Luis Fernando foram também professores do Atheneu Norteriograndense.
A revista ‘Atheneu’
Em 1936 foi criada a revista ‘Atheneu’, órgão da Academia de Letras do Atheneu Norteriograndense. A revista era fartamente ilustrada, contendo assuntos variados de diversos colaboradores e de trabalhos de alunos e professores da secular instituição de ensino potiguar.
Mulheres no Atheneu
Em 1936 foi nomeada interinamente Samiramis Galvão para a função de datilógrafa do Atheneu, durante o impedimento da titular. (A ORDEM, 1936, p.2). O jornal não citou o nome da titular da função.É possível que já houvessem mulheres trabalhando no Atheneu, porém, nos jornais por nós consultado esse foi primeiro nome encontrado.Igualmente nos jornais por nós consultados a aluna mais antiga data de 1937 e era  Licy Soares Teixeira.
A Associação de Estudantes do Atheneu
Em 15/07/1937 foi fundada a Associação de Estudantes do Atheneu, composta exclusivamente por alunos daquele estabelecimento de ensino e tinha como finalidade incentivar a cultura de todos os seus setores bem como a defesa dos interesses da nobre classe estudantil (A ORDEM, 1937, p.2).
Referências

A ORDEM, Natal.1936, 1937
A REPÚBLICA, Natal. 1890, 1902, 1906,1907.
BRASIL. Ministério do Império: Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Rio de Janeiro. 1834,1845, 1864, 1869, 1871,1874.
Coleção de Leis Províncias do Rio Grande do Norte. Natal. 1874, 1875.
CORREIO DE NATAL, Natal, 1878.
DIÁRIO DO NATAL, Natal. 1906, 1909,
GAZETA DO NATAL, Natal, 1888, 1890.
Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia. Natal. 1891, 1893, 1895, 1897, 1904, 1906, 1907, 1911, 1923
O POVO, Natal, 1889.



Modelo de boletim do Atheneu Norteriogradense em 1992.Fonte: A República, 1902,p.1.


Prédio do Atheneu inaugurado em 1954, sendo esta sua atual sede.A imagem foi publicada na revista Careta em 1956.Fonte: Revista Careta,1956,p.22.










domingo, 2 de setembro de 2018

OS FENÔMENOS DOS OVNIS NO RIO GRANDE DO NORTE





Introdução
Os fenômenos dos avistamentos de OVNIS (objetos voadores não identificados) popularmente chamados de Discos voadores no Rio Grande do Norte têm sua gênese na década de 1940, precisamente no ano de 1947. Este trabalho se propõe a fazer um estudo acerca dos relatos sobre objetos voadores não identificados ocorridos no Rio Grande do Norte. Tais relatos foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica realizada em jornais antigos de Natal.
Independentemente da veracidade ou não dos fatos adiante relatados o que se espera com o referido trabalho é fazer memória de fatos ocorridos no território potiguar de fenômenos tidos como sobrenaturais em que alguns até hoje não foram definitivamente e satisfatoriamente explicados tanto por leigos como por autoridades oficiais.

imagem ilustrativa


O principio dos avistamentos do ‘fenômenos sobrenaturais no Rio Grande do Norte
         Os fenômenos de avistamentos de objetos voadores não identificados no Rio Grande do Norte começam a ocorrer em 1947, mesmo ano em que tais fenômenos surgem ao redor do mundo e são publicados nas crônicas jornalísticas. Coincidência ou não é o período que começa a corrida espacial americana que culminará com a chegada do homem a Lua já em 1969.
Segundo o jornal A Ordem de 17/07/1947 a aparição de estranhos objetos voadores em diversas partes do mundo que foram batizados de ‘discos voadores’ vinha sendo assunto obrigatório em Natal assim como no Brasil inteiro.
O tema tomava conta dos debates e rodas de conversas. Uns achavam que se tratava de armas secretas, outros de corpos celestes vindos de outros planetas ou de vulcões, porém, até aquele momento ninguém sabia de fato explicar os tais discos voadores, o certo era que os fenômenos continuavam a serem vistos pelos céus, deixando a todos intrigados e preocupados com essas ocorrências.
Os discos voadores começavam a aparecer pelos céus do território potiguar.
Na edição do dia 17/07/1947 o jornal A Ordem relatou o caso do aparecimento de um disco voador em Angicos. Esse foi o relato mais antigo por nós encontrado sobre o tema.
Um telegrama enviado por Antônio Pereira Dias a redação do jornal A Ordem anunciava a passagem de um objeto misterioso no município de Angicos.Eis o teor do telegrama:
ANGICOS, 16,
Antônio Pereira Dias, Natal.- Ontem , mais ou menos as 6 e meia foi visto por diversas pessoas a passagem de um “Disco Voador” por esta cidade, vindo do norte e seguindo em direção ao sul.Abraços.- a) Francisco Peres, prefeito de Angicos. A ordem, 17/07/1947, p.1.
Como visto no final do telegrama o documento foi enviado pelo prefeito de Angicos, portanto, deveria corresponder a um fato verídico o fenômeno do avistamento do disco voador naquela cidade visto inclusive por muitas pessoas.
Na edição do dia 18/07/1947 o jornal forneceu os nomes das pessoas que avistaram o objeto misterioso e forneceu mais detalhes sobre o ocorrido em Angicos. Foram 10 pessoas que viram o disco voador.
Segundo o relato fornecido a redação do jornal por volta das 6h20 estas pessoas estavam sentadas na calçada da pensão quando alguém disse ‘lá vai um avião’. Todos olharam, então, para o céu, e de fato viram algo que voava a grande altura, não se tratava, entretanto de avião e sim de um objeto arredondado, muito brilhante, que encandecia quando os reflexos do sol nele batiam. Era um ‘disco voador’. (A ORDEM, 18/07/1947, p.1, grifo nosso).
O relator disse ainda que não se ouvia barulho e depois de uns 15 minutos o tal ‘disco’ desapareceu no céu misteriosamente, pensando as pessoas que o avistaram que o objeto misterioso tivesse caído em Natal. (A ORDEM, 18/07/1947, p.1).
Em Currais Novos e Santana do Matos
Na mesma matéria o desembargador Tomaz Salustino de Currais Novos disse por telegrama a redação do referido jornal que não foi confirmada a noticia do aparecimento de um disco voador em Currais Novos e que ele teria apenas avistado dois aviões de alumínio que cruzaram o céu do município a uma altura elevada (A ORDEM, 18/07/1947, p.1).
Por sua vez, o Dr. Alcebiades Fernandes havia enviado telegrama ao Diário de Natal relatando o aparecimento de um disco voador visto por diversos moradores na fazenda Pixoré em Santana do Matos.( A ORDEM, 18/07/1947, p.1).
Em Baixa Verde
No mesmo ano de 1947 o fenômeno do avistamento de um disco voador foi visto no município de Baixa Verde. Em telegrama enviado a redação do jornal A Ordem foi relatado que foi visto um disco voador por volta das 16h20 que foi visto por diversas pessoas as quais se encontravam na Pensão Popular, dentre elas a professora Maria Guimarães, índio Gualcuru Umbarahé, Manoel Soares, Leonor Teixeira e Cícero Câmara.
O objeto, segundo o telegrama publicado no jornal,  tinha grandes dimensões e vinha da direção da capital se dirigindo para o norte e se movimentava em grande velocidade. (A ORDEM, 28/07/1947, p.1).
Em Macau
Em Macau o disco voador também foi visto no dia 03/09/1947 conforme registrou a edição do jornal A Ordem.
No relato do motorista e proprietário de uma automóvel, o Sr. Francisco das Chagas, residente na rua Amaro Cavalcanti, nº58, naquela cidade, afirmava ele:
Com absoluta segurança, que na noite de 30 de julho, cerca de 19,40 horas, viajando em meu automóvel entre Francisco Martins e Barreiras, vi a pequena altura uma bola de cor azulada refletindo sobre a terra grande clarão.Sua direção era vertical e desapareceu moementos depois, sem que se visse o rumo tomado” ( A Ordem, 03/09/1947/p.2).
Para atestar que seu relato era verdadeiro Francisco das Chagas apresentou como testemunhas do ocorrido em Macau os funcionários da prefeitura José Dias e o seu ajudante que o acompanhava na viagem, não nomeado no relato do jornal.
Disse ainda Francisco das Chagas concluindo seu relato que “todos ficamos certos de se tratava de um disco voador que perdeu o seu raio de ação naquela localidade” (op. Cit). Francisco das Chagas alegava que por se tratar de uma informação que julgavam absolutamente exata pedia para que fosse publicada no referido jornal.
Os ovnis continuam aparecendo
Os relatos de objetos voadores misteriosos só voltam a serem relatados em 1952. Neste ano foram vistos em Cerro Corá, Areia Branca e Mossoró.
Em Cerro Corá o disco voador foi visto em 25/08/1952 tendo sido avistado a baixa altura tendo sido descrito por uma pessoa da cidade como uma bacia com margens vermelhas. (A ORDEM, 27/08/1952, p.1). Entre Tibau e Areia Branca um disco voador foi visto em 26/08/1952 sendo o objeto se movimentando em direção ao mar. O jornal a ordem diz que o fenômeno foi visto por pessoa qualificada do lugar, dentre elas o Sr. José Couto, industrial e político em Areia Branca segundo o jornal “as noticias que a respeito nos foram transmitidas merecem todo crédito e são absolutamente seguras” (A ORDEM, 27/08/1952, p.1), diante disso o caso deveria ser investigado pelas autoridades competentes visto que tais fenômenos vinham se repetindo cm frequência pelo interior do estado.
Em Mossoró os ocorridos com o avistamento de objetos voadores misteriosos haviam sido visto recentemente sendo vários discos voadores avistados e segundo o jornal A Ordem “em face disso, não há lugar para humorismo: é aceitar a realidade e verificá-la” ( A ORDEM, 27/08/1952, p.1).
Os relatos dos discos voadores visto em Mossoró foram também publicados pelo jornal local O Mossoroense, de onde o jornal a Ordem extraiu o relato ali ocorrido.
Segundo foi publicado no Mossoroense por volta das 22h30 quando a turma da Pan Air do Brasil S.A se aproximava da pista para apagar as piraeas de iluminação, após a decolagem de uma aeronave daquela empresa, foram vistos dois discos voadores sobrevoando o aeroporto.
Inicialmente dois funcionários observaram o fenômeno luminoso que embora em silencio, pensou que se tratasse de um avião retornando ao aeroporto, os funcionários estranharam que o objeto voador se aproximava cada vez mais da pista numa altura de aproximadamente 500 metros deixando os funcionários sobressaltados e percebendo então que não se tratava de um avião, mas sim de algo que eles não conseguiam identificar. (A Ordem, 28/08/1952, p.4).
Com medo os dois funcionários correram para a estação de passageiros onde estavam mais três funcionários, todos eles avistaram outros objetos voadores se aproximarem do aeroporto. Uns se movimentavam rapidamente, outros mais lentos e em zigue-zague.Os objetos voadores se dirigiram em sentido a então vila de Dix Sept Rosado desparecendo da vista deles.
Os funcionários da Pan Air relataram ainda que os objetos apresentavam iluminação em seu interior que irradiava para as extremidades em varias cores e quando a luz desaprecia era vista uma nuvem de fumaça se desprendendo do objeto ficando esta fumaça pouco tempo no espaço.
As pessoas que observaram o fenômeno ficaram apavoradas e pensavam se tratar de coisas do além ou coisas sobrenaturais.
Na vila de Governador Dix Sept Rosado no dia 25/08/1952 o Sr. Manoel Crispi em companhia de outras pessoas avistaram um disco voador entre 08h00 e 09h00 no sitio Pitombas.
O objeto passou em alta velocidade na direção sul-norte e mais tarde o objeto também foi visto na fazenda Mulungu a pouca distância de Apodi. (A Ordem, 28/08/1952, p.4).Segundo o jornal não restava mais dúvidas da ocorrência dos discos voadores em território potiguar e sendo bem possível que outros discos voadores tornassem a serem vistos pelos céus do estado.
Em 1952 outro disco voador foi visto em Angicos e dessa vez o relato foi bem mais interessante, pois o objeto teria caído ali.
Segundo o jornal a ordem a noticia “verdadeiramente atômica” era que teria caído um disco voador em Angicos, as primeiras informações colhidas as pressas pelo jornal inclusive ouvindo os funcionários da Estrada de Ferro Sampaio Correia e passageiros do trem horário procedente dali.
Foram feitas várias expedições de curiosos ao local do ocorrido, inclusive o prefeito da cidade. O Sr. Pedro Moura, proprietário do local onde teria caído o estranho objeto confirmou ao jornal que um vaqueiro, homem sério, havia dado a notícia de ter encontrado um corpo estranho grande, de cor branca e que o cobrira com ramos. Mas ele, proprietário, não deu maior importância e veio para Natal. O sr. Pedro Moura soube então que foi uma caravana ao local para vê o objeto. A notícia causou sensação na cidade de Angicos.
O jornal procurou explicações do exército mais não recebeu nenhuma informação a respeito do fato sendo a notícia olhada com reservas. Ao meio dia o comandante da guarnição que as notícias que chegavam eram meras suposições e nada tendo recebido de positivo vindo de Angicos.
O mesmo disse o agente da estação Arlindo Varela da Estrada de Ferro Sampaio Correia que afirmou que qualquer notícia sobre a queda de um disco voador no município era destituída de fundamento e que a notícia fora dada por pessoas sem responsabilidades (A Ordem, 17/09/1952, p.1.).
Em Natal, o professor Aureliano Medeiros Filhos havia fotografado um disco voador no Tirol quando vinha de uma viagem de Parnamirim quando subitamente viu um troço brilhando no céu e voando com grande velocidade. Pegou a sua máquina fotográfica,mirou o objeto e disparou.Havia gravado pela primeira vez, em Natal, a fotografia de um disco voador.Foi uma sensação na cidade e houve muita gente que não queira acreditar no que viu. (O POTI, 29/10/1954,p.7).
Em Assu várias pessoas disseram presenciar a passagem de corpos luminosos pelos céus da cidade (O POTI, 07/11/1954, p.3).
Era a época de naves interplanetárias.Não se sabe se por ironia ou por convicção mesmo, mas o jornal terminou a nota dizendo “é possível que os objetos incandescentes que voavam a grande altura e com enorme velocidade, venha a ser um transporte dos venusianos ou dos habitante de Marte” (op. Cit).
Em Mossoró várias pessoas haviam presenciado a passagem de um disco voador por volta das 10h30 no dia 20/12/1954.Dentre estas pessoas estavam Gabriel Fernandes Negreiros e Wilson Guerra Mendes do alto comércio da cidade e o jornalista Rafael Negreiros. (O POTI, 21/12/1954, p.8).
Os relatos de avistamentos de discos voadores pelos céus do Rio Grande do Norte escasseiam por volta do final da década de 1950 e por toda a década seguinte não se vê nenhum relato de aparição de tais fenômenos nos jornais da capital potiguar, como o Diário de Natal e o Poti.
Nas próximas postagens continuaremos no assunto nas décadas seguintes.


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

AS IMAGENS DAS IGREJAS DE EXTREMOZ E AREZ NO TEMPO DOS JESUITAS



Os padres da  Companhia de Jesus, também chamados de jesuítas foram os missionários responsáveis pela catequese dos índios em duas aldeias no território do  Rio Grande do  Norte, a aldeia  Guajiru, atualmente Extremoz e a aldeia de Guarairas, atualmente Arez.
Sobre a atuação dos jesuítas em ambas asa aldeias já falei em outras postagens, não carecendo maiores detalhes a não ser que os jesuítas foram expulsos por ordem do  Marquês de  Pombal em 1759 deixando as respectivas aldeias em situação de abandono onde os índios já quase todos civilizados retornaram ao estado selvagem logo após a expulsão dos jesuítas, pois ficaram entregue a própria sorte visto que a nova forma administrativa, ou seja, as vilas, não absorveram os índios.  
Mas, a finalidade dessa postagem é enumerar as imagens que haviam nas respectivas igrejas de São  Miguel e Nossa Senhora dos Prazeres em Guajiru  (Extremoz) e  na de São João Batista em Guarairas (Arez). 
A primeira já não existe mais, apenas as suas ruínas são visíveis atualmente no sitio histórico da antiga aldeia de  Guajiru no centro da cidade de Extremoz. A segunda ainda existe, continua como igreja matriz de São João   Batista, sede da paróquia de mesmo nome no município de Arez 
A lista com as imagens dos santos que ornavam ambas as igrejas jesuíticas no Rio Grande do Norte foram consignadas no livro Missionários  Jesuítas no tempo de Pombal, de autoria do padre jesuíta   Paulo  Ciriaco  Fernandes e publicado em 1936. 
Eis a listagem das imagens: 
NA IGREJA DE SÃO MIGUEL E NOSSA SENHORA DOS PRAZERES DA ALDEIA GUAJIRU (EXTREMOZ): 
     1. Nossa Senhora dos Prazeres (Orago), com sua coroa de prata e uma volta de contas de ouro.  
      2. Menino Jesus com sua cruz de ouro e 6 botões de ouro.  
      3. Nossa Senhora do Rosário com sua coroa de prata. 
      4. Senhora Santa Ana com resplendor de prata.  
      5. São Miguel. 
      6.São Joaquim com resplendor de prata. 
    7. São Pedro, Santo André, São Filipe, São Benedito, São Sebastião, São Silvestre todos com resplendor de latão. 
     8. N. Senhor Jesus Cristo Crucificado, com resplendor e braceletes de prata. 
Eram, portanto, 13 imagens que ornavam a belíssima igreja barroca de   Extremoz, dentre estas, algumas pouco usuais e raramente encontradas em igrejas do período, como as dos apóstolos Santo André e São Filipe e a de São Silvestre, papa, aquele cuja a corrida é celebre no Brasil todo final do ano.  

IMAGENS DA IGREJA SÃO JOÃO BATISTA DA ALDEIA GUARAIRAS (AREZ) 
1. São João Batista (Orago) com resplendor de prata. 
2. Santo Cristo de 2 palmos com resplendor de prata. 
2. Nossa Senhora da Conceição com manto azul e um relicário de ouro. 
Bem mais modesta que a igreja de Extremoz apenas 3 imagens ornavam a igreja de  Arez 
É de se notar que as imagens eram ornadas com resplendores de jóias preciosas (ouro e prata) e as menos expressivas de resplendores de latão. 
Desconheço se as imagens ainda existem na igreja de Arez, penso que ao menos a do padroeiro seja a original citada nessa relação a cima.  
Quanto as de Extremoz, é sabido que a sede da paróquia foi transferida para Ceará-Mirim caindo Extremoz em decadência ao ponto de a igreja barroca ter sido completamente destruída em sua maior parte pela ganancia do povo do lugar e de aventureiros forasteiros que buscavam desenterrar os “tesouros” dos jesuítas que julgavam estarem guardados nos subterrâneos e galerias do subsolo da igreja, ignorando eles que todos os bens dos jesuítas foram confiscados e espoliados com o decreto de expulsão, mas a cobiça não se importa com detalhes pequenos perante a possibilidade do achado de um “grande tesouro”, nunca encontrado e onde uma igreja de belíssima arquitetura foi completamente destruída.  
Das imagens da igreja de Extremoz  ignoro sua existência. 

Fonte:  FERNADES, SJ. Pe.  Antônio Paulo Ciriaco. Missionários Jesuítas no Brasil no Tempo de Pombal. Edição da Livraria Globo, p.174-175. Porto   Alegre1936.  

Notas: 
  • época da expulsão exercia a função de pároco em Arez o Revdo. Missionário Pe. Manuel PinheiroSJ. 

  • Os jesuítas que atuavam no Rio Grande do Norte, Paraíba,  Ceará e Pernambuco estavam sujeitados a este último cuja sede se situava em Olinda. 

  • Após a expulsão as aldeias foram transformadas em vilas sendo trocados seus nomes de origem indígena por nomes que remetiam a topônimos portugueses, assim Guajiru foi transmutada para Vila Nova de Extremoz e  Guarairas para    Vila de  Arez. 

  • No referido livro o autor citou  Guajaru e não Guajiru

  • Orago é a imagem principal colocada no altar mor da igreja matriz, o padroeiro.