segunda-feira, 20 de junho de 2022

A NOVA CATEDRAL DE NATAL (PARTE 6) AS IDEIAS DO CONCILIO VATICANO II INFLUEM NA DECISÃO DE SE CONSTRUIR UMA CATEDRAL MODERNA


”No terreno da construção da nova catedral, o sonho mais alto de D. Eugênio, o infatigável no bem, plantaram uma palhoça que vai brotar esperança”. 

(Palmira Wanderley, in: a ordem, 21-22/04/1962,p.3).


         Indagado certa vez por um repórter sobre quais foram os motivos que tinham levado a paralisação dos trabalhos da nova catedral de Natal, Dom Eugenio Sales que: “a nossa Catedral está parada periodicamente. Preferimos ter uma Igreja viva a uma Catedral de pedras frias. Preferimos ter uma emissora de rádio e um jornal que levem uma mensagem evangélica viva e autêntica aqueles que não frequentam a Igreja. E mais formos citados sobre isto no Concilio e vou repetir uma frase que lá ouvi: ‘a mais importante catedral do mundo não está construída, mais importante catedral é a de Natal. Quando foi citada essa frase não aludiram a uma construção de madeira e sim a um trabalho vivo e dinâmico que aqui é realizado’”. (A ORDEM, 13/03/1965, p.8).

        O trabalho citado no Concilio Vaticano II que aludiu Dom Eugenio Sales foi o Movimento de Natal, amplo campo de ação social e pastoral desenvolvido em todo território da arquidiocese de Natal iniciado na década de 1940 e em franca expansão na década de 1960.

Começa a surgir a ideia de uma catedral moderna para Natal

         Em 1966 já começava a desaparecer a ideia da construção da nova catedral de Natal de acordo com planta elaborada no estilo clássico neorromânico.

      A ideia que surgia, conforme o jornal A Ordem, era em torno de uma construção funcional em amplo galpão ao estilo do Palácio dos Esportes, por exemplo, para que pudesse abrigar o maior número de fiéis possível e que por sua vez saísse mais barata sua construção. (A ORDEM, 11/06/1966, p.3).

         Em 20/08/1967 o Arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte, anunciou oficialmente a sua decisão de reiniciar os trabalhos da construção da nova catedral metropolitana, desta vez em moldes modernos e simples com a armação em estrutura metálica.

De acordo com o jornal A Ordem, o anúncio de Dom Nivaldo Monte repercutiu muito bem entre o povo católico de Natal (A ORDEM, 26/08/1967, p.1).


Paláci de Esportes de Natal.A Ordem, 1967.

         Esta era uma das muitas construções em estrutura metálica em Natal. A nova catedral teria formas semelhantes.Contudo, a parte interna seria adaptada a finalidade que se tinha em vista, ou seja, um templo religioso voltado as funções da liturgia católica, num ambiente sagrado que possibilitasse a participação dos fiéis.

O anúncio de Dom Nivaldo Monte 

O anúncio de Dom Nivaldo Monte foi feito durante a homilia da missa das Escolas Radiofônicas que era retransmitida pela Emissora de Educação Rural (Rádio Rural de Natal), o qual lançou a campanha para o reinicio dos trabalhos de construção da nova catedral de Natal.

O evangelho daquele domingo falava justamente da confiança na Providência, por isso dissera Dom Nivaldo: “chegou a hora de construir a nossa Catedral. Quero lançar neste Domingo da confiança a campanha da nova Catedral”. O anúncio foi recebido com alegria e entusiasmo pelo povo católico de Natal que há tempos sonhava com a nova catedral.

O arcebispo de Natal lembrava em sua homilia que esta catedral, antes mesmo de ser construída já era conhecida no mundo inteiro. Falou ainda nos motivos que levaram seu antecessor, Dom Eugênio Sales, a interromper os trabalhos da construção anterior. Estes motivos, por sinal, repercutiram muito bem no exterior, servindo até de projeção do Movimento de Natal.

         Dom Eugênio Sales viu que era necessário primeiro construir a Igreja viva e atuante através da promoção humana e da dinamização dos trabalhos apostólicos e sociais. Aqueles arcos inacabados do terreno da praça Pio X, ao invés de representarem a inépcia do administrador, eram o símbolo de uma igreja vivente que em Natal se formava, havia dito Dom Nivaldo Monte.

         Passados já uma década onde o Movimento de Natal já estava firmado, Dom Nivaldo podia dizer que já estava construída a catedral de amoré agora estava na hora de se construir a catedral de pedra.

Inteiramente adaptada às reformas litúrgicas do Concilio Vaticano II

De acordo com o jornal A Ordem em 1966, Dom Nivaldo Monte em reunião com um grupo de padres da Arquidiocese pediu sugestões para uma nova catedral que fosse inteiramente adaptada às reformas litúrgicas do Concilio Vaticano II.

         Como resultado dessa reunião e de sucessivos encontros com engenheiros surgiu um belíssimo anteprojeto de uma Igreja moderna.Contudo, surgiu um impasse, sairia caríssima e inteiramente acima das possibilidades da Arquidiocese de Natal.

        Dom Nivaldo Monte chegou até a dizer que mesmo com muito dinheiro não conveniente construir uma igreja suntuosa numa região pobre. Mas, a catedral deveria sair do papel de uma maneira ou de outra.Era necessário pensar numa coisa acessível.As inúmeras estruturas metálicas espalhadas pela Capital potiguar especialmente o Palácio dos Esportes que tantas vezes servira de catedral, eram uma tentação e uma sugestão.

     A ideia havia vingado e após reuniões com o clero, leigos e autoridades surgiram propostas de duas fábricas de estruturas metálicas, uma de Fortaleza-CE, outra de Recife-PE, e que foram estes os primeiros passos dados para a concretização do projeto para uma catedral em estilo moderno em Natal.

       Dom Nivaldo Monte esperava que dentro de 15 dias já estivesse com todos os planos em mãos e dar reinicio aos trabalhos. Dom Nivaldo Monte desejava uma igreja ampla com capacidade de pelo menos 2.000 pessoas. A parte interna seria pensada tendo em vista as exigências da reforma litúrgica e uma melhor acomodação dos fiéis, permitindo uma visão perfeita do desenrolar das cerimônias e uma participação ativa de todos.Nada impedia que houvessem bancos ou até mesmo poltronas mais confortáveis como nos cinemas.A fachada moderna e funcional daria um tom de sagrado e ao mesmo tempo embelezaria o conjunto arquitetônico dos belos edifícios já construídos ou a construir no centro da Capital potiguar.

       A catedral, contudo, não seria provisória, mas sim definitiva como templo principal da Arquidiocese, da Capital e do Estado. Porém, em se tratando de uma estrutura metálica, haveria muito maior facilidade na sua remoção, caso se tivesse a possibilidade de melhorá-la ou adaptá-la no futuro.

         Dom Nivaldo Monte renovava o seu apelo a todos os natalenses e aos potiguares em geral para que colaborassem com entusiasmo e perseverança com o grande empreedimento.A Capital potiguar tinha urgência de um grande templo para as solenes celebrações litúrgicas nos dias festivos e mesmo para as missas dominicais.

         Segundo o arcebispo de Natal todo mundo via a grande afluência de pessoas nas igrejas de Natal onde se dizia que o “o povo não está dentro da igreja, mas a igreja dentro do povo”. "Temos fé, disse ainda Dom Nivaldo Monte, que na noite de Natal deste ano celebraremos a Missa na Catedral de aço. Serão mais de duas mil pessoas cantando a uma só voz os louvores de Deus Nosso Senhor”. (A ORDEM, 26/08/1967, p.6).

Começaram logo a surgir as criticas

Porém, antes mesmo de ter em mãos o projeto e dá inicio aos trabalhos da catedral em estilo moderno começaram logo a surgir as criticas, que não foram poucas, e a nova catedral já era objeto de polêmicas, sobretudo da parte da imprensa natalense.

         Segundo o jornal A Ordem, a Igreja recebia com alegria a participação das forças vivas da comunidade cristã, do povo de Deus, dos homens de boa vontade em obra tão importante com era a edificação do templo principal da Capital potiguar.

         A Arquidiocese recebia com boa vontade a opinião popular mas pedia paciência nas opiniões que muitas vezes eram dadas sem conhecimento de causa.

         Os argumentos apresentados giravam em torno de um só ponto, tocando sempre na mesma tecla: uma catedral em estrutura metálica não era uma catedral, mas um galpão, uma praça de esportes ou coisa que o valha.

         A arquidiocese, no entanto, nãovia como uma estrutura metálica fosse necessariamente ligada a essas finalidades. Como se não pudesse dar arte, estética, beleza de linhas a uma construção desse tipo.Gritava-se, segundo a Arquidiocese, que seria um monstro, um absurdo, um abuso.A prefeitura, diziam, não poderia permitir tal aberração numa bela e bem situada praça, que não poderia ser desfigurada por uma construção do tipo que se pretendia erguer ali.

         Em réplica a arquidiocese lembrava que foi a própria prefeitura de Natal que fez erguer uma estrutura metálica, o Palácio dos Esportes, numa das mais belas praças da Capital, a praça Pedro Velho.Além do mais a Arquidiocese não teria a ingenuidade de iniciar um trabalho como estes sem a anuência da prefeitura.

A Arquidiocese achava que era fora de tempo apelar para as catedrais do passado que levavam séculos para serem erguidas, lembrando da catedral de São Paulo que levou 50 anos para ser concluída.Eram estes exemplos que não poderiam ser imitados, sobretudo numa cidade como Natal que não possuia um templo a altura de seu progresso e de sua população.A arquidiocese lembrava que se deveria construir a catedral de Natal no mais breve tempo possível.O que não significava necessariamente improvisação e vulgarização.

         Para a Arquidiocese não era o momento de se ficar discutindo o conceito de “casa de Deus” ou “recinto sagrado”, porque se se fosse levado em consideração tais conceitos nunca se construiria a catedral, posto que casa de Deus era a casa dos homens, era o lugar onde eles se encontravam para cantar os louvores de Deus esse sentiam mais irmãos.Uma casa sagrada seria aquela que permitisse uma participação ativa e consciente na liturgia, não importava que houvesse uma estrutura metálica ou uma cúpula de Michelangelo. (A ORDEM, 09/09/1967, p.3).

        Eis os argumentos da arquidiocese para rebater as criticas suscitadas ao projeto de uma catedral em estilo moderno com estrutura metálica para a nova catedral de Natal.

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