terça-feira, 17 de março de 2015

Ainda sobre o discurso da seca na construção da EFCRN

         Com o titulo ‘lucta contra os effeitos das secas’ a mensagem do governador do estado Antonio José  de Mello trazia um relato sobre a construção da EFCRN que serviria para amenizar os efeitos desoladores da seca que sofria o RN.Segundo ele (1907, p. 8) "Continuam em actividade os trabalhos emprehendidos pelo governo federal no sentido de attenuar os effeitos das seccas que periodicamente, e agora com tanta frequência assolam o Estado".
      A seca sempre estava como pano de fundo nos discursos dos governantes que queriam adquirir os recursos do governo federal para a realização de obras de infraestrutura que pudessem servir de ocupação para os milhares de retirantes que se concentravam na capital vindos fugindo das longas estiagens no interior do RN. Ainda segundo o relatório de Antonio José  de Mello (1907, p. 8) “a estrada de ferro de penetração [...] estende seus trilhos em busca do sertão, attingindo  já a Villa de Taipú a extremidade da linha construída”.A construção estava a frente do jovem engenheiro José Luiz Baptista.





Fonte: MELLO, Antonio José  de. Mensagem apresentada ao Congresso legislativo em 1º de novembro de 1907 pelo governador Antonio José  de Mello e Souza.Natal: Typographia d’ARepublica,1907.


O traçado da ferrovia EFCRN


            O  relatório do governador Tavares de Lyra a EFCRN fornece a noção do traçado da EFCRN que deveria ser construída no prolongamento da de Ceará–Mirim.Segundo Tavares de Lyra (1906, p. 9) a ferrovia deveria seguir:
accompanhando o curso do rio  deste nome, em demanda da sua cabeceira na linha divisória das águas pertencentes a bacia do Piranhas ou Assú; atravessará em seguida e sem dificuldade este divortium auquarum e cortando nas prosimadades de suas cabeceiras, o rio Pata Choca, affluente do Assú, procurará alcançar a margem esquerda deste ultimo descendo pelo vale de seu affluente Caraú ou Sant’Anna do Matos até perto da povoação de São Raphael, onde se inclinará para o S.O a fim de subir o curso do Piranhas (Assú); de S. Raphael em diante a estrada segurá pela margem direita do Assú até a cidade de Caicó, e depois, internando-se no estado da Parahyba, atravessará o Piranhas próximo dos municípios de Souza e de Pombal, de modo a alcançar o Valle do rio do Peixe, pelo qual subirá até transpor o   divisor de águas deste rio  e do Jaguaribe no Ceará, onde irá  encontrar a estrada de ferro de Baturité no ponto mais conveniente.
            Como visto a cima a linha de penetração percorreria a parte central da região assolada pela seca e se ligaria a  rede de viação férrea  do Ceará e a rede que já se estendia de Alagoas ao Rio Grande do Norte.Esse traçado da ferrovia estava dentro do Plano Geral de Viação do governo federal que visava ligar todos os estado brasileiros.
            Já se previa outros futuros ramais ferroviários no estado que seriam interligados a EFCRN como afirma Tavares de Lyra ( 1906, p. 9):
 nella poderá se entrocar  novos ramaes que partam de Macau e Mossoró, será no futuro, a linha principal de uma vasta rede que attenderá de múltiplas necessidades de transporte em uma região em que  elle se faz difícil e imperfeitamente em costas de animaes
            a ferrovia virá a ser, portanto, uma estrada de socorro em tempo de calamidade e um  elemento seguro de progresso nas épocas normais. ( 1906, p. 9).

LYRA, Augusto Tavares.Mensagem lida perante o  Congresso Legislativo do Estado em 14 de julho de 1906 pelo governador  Augusto Tavares de Lyra

Sobre a ferrovia no discurso da seca


            A lei  n 1.145 de 31 de dezembro de 1903 autorizava o governo proceder com os estudo  da estrada de ferro que “partindo do ponto mais conveniente do litoral fosse ter na região mais assolada pela seca”.Além da seca outra razão para se construir o traçado proposto pela comissão de estudos, encabeçada pelo engenheiro Sampaio Correia era “a necessidade de por a Capital em fácil communicação com o interior” (Lyra, 1906,  p.8).
            As ferrovias eram consideradas um meio absolutamente necessário para o desenvolvimento da indústria no Estado, assim pensavam os governadores do RN, param quem as estradas de ferro seriam a forma mais concreta de promover o desenvolvimento do estado.Segundo o governador Tavares de Lyra ( 1906, p.8):
Si o caminho de ferro é sempre o factor mais poderoso do desenvovimento material de um povo, si é em grande parte a sua  rede enorme de cominhos de ferro que  a Republica dos Estados Unidos da América do Norte deve a sua  prosperida, n’este  Estado –o caminho de ferro é condição imprescindível de progresso e civilisão.
            Não há meios de comunicação e o transporte de carga é feito por preços  tão exagerados que não há industria que possa subsistir. A importantíssima estrada de ferro para o Ceará Mirim parece que em breve será uma realidade. (p. 15).

Sobre a potencialidade do estado na agricultura
            Segundo o relatório do governador Alberto Maranhão o RN possuía  terras fertilíssimas que “prestavam-se a cultura  da canna de assucar, do  algodão, fumo, feijão, milho, arroz e outros cereas” (MARANHÃO , 1906, p. 14).


           
Fonte: 
MARANHÃO, Alberto. Mensagem lida perante o Congresso Legislativo do Estado do Rio Grande do Norte pelo governador Alberto Maranhão.Natal: Typogrphia d’ARepublica, 1905.

LYRA, Augusto Tavares. Mensagem lida perante o Congresso Legislativo do Estado do Rio Grande do Norte pelo governador Augusto Tavares de Lyra.Natal: Typogrphia d’ARepublica, 1906.