sábado, 12 de junho de 2021

A VISITA DE GILBERTO FREIRE AO MERCADO DE NATAL


Em 1954 o jornal O Poti registrou o interesse a visita que o escritor Gilberto Freyre teve no Mercado Público da Cidade Alta em Natal.

De acordo como referido jornal os mercados públicos e as feiras livres têm um grande interesse para os folcloristas, etnógrafos e sociólogos.Inúmeros aspectos da cultura podem ser observados nesses lugares.São campos magníficos para uma tomada  de o contato com a cerâmica popular, por exemplo, o ervanário, os artefatos de palha.O sociólogo observa além dessas coisa o próprio comportamento do povo, o vestuário, hábitos, costumes, nomes típicos de mercadorias, expressões populares.

Daí o interesse que o escritor Gilberto Freire, autor de Casa Grande & Senzala, para conhecer o mercado de Natal quando esteve em visita à Capital Potiguar em 1954.

Quando a comissão das instituições culturais, que promoveu uma de suas conferencias em Natal, lhe fez ciente dos estabelecimentos educacionais e da saúde a visitar, Gilberto Freyre declarou:

-E o Mercado?

Querendo dizer que a visita ao Mercado Público, para ele, seria indispensável.

E realmente, na manhã do dia 22/08/1954, em companhia de Nilo Pereira, Gilberto Osório de Andrade e vários amigos seus de Natal, o escritor Gilberto Freyre esteve no Mercado Público da Cidade Alta, demorando em examinar principalmente os locais de cerâmica e o ervanário. Perguntou coisas aos vendedores e adquiriu cestas e outras mercadorias.

Uma das pessoas que teve oportunidade de acompanhar Gilberto Freyre ao Mercado não entendia por que razão o grande sociólogo tinha feito questão de visitar aquele lugar.

A explicação dada pelo jornal O Poti foi que os mercados eram fontes vivas de estudos para os sociólogos assim como todos aqueles que se dedicavam a outros ramos da antropologia cultural, como folclore ou a etnografia.

 Fonte: O Poti, 28/08/1954, p.7.

O antigo mercado público da Cidade Alta em Natal.




Gilberto Freyre, 1956.Foto: Wikipédia.

         O antigo mercado público da Cidade Alta como é sabido foi destruído num incêndio em 1966 que muitos acreditam ter sido criminoso. No local está atualmente o prédio do Banco do Brasil da Av. Rio Branco.


sexta-feira, 11 de junho de 2021

O NOVO PRÉDIO DO ATHENEU NORTERIOGRANDENSE

 

         A história da construção do novo prédio do Ateneu Norteriograndense tem inicio em 1944 quando ocorreu o lançamento da pedra fundamental do Instituto de Educação de Natal quando o antigo Ateneu passaria a essa nova denominação.

Aspectos do Atheneu Norteriograndense. Foto: Revista O Cruzeiro, 1954, p.101.

         De acordo com o Diário de Noticias em 03/07/1944 transcorreu o lançamento da pedra fundamental do Instituto de Educação de Natal dentro das comemorações do primeiro aniversário do governo do Interventor Federal, o general Fernandes Dantas (DIÁRIO DE NOTICIAS,04/07/1944,p.5).

         A mesma noticia deu o jornal natalense A Ordem: "Segunda-feira próxima, realizar-se-á a cerimônia do lançamento da pedra fundamental do edifício do Instituto de Educação do Estado, no local onde funciona e a seção feminina do Colégio Estadual no Tirol”.

         A solenidade contaria com a presença de autoridades e de todos quanto quisessem abrilhantá-la com a sua presença. Ainda de acordo com o citado jornal a construção desse edifício constituiria, sem dúvida, um grande melhoramento para a Capital Potiguar (A ORDEM, 01/07/1944,p.1).

         O interventor Federal designou uma comissão constituída pelo professor Severino Bezerra, diretor do Departamento de Educação, Custódio Toscano, inspetor de ensino e o engenheiro Wilson de Oliveira Miranda, para examinar e dar o parecer sobre o anteprojeto da construção do edifício do futuro Instituto de Educação do Estado (A ORDEM,01/09/1944,p.1).

O que seria o Instituto de Educação de Natal

Conforme publicado na Revista da Semana, dia-a-dia vinha se tornando mais angustioso o problema de funcionamento do Colégio Estadual, antigo Ateneu Norteriograndense, principalmente depois da criação dos cursos clássico e cientifico.

Por sua vez a Escola Normal há longos anos funcionava em prédio inadequado, com natural prejuízo no aproveitamento do curso.

Urgia, assim, uma providencia de largo alcance, capaz de modificar a situação existente. Seria então construído um prédio para funcionar o Instituto de Educação que seria formada pela reunião no único edifício do antigo Ateneu e da Escola Normal.

Coube ao general Antonio Fernandes Dantas, então Interventor Federal  no Rio Grande do Norte, tomar a iniciativa dessa providencia, que veio tornar ainda mais sólida a confiança dos potiguares no seu governo.

O projeto

Depois de aprovado o projeto da construção pelos órgãos federais, o governo do Estado empenhou-se em iniciar os trabalhos de levantamento do edifício onde funcionaria o Instituto de Educação, “estabelecimento que irá o ensino não apenas do Rio Grande do Norte, como também do Nordeste”.

De acordo com o programa organizado pelo Departamento de Educação, o Instituto de Educação consistiria de três edifícios, além das instalações destinas a educação física e seria construído num grande terreno cuja superfície era de 21.300m², constituindo de uma quadra isolada, isto é, fazendo frente para quatro ruas no aprazível bairro de Petrópolis.

O edifício principal do conjunto seria destinado ao Colégio Estadual e a Escola de Professores (Escola Normal).

O edifício seria construído em dois pavimentos, sendo construído em alvenaria de tijolo, com estrutura de concreto armado.

         O segundo e terceiro edifícios seriam destinados respectivamente à Escola de Aplicação e ao Jardim de Infância.

         Destacava-se no projeto da construção do Instituto de Educação, as instalações destinadas a educação física, que compreendiam áreas livres, jardins, campos de vôlei, basquete e piscina, e uma ginásio circundado por uma pista de atletismo.

O auditório teria capacidade para 1.200 pessoas, com palco, camarotes, camarins e gabinetes sanitários próprios. Haveria também um refeitório servido por copa e cozinha.

         De acordo com a Revista da Semana via-se assim que o Instituto de Educação de Natal, seria uma obra de vastas proporções e que para sempre assinalaria a passagem do general Antonio Fernandes Dantas no governo do Rio Grande do Norte (REVISTA DA SEMANA, 03/03/1945, p.44).

A demorada construção do prédio do Instituto de Educação de Natal

Em 1946 o jornal A Ordem publicou um artigo de Fernando de Oliveira no qual ele escreveu que o governo do Estado estava muito empenhado na construção do Colégio Estadual. Segundo ele há muitos anos se vinha falando na organização de um Instituto de Educação, tendo ficado, por algum tempo, de lado, a ideia da construção de um prédio para substituir o Ateneu.Nas palavras de Fernando de Oliveira: “agora estamos aplaudindo as inteções dos que querem levar para frente a velha aspiração dos estudantes de Natal que se batem por prédio melhor, com adaptações mais modernas”.

         O velho e tradicional Ateneu Norteriograndense, situado na Av. Junqueira Aires, segundo Fernando de Oliveira, o local do prédio estava intimamente ligado a ideia de Ateneu e iria encerra a sua brilhante carreira ali.

         Fernando de Oliveira augurava que a construção do Colégio Estadual tivesse o seu inicio o mais breve possível e parabenizando os estudantes potiguares que dentro em breve estariam frequentando as aulas num novo prédio de adaptações modernas ( A ORDEM,,20/08/1946,p.2).

         Entretanto, como é tradição em si tratando da construção de grandes e necessárias obras em Natal, a construção do novo prédio do Ateneu não seria nada rápida como pressentia Fernando de Oliveira, pois em 1946, três anos após o lançamento da pedra fundamental, as obras não passavam ainda dos alicerces.

         Em 1947 os debates da Assembleia Legislativa orbitavam em torno dos problemas educacionais do Estado, dentre eles o único Colégio Estadual que ainda não estava devidamente aparelhado para funcionar como estabelecimento de grau secundário. Isto, porque lhe faltava os laboratórios de química, física, os gabinetes especializados de ciência, além da péssima instalação e das pobres condições de espaço do velho prédio aonde vinha funcionando o Colégio.

         Os deputados solicitaram ao governo informações a cerca da construção do prédio do Instituto de Educação (antigo Ateneu) o qual teria uma sede condigna (A ORDEM, 20/08/1947,p.2).

         Em 03/09/1947, dentro das comemorações da Semana da Pátria as autoridades como os deputados estaduais constituintes, jornalistas e grande numero de professores visitaram as 09h00 o local onde estavam sendo realizadas as obras do majestoso edifício do Instituto de Educação, que segundo o jornal A Ordem, era um grande empreendimento que estava sendo levado a bom êxito pela dedicação e capacidade realizadora do professor Severino Bezerra, diretor do Departamento de Educação (A ORDEM, 03/09/1947, p.1).

         Em resposta as informações solicitadas pela Assembleia Constituinte do Estado foi lido em 05/11/1947 um oficio do governador José Augusto Varela, encaminhado ao plenário daquela Casa com informações prestadas pelo diretor do Departamento de Educação, atendo assim ao pedido dos deputados Moacir Duarte e José Xavier da Cunha.

         Nessa informação se dizia que estavam em vias de conclusão os alicerces, que o plano do novo edifício do Instituto de Educação foi de elaboração do engenheiro Quirino Simões, tendo sido devidamente aprovado pelo Ministério de Educação e Saúde, que a planta do edifício era em formato de X, com 1.975 m² de cobertura, que o orçamento aproximado era de 9 milhões de cruzeiros, tendo sido já gastos mais de 500 mil cruzeiros e a construção estava entregue mediante concorrência pública, ao Sr. Joaquim Vitor de Holanda, tendo o Governo do Estado nomeado uma comissão de dois engenheiros e mais o diretor do Departamento de Educação para acompanhar os trabalhos (A ORDEM, 05/11/1947, p.4).

Em 1948 foi assinado pelo Presidente da República um decreto que concedia um auxilio de 10 milhões de cruzeiros ao Estado do Rio Grande do Norte, onde a maior parte desses recursos seriam utilizados no término das obras do grande edifício do Instituto de Educação, iniciadas há muito tempo e que estavam quase que paralisados os trabalhos porque a situação financeira do Estado não permitia o seu prosseguimento.

Em 01/02/1948 foi aprovada pelo congresso emendas concedendo auxílios a diversas instituições do Rio Grande do Norte, destacando-se 2 milhões de cruzeiros para a construção do novo edifício do Instituto de Educação de Natal (DIÁRIO DE NATAL,01/12/1948, p.1).

Escreveu o aluno do 1º ano de Contabilidade do Ateneu, Pedro Américo, que os alunos do Colégio Estadual, tradicional estabelecimento de ensino de Natal, estudava mal acomodada e sem nenhum conforto, urgindo assim, uma séria medida e esta seria a construção do Instituto de Educação, pois a mocidade potiguar precisava de um ambiente sadio para seus estudos, necessitando por isso de maior assistência do Governo do Estado.

Para o referido aluno o Instituto de Educação “será um marco que imortalizará um Governo, pelo bem imenso que trará aos jovens estudiosos da terra de Miguelinho” (A ORDEM, 10/08/1948, p.6).

         Chegado o ano de 1949 foi destinado pelo Governo Federal uma verba de 500 mil cruzeiros destinada as obras do Instituto de Educação paralisadas parcialmente pela falta de recursos para aquele desiderato do povo potiguar ( A ORDEM,12/10/1949,p.4).

         Em 1951 o governador Dix Huit Rosado esperava do Governo Federal a quota de 500 mil cruzeiros destinados as obras do Instituto de Educação de Natal (DIÁRIO DE NATAL,15/09/1951,p.4).

Em 1952 o orçamento para a construção do prédio do Instituto de Educação de Natal já havia se elevado a 10 milhões de cruzeiros e as obras se arrastavam com muito sacrifício desde 1947 (A ORDEM, 22/03/1952, p.1).

A inauguração do Instituto de Educação de Natal

         Exatamente 10 anos depois do lançamento da pedra fundamental do novo prédio do Instituto de Educação de Natal é que foi o mesmo inaugurado em 01/08/1954, também denominado “Gimnasium de Natal” (antigo Atheneu Norteriograndense).

De acordo com o Diário de Pernambuco tratava-se de uma das melhores realizações no plano escolar já levada a efeito no Norte e Nordeste do Brasil por qualquer administração em qualquer tempo.

Ainda de acordo com o referido jornal o ensino público no Rio Grande do Norte, embora dispondo de excelente magistério, tinha a sua eficiência prejudicada pela falta de acomodações. Os cursos pedagógicos, ginasial e colegial funcionavam praticamente em pardieiros incompatíveis com o ambiente pedagógico e acolhida devida a juventude na busca de ensinamentos.

Ao assumir, o governador Silvio Pedroza planejou modificar tão humilhante situação no Estado.De posse da planta da construção, juntou-se aos técnicos e era sabido que foi o mestre de obras do edifício, acompanhando-o do lançamento da pedra fundamental a cobertura e no acabamento interno.

o resultado foi o edifício ser inaugurado com a visão do futuro, para servir às turmas escolares de então e às das épocas vindouras, de acordo com o gradativo crescimento populacional do Rio Grande do Norte.

De acordo com o Diário de Pernambuco, o prédio do Instituto de Educação de Natal estava aparelhado modernamente, tornando-se um estabelecimento modelar e já constituía um ponto turístico inevitável para os visitantes da Capital Potiguar (O POTI, 01/08/1954, p.2).

         Construído num formato inusitado de um imenso X o Instituto de Educação de Natal, destacava-se na paisagem natalense composto por 24 salas de aula com capacidade para atender até 2.000 alunos.




Fotos: Revista O Cruzeiro,1954,p.101.

         A revista O Cruzeiro fez uma descrição do Instituto de Educação de Natal logo após a sua inauguração. De acordo com o jornalista Italo Viola, da citada revista, o Rio Grande do Norte havia sido dotado recentemente de um dos mais modernos estabelecimentos de ensino do País, que era o Instituto de Educação de Natal, onde eram ministrados os cursos secundários, cientifico clássico e normal. Obedecia aos requisitos pedagógicos mais avançados, os alunos que ali estudavam eram cercados da mais perfeita assistência educacional.

O Instituto com sua forma de um imenso X, possuía 24 salas de aula, além de salas especiais para o estudo de desenho, física, química, história, geografia, etc., e mais gabinetes dentário  e médico e anfiteatros.

        Segundo o jornalista Italo Viola no Instituto de Educação de Natal estavam matriculados 2.0000 alunos sendo considerado por quantos o visitavam como o melhor do norte-nordeste do Brasil.

A par da educação do espírito, ali, também se educava o corpo. O governador Silvio Pedroza havia presenteado a mocidade esportiva potiguar com um grandioso Ginásio (agregado ao Instituto) onde 3.000 pessoas, confortavelmente instaladas, poderiam assistir as práticas de basquete, vôlei  e outras competições esportivas. O Ginásio tinha ainda um palco podendo transformar-se a qualquer hora em um magnífico teatro. Para tal construiu-se previamente camarins, jogos de luzes, etc. Na partida de tênis, com que se inaugurou o Ginásio de Natal, o governador Silvio Pedroza (que era ex atleta do Fluminense Futebol Clube do Rio de Janeiro) fez parte da dupla que derrotou a delegação pernambucana. Ao lado deste Ginásio construiu-se em caráter  acelerado, uma piscina que iria completar o conjunto do Instituto de Educação da cidade de Natal (O CRUZEIRO,1954, p.101).

A mudança do nome não agradou aos estudantes

         Ao que tudo indica os estudantes não se sentiam confortáveis com a mudança de nomenclatura de Colégio Estadual Ateneu Norteriograndense para Instituto de Educação de Natal.

         Em 1959 os estudantes retiraram o letreiro da fachada do Colégio Estadual sem a menor comunicação a direção. De acordo com o Diário de Natal a  atitude dos alunos potiguares foi para demonstrar a insatisfação pela permanência do nome “Instituto de Educação” na fachada do prédio, quando sua denominação legal era “Colégio Estadual Ateneu Norteriograndense” (DIÁRIO DE NATAL, 26/11/1959,p.7).O incidente motivou o pedido de demissão do diretor professor Protássio Melo, que depois de procurado pelos alunos para as devidas explicações do protesto, reconsiderou sua decisão e reassumiu a direção do Colégio superando a crise gerada pela retirada do letreiro. É desconhecido por nós quando o letreiro voltou a ser definitivamente “Atheneu Norteriograndense” (com H!).




Governador Silvio Pedroza em frente ao Atheneu. Fotos: Revista O Cruzeiro,1954, p.101.

Efemérides           

A conferência de Gilberto Freire no Ateneu

A visita do autor de Casa Grande & Sezala ao prédio do Ateneu (Instituto de Educação) seria realizada logo após de serem prestadas homenagens ao mesmo pelo Governo, instituições culturais e a sociedade natalense.

         A conferência de Gilberto Freire no Ateneu ocorreu as 20h00 do dia 21/08/1954 no auditório daquele estabelecimento, a convite do Governador Silvio Pisa Pedroza, cujo tema foi “Para além da rotina pedagógica” (O POTI, 21/08/1954, p.6).

A primeira turma concluinte

         A primeira turma concluinte após a inauguração do novo prédio do Instituto de Educação de Natal colou grau em 23/12/1955 denominada “ Turma Governador Silvio Pedroza” dos cursos clássicos e científicos (O POTI,23/12/1955,p.8).

A visita de Assis Chateaubriand

        Em 07/08/1954 visitou o prédio do Instituto de Educação o senador Assis Chateaubriand juntamente com o governador Silvio Pedroza, além de uma comitiva de jornalistas, onde deu suas impressões sobre o Ginásio Silvio Pedrosa (O POTI, 07/08/1954, p.8).


Imagem de satélite mostrando o formato em X do Atheneu Norteriograndense. Foto: Google Earth.


O antigo e o novo prédio do Atheneu.


quinta-feira, 10 de junho de 2021

A INSTALAÇÃO DA LUZ ELÉTRICA DE TAIPU


         A energia elétrica a motor diesel em Taipu foi implantada na década de 1940. Era um grande melhoramento que viria a contribuir com o desenvolvimento da pequena cidade Taipu, elevada a essa categoria em 1938.

         De acordo com o jornal A Ordem em 1943 seriam instalados brevemente os serviços de iluminação elétrica da cidade de Taipu (A ORDEM, 10/06/1943, p.2). O material necessário seria fornecido pela firma J. P. Borges, estabelecida em Mossoró, cujo contrato havia sido assinado pela prefeitura de Taipu.

         Todas as providências foram orientadas pelo Departamento das Municipalidades, que examinou também todo o processo que foi aprovado posteriormente pelo Conselho Administrativo e pelo Interventor Federal.

         7 meses depois o jornal A Ordem voltou a noticiar que  dentro em breve seria inaugurado o serviço de iluminação elétrica da cidade de Taipu, graças à administração do prefeito João Eustáquio.

         Para esse importante melhoramento já estava sendo distendida as respectivas redes distribuidoras, assim como os particulares estavam providenciando a instalação em suas residências.

         O maquinário da usina elétrica foi adquirido por Cr$ 75.000,00, tendo o motor principal a capacidade de 30 cavalos e funcionaria a carvão, com correntes continua (A ORDEM,08/02/1944,p.4).

         Em abril do mesmo ano o referido jornal publicou o seguinte artigo a respeito da instalação da luz elétrica em Taipu:

         O pequeno município de Taipu vai ter, muito brevemente a inauguração de sua luz elétrica. Toda a zona servida pela Estrada de Ferro Central, na linha de Angicos, ficará, servida por este grande invento para o qual tanto cooperou o gênio de Edson.Será mais um município norteriograndense a somar no seu ativo um melhoramento de alto valor, ficando muito ainda sujeitos ao querosene.

         Taipu é um município pequeno, de rendimentos muito parcos, ainda mais que pode e precisa desenvolver-se.Entre Baixa Verde e Ceará-Mirim, de muito maiores recursos, ele dá a primeira vista uma impressão de grande pobreza.Mas é que as fortunas são pequenas, a iniciativa ainda pouco desenvolvida.

Não lhe faltam, nem aos seus filhos, condições para progredir.Há de ir para frente.

Sem dúvida, a construção do poderoso alude que tem o mesmo nome do município também concorrerá para um melhor futuro.Porque a água é também um fator de primeira no crescimento dos núcleos de população e desenvolvimento de atividades.

Mesmo sem este futuro beneficio é preciso que o município desde já cresça.Luz é vida.A inauguração de sua luz elétrica é sinal de que há vida no município (A ORDEM,11/04/1944, p.4).

         Em junho o referido jornal voltou a escrever que “ este mês será oficialmente inaugurado o serviço de luz elétrica na cidade de Taipu, graças a operosidade do atual prefeito daquele município, Sr. João Eustáquio de Castro”.

         De acordo com o jornal citado a solenidade de inauguração compareceria o Interventor Federal além de outras autoridades convidadas.

         Nas obras de instalação da usina elétrica foram dispensados cerca de Cr$ 100.000,00 (A ORDEM, 01/06/1944, p.6).

         Não encontramos o relato da inauguração da luz elétrica em Taipu, se é que foi realmente inaugurada em 1944.

Anos mais tarde, o engenheiro agrônomo
Álvaro Neves esteve em visita a cidade de Taipu e escreveu que “quando há luz elétrica ou quando a lua cheia banha os vales de luz, a vida noturna prolonga-se as nove ou dez horas da noite, em caso contrário, as Familias recolhem-se às oito horas, para no dia seguinte não terem o dissabor de serem acordados pelo sol...” (A ORDEM, 19/06/1947, p.3).

Prédio onde ficava o motor da usina elétrica de Taipu. Na fachada do prédio é possível lê com esforço "USINA ELÉTRICA".


O prédio da antiga usina elétrica na década de 1980 já desativada e com fachada modificada, servindo como armazém da prefeitura.



quarta-feira, 9 de junho de 2021

O PIONEIRISMO DA TELERN EM GALINHOS


A energia solar é uma realidade hoje em dia, mas há 40 anos passados essa forma de energia não era pensada como alternativa energética. Mas a TELERN apostou nessa inovação tecnológica e foi a primeira empresa no Rio Grande do Norte a se utilizar do sistema de energia solar adotando tal sistema no Posto Telefônico de Galinhos (DIÁRIO DE NATAL, 01/01/1980, p.10).

         Com a inauguração do Posto Telefônico da TELERN em Galinhos, em 31/12/1979 ficaram cobertos todos os 150 municípios do Estado pelos serviços de comunicação da TELERN, com 128 Postos, incluindo os dos três distritos: Baraúnas, Tibau e Redinha, 17 cidade com sistema DDD, das quais 5 contavam com DDI mais com centrais passo a passo (equipamento de geração antiga).

Segundo o Diário de Natal foi confirmada a presença do ministro das comunicações, Haroldo de Matos Correa, para as inaugurações diversas no setor da TELERN, inclusive o sistema de integração estadual pelas telecomunicações, que fechou o circuito com o acionamento do Posto de Galinhos, movido através de energia solar (DIÁRIO DE NATAL, 22/01/1980,p.10).


Aspectos de Galinhos.


Recorte do jornal Diário de Natal sobre o pioneirismo da Telern em Galinhos em 1979.

A ODISSÉIA QUE FOI A CHEGADA DA ENERGIA ELÉTRICA DE PAULO AFONSO EM GALINHOS

        Galinhos foi criado município em 26/03/1963 desmembrado de São Bento do Norte, tendo por principal atividade econômica a pesca, particularmente a do peixe Voador e peixe Galo.

       A cidade (que na realidade era uma vila) foi erguida entre a praia e as dunas, um traço de terra penetrando 10 km de mar. Os limites do município eram ao norte e a oeste Oceano Atlântico, invadindo parte do município, a lestes e a sul 13 km de dunas.

      Em 1975 no seu perímetro urbano habitavam 819 pessoas e o total de casas não chegava a 200.No município não tinha medico, nem dentista e quando alguém precisava de assistência médica era levada de barco até Guamaré. A cidade tinha apenas três ruas e sua população se orgulhava de ter uma praça com o nome de “Praça dos Três Poderes”, em volta dela estava a igreja, o Grupo Escolar e a Prefeitura, onde a campanha publicitária de apelo ao controle de consumo de gasolina não precisou chegar pois não existia automóvel e uma das 8 cidades do Rio Grande do Norte bem pouco esquecida pelas autoridades deputados estaduais.

         No mapa do Rio Grande do Norte era fácil a localização do município de Galinhos, por sua característica de uma faixa de terra entrando no mar no litoral norte do Estado, no entanto o acesso ao município não correspondia ao que se via no mapa, pois para se chegar a Galinhos as opções eram ou por meio de botes ou por caminhões puxados por tratores, únicas formas de se vencer os 13 km de dunas.

A chegada da luz elétrica em Galinhos

       A energia elétrica vinda da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA por meio da COSERN só chegou ao município de Galinhos em 1975.

      Em 1975 o jornal O Poti enviou ao município de Galinhos um repórter para verificar in loco a instalação do sistema de energia elétrica feito pela COSERN para levar até ao município da energia vinda da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA.

      De acordo com o jornal O Poti, em Galinhos a COSERN encontrou as maiores dificuldades para levar a energia elétrica da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA. Para conseguir o objetivo, operários trabalharam até 20 horas diárias entre fevereiro e março de 1975.

       O repórter do referido jornal acompanhou durante alguns dias o trabalho dos técnicos da COSERN, o qual classificou como um trabalho penoso que ali estava sendo realizado para colocação dos postes e da rede de fiação do sistema elétrico da cidade. No inicio da semana uma ameaça e provável que os serviços que os serviços não ficassem prontos até o dia 31/03/1975, ameaçando assim a inauguração da energia elétrica em Galinhos.

      O diretor-presidente da COSERN havia ido pessoalmente acompanhar os trabalhos. Viajou de caminhão, depois o caminhão foi puxado por trator, numa última etapa somente o trator tinha condições de vencer as dunas.

      De acordo com O Poti, a cidade de Galinhos, desligada e esquecida do mundo, nunca havia recebido a visita de um Governador. Nem mesmo em época de eleição. Talvez por isso, e constando as dificuldades de acesso não existia na cidade um só carro, um pescador morador do município desabafou  ao repórter do referido jornal: “No dia em que eu vir luz em Galinhos prometo vestir uma saia”.E o descrédito não era isolado, se refletia na opinião de toda a população de Galinhos.

         As primeiras demonstrações de uma administração no município começaram por volta de 1975, primeiro com a entrega feita por Benvenuto Pereira, em nome do governador Cortez Pereira, de um adiantamento de Cr$ 15 mil ao prefeito de Galinhos para que fossem iniciados os trabalhos de construção de uma unidade de saúde, através da qual a exemplo de todos os  150 municípios do Estado  a população pobre da região teria garantida assistência médica e recebimento gratuito dos remédios da Central de Medicamentos.

         Decidida a se fazer a eletrificação de Galinhos através da firma Eletronorte, a COSERN tratou de levantar as opções pelas quais o trabalho poderia ser executado. A primeira delas foi a do transporte ser feito em botes procedentes de Guamaré, situada a 10 km de Galinhos. Mas o peso do material (alguns postes chegavam a pesar até 5 toneladas) e a inexistência de um pequeno cais eliminaram essa possibilidades.

       A solução única, então, foi mesmo enfrentar as dunas, algumas delas medindo 80 metros de altura e por elas foram levados 350 postes. Os primeiros 22 km de instalação da linha de substransmissão foram fáceis. O chão firme facilitou o trabalho. Faltando 13 km, os caminhões caminhavam 100 metros e atolavam. Começavam a ser utilizados então os tratores de roda para arrastar os caminhões. Mas, também, foram impotentes, essas tentativas, sendo por fim utilizados os muncks tracionados.

Caminhões atolados nas dunas sendo rebocados por tratores. Foto: Diário de Natal, 1975.

        Por esse relato do jornal O Poti se pode ter uma noção de como foi a odisseia da chegada da luz elétrica do município de Galinhos. Talvez os turistas que atualmente visitam a pitoresca, aprazível e idílica aquela cidade ou até mesmo os moradores mais novos nativos tenham a mais vaga ideia dessa aventura hercúlea para se chegar a luz ali. Quem tem mais idade e assistiu a novela Tieta certamente lembrará dos capítulos em que se mostrava os preparativos para a chegada da “Luz de Tieta” à fictícia cidade de Santana do Agreste, foi o que me ocorreu ao lembrar esse episodio real em Galinhos (O POTI, 02/02/1975, p.3).

         Em decorrências das dificuldades de acesso, era provável que a inauguração da energia elétrica em Galinhos não se realizasse no dia 1/01/1975 como havia sido previsto, adiando assim o “anel energético” do Estado, onde Galinhos seria a última cidade do RN a ser eletrificada (DIÁRIO DE NATAL, 28/01/1975,p.1).A inauguração só ocorreu em 02/02/1975.

A alegria durou pouco

        O município de Galinhos, com seus 1.000 habitantes, que teve o seu sistema de energia inaugurado no dia 02/02/1975, de acordo  com o jornal Diário de Natal, há mais de dois meses voltara a viver as escuras, devido a queda de três postes localizados nas dunas, não recebendo as atenções da  direção COSERN, que provavelmente, por falta de condições suficientes em chegar até o local, deixou de atender as reivindicações do prefeito de Galinhos, José Vicente Sobrinho.

        O prefeito informou ao referido jornal que havia entrado em entendimento com o novo diretor-presidente da COSERN quando na oportunidade ouviu as promessas de providencias para resolver o problema.

      Ainda de acordo com o prefeito de Galinhos outros postes da cidade estavam ameaçando de cais em virtude das grandes marés que os estavam atingindo.

      O prefeito já não sabia o que explicar a população sobre a falta de energia na cidade, que estava há mais de dois meses em total escuridão, criando vários problemas, pois muitas pessoas já haviam comprado grandes frigoríficos para armazenamento de pescado, visto que o município vivia essencialmente da pesca, sendo que o prejuízo poderia ser de até 30% com a falta de energia (DIÁRIO DE NATAL, 26/04/1975, p.2).

      De acordo com o jornal O Poti, a inauguração do sistema de energia elétrica em Galinhos ocorreu as 10h00 do dia 02/02/1975.A programação se iniciou com o deslocamento do governador Cortez Pereira e o diretor-presidente da COSERN Benvenuto Pereira à cidade de Galinhos onde se realizaria a inauguração. A noite, as 19h00 em frente a sede da COSERN em Natal haveria outra solenidade para sinalizar o marco comemorativo da inauguração da energia elétrica de Paulo Afonso na última cidade do Rio Grande do Norte a receber tal serviço. No marco colocado na sede da COSERN foi inscrito “Passamos, ficando  na meta cumprindo hoje  energizamos a última cidade do Estado”. (O POTI,02/02/1975, p.1).

      Segundo o Diário de Natal, o governador Tarcísio Maia havia determinado que a COSERN desenvolvesse todo o esforço para restabelecer a ligação de energia da cidade de Galinhos, que estava havia quase dois meses sem energia, porque a rede de transmissão danificou-se logo depois de inaugurada (DIÁRIO DE NATAL,21/05/1975, p.4).

      O deputado estadual Antônio Câmara apelou para o governo do Estado no sentido de enviar para Galinhos uma comissão a fim de verificar os problemas existentes no município. O deputado disse ainda que Galinhos vivia completamente abandonado e que na administração passada, sem qualquer planejamento foi implantado no município o serviço de energia elétrica que,m entretanto, não demorou mais de 15 dias, pois todos os postes ali colocados caíram, fazendo a cidade voltar as escuras. Igual insucesso verificou-se com relação ao serviço de rádio que logo após a sua instalação deixou de funcionar.

       Em aparte, o deputado Olavo Montenegro disse que teve conhecimento de que os postes colocados em Galinhos eram do mesmo tipo que estavam estocados na sede da COSERN, isto é, sem condições para serem utilizados de maneira satisfatória (DIÁRIO DE NATAL, 10/06/1975, p.5).

        Anos depois o governo do Estado admitiu o erro em ter se efetuado a eletrificação de Galinhos na pressa para deixar o Estado todo eletrificado, sem se ter feito estudos mais específicos para se evitar o que ocorreu em Galinhos.


Aspectos da cidade de Galinhos

Aspectos de Galinhos ao anoitecer.