Galinhos foi criado município em 26/03/1963 desmembrado de São Bento do Norte, tendo por principal atividade econômica a pesca, particularmente a do peixe Voador e peixe Galo.
A cidade (que na realidade era uma vila) foi erguida entre a praia e as dunas, um traço de terra penetrando 10 km de mar. Os limites do município eram ao norte e a oeste Oceano Atlântico, invadindo parte do município, a lestes e a sul 13 km de dunas.
Em 1975 no seu perímetro urbano habitavam 819 pessoas e o total de casas não chegava a 200.No município não tinha medico, nem dentista e quando alguém precisava de assistência médica era levada de barco até Guamaré. A cidade tinha apenas três ruas e sua população se orgulhava de ter uma praça com o nome de “Praça dos Três Poderes”, em volta dela estava a igreja, o Grupo Escolar e a Prefeitura, onde a campanha publicitária de apelo ao controle de consumo de gasolina não precisou chegar pois não existia automóvel e uma das 8 cidades do Rio Grande do Norte bem pouco esquecida pelas autoridades deputados estaduais.
No mapa do Rio Grande do Norte era
fácil a localização do município de Galinhos, por sua característica de uma
faixa de terra entrando no mar no litoral norte do Estado, no entanto o acesso ao
município não correspondia ao que se via no mapa, pois para se chegar a
Galinhos as opções eram ou por meio de botes ou por caminhões puxados por
tratores, únicas formas de se vencer os 13 km de dunas.
A chegada da luz elétrica em Galinhos
A
energia elétrica vinda da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA por meio da
COSERN só chegou ao município de Galinhos em 1975.
Em 1975 o jornal O Poti enviou ao município de Galinhos um repórter
para verificar in loco a instalação do
sistema de energia elétrica feito pela COSERN para levar até ao município da
energia vinda da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA.
De acordo com o jornal O Poti, em Galinhos a COSERN
encontrou as maiores dificuldades para levar a energia elétrica da Usina
Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA. Para conseguir o objetivo, operários
trabalharam até 20 horas diárias entre fevereiro e março de 1975.
O repórter do referido jornal acompanhou durante alguns dias o trabalho dos técnicos da COSERN, o qual classificou como um trabalho penoso que ali estava sendo realizado para colocação dos postes e da rede de fiação do sistema elétrico da cidade. No inicio da semana uma ameaça e provável que os serviços que os serviços não ficassem prontos até o dia 31/03/1975, ameaçando assim a inauguração da energia elétrica em Galinhos.
O diretor-presidente da COSERN havia ido pessoalmente
acompanhar os trabalhos. Viajou de caminhão, depois o caminhão foi puxado por
trator, numa última etapa somente o trator tinha condições de vencer as dunas.
De
acordo com O Poti, a cidade de Galinhos, desligada e esquecida do mundo, nunca
havia recebido a visita de um Governador. Nem mesmo em época de eleição. Talvez
por isso, e constando as dificuldades de acesso não existia na cidade um só
carro, um pescador morador do município desabafou ao repórter do referido jornal: “No dia em que
eu vir luz em Galinhos prometo vestir uma saia”.E o descrédito não era isolado,
se refletia na opinião de toda a população de Galinhos.
As primeiras demonstrações de uma administração
no município começaram por volta de 1975, primeiro com a entrega feita por
Benvenuto Pereira, em nome do governador Cortez Pereira, de um adiantamento de
Cr$ 15 mil ao prefeito de Galinhos para que fossem iniciados os trabalhos de
construção de uma unidade de saúde, através da qual a exemplo de todos os 150 municípios do Estado a população pobre da região teria
garantida assistência médica e recebimento gratuito dos remédios da Central de
Medicamentos.
Decidida a se fazer a eletrificação de Galinhos através da
firma Eletronorte, a COSERN tratou de levantar as opções pelas quais o trabalho
poderia ser executado. A primeira delas foi a do transporte ser feito em botes
procedentes de Guamaré, situada a 10 km de Galinhos. Mas o peso do material
(alguns postes chegavam a pesar até 5 toneladas) e a inexistência de um pequeno
cais eliminaram essa possibilidades.
A solução única, então, foi mesmo enfrentar as dunas, algumas delas medindo 80 metros de altura e por elas foram levados 350 postes. Os primeiros 22 km de instalação da linha de substransmissão foram fáceis. O chão firme facilitou o trabalho. Faltando 13 km, os caminhões caminhavam 100 metros e atolavam. Começavam a ser utilizados então os tratores de roda para arrastar os caminhões. Mas, também, foram impotentes, essas tentativas, sendo por fim utilizados os muncks tracionados.
Caminhões atolados nas dunas sendo rebocados por tratores. Foto: Diário de Natal, 1975. |
Por esse relato do jornal O Poti se pode ter uma noção de
como foi a odisseia da chegada da luz elétrica do município de Galinhos. Talvez
os turistas que atualmente visitam a pitoresca, aprazível e idílica aquela cidade
ou até mesmo os moradores mais novos nativos tenham a mais vaga ideia dessa
aventura hercúlea para se chegar a luz ali. Quem tem mais idade e assistiu a
novela Tieta certamente lembrará dos capítulos em que se mostrava os
preparativos para a chegada da “Luz de Tieta” à fictícia cidade de Santana do
Agreste, foi o que me ocorreu ao lembrar esse episodio real em Galinhos (O POTI,
02/02/1975, p.3).
Em decorrências das dificuldades de
acesso, era provável que a inauguração da energia elétrica em Galinhos não se
realizasse no dia 1/01/1975 como havia sido previsto, adiando assim o “anel energético”
do Estado, onde Galinhos seria a última cidade do RN a ser eletrificada (DIÁRIO
DE NATAL, 28/01/1975,p.1).A inauguração só ocorreu em 02/02/1975.
A alegria durou pouco
O município de Galinhos,
com seus 1.000 habitantes, que teve o seu sistema de energia inaugurado no dia
02/02/1975, de acordo com o jornal
Diário de Natal, há mais de dois meses voltara a viver as escuras, devido a
queda de três postes localizados nas dunas, não recebendo as atenções da direção COSERN, que provavelmente, por falta
de condições suficientes em chegar até o local, deixou de atender as
reivindicações do prefeito de Galinhos, José Vicente Sobrinho.
O prefeito informou ao referido jornal que havia entrado em entendimento
com o novo diretor-presidente da COSERN quando na oportunidade ouviu as promessas
de providencias para resolver o problema.
Ainda de acordo com o prefeito de Galinhos outros postes da
cidade estavam ameaçando de cais em virtude das grandes marés que os estavam
atingindo.
O
prefeito já não sabia o que explicar a população sobre a falta de energia na
cidade, que estava há mais de dois meses em total escuridão, criando vários problemas,
pois muitas pessoas já haviam comprado grandes frigoríficos para armazenamento
de pescado, visto que o município vivia essencialmente da pesca, sendo que o prejuízo
poderia ser de até 30% com a falta de energia (DIÁRIO DE NATAL, 26/04/1975, p.2).
De acordo com o jornal O Poti, a
inauguração do sistema de energia elétrica em Galinhos ocorreu as 10h00 do dia
02/02/1975.A programação se iniciou com o deslocamento do governador Cortez
Pereira e o diretor-presidente da COSERN Benvenuto Pereira à cidade de Galinhos
onde se realizaria a inauguração. A noite, as 19h00 em frente a sede da COSERN
em Natal haveria outra solenidade para sinalizar o marco comemorativo da inauguração
da energia elétrica de Paulo Afonso na última cidade do Rio Grande do Norte a
receber tal serviço. No marco colocado na sede da COSERN foi inscrito “Passamos,
ficando na meta cumprindo hoje energizamos a última cidade do Estado”. (O
POTI,02/02/1975, p.1).
Segundo
o Diário de Natal, o governador Tarcísio Maia havia determinado que a COSERN
desenvolvesse todo o esforço para restabelecer a ligação de energia da cidade
de Galinhos, que estava havia quase dois meses sem energia, porque a rede de
transmissão danificou-se logo depois de inaugurada (DIÁRIO DE NATAL,21/05/1975, p.4).
O deputado estadual Antônio Câmara
apelou para o governo do Estado no sentido de enviar para Galinhos uma comissão
a fim de verificar os problemas existentes no município. O deputado disse ainda
que Galinhos vivia completamente abandonado e que na administração passada, sem
qualquer planejamento foi implantado no município o serviço de energia elétrica
que,m entretanto, não demorou mais de 15 dias, pois todos os postes ali
colocados caíram, fazendo a cidade voltar as escuras. Igual insucesso
verificou-se com relação ao serviço de rádio que logo após a sua instalação
deixou de funcionar.
Em aparte, o deputado Olavo Montenegro
disse que teve conhecimento de que os postes colocados em Galinhos eram do
mesmo tipo que estavam estocados na sede da COSERN, isto é, sem condições para
serem utilizados de maneira satisfatória (DIÁRIO DE NATAL, 10/06/1975, p.5).
Anos depois o governo do Estado admitiu
o erro em ter se efetuado a eletrificação de Galinhos na pressa para deixar o
Estado todo eletrificado, sem se ter feito estudos mais específicos para se
evitar o que ocorreu em Galinhos.
Aspectos da cidade de Galinhos |
Aspectos de Galinhos ao anoitecer. |
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