segunda-feira, 24 de setembro de 2018

REESCREVENDO A HISTÓRIA DE BAIXA VERDE (JOÃO CÂMARA-RN)


Prolegômenos
A história não é estática, ao contrário, ela é dinâmica, ela muda com o aparecimento de novos fatos, por isso não se pode dizer que haja uma história completa, engessada, determinada e definitiva. Aplicando isso a historiografia dos municípios temos que os registros históricos, principalmente os jornais e relatórios dos governadores, se constituem de fontes relevantes para esmiuçar os meandros da história e ao examinar tais registros, a medida do possível, reescrever ou comprovar a história desses ou daquele município.
É o caso de João Câmara, outrora Baixa Verde, que neste trabalho apresentaremos e cujos retalhos históricos consignados nos jornais antigos e em arquivos do governo pretendem servir para analisar melhor a gênese do município (reescrever a história do município seria muita ousadia, tanto mais por não ser nativo do município, me perdoem os camarenses).
Sem mais delongas vamos aos nossos estudos.
Baixa Verde mencionada em mapa do século XIX
A menção a região de Baixa Verde aparece pelo final do século XIX, sendo uma das menções mais antigas, se não a mais antiga, salvo engano, ocorrendo em um esboço de um mapa da província do Rio Grande do Norte, apresentado ao presidente da província Dr. Antônio Francisco Pereira de Carvalho em 1887.
O mapa foi elaborado pelo engenheiro inglês Jonh Morant, que viria a ser o diretor da Estrada de Ferro Natal a Nova a Cruz. Segundo a legenda apresentada no referido mapa aparecem Baixa Verde e Pororocas. Vejam a figura 1.

                  Figura 1.Mapa de Johh Morant, 1887
Mapa de John Morant, 1887.Fonte: Arquivo Nacional.


         Ampliação do mapa a cima com destaque para a região de Baixa Verde
Mapa de John Morant, 1887.Fonte: Arquivo Nacional.

A segunda imagem é a ampliação da área que cita Baixa Verde e Pororocas extraída da primeira. A região de Baixa Verde apresentada neste mapa de 1887 coincide com a atual localização do município de João Câmara (ex Baixa Verde) e segundo a legenda do mapa era a época uma povoação.

A comissão do açude de Baixa Verde
O jornal Gazeta de Natal na edição do dia 01/06/1889 registrou a nomeação de uma comissão formada em Ceará-Mirim pelo padre Frederico Augusto Raposa da Câmara, presidente, o juiz municipal Francisco de Sales Meira e Sá e o major Elpidio Furtado de Mendonça. Sendo esta comissão encarregada da construção de um açude na povoação de Baixa Verde onde seriam empregados as vitimas da calamidade da seca, sendo destinando um salário de r$ 500 para os homens e r$300 para as mulheres  e r$ 200 para as crianças (GAZETA DO NATAL, 01/06/1889, p.2).Dessa forma, a povoação de Baixa Verde seria aquela época pertencente ao município de Ceará-Mirim.
As obras do referido açude continuaram no ano seguinte como se vê no expediente do dia 07/02/1890 onde o governador Adolfo Afonso da Silva Gordo assinou decreto autorizando a comarca de Ceará-Mirim “a designar pessoas idôneas e de confiança para se encarregar da direção das obras de construção do açude no lugar Baixa Verde dessa freguesia [...]” (A REPÚBLICA, 26/03/1890, p.3).

A criação e existência do distrito de Baixa Verde
         Desmembrado de Ceará-Mirim o distrito de Taipu e elevado a categoria de município em 10/03/1891 a região de Baixa Verde passa ao território deste novo município. Em 22/12/1892 por meio da lei municipal nº 2 foi criado o distrito com a denominação de Baixa Verde subordinado ao município de Taipu. 
          Outros atos administrativos asseguram a existência do distrito de Baixa Verde ainda no final do século XIX, como os que se seguem.
       Em 04/01/1892 foram demitidos Avelino Antônio dos Santos e Manoel Avelino dos Santos, 2º e 3º suplentes do subdelegado, do subdistrito policial de Baixa Verde e nomeados para substituí-los Norberto Nunes Ferreira e Luís Inácio de Melo (in: A REPÚBLICA, 06/02/1892, p.1).
         Em 11/09/1892 seria realizada a primeira eleição municipal para a Intendência de Taipu [1]. A lei eleitoral vigente para essas eleições estabeleceu duas seções eleitorais no município. Uma instalada na casa da Intendência de Taipu e a outra no Distrito de Baixa Verde que foi instalada na casa do cidadão Afonso Teixeira de Oliveira onde votariam os eleitores inscritos no 5º quarteirão compreendidos entre os números 1322 e 1348 (A REPÚBLICA, 27/08/1892, p.4).
         Outro mapa do estado do Rio de Grande do Norte elaborado pela Comissão de Estudos e Construções de Obras no Rio Grande do Norte datado de 1900 também cita os mesmo locais anteriormente citados, ou seja, Baixa Verde e Pororoca.

Mapa organizado pela Comissão de Estudos e Construções de Obras no Rio Grande do Norte de 1900
Mapa organizado pela Comissão de Estudos e Construções de Obras no Rio Grande do Norte de 1900.Fonte: Arquivo Nacional.

Ampliação do mapa a cima com destaque para a região de Baixa Verde

Mapa organizado pela Comissão de Estudos e Construções de Obras no Rio Grande do Norte de 1900.Fonte: Arquivo Nacional.

       Conforme a legenda do mapa vê-se o traçado da ferrovia que seria inaugurada uma década depois em Baixa Verde.
O relatório de 1900 cita Ernesto Otoni Nunes como professor em Baixa Verde na escola mista daquela localidade do município de Taipu, tendo sido ele nomeado a 01/02/1900 (MENSAGEM DO GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PARA O ANO DE 1900, p.65)[2]. Naquele ano haviam 26 alunos matriculados em Baixa Verde.
Esta é a última menção a cerca de Baixa Verde no século XIX. Já no século XX seguem-se referências ao distrito de Baixa Verde.
Na divisão policial do Estado do Rio Grande do Norte Baixa Verde aparece como subdistrito policial do município de Taipu em 1893 (MENSAGEM...,1893, p.20). Tendo naquela subdelegacia um destacamento de policia.
         Em 1896 o relatório do governo apontava Luís Inácio de Melo como subdelegado no distrito de Baixa Verde, sendo seus suplentes José Ferreira da Câmara, Norberto Nunes Ferreira e Cirilo José Tavares (MENSAGEM..., 1896, p.199).
No jornal O Estado de 02/12/1894 se dizia sobre a seção eleitoral de Baixa Verde na eleição estadual: “A seção da Baixa Verde, porém, ficou envolvida em grande mistério, e por maiores que fossem os esforços, não houve quem soubesse o resultado” (O ESTADO, 02/12/1894, p.2).Não se sabe exato o que ocorreu nessas eleições em Baixa Verde visto que o referido jornal não fornece maiores informações sobre o ocorrido naquela seção.
No tocante ao município de Taipu no relatório do governador se dizia entre outras coisas que tinha por serras a Serra Pelada, Serra da Cruz e a Serra do Torreão, este por vezes também chamado de serrote.
 As povoações existentes além da Vila eram Baixa Verde, Contador, Poço Branco e Gameleira. Haviam dois açudes públicos, um na vila de Taipu e  outro na povoação de Baixa Verde, este em bom estado, aquele bastante estragado devido as consequências das inundações ocorridas em 1895.
 No tocante  a escola o relatório de 1905 diz que a de Baixa Verde era apenas para o sexo masculino com frequência de 18 alunos (MENSAGEM.., 1905, p.76).
O relatório de 1905 dizia ainda que o Estado possuía terras de excelente salubridade que eram apropriadas a fundação de núcleos de trabalhadores, na qual o Governo teria vantajosos resultados. Entre estas terras estava a Baixa Verde: “planalto extensíssimo e de reconhecida fertilidade, com proporções para vir a constituir um grande centro agrícola, desde que sejam ali perfurados poço tubulares” (MENSAGEM..., 1905, p.20).O relatório assegurava que na região viviam considerável número de pessoas que viviam da agricultura e que tinham que viver 6 meses do ano transportando a água necessária ao consumo de distâncias superiores a 4 léguas [3], por isso solicitava o governo a construção de poço tubulares na região.
Pela menção a construção de poços tubulares e a luta pela aquisição de água potável para consumo humano e agricultura, não há dúvidas que o relatório se refira a Baixa Verde que é a atual João Câmara, cuja história comprova sua épica busca pelo liquido precioso ao longo de sua existência.
Por ato de 01/09/1906 foram nomeados Alfredo Edeltrudes de Souza, João Batista Furtado e Ismael Mauricio da Silveira, respectivamente subdelegado e suplentes do distrito policial de Baixa Verde (MENSAGEM..., 1906, p.194).
         Tanto Alfredo Edeltrudes como João Batista Furtado são citados nas crônicas sociais dos jornais no inicio do século XX como comerciantes em Baixa Verde conforme registrado no jornal A República em 10/01/1907: “os nossos dedicados amigos cap. Joaquim da Luz e Alfredo Edeltrudes, honrados comerciantes de Vila Nova e Baixa Verde” (A REPÚBLICA, 10/01/1907, p.02) [4] e na edição de 26/09/1907 o mesmo jornal também registrou a visita de Alfredo Edeltrudes e João Batista Furtado “honrados negociantes na povoação de Baixa Verde” ( A REPÚBLICA, 26/09/1907, p.1).
Alfredo Edeltrudes e João Batista Furtado são figuras lembradas pelos mais antigos da cidade de João Câmara.

Crescimento urbano e econômico
       Foi a chegada da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte em 1910 que proporcionou o crescimento urbano e econômico do então distrito de Baixa Verde. Sobre a ferrovia trataremos em capitulo a parte dada sua magna importância para a história do município de João Câmara.
        Por hora basta dizer que a ferrovia fez permanecer no local uma grande massa de trabalhadores que encontraram ali um bom lugar para fixar residência, assim como houve o deslocamento da população para a crescente Baixa Verde, notadamente o distrito de Assunção, localizado cerca de 3 km de Baixa Verde, cujos trilhos por ali não foram atingidos, cabendo a Baixa Verde suplantar aquela localidade mais antiga da região.
        Das primeiras casas surgiram os arruamentos, alinhadas ordenadamente graças aos engenheiros da EFCRGN, que também construíram a capela em 1915 dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens, devoção da esposa do funcionário da EFCRGN Antônio Proença e cuja invocação é desde aquela data a padroeira da cidade da cidade e paróquia de João Câmara [5].
No mesmo ano de 1915 foi criado o campo de demonstração em Baixa Verde apresentando dois ou mais tipos de solos apropriados ao cultivo de algodão de fibra longa (JORNAL DO COMÉRCIO, 27/09/1915, p.3). Vê-se que por esse período o distrito já se destacava pelo plantio do algodão que seria para Baixa Verde o elemento essencial para seu desenvolvimento econômico.
         Ainda em 1915 aparecia como subdelegado João Batista Furtado, o suplente Ismael Mauricio da Silveira e Pedro Gonçalves de Oliveira como inspetor no distrito policial de Baixa Verde (ALMANAQUE ADMINSITRATIVO, COMERCIAL E INDUSTRIAL DO RIO DE JANEIRO, 1915, p.1368).
Em 1921 a União comprou a fazenda Torreão em Baixa Verde da Companhia de Viação e Construções. A parte confinante com a estrada de ferro era a mais útil, pois tinha um açude e uma pedreira, já o restante da propriedade que tinha algumas benfeitorias seria destinado ao plantio de eucalipto para a produção de dormentes da EFCRGN (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DE VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS, 1921, p.258).

Teria sido o inicio dos abalos?
         A região do Mato Grande onde se situa atualmente o município de João Câmara é uma região propensa a atividade sísmicas cuja origem é atribuída ao movimento das placas tectônicas no interior da terra. Os mais antigos habitantes de João Câmara afirmam ser de longínquas datas o fenômeno dos abalos, como dizem ali sobre os sismos, sem, contudo precisar uma data certa.
Em 1923 o Dr. Pacheco Dantas, potiguar que se achava no Rio de Janeiro, a capital federal, naquele ano concedeu entrevista ao Jornal do Brasil, tradicional e respeitado jornal de circulação nacional. Dentre as perguntas que lhe foram dirigidas estava esta:
 - Constou aqui que a terra tremeu no seu Estado, é verdade?
 Eis a resposta do referido entrevistado:
-Ouvi dizer que no povoado de Baixa Verde foram ouvidos vários estrondos seguidos de abalos da terra, causando isto grande impressão nos habitantes e que no lugar Boa Cica a terra fendeu-se, fazendo um grande sulco de onde saiu uma fumaça constante. Nada, entretanto, posso afirmar sobre a veracidade do fato, porque não me foi possível visitar o local (JORNAL DO BRASIL, 05/12/1923, p.7)[6].
Até o presente momento este é o relato mais antigo sobre os abalos em Baixa Verde.

Sobre a safra de 1925
         Eis como um correspondente escreveu no periódico O Jornal sobre safra em Baixa Verde no ano de 1925.
         Como era esperado, a safra passada foi aqui, a melhor possível. As grandes plantações de algodão, milho e feijão provaram [ser] excelentes.
         Os resultados compensaram sobejamente o capital e o trabalho empregados. Basta notar que a nossa produção atingiu a 8.000 fardos de lã o que vem dar a Baixa Verde a primazia da cultura algodoeira do nordeste.
         Além disso a extensão da terra cultivada, é, em conjunto, a maior do Estado. A produção deste ano, segundo está calculada aumentará de um terço, crescendo 12.000 fardos. E assim, num crescendo animador e progressista, os modestos habitantes deste longínquo e quase desconhecido pedaço do Brasil, vão por seu esforço próprio, sem outro auxilio que a sua própria atividade, desenvolvendo, criando e impelido para adiante a cultura do algodão, uma das bases do esteio da nossa economia.
         Deve se notar que não temos o capital necessário ou conseguimos muito dificilmente para mover essa engrenagem complicada que é a agricultura em nosso país. Não temos Banco Agrícola, não temos estimulo do governo. Tudo que fazemos é por nossa deliberação e responsabilidade (O JORNAL, 23/05/1925, p.12).
         Mesmo com uma prospera colheita, o correspondente se ressente da falta de incentivos para o desenvolvimento da atividade agrícola, sobretudo a algodoeira na região de Baixa Verde. No entanto, o mesmo correspondente apresentava algumas soluções tecnológicas para o beneficiamento do algodão.
Nas palavras do referido jornal: “Para o beneficiamento do ouro branco uma firma desta localidade, João Câmara & Irmãos, pôs em funcionamento um motor com a força de cavalos-vapor o que nos traz a esperança de em breve, termos luz elétrica para o melhoramento nosso” (O JORNAL, 23/05/1925, p.12).
         Parece ser incontestável que o gênio empreendedor de João Câmara que junto com seus irmãos impulsionaram a atividade algodoeira de Baixa Verde contribuindo deveras para seu crescimento econômico e social.
         O citado correspondente continuava dizendo que o inverno daquele ano de 1925 “como se está desenvolvendo é o mais propicio a lavoura e a criação” (O JORNAL, 23/05/1925, p.12) e finalizava registrando que há poucos dias estivera em visita aos campos de agricultura de Baixa Verde, o governador do Estado José Augusto, “que ficou encantado com o lindo panorama das extensas planícies cobertas, a perder de vista, de algodoeiros floridos e verdejantes como uma promessa risonha de prosperidade e grandeza” (O JORNAL, 23/05/1925, p.12). Tal era a repercussão que vinha tendo em todo Estado, as grandes plantações de algodão na região de Baixa Verde.

A  Caixa Rural de Baixa Verde
         Seguindo o impulso criado pela cultura do algodão em 15/06/1926 foi instalada a Caixa Rural de Baixa Verde (MENSAGEM..., 1926, p.51). Sobre a inauguração da Caixa Rural de Baixa Verde assim escreveu Heráclito Vilar, responsável por estas instituições no Rio Grande do Norte a Plácido de Melo: “Baixa Verde, 17 de maio de 1926. Caro Dr. Plácido de Melo, há dias escrevi sobre as Caixas Rurais de Baixa Verde e de Ceará-Mirim [...] Baixa Verde pertence ao município do Taipu, do qual abrange a faixa mais importante, a maior parte da zona agrícola” (A UNIÃO, 10/06/1926, p.4).

Escolas
         Em 1926 havia uma escola as expensas do município de Taipu em Assunção e outra em Baixa Verde. O decreto 350 de 15 de outubro de 1927 criou o grupo escolar capitão José da Penha na povoação de Baixa Verde (MENSAGEM, 1928, p.560), fixando em 3 as cadeiras a serem agrupadas no referido grupo escolar[7], tendo sido inaugurado pelo governador José Augusto em 26/12/1927.

O mercado
      Em 15/09/1927 foi inaugurado novo mercado de Baixa Verde, obra do governo do estado.
O Grupo Escolar
      Em 1927 foi criado  O Grupo Escolar Capitão José da Penha em Baixa Verde. Os grupos escolares eram prédios construídos para abrigar duas ou mais escolas primárias existentes, geralmente a masculina e a feminina, que funcionavam em lugares distintos.
     Com a inauguração do Grupo Escolar Capitão José da Penha o município de Taipu era um dos municípios que possuíam dois grupos escolares, sendo o outro o Grupo Escolar Joaquim Nabuco, inaugurado em 19/02/1919, sendo este uma dos mais antigos da região do Mato Grande, cujo prédio fora inaugurado antes mesmo dos de Touros e Macau, cidades mais importantes e maiores que Taipu.
   Um dos últimos atos ocorrido em Baixa Verde antes de sua emancipação política foi a inauguração do serviço de transporte rodoviário por ônibus na qual se lia no jornal O Paiz que em 22/06/1928 “foi inaugurado o serviço de auto-onmnibus para passageiros entre esta capital, Macaíba, Baixa Verde e Ceará-Mirim (O PAIZ, 22/06/1928, p.8) [8].

A emancipação seria inevitável
Em 07/01/10/1928 se lia no jornal O imparcial que “o presidente Lamartine visitou a região de Baixa Verde, de onde trouxe ótima impressão do progresso agrícola que ali verificou” (O IMPARCIAL, 07/10/1928, p.5), que depois seria criado por ele o município de Baixa Verde em 29/10/1928. No dia 07/10/1928 o periódico O Jornal escrevera que havia partido no dia anterior para Baixa Verde o presidente do Estado, Juvenal Lamartine, onde ali seria criado um novo município (O JORNAL, 07/10/1928, p.8).
A emancipação do distrito de Baixa Verde ocorreu pela lei estadual nº 697, de 29/10/1928. Seu território foi estabelecido pelo  desmembramento de parte dos territórios dos municípios de Taipu, Touros e Lages.
A Sede no antigo distrito de Baixa Verde foi elevada a categoria de vila. O novo município foi instalado em 01/01/1929 com a posse do primeiro prefeito que foi o industrial e agropecuarista João Câmara, que fora igualmente 3 anos antes prefeito em Taipu.
         O território do novo município de Baixa Verde teria cerca de 700 km², indo do agreste ao litoral (São Bento do Norte). A demografia inicial de Baixa Verde é difícil precisar.
No Recenseamento de 1920 o município de Taipu apresentou-se com 12.651 habitantes.
Anfilóquio Câmara afirma que Taipu perdeu em 1928 uma boa porção do seu território, inclusive, o povoado que hoje é a cidade sede daquele município (CÂMARA, 1943, p.391), porém, não disse a quantidade habitantes que foi perdida com a criação de Baixa Verde.
         Em 1930 não foi realizado o Censo Demográfico do Brasil, que seria este o primeiro a registrar a população de Baixa Verde após sua emancipação. A sinopse estática do Rio Grande do Norte relativa ao ano de 1937 acusou uma estimativa de 25.200 habitantes no município de Baixa Verde (SINOPSE, 1938, p.30).Só no Censo de 1940 é que temos uma noção exata e oficial da demografia de Baixa Verde cujo Censo registrou uma população de 20.375 habitantes (IBGE, 1940, p.51).

A localidade de Matas realmente existiu?
       Um enigma geográfico ronda a história de Baixa Verde, pois se diz que o lugar onde hoje está a cidade de João Câmara (ex Baixa Verde), se chamava Matas. Ocorre que mesmo aparecendo na oralidade e em alguns documentos, como diários de pessoas antigas de João Câmara, o topônimo não aparece em documentos oficiais e muito menos em jornais por nós consultado. Qual o motivo?
         Vejamos a origem dessa controvérsia.
        Câmara Cascudo diz em Nomes da Terra que o território do município de João Câmara foi desmembrado de Touros, Taipu e Lajes, principalmente do primeiro. Prossegue Câmara Cascudo que “o local da cidade pertencia ao Taipu e era deserto nos primeiros anos antes de 1900.Denominava-se MATAS” (CASCUDO, 2002, p.196, destaque do original).
Qual a razão para Câmara Cascudo destacar o topônimo Matas em letras maiúsculas? Queria ele ressaltar a existência do lugar?
Mais estranho ainda é Câmara Cascudo dizer que o lugar era deserto antes de 1900. Ora, como visto anteriormente Baixa Verde era distrito desde 1892, com escola, distrito policial e uma pequena feira. Não se justifica construir uma escola onde não haja ninguém habitando tal lugar, tão pouco se concebe um distrito policial para policiar e por ordem em ninguém. Se tais equipamentos existiam em Baixa Verde já em 1892 como poderia o distrito ser deserto em 1900?
Para Cascudo foi o trabalho de construção da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte “que fez permanecer em “Matas” uma turma de ‘cassacos’ e a ‘parada’, inaugurada em 1910, dentro de um simples vagão, consagrou a estabilidade da povoação iniciada” CASCUDO, 2002, p.196, aspas internas do original).
É inegável que a inauguração da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte no território de Baixa Verde trouxe impulso econômico e social para o lugar, contribuindo para seu crescimento urbano, como ocorreu nas demais cidades e lugares por onde os trilhos da mesma ferrovia atingiram. Porém, não consigo crer que não havia nada em Baixa Verde quando da chegada dos trilhos.
É praticamente impossível pensar que uma empresa privada despenderia capitais e empregados para construir uma estação ferroviária num lugar onde não teria pessoas e produtos para o trem transportar apenas com a firme esperança de que em breve o local estaria densamente povoado.
Outro detalhe é o nome da estação. A estação foi inaugurada com o nome de Baixa Verde, ora se o local chamava-se Matas por qual razão a estação foi inaugurada como Baixa Verde? Não há razão para crer numa mudança toponímica em tão breve tempo, sendo que para mudança oficial de nome teria que ser feito por lei municipal, coisa que nunca se verificou.
O fato de não haver casas próximo a estação ou a linha não indica a ausência de habitantes do lugar. Por questão de segurança o traçado da linha sempre procurava passar por fora da zona urbana, quando isso era possível. Veja a estação precedente a Baixa Verde que foi Taipu em 1907, construída fora da zona urbana, cerca de 1 km da Vila, a estação foi aos poucos sendo ‘absorvida’ pelas construções no seu entorno.
Era assim em todos os outros lugares por onde passaram ferrovias. Naturalmente as construções iriam sendo erguidas mais próximas da estação e as margens da linha até se tornar zona urbana onde antes não era.
       Ainda para Câmara Cascudo foi o delegado da empresa construtora da EFCRGN que fixando residência ali lançou os fundamentos da futura vila, dando-lhe alinhamento residencial [ordem no traçado urbano], “construindo a capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens em 1915, policiamento, transformando o tumultuoso acampamento de trabalhadores ferroviários num esboço de povoação clara, limpa, relativamente confortável” (CASCUDO, 2002, p.197, grifo nosso). Tal delegado da empresa era segundo Câmara Cascudo o engenheiro Antônio Proença. Entretanto não há registros de que Antônio Proença era de fato engenheiro, já seu irmão João Proença, um dos diretores da empresa encarregada da construção do trecho Taipu-Caicó da EFCRGN, sim era engenheiro.
Sabe-se que foi Antônio Proença que permaneceu em Baixa Verde coordenando os trabalho de construção e não João Proença. Teria Cascudo se confundido com os nomes e profissões dos referidos irmãos Proença?
         Outro possível equivoco de Cascudo é dizer que o policiamento teria chegado a Baixa Verde após a inauguração da ferrovia ali, ora como visto anteriormente o subdistrito policial de Baixa Verde já era citado desde 1893 na divisão policial do Rio Grande do Norte, sendo nomeados para tal subdistrito um subdelegado e dois suplentes.
         Segue Câmara Cascudo dizendo a respeito de gênese do município de João Câmara que “havia em Taipu uma BAIXA VERDE cujo nome foi transportado para Matas, substituindo-o. ‘Baixa Verde’ de Taipu praticamente desapareceu pela mudança de seus moradores para a outra que estava nascendo” (CASCUDO, 2002, p.197, aspas internas do original).
         Outra confusão geográfica. Consultando moradores antigos  de Taipu (alguns com mais de 80 anos) estes nunca conseguiram mencionar uma Baixa Verde em Taipu que não fosse onde hoje é a cidade de João Câmara. Não há nenhum indicio de tal localidade em território de Taipu ou Poço Branco.
O distrito de Baixa Verde fora criado em 1892 e era o mais distante do município junto com o de Barreto (atualmente município de Bento Fernandes), estes dois distritos eram a parte do território de Taipu que mais sofriam pelas consequências das secas periódicas, posto estarem já em região semiárida a oeste da sede municipal, ou seja, da Vila de Taipu.
A região de Baixa Verde e Barreto sempre lutou pelo acesso a água potável para sua subsistência que como visto anteriormente em 1889 fora construído um açude em Baixa Verde por uma comissão formada no município de Ceará-Mirim, que este açude era um dos dois açudes existentes no município de Taipu em 1895 sendo o de Baixa Verde o que em bom estado se apresentava visto que o da Vila de Taipu havia sido parcialmente destruído pela enchente daquele ano. Não há razões para crer que houvesse uma Baixa Verde em Taipu que fora transportada pelo êxodo de seus habitantes para “Matas” cuja localização nunca se teve noticia ou registro em documento oficial.
Vê-se que houve uma confusão geográfica. Se o distrito de Baixa Verde foi criado em 1892 por lei municipal da Intendência de Taipu, sendo a este município integrado, por qual motivo teria a mesma Intendência criado outro distrito como nome idêntico? Ficando assim dois distritos homônimos e surgindo um terceiro pela transmigração de uma Baixa Verde para Matas.
Há no município de Taipu vários distritos com o topônimo Arisco, o qual para distinguir uns dos outros foram colocados acréscimos, assim tem-se Arisco dos Barbosas, Arisco dos Cassianos e Arisco da Gameleira. Outrora no próprio no nome do município foram feitos acréscimos para facilitar a distinção. Taipu Grande, Taipu do Meio, Taipu de Fora, todas três localidades distintas.
Se houvesse dois distritos com o nome de Baixa Verde, a razão lógica pediria para se distinguir uma da outra (Baixa Verde Grande, Baixa Pequena, Baixa Verde de Dentro, Baixa Verde de Fora, etc), no entanto isso nunca ocorreu.
A Enciclopédia dos Municípios, publicada pelo IBGE em 1958 assim define a origem do município de João Câmara (ex Baixa Verde):
         Com o prolongamento dos trilhos da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, que atingiu o território do município em 1910, começaram a surgir as primeiras casas no local onde hoje está situada a cidade de João Câmara (ENCICLOPÉDIA..., 1958, p.79).Sem menção a Matas.
Entre 1920 e 1925 diz Câmara Cascudo que Baixa Verde “ ficara uma Vila moderna,citada com orgulho pela população que se adensava ao derredor” (CASCUDO, 2002, p.197). A “César o que é de Cesar”, diz o adágio bíblico, denotando justiça.Sobre essa afirmação de Cascudo citada a cima, não há o que contestar, somente admitir a verdade do dito.
Adiante trataremos especificamente da estrada de ferro em Baixa Verde.
________________

Referências

A REPÚBLICA, Natal, 1890, 1892.
A UNIÃO, Rio de Janeiro, 1926.
ALMANAQUE ADMINISTRATIVO, COMERCIAL E INDUSTRIAL DO RIO DE JANEIRO, 1915.
Arquivo Nacional.
BRASIL. RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DE VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS, 1921.
CÂMARA, Anfilóquio. Cenários municipais, Natal, 1943.
CASCUDO, Luis da Câmara. Nomes da Terra, Sebo Vermelho, Natal: 2002.
GAZETA DO NATAL, Natal, 1889
IBGE, Censo Demográfico, Rio de Janeiro, 1940. Disponível em PDF.
______, Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. 17 municípios do Rio Grande Norte e Paraíba. Verbete João Câmara. Rio de Janeiro: 1958
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 1923.
JORNAL DO COMÉRCIO, Rio de Janeiro, 1915.
MENSAGEM DO GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PARA O ANO DE, 1893, 1896, 1900,1905, 1906, 1907, 1926, 1928,
O ESTADO, Natal, 1894.
O IMPARCIAL, Rio de Janeiro, 1928.
O JORNAL, Rio de Janeiro, 1925, 1928.
O PAIZ, Rio de Janeiro, 1928.
Sinopse Estatística do Estado do Rio Grande do Norte. Departamento Estadual de Estatística do Rio Grande do Norte. Volume 1937. Recife: Oficinas Gráficas da Empresa Jornal do Comércio, 1938.


[1] A época a Intendência municipal correspondia a uma única instituição administrativa, assim, não havia distinção entre Prefeitura e Câmara de vereadores como o é atualmente. Nas eleições o mais votado geralmente assumia o cargo de Intendente, com função administrativa, os demais eram igualmente intendentes, só que com função legislativa. A intendência funcionava num mesmo prédio, o cargo era de 2 anos para todos, sem remuneração. Em 1892 o município de Taipu tinha 325 eleitores dos quais elegiam 7 membros para a Intendência.

[2] Doravante sempre que nos referir a estes documentos o faremos com a abreviação MENSAGEM... seguida do ano corresponde ao referido documento.

[3] Cada légua corresponde a 6 km, assim, eram percorridos cerca de 16,8 km por essas pessoas citadas no relatório em busca de água para o consumo.

[4] Vila Nova é atualmente a cidade e município de Pedro Velho.

[5] Ao ser construída a capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens pertencia ao território da paróquia de Nossa Senhora do Livramento de Taipu criada pelo decreto diocesano de 18/04/1913 de Dom Antônio Joaquim de Almeida, permanecido nessa condição até 13/11/1929 quando foi criada a paróquia de Nossa Senhora Mãe dos Homens com território desmembrado da paróquia de Taipu por meio de decreto diocesano de dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas. As proporções da primeira capela de Baixa Verde era de 11 metros de comprimento, 3 metros a menos que a matriz de Taipu a época. Na década de 1930 começa a construção da nova igreja matriz de Baixa Verde, a capela que fora elevada a condição de matriz é novamente revertida em capela, sendo atualmente a capela de Nossa Senhora de Fátima, preservando sua configuração arquitetônica original, sendo inclusive, um dos monumentos históricos da cidade de João Câmara.

[6] Boa Cica é atualmente distrito de Touros.

[7] Cada cadeira equivalia a um ano letivo escolar como atualmente.

[8] Derivada do latim a palavra ônibus (onminibus = para todos) ainda não havia sido aportuguesada em 1928 como se viu na grafia do referido jornal da qual deixamos como tal a vimos por mera curiosidade linguística.

domingo, 9 de setembro de 2018

SOBRE O ATHENEU NORTERIOGRANDENSE


Prolegômenos
         O Atheneu Norteriograndense é um histórico e tradicional instituto de ensino secundário do povo potiguar que neste ano de 2018 celebrou seu 184º ano de existência.Resolvemos, por força da profissão de professor, prestar essa homenagem a esse importante estabelecimento de ensino.
         O trabalho é despretensioso, afinal, tantos e mais capacitados historiadores já fizeram e contaram a história do Atheneu, contudo, queremos dá nossa contribuição.Evidentemente, o que aqui será exposto é apenas um apanhado histórico da rica história do Atheneu, que procuramos condensar para o melhor aproveitamento do leitor.
         Sem mais tergiversação vamos ao que interessa.Boa leitura.
Origens
O Atheneu Riograndense (sua designação oficial era dessa forma) é a instituição pública de ensino secundário (antigo 2º grau) mais antiga do Rio Grande do Norte e a segunda do Brasil.
A instalação do Atheneu Riograndense se deu em 1º de março de 1834. Seu currículo escolar constava de aulas de português, latim, francês, geografia, história, aritmética e geometria.
Como não havia legislação própria para o ensino secundário o Atheneu Riograndense foi elaborado os estatutos para que o estabelecimento pudesse funcionar. Conforme o relatório do ministério do império:
o  governo aprovou a deliberação tomada pelo presidente da província do Rio Grande do Norte de mandar observar uns estatutos organizados para o regime de aulas do Atheneu da Capital daquela província, uma vez que  eles não encontrassem as leis existentes, e que com aquela instituição se não fizessem despesas além do credito nas mesmas leis consignada par a instrução. BRASIL.., 1834, p. 14 ).
         Em 1840 havia apenas 1 aluno matriculado na aula de filosofia, na de geometria 7, na de latim 28, na de francês 6 (BRASIL..., 1840,17).Em 1845 era 45 alunos matriculados (BRASIL...,1845,p. 12).Já em 1864 eram 87 matriculados (BRASIL..., 1864,p.202).Haviam 79 matriculados em 1869 (BRASIL..., 1869,p.71), já em 1870 a frequência foi de 50 alunos ( BRASIL..., 1871,p.69).
         É desconhecido por nós onde funcionou inicialmente o Atheneu. Em  26/09/1856 foi inaugurado o edifício do Atheneu.Contando com 8 cadeiras e 66 alunos matriculados.

Em 1871 a biblioteca do Atheneu constava de 373 obras e 1.461 volumes (BRASIL..., 1871, p.576). Teve a frequência de 302 pessoas que consultaram 29 obras. A biblioteca era aberta das 09h00 as 14h00 e das 06h00 as 21h30 no verão e as 21 no inverno. Segundo o relatório do império tinha tido muitos leitores (BRASIL, 1874, p.51).
Em 17/12/1872 foi assinado o regulamento nº 28 que tratava sobre a instrução pública na província do Rio Grande do Norte (Coleção de Leis Provinciais do Rio Grande do Norte, 1874, p.113).
Conforme o artigo 85 dessa lei de instrução pública o ensino secundário da província do Rio Grande do Norte seria exercido pelo Atheneu Riograndense, onde se ensinaria as seguintes matérias, em 5 cadeiras, cada um regida por um lente: língua nacional (português), língua latina (latim), língua francesa, geografia e história especialmente a do Brasil e matemáticas elementares (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,p.109-110).
         Tais disciplinas formavam um curso conforme o programa organizado pelo diretor geral com a audiência do lente (professor) e aprovação do presidente da província.
         Os alunos aprovados receberiam ao final do curso um diploma assinado pelo diretor e pelo lente, sendo que os que obtivessem esse diploma teriam preferências para o magistério e serviço públicos na província. Era livre a qualquer pessoa matricular-se no Atheneu, porém, para ter direito ao diploma deveria o aluno, obviamente, frequentar as aulas do curso para o qual se matriculou (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874, p.111).
         Para ser professor do Atheneu só poderiam se candidatar, os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, ter moralidade e religião (católica) que eram condições igualmente exigidas para se exercer o magistério na instrução primária. Deviam ainda os candidatos provarem que estavam aptos para exercer a disciplina para o qual concorriam.Essa prova de aptidão era feita perante uma comissão nomeada pelo diretor do Atheneu.
Seriam dispensados dessa prova todos aqueles que fossem graduados em qualquer faculdade nacional ou estrangeira, os que exibissem certidão de aprovação das ditas disciplinas para o qual concorria ao Atheneu e que tivesse sido cursado em estabelecimento de instrução pública do Império (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874, p.111).
Os professores do Atheneu só poderiam ser transferidos de uma cadeira para a outra, a seu pedido e ouvido o conselho diretor do Atheneu.
O ano letivo
         O ano letivo no Atheneu começava em 1º de fevereiro e terminava em 30 de novembro de cada ano. As matriculas eram abertas entre 15 e 31 de janeiro e entre 1 a 15 de junho. A matricula era gratuita e deveria ser feita na secretaria do Atheneu mediante requerimento escrito ou verbal se maior, ou de seu pai, tutor ou pessoa que representasse o requerente, se menor de idade (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,p.112).
Os professores se reuniriam nos dias 1º, de fevereiro, 1º de maio, 1º de agosto e 1º de outubro para dar conta do trabalho do trimestre e resolver sobre os exames parciais e gerais dos alunos e o programa que fosse organizado (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,112).
Além dos domingos e dias santos de guarda e dos compreendidos entre o encerramento e abertura do ano letivo seriam feriados no Atheneu os dias da Semana Santa, de Ramos até a Páscoa, o dia 1º de março que era o aniversário da instalação do Atheneu eo dias de festas nacionais. (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874,112).
Em 1874 foi suprimido o cargo de bedel do Atheneu tendo o presidente da província o transferido para outra repartição da província. (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1874, 113).
Era permitido aos professores do Atheneu abrir outros cursos de forma extraordinária no mesmo Atheneu de outras matérias diferentes das quais ensinavam, esse cursos seriam gratuitos e seriam considerados relevantes.
A lei nº 766 de 20 de setembro de 1875 estabeleceu um novo regulamento interno para o Atheneu Riograndense reformando até então os atuais estatutos da instituição e incumbido da policia do estabelecimento a um dos professores (COLEÇÃO DE LEIS PROVINCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1875, p.147).
Em 1877 haviam 316 alunos matriculados. Em 1880 haviam 162 alunos matriculados. Em 1885 o Atheneu permanece sem mobília.em 188 foram matriculados 152 alunos.
Descrição do prédio do Atheneu
Uma descrição do prédio do Atheneu nos é fornecida pelo jornal Correio de Natal em 1878 onde se dizia que “mesmo o edifício do Atheneu não deixa de ter sua importância” (CORREIO DE NATAL, 1878, p.3). Segundo o referido jornal o edifício do Atheneu era um quadrilátero elevado, com saguão no centro, com espaçosos salões, esclarecidos por amplas janelas envidraçadas de forma pontiaguda. (CORREIO DE NATAL, 1878, p.3).
Em 1882 o Atheneu se apresentava sem móveis e sem disciplina, o Atheneu era qualificado de pardieiro abandonado (MENSAGEM, 1906,p.212).A culpa, segundo o governador do estado recai sobre o diretores, aos quais incumbia o cumprimento dos preceitos regulamentares; mas esses chefes se compraziam em permanecer em seus gabinetes, à hora do minguado expediente, alheios ao movimento das aulas, bem como no procedimento dos professores e alunos (MENSAGEM, 1906, p.212).Na biblioteca continuava o extravio de livros.Em 1884 o diretor do Atheneu descreve o mesmo estado de coisas do relatório anterior.
O Atheneu foi asseado mas faltava no entanto a mobília para as aulas.Continuava o relaxamento na biblioteca

A decadência
O Atheneu foi durante um bom tempo uma instituição de ensino modelar, porém nos últimos tempos do Império e inicio da República começou a ter declínio o ensino ali ministrado, chegando mesmo a decadência moral e estrutural.
Em 1889 se dizia no jornal O Povo que no Atheneu se ensinava de modo incompleto o curso geral de humanidades, havendo também cadeiras de princípios de ciências físicas e naturais e de línguas como o alemão e o italiano como se requeriam as faculdades vigentes a época.No entanto, não haviam os aparelhos indispensáveis para o ensino prático,o que é altamente censurável e deprimente contra os creditos da província segundo o referido jornal (O POVO, 29/06/1889,p.1).
Em 1891 a situação do Atheneu era desalentadora. A matricula estava reduzida e a frequência era mínima e problemático o aproveitamento (MENSAGEM..., 1891,p.12).
O decreto nº 21 de 04 de abril de 1893 reorganizou o ensino secundário do Estado, no qual ficou o Atheneu com um curso regular equiparado aos dos outros estados da União (MENSAGEM..., 1893, p.90).No entanto, a reforma do edifício do Atheneu ainda não havia sido realizada naquele ano, estando o estabelecimento de ensino necessitando dessa reforma para se restabelecer a ordem e a seriedade daquela instituição de ensino.
         Em 1893 o edifício do Atheneu era quase uma ruína de tão deteriorado que estava e pela estreiteza de suas proporções, segundo se dizia no relatório do governo daquele ano. O prédio já não oferecia as necessárias acomodações para as aulas do curso secundário conforme a recente reforma do ensino secundário. (MENSAGEM..., 1893, p.6).
         Era preocupação do governador Pedro Velho dar ao Atheneu “uma organização conveniente, mas, várias circunstancias tem oposto a execução das projetadas reformas” afirmava ele ( MENSAGEM, 1893, p.7).
         O governador ainda dizia em seu relatório que havia um geral desânimo e desgosto em relação ao ensino secundário que segundo ele parecia “ter caído entre nós num irremediável desconceito”. O governador, no entanto se msotrava esperançoso em melhorar o ensino secundário oferecido no Atheneu Riograndense. (MENSAGEM..., 1893,p.7).Em 13/10/1893 foram suspensas as atividades do Atheneu para se iniciar as devidas reformas no prédio.
         Em 1895 era citada a desmoralização dos exames do Atheneu, que segundo o relatório do governo, havia uma imigração de alunos de outros estados “que buscavam em nosso Atheneu como meio fácil e seguro de fazerem-se aprovar em 6,8,10 matérias , sem muitas vezes possuir sobre elas o mais rudimentar conhecimento”. (MENSAGEM..., 1895, p.8).
O edifício do Atheneu passou por um reforma em 1894 sendo dotado de móveis indispensáveis, porém, ainda necessitava de outros melhoramentos como salas para funcionamentos de aulas, gabinetes e laboratórios de física e química, para a inauguração do curso profissional.
O Atheneu reclamava tais adaptações para se adequar a pedagogia moderna.Era indispensável então que se provesse o Atheneu de moveis escolares, caixas para lições, coleção de figuras e sólidos geométricos, globos terrestres e celestes, cartas geográficas e do sistema métrico, instrumentos para desenhos, modelos caligráficos,livros didáticos e utensílios modernos (MENSAGEM..., 1895, p.91).
Segundo a mensagem do governador Pedro Velho ao assumir o governo ele havia encontrado o Atheneu em completa anarquia, com alunos indisciplinados, aterrorizando os funcionários encarregados da direção, danificando os móveis e paredes do edifício. O regimento interno não era observado.
Em 1897 o relatório do governador dizia que o edifício do Atheneu estava em perfeito estado, asseio e conservação, dispondo dos móveis indispensáveis (MENSAGEM..., 1897, p.116), ao eu tudo indica a reforma havia sido concluída.
Curiosidades
Pelo Atheneu passaram várias personalidade famosas do Rio Grande do Norte, sobretudo políticos, dos quais destacamos os seguintes.
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, que viria a ser o primeiro governador do estado, após a proclamação da República, exerceu a função de professor de história no Atheneu em 1888 (GAZETA DO NATAL, 1888,3). Nomeado em 1885 tendo sido aprovado em concurso, exerceu a função até ser eleito governador em 1892.
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, irmão de Pedro Velho, também foi professor do Atheneu na disciplina de aritmética.
Em 1898 foi nomeado como vice diretor do Atheneu o então bacharel Juvenal Lamartine que viria ser mais tarde governador do estado.
Augusto Tavares de Lira, igualmente governador do estado, foi professor do Atheneu nomeado em 10/0/1893. Ensinando Geometria e trigonometria e depois história.
José Augusto Bezerra de Medeiros que foi mais tarde governador do estado também exerceu a função de professor do Atheneu (A REPÚBLICA, 1902, p.1).
Mais curiosidades
No Atheneu funcionava a 3ª seção eleitoral da capital potiguar, onde votavam os eleitores dos 14º, 15º, 16º e 17 quarteirões. (GAZETA DO NATAL, 1890, p.1).
Em 1890 foi criado pelos alunos do Atheneu o periódico ‘A Evolução’ (A REPÚBLICA, 1890, p.2).
A crise persistente no Atheneu
         No desenrolar da crise política e o caos social por qual passava o Rio Grande do Norte nos primeiros anos da República o Atheneu não se viu imune a esse estado de coisas. Conforme se lia no jornal A República em 1891:
É desolador o estado da instrução entre nós, nestes últimos tempos!
O Atheneu, único estabelecimento de ensino secundário que possuímos sem número preciso de professores, sem uma razoável distribuição de matérias, sem cadeiras suficientes, sem assiduidade dos lentes. É propriamente, sede vacante, o infeliz estabelecimento e principalmente depois do funesto aracatyense amyntas barros, tendo por desgraça da pátria sido governador do Rio Grande do Norte, suprimiu cadeiras por vingança e demitiu mestres por... motivos inconfessáveis.
No Atheneu não quase o que aprender. As aulas públicas... Simplesmente um horror! Pobres professores mal pagos, mal dirigidos, mal inspecionados, mal instruídos [...]. (A REPUBLICA, 1891, p.1-2.).

         A culpa segundo a crise que se instalara no Atheneu [e em outros setores do Estado] era do então governador Amintas Barros, aracatiense, que assumira a junta governativa durante o caos político onde se verificava uma verdadeira dança das cadeiras no cargo de governador durante a transição, não pacifica do regime monárquico para o republicano.
O Atheneu precisava então de um novo plano, “mais de acordo com o moderno regime cientifico superior e com as necessidades do nosso meio: é de necessidade e alcance que o nosso Curso de Humanidade [nome que pode ficar ao novo Atheneu] não continue a ser uma fábrica de exames”. (A REPUBLICA, 1891, p.1-2. Grifo do original).Em 02/02/1902 foi dado um novo regulamento ao Atheneu.Contudo parecia que a crise no estabelecimento não recrudescia.
Conforme se lia no jornal Diário de Natal em 1906 além da crise no ensino e na estrutura física o Atheneu passava também por crises morais e servindo de cabide de empregos para pessoas estranhas. Nas palavras da critica assinada por tal José de Arimatéia:
E estamos convictos de que o Atheneu ainda é mantido pelo Estado porque justifica as propinas e os empregos para certos desocupados que são importados de outros Estados, onde não tiveram capacidade para ganhar a alimentação... Não fosse isso e até aquele velho estabelecimento teria desaparecido.
       Verdade seja dita. Como ele está [o Atheneu] faz vergonha até escrever para ler-se fora daqui.
       A biblioteca, os aparelhos do encantado laboratório, etc. causam tristeza e indignação tal é o estado de abandono e maus tratos.
       Quais são os culpados dessa situação vergonhosa? Não há quem ignore seus nomes, cognomes e apelidos. (DIÁRIO DE NATAL, 1906, p.1, grifo nosso).
         A critica não forneceu os ‘nomes, cognomes e apelidos’ dos culpados pela situação verificada naquele ano no Atheneu, no entanto, n]ao é de se imaginar que seriam os políticos da época.
Ainda segundo publicado no jornal Diário de Natal o Atheneu estava prestes a desabar depois da enxurrada que arrancou o calçamento da rua onde se localizava o prédio. (DIÁRIO DO NATAL, 1906, p.2). Necessitava o edifício de aumento, porque só funcionava com 3 salas de aulas.Naquele ano foi retirada a biblioteca para aproveitamento do espaço, onde seriam construídos cômodos para a diretoria e salão de espera e passaria a contar com as 6 salas de aulas necessárias aos diversos anos dos cursos.
Equiparado ao Ginásio Nacional
Em 1906 o Atheneu Riograndense estava equiparado ao Ginásio Nacional (MENSAGEM, 1906, p.61), equiparação dada pelo decreto da União nº 5.771 de 20 de novembro de 1906. (MENSAGEM, 1907, p.4).
Tentativas de modificar o Atheneu
Era ideia do governador Tavares de Lyra, que já fora professor do Atheneu, transformar o Atheneu em um liceu de artes e ofícios, suprimindo os exames gerais e preparatórios para se ministrar uma educação prática segundo ele, “visando preparar alunos agrônomos e profissionais que servissem ao desenvolvimento agrícola e industrial do estado”. (MENSAGEM..., 1904, p.172).
Visita do presidente Afonso Pena
Em 1906 quando esteve visitando o Estado o então presidente da republica Afonso Pena visitou o Atheneu riograndense (DIÁRIO DE NATAL, 13/06/1906,p.1.

Reformas
Em 1907 nova reforma no edifício do Atheneu onde as dependências físicas do estabelecimento seriam alargadas para atender as exigências da frequência extraordinária que era superior a sua capacidade (A REPÚBLICA, 1907, p.2).No mesmo ano foi encomendado o material para iluminação do prédio do Atheneu (a REPÚBLICA, 1907,p.1).
Parecia que um novo fôlego havia tomado conta do Atheneu, pois, ao invés das criticas apareceram menções elogiosas ao estabelecimento de ensino. Segundo o jornal A República:
A competência e zelo do corpo docente, o gosto e assiduidade da maioria dos alunos, a ordem e o asseio que se notam em todo o edifício fazem do Atheneu de hoje um instituto que se não poderá envergonhar na comparação com outros de maiores capitais, cuja superioridade única será a das dimensões que lhe faltam. (A REPUBLICA, 1907, p.1).
         Faltava apenas um novo prédio para o tradicional estabelecimento de ensino potiguar que já não comportava mais o aumento dos alunos e os novos métodos pedagógicos que preconizava ensino prático em salas e laboratórios.
O  jornal O Estudante
Em 1909 circulou o jornal O Estudante organizado pelos alunos do Atheneu (DIÁRIO DO NATAL, 1909, p.1), criado pelos estudantes do Atheneu.
A designação atual do Atheneu
Em 1911 aparece pela primeira vez num documento oficial do governo a designação de Atheneu Norte Riograndense (MENSAGEM, 1911, p.4) com três palavras distintamente grafadas com iniciais maiúsculas. Até então a designação oficial era Atheneu Riograndense. Desde então é essa a designação oficial do histórico estabelecimento de ensino secundário do povo potiguar só que com a atualização da gramática Atheneu Norteriograndense.
Novas crises
         Em 1914 o Atheneu passava por nova crise. O curso secundário do Atheneu Norte Riograndense não vinha dando resultados satisfatórios e segundo o relatório do governador Ferreira Chaves “Não convindo suprimir este importante meio de educação, seria talvez conveniente fundir todo o ensino secundário na Escola Normal, que se mostra bem aparelhada no desempenho de sua elevada missão educativa, estabelecendo ali um curso teórico para os que quisessem somente aprender as disciplinas do curso de humanidades e o curso teórico pratico aos candidatos ao professorado” (MENSAGEM..., 1914, p.28).
Em virtude da baixa frequência e matricula foi dispensada a equiparação do Atheneu ao Colégio Nacional Pedro II em 1919 tendo sido restabelecida a equiparação no ano seguinte, porém o Atheneu continuava com baixa matricula. Em 1923 o Atheneu funcionou apenas com 23 alunos matriculados. (MENSAGEM..., 1923, p.15)
Conforme constava no regimento interno do Atheneu ao final do ano letivo havia a distribuição de prêmios aos alunos que se destacavam nos exames parciais e gerais, geralmente era concedida uma medalha de prata com os dizeres ‘honra ao mérito’, a solenidade de entrega era realizada no teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranhão).
Câmara Cascudo e seu filho profesores do Atheneu
Câmara Cascudo e seu filho Luis Fernando foram também professores do Atheneu Norteriograndense.
A revista ‘Atheneu’
Em 1936 foi criada a revista ‘Atheneu’, órgão da Academia de Letras do Atheneu Norteriograndense. A revista era fartamente ilustrada, contendo assuntos variados de diversos colaboradores e de trabalhos de alunos e professores da secular instituição de ensino potiguar.
Mulheres no Atheneu
Em 1936 foi nomeada interinamente Samiramis Galvão para a função de datilógrafa do Atheneu, durante o impedimento da titular. (A ORDEM, 1936, p.2). O jornal não citou o nome da titular da função.É possível que já houvessem mulheres trabalhando no Atheneu, porém, nos jornais por nós consultado esse foi primeiro nome encontrado.Igualmente nos jornais por nós consultados a aluna mais antiga data de 1937 e era  Licy Soares Teixeira.
A Associação de Estudantes do Atheneu
Em 15/07/1937 foi fundada a Associação de Estudantes do Atheneu, composta exclusivamente por alunos daquele estabelecimento de ensino e tinha como finalidade incentivar a cultura de todos os seus setores bem como a defesa dos interesses da nobre classe estudantil (A ORDEM, 1937, p.2).
Referências

A ORDEM, Natal.1936, 1937
A REPÚBLICA, Natal. 1890, 1902, 1906,1907.
BRASIL. Ministério do Império: Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Rio de Janeiro. 1834,1845, 1864, 1869, 1871,1874.
Coleção de Leis Províncias do Rio Grande do Norte. Natal. 1874, 1875.
CORREIO DE NATAL, Natal, 1878.
DIÁRIO DO NATAL, Natal. 1906, 1909,
GAZETA DO NATAL, Natal, 1888, 1890.
Mensagens do Governador do Rio Grande do Norte para Assembleia. Natal. 1891, 1893, 1895, 1897, 1904, 1906, 1907, 1911, 1923
O POVO, Natal, 1889.



Modelo de boletim do Atheneu Norteriogradense em 1992.Fonte: A República, 1902,p.1.


Prédio do Atheneu inaugurado em 1954, sendo esta sua atual sede.A imagem foi publicada na revista Careta em 1956.Fonte: Revista Careta,1956,p.22.










domingo, 2 de setembro de 2018

OS FENÔMENOS DOS OVNIS NO RIO GRANDE DO NORTE





Introdução
Os fenômenos dos avistamentos de OVNIS (objetos voadores não identificados) popularmente chamados de Discos voadores no Rio Grande do Norte têm sua gênese na década de 1940, precisamente no ano de 1947. Este trabalho se propõe a fazer um estudo acerca dos relatos sobre objetos voadores não identificados ocorridos no Rio Grande do Norte. Tais relatos foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica realizada em jornais antigos de Natal.
Independentemente da veracidade ou não dos fatos adiante relatados o que se espera com o referido trabalho é fazer memória de fatos ocorridos no território potiguar de fenômenos tidos como sobrenaturais em que alguns até hoje não foram definitivamente e satisfatoriamente explicados tanto por leigos como por autoridades oficiais.

imagem ilustrativa


O principio dos avistamentos do ‘fenômenos sobrenaturais no Rio Grande do Norte
         Os fenômenos de avistamentos de objetos voadores não identificados no Rio Grande do Norte começam a ocorrer em 1947, mesmo ano em que tais fenômenos surgem ao redor do mundo e são publicados nas crônicas jornalísticas. Coincidência ou não é o período que começa a corrida espacial americana que culminará com a chegada do homem a Lua já em 1969.
Segundo o jornal A Ordem de 17/07/1947 a aparição de estranhos objetos voadores em diversas partes do mundo que foram batizados de ‘discos voadores’ vinha sendo assunto obrigatório em Natal assim como no Brasil inteiro.
O tema tomava conta dos debates e rodas de conversas. Uns achavam que se tratava de armas secretas, outros de corpos celestes vindos de outros planetas ou de vulcões, porém, até aquele momento ninguém sabia de fato explicar os tais discos voadores, o certo era que os fenômenos continuavam a serem vistos pelos céus, deixando a todos intrigados e preocupados com essas ocorrências.
Os discos voadores começavam a aparecer pelos céus do território potiguar.
Na edição do dia 17/07/1947 o jornal A Ordem relatou o caso do aparecimento de um disco voador em Angicos. Esse foi o relato mais antigo por nós encontrado sobre o tema.
Um telegrama enviado por Antônio Pereira Dias a redação do jornal A Ordem anunciava a passagem de um objeto misterioso no município de Angicos.Eis o teor do telegrama:
ANGICOS, 16,
Antônio Pereira Dias, Natal.- Ontem , mais ou menos as 6 e meia foi visto por diversas pessoas a passagem de um “Disco Voador” por esta cidade, vindo do norte e seguindo em direção ao sul.Abraços.- a) Francisco Peres, prefeito de Angicos. A ordem, 17/07/1947, p.1.
Como visto no final do telegrama o documento foi enviado pelo prefeito de Angicos, portanto, deveria corresponder a um fato verídico o fenômeno do avistamento do disco voador naquela cidade visto inclusive por muitas pessoas.
Na edição do dia 18/07/1947 o jornal forneceu os nomes das pessoas que avistaram o objeto misterioso e forneceu mais detalhes sobre o ocorrido em Angicos. Foram 10 pessoas que viram o disco voador.
Segundo o relato fornecido a redação do jornal por volta das 6h20 estas pessoas estavam sentadas na calçada da pensão quando alguém disse ‘lá vai um avião’. Todos olharam, então, para o céu, e de fato viram algo que voava a grande altura, não se tratava, entretanto de avião e sim de um objeto arredondado, muito brilhante, que encandecia quando os reflexos do sol nele batiam. Era um ‘disco voador’. (A ORDEM, 18/07/1947, p.1, grifo nosso).
O relator disse ainda que não se ouvia barulho e depois de uns 15 minutos o tal ‘disco’ desapareceu no céu misteriosamente, pensando as pessoas que o avistaram que o objeto misterioso tivesse caído em Natal. (A ORDEM, 18/07/1947, p.1).
Em Currais Novos e Santana do Matos
Na mesma matéria o desembargador Tomaz Salustino de Currais Novos disse por telegrama a redação do referido jornal que não foi confirmada a noticia do aparecimento de um disco voador em Currais Novos e que ele teria apenas avistado dois aviões de alumínio que cruzaram o céu do município a uma altura elevada (A ORDEM, 18/07/1947, p.1).
Por sua vez, o Dr. Alcebiades Fernandes havia enviado telegrama ao Diário de Natal relatando o aparecimento de um disco voador visto por diversos moradores na fazenda Pixoré em Santana do Matos.( A ORDEM, 18/07/1947, p.1).
Em Baixa Verde
No mesmo ano de 1947 o fenômeno do avistamento de um disco voador foi visto no município de Baixa Verde. Em telegrama enviado a redação do jornal A Ordem foi relatado que foi visto um disco voador por volta das 16h20 que foi visto por diversas pessoas as quais se encontravam na Pensão Popular, dentre elas a professora Maria Guimarães, índio Gualcuru Umbarahé, Manoel Soares, Leonor Teixeira e Cícero Câmara.
O objeto, segundo o telegrama publicado no jornal,  tinha grandes dimensões e vinha da direção da capital se dirigindo para o norte e se movimentava em grande velocidade. (A ORDEM, 28/07/1947, p.1).
Em Macau
Em Macau o disco voador também foi visto no dia 03/09/1947 conforme registrou a edição do jornal A Ordem.
No relato do motorista e proprietário de uma automóvel, o Sr. Francisco das Chagas, residente na rua Amaro Cavalcanti, nº58, naquela cidade, afirmava ele:
Com absoluta segurança, que na noite de 30 de julho, cerca de 19,40 horas, viajando em meu automóvel entre Francisco Martins e Barreiras, vi a pequena altura uma bola de cor azulada refletindo sobre a terra grande clarão.Sua direção era vertical e desapareceu moementos depois, sem que se visse o rumo tomado” ( A Ordem, 03/09/1947/p.2).
Para atestar que seu relato era verdadeiro Francisco das Chagas apresentou como testemunhas do ocorrido em Macau os funcionários da prefeitura José Dias e o seu ajudante que o acompanhava na viagem, não nomeado no relato do jornal.
Disse ainda Francisco das Chagas concluindo seu relato que “todos ficamos certos de se tratava de um disco voador que perdeu o seu raio de ação naquela localidade” (op. Cit). Francisco das Chagas alegava que por se tratar de uma informação que julgavam absolutamente exata pedia para que fosse publicada no referido jornal.
Os ovnis continuam aparecendo
Os relatos de objetos voadores misteriosos só voltam a serem relatados em 1952. Neste ano foram vistos em Cerro Corá, Areia Branca e Mossoró.
Em Cerro Corá o disco voador foi visto em 25/08/1952 tendo sido avistado a baixa altura tendo sido descrito por uma pessoa da cidade como uma bacia com margens vermelhas. (A ORDEM, 27/08/1952, p.1). Entre Tibau e Areia Branca um disco voador foi visto em 26/08/1952 sendo o objeto se movimentando em direção ao mar. O jornal a ordem diz que o fenômeno foi visto por pessoa qualificada do lugar, dentre elas o Sr. José Couto, industrial e político em Areia Branca segundo o jornal “as noticias que a respeito nos foram transmitidas merecem todo crédito e são absolutamente seguras” (A ORDEM, 27/08/1952, p.1), diante disso o caso deveria ser investigado pelas autoridades competentes visto que tais fenômenos vinham se repetindo cm frequência pelo interior do estado.
Em Mossoró os ocorridos com o avistamento de objetos voadores misteriosos haviam sido visto recentemente sendo vários discos voadores avistados e segundo o jornal A Ordem “em face disso, não há lugar para humorismo: é aceitar a realidade e verificá-la” ( A ORDEM, 27/08/1952, p.1).
Os relatos dos discos voadores visto em Mossoró foram também publicados pelo jornal local O Mossoroense, de onde o jornal a Ordem extraiu o relato ali ocorrido.
Segundo foi publicado no Mossoroense por volta das 22h30 quando a turma da Pan Air do Brasil S.A se aproximava da pista para apagar as piraeas de iluminação, após a decolagem de uma aeronave daquela empresa, foram vistos dois discos voadores sobrevoando o aeroporto.
Inicialmente dois funcionários observaram o fenômeno luminoso que embora em silencio, pensou que se tratasse de um avião retornando ao aeroporto, os funcionários estranharam que o objeto voador se aproximava cada vez mais da pista numa altura de aproximadamente 500 metros deixando os funcionários sobressaltados e percebendo então que não se tratava de um avião, mas sim de algo que eles não conseguiam identificar. (A Ordem, 28/08/1952, p.4).
Com medo os dois funcionários correram para a estação de passageiros onde estavam mais três funcionários, todos eles avistaram outros objetos voadores se aproximarem do aeroporto. Uns se movimentavam rapidamente, outros mais lentos e em zigue-zague.Os objetos voadores se dirigiram em sentido a então vila de Dix Sept Rosado desparecendo da vista deles.
Os funcionários da Pan Air relataram ainda que os objetos apresentavam iluminação em seu interior que irradiava para as extremidades em varias cores e quando a luz desaprecia era vista uma nuvem de fumaça se desprendendo do objeto ficando esta fumaça pouco tempo no espaço.
As pessoas que observaram o fenômeno ficaram apavoradas e pensavam se tratar de coisas do além ou coisas sobrenaturais.
Na vila de Governador Dix Sept Rosado no dia 25/08/1952 o Sr. Manoel Crispi em companhia de outras pessoas avistaram um disco voador entre 08h00 e 09h00 no sitio Pitombas.
O objeto passou em alta velocidade na direção sul-norte e mais tarde o objeto também foi visto na fazenda Mulungu a pouca distância de Apodi. (A Ordem, 28/08/1952, p.4).Segundo o jornal não restava mais dúvidas da ocorrência dos discos voadores em território potiguar e sendo bem possível que outros discos voadores tornassem a serem vistos pelos céus do estado.
Em 1952 outro disco voador foi visto em Angicos e dessa vez o relato foi bem mais interessante, pois o objeto teria caído ali.
Segundo o jornal a ordem a noticia “verdadeiramente atômica” era que teria caído um disco voador em Angicos, as primeiras informações colhidas as pressas pelo jornal inclusive ouvindo os funcionários da Estrada de Ferro Sampaio Correia e passageiros do trem horário procedente dali.
Foram feitas várias expedições de curiosos ao local do ocorrido, inclusive o prefeito da cidade. O Sr. Pedro Moura, proprietário do local onde teria caído o estranho objeto confirmou ao jornal que um vaqueiro, homem sério, havia dado a notícia de ter encontrado um corpo estranho grande, de cor branca e que o cobrira com ramos. Mas ele, proprietário, não deu maior importância e veio para Natal. O sr. Pedro Moura soube então que foi uma caravana ao local para vê o objeto. A notícia causou sensação na cidade de Angicos.
O jornal procurou explicações do exército mais não recebeu nenhuma informação a respeito do fato sendo a notícia olhada com reservas. Ao meio dia o comandante da guarnição que as notícias que chegavam eram meras suposições e nada tendo recebido de positivo vindo de Angicos.
O mesmo disse o agente da estação Arlindo Varela da Estrada de Ferro Sampaio Correia que afirmou que qualquer notícia sobre a queda de um disco voador no município era destituída de fundamento e que a notícia fora dada por pessoas sem responsabilidades (A Ordem, 17/09/1952, p.1.).
Em Natal, o professor Aureliano Medeiros Filhos havia fotografado um disco voador no Tirol quando vinha de uma viagem de Parnamirim quando subitamente viu um troço brilhando no céu e voando com grande velocidade. Pegou a sua máquina fotográfica,mirou o objeto e disparou.Havia gravado pela primeira vez, em Natal, a fotografia de um disco voador.Foi uma sensação na cidade e houve muita gente que não queira acreditar no que viu. (O POTI, 29/10/1954,p.7).
Em Assu várias pessoas disseram presenciar a passagem de corpos luminosos pelos céus da cidade (O POTI, 07/11/1954, p.3).
Era a época de naves interplanetárias.Não se sabe se por ironia ou por convicção mesmo, mas o jornal terminou a nota dizendo “é possível que os objetos incandescentes que voavam a grande altura e com enorme velocidade, venha a ser um transporte dos venusianos ou dos habitante de Marte” (op. Cit).
Em Mossoró várias pessoas haviam presenciado a passagem de um disco voador por volta das 10h30 no dia 20/12/1954.Dentre estas pessoas estavam Gabriel Fernandes Negreiros e Wilson Guerra Mendes do alto comércio da cidade e o jornalista Rafael Negreiros. (O POTI, 21/12/1954, p.8).
Os relatos de avistamentos de discos voadores pelos céus do Rio Grande do Norte escasseiam por volta do final da década de 1950 e por toda a década seguinte não se vê nenhum relato de aparição de tais fenômenos nos jornais da capital potiguar, como o Diário de Natal e o Poti.
Nas próximas postagens continuaremos no assunto nas décadas seguintes.