domingo, 29 de novembro de 2020

“LIMPA” O FUTURO BAIRRO JARDIM DE NATAL


        Foi com esse título que um memorando da Sociedade para o Pregresso Feminino anunciou no final da década de 1920 ou inicio da década de 1930 como seria o futuro Bairro Jardim em Natal no território da Limpa.

A expectativa

         De acordo com o citado relatório “no bairro atual da ‘LIMPA’ está projetado um bairro jardim, que será construído em moldes semelhantes aos bairros jardins ingleses”.

         As construções seriam feitas pelo Governo, Prefeitura, por particulares e cooperativas e deveriam obedecer a certas leis de urbanismo moderno. Seria feito o “zoning” para se evitar a superlotação do bairro.

         Não seria permitida a invasão desse bairro por empresas comerciais em número excedente as necessidades dos moradores, que seriam chamados a se pronunciarem sobre a abertura de armazéns e lojas, tendo interferência na administração do bairro, por intermédio de uma comissão semelhante no “board of menagement” dos congêneres anglo-saxões.

         Por sua posição entre o rio Potengi e o Oceano Atlântico, a Limpa estava destinada a ser uma das localidades mais aprazíveis de Natal. 

        A imagem a baixo é meramente ilustrativa e mostra como é um bairro jardim aos moldes ingleses


         Seriam construídas larga avenidas no bairro indo terminar no Bouleveard exterior do Cais do Porto, margeando o rio Potengi e o mar e indo terminar nas praias do Meio e Areia Preta, pontos esses, os mais pitorescos e preferidos pela população natalense, para o seu descanso e recreio, dizia o relatório.

A realidade

         Tudo muito lindo, tudo muito bem planejado, mas a realidade frustrou a expectativa, pois como se sabe a Limpa nunca chegou a ser um bairro e ainda mais de padrões “anglo-saxões”. O local atual está no bairro de Santos Reis e boa parte dos terrenos que seriam destinados a ser esse lindo bairro terminou sendo incorporado pela Marinha.

         A ideia até pode ter tido boas intenções, mas foi só isso e nada mais, tendo sido essa mais uma daquelas ideias megalomaníacas que a classe política sempre tinham para fazer suas propagandas políticas.

         Caso tivesse saído do papel é possível que até hoje não estivesse pronto, a exemplo do bairro Cidade Satélite construído bem mais recente na década de 1980 e que até o presente momento não está concluído.

 

 

PS. O citado memorando da Sociedade para o Progresso Feminino não está datado, sabemos que ele está situado entre 1927/1930 por que cita o governador Juvenal Lamartine cujo mandato se realizou nesse período. O documento está no Arquivo Nacional.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

POR QUE A EFCRGN NÃO CONTEMPLOU A VILA DE JARDIM DE ANGICOS

 

         A então vila, hoje cidade, de Jardim de Angicos, situada a margem esquerda do rio Ceará-Mirim, era a sede do município do mesmo nome quando começou-se a construir a estrada de ferro de penetração EFCRGN, no entanto ela não foi contemplada no traçado da citada ferrovia.

Os moradores da vila de Jardim de Angicos escreveram ao jornal Diário do Natal expondo o descontentamento de não terem sido contemplados com os trilhos da EFRCRGN.

Eis o texto publicado pelo referido jornal.

 SR. Redator. — Quando se anunciou que a estrada de ferro de penetração, partindo de Natal ia ao Ceará-Mirim e dali seguindo rumo de nordeste a sudoeste, pela ribeira acima do rio desse nome, a cuja margem esquerda está colocada esta florescente vila, em buscado do Seridó foi geral, por estas paragens, o contentamento da população e do comércio.

O traçado estava indicado por sua natureza e o Diário do Natal deu exatamente o rumo a seguir, que outro não podia ser. É certo que o Dr. Rodolfo Batista, encarregado da seção de engenheiros que fez a picada, para levantamento da respectiva planta, seguiu o rumo geral traçado pelo Diário, partindo da cidade do Ceará-Mirim, em busca do Cabugi e Pajeú, para dai seguir ao Caicó; mas o Dr. Baptista foi muito infeliz na escolha do local por onde enveredou o traçado, porque afastou-se dos terrenos mais planos, mais linheiros que se aproximavam mais dos povoados e centros produtores, para emaranhar-se por lugares mais escabrosos, mais tortuosos e mais distantes do rumo geral.

Tendo seguido pela margem direita do rio, atravessou este acima de Taipu, quando devia ter aproveitado a planície que vai até a pontada da serra da Cruz onde encontraria uma excelente passagem no rio. Logo que atravessou o rio acima de Taipu, devia ter ladeado a margem esquerda em direção das povoações de Baixa Verde e Cauassu, seguindo em direção de Varzea dos Bois e Cabugi, e nesses locais encontraria o terreno mais acessível e mais adaptado ao curso da estrada e sobre tudo servindo em toda ribeira do Ceará-Mirim aos centros mais produtores e comerciais desta.

Mas, assim não fez o ilustre Dr. Rodolfo Batista. Passando o rio, internou-se pelos matos em procura do mar buscando o lugar Cardoso que não fica longe do litoral e dai virando rumo do Cabugi, fez um ângulo ou cotovelo enorme, tornando-se o traçado mais longo, fazendo 30 em vez de 20 léguas e de todo afastado das povoações.

Desta vila para o lugar mais próximo em que passou o traçado, tem 4 léguas de distância, quando podia ficar a 2 léguas e por melhor terreno. Com esse rumo da estrada, compreende-se que foi geral o desgosto da população desta zona e á qual a estrada, se for um dia feita, de quase nada servirá.

Seguindo do Cabugi por Quixabeirinha, antes de chegar ao Pajeú, o Dr. Rodolpho seguiu para Tupã e dali para a vila de Angicos, quando desde que pretendia ir á Angicos, não devia ter ido ao Tupã, por que assim fazia um outro ângulo, uma vez que de Pajeú ao Tupã ao sul são 5 léguas e de Tupã a Angicos ao norte são outras 5, quando do Pajeú a Angicos, diretamente, são 6 léguas apenas; e assim faz-se mais 4 léguas de estrada, sendo aliás o terreno de Pajeú para Angicos mais viável e mais acessível, desde que o Dr. Rodolfo seguisse de Pajeú por Cajueiro, S. José e Angicos.

Se o Dr. Sampaio Correia tivesse mesmo percorrido estes terrenos e tomado as precisas informações, de que alias não cogitou o Dr. Batista, que aí afogueou muito o serviço, talvez para acabar depressa o traçado seria melhor, e consultando melhor os interesses dos povos.

No entanto, ainda confiamos do ilustre cheio da com missão de engenheiros, que percorrendo os terrenos, se convencerá do que viemos de dizer,e modificará o traçado em estudos, dando-lhe uma forma mais conveniente. Não temos a mínima intenção de ofender a suscetibilidade profissional do ilustre Dr. Rodolfo Batista: o erro vem de não ter sido feito algumas excursões pelos terrenos, colhendo informações dos conhecedores dos lugares, pois sabe-se que por mais apurada que seja a teoria de um profissional, tem de subordinar-se no terreno da prática. Peço-lhe que publique estas linhas como um apelo ao Dr. Sampaio Correia, que, como chefe da com missão, deve ter o maior interesse pela perfeição da obra que lhe foi confiada. (DIÁRIO DO NATAL, 23/08/1904, p.1).

Assim, fica evidente que o motivo de a vila de Jardim de Angicos não ter sido incluída no traçado da EFCRGN foi a imperícia do engenheiro Rodolfo Batista que não considerou as informações da população que habitava aquelas paragens que conheciam melhor os caminhos e terrenos mais planos por onde poderia passar a ferrovia.

No território do município de Jardim de Angicos foram construídas 3 estações: Cardoso, Pedra Preta e Lajes, e foi por essa última suplantada, tanto que a sede municipal foi para ali transferida imediatamente após a inauguração daquela estação em 1914.   

                              Aspectos de Jardim de Angicos





SOBRE A INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO DE VILA NOVA (PEDRO VELHO-RN)

 

Os moradores de Vila Nova, atual cidade de Pedro Velho-RN,  estavam impacientes com a superintendência da Estrada de ferro por ainda não ter inaugurado a estação daquela vila.

Escreveram de Villa Nova ao Redator do jornal Diário do Natal “Merece que V. Sa. chame a atenção de quem de direito sobre o pouco ou nenhum interesse que revela ter a direção do trecho da Estrada de Ferro de Natal a Guarabira”.

Ainda de acordo com os moradores de Vila Nova “Aqui nesta Villa, temos uma estação concluída cujo, material foi fornecido pela nossa Intendência - a estação acha-se fechada”.

Segundo o exposto ao jornal já havia há muito tempo reclamado pelo Comércio um aparelho telegráfico e até aquela data nada fora resolvido.

 Os trens regulares deixavam sempre carga na plataforma da estação fechada e era preciso sempre muito empenho para o condutor aceitar alguma coisa. Os trens especiais que passavam por ali também, por favor, algumas vezes paravam dois ou três minutos. “É um horror”, diziam os moradores.

A preocupação dos comerciantes e produtores era com a safra que não poderia ser despachada da estação “imagine agora como não vamos ficar na próxima safra, quando a abundância de carga se fizer sentir”, onde teriam que  de mandar os gêneros para o Porto da Penha, como faziam antigamente.

 E ainda reclamavam: “Nós não temos uma estrada de ferro completa. Vamos, portanto logo nos; acostumando sem ela, pois estamos cada dia observando que a coisa vai de mala pior”.  

 Convém notar, dizia ainda a citada reclamação dos moradores de Vila Nova que “esta Villa é um dos pontos mais rendosos para a Companhia; entretanto a Great Western sacrifica todos os interesses particulares, uma vez que trate de uma ridícula economia, digna de uma sociedade quebrada e não prospera como se diz”. (DIÁRIO DO NATAL, 20/08/1904, p.1).

                                 A estação de Pedro Velho



  O aviso de inauguração da estação de Vila Nova só foi publicado no referido jornal em 31/08/1904, marcando a inauguração para o dia seguinte conforme se lia no aviso.

G. W. B. R

Aviso

 Por ordem do Sr. Superintendente geral previno ao público que a estação de Vila Nova, nesta seção, será aberta ao trafego do dia 2 de Setembro vindouro em diante. Escritório do Movimento, em Natal, 30 de agosto de 1904. José Pedro Carneiro da Cunha, Encarregado do movimento. (DIÁRIO DO NATAL, 31/08/1904, p.3).

DIÁRIO DO NATAL, 31/08/1904, p.3.


A inauguração

           Sobre a inauguração da estação de Vila Nova registrou o jornal Diário do Natal:

           02 de setembro de 1904

       Hoje, pelas 12 horas do dia instalou-se aqui uma estação da estrada de ferro, com modesta  mas expressiva solenidade – embandeiramento, foguetes e música. É chefe da nova estação o Sr. Idalino Teixeira. Hoje mesmo funcionou o aparelho telegráfico da referida estação.

      Considero que é isso um melhoramento para esta florescente vila, que não tem sido descurada dos seus habitantes, os quais muito têm concorrido para o seu desenvolvimento moral e material, distinguindo-se entre eles, o digno Juiz de Direito, Dr. Homem de Siqueira, que por isso mesmo aqui goza de geral estima. (DIÁRIO DO NATAL, 06/09/1904, p.3).

Um telegrama, talvez o primeiro, foi expedido da nova Estação Telegráfica de Villa Nova a redação do jornal Diário do Natal dando ciência da inauguração da estação ferroviária daquela vila. Eis o teor do telegrama: “Á Redação do Diário do Natal. Estação Villa Nova foi hoje inaugurada com assistência de pessoas gradas desta localidade. Parabéns por este acontecimento. José Pedro Carneiro Encarregado do movimento” (DIÁRIO DO NATAL, 03/09/1904, p.2).




quinta-feira, 19 de novembro de 2020

PANORAMA NADA ABONADOR DE NOVA CRUZ EM 1924


         Um panorama nada abonador foi descrito do município de Nova Cruz em 1924 pelo O Jornal de João Pessoa-PB. Segue na integra a descrição feita pelo referido jornal.

         Nova Cruz, a cidade ameaçada pelas enchentes periódicas do Curimataú, apresenta atualmente o aspecto contristador de bem acentuada decadência.As ruas e praças encobertas pelo matagal lembram as antigas cidades bíblicas devastadas pelo castigo dos céus. A administração municipal nada tem feito de 20 anos a esta parte, nãos e podendo registrar um único melhoramento feito a custa dos cofres da Intendência local.

O povo bom e generoso, descrente do reaparecimento da moral política do município e do ressurgimento da sua vida econômica, permanece na mais desoladora apatia. O cargo de chefe político e o emprego de presidente da câmara desta circunscrição, neste Estado, são exercidos por um cidadão oriundo da margem esquerda do rio Bujari, no Estado da Paraíba, que nas horas de lazer se dedica ao cultivo da língua encantadora de Vieira e Camões, formando novos vocábulos e trocadilhos interessantes que lhe tem celebrizado o nome.

Não obstante haver homens ali capazes e idôneos para o cargo da administração pública tem sido importados de outras paragens delegados, subdelegado, juízes distritais, intendentes, etc., achando-se todas as posições de destaque assaltadas e ocupadas por indivíduos de procedência ignorada e méritos ainda não revelados.

         Essa atitude infeliz do atual Chefe tem acarretado desgostos e notável prejuízo para o interesse da coletividade. Querem ver até a que ponto chegou o relaxamento dos negócios públicos em Nova Cruz? Pasmem! Não há intendência; as sessões da Câmara, quando por circunstâncias de interesse privado tem de ser efetuadas, são feitas em um quarto de um armazém comercial, o quartel e cadeia pública funcionam em um salão de um casa encrava no centro comercial da cidade, o matadouro público é nas capoeiras e os açougues são pocilgas imundas.

         Os empregados municipais que percebem insignificantes ordenados lutam para recebê-los do tesoureiro que é genro do chefe e que paga as portarias por metade, auferindo por este trabalho insano gratificações pingues. As rendas do município desapareceram por encanto! Ultimamente naquela terra tão honrosa o assunto principal nas conversas são as falências.

Efetivamente, em Nova Cruz há falências comerciais e falência moral administrativa, falência de critério na escolha dos homens para os cargos e falência de escrúpulo na aplicação dos dinheiros públicos; há, finalmente, a grande falência da política. Felizmente em meio daquela decadência material, proveniente de uma administração inconsciente  e mal aconselhada, na derrocada dos princípios moralizadores da vida das sociedades e da sã política, ainda permanece invulnerável e inviolada, assente sobre o seu verdadeiro trono – a justiça – amparada por um homem da elevada moral de Dr. Vicente Lemos, alma intangível do dever, da honra, a quem da politicagem malsã não logrou atingir.

         Firme no seu posto de honra, intransigente no cumprimento da lei tem por isso mesmo voltado contra sua pessoa o ódio ferrenho dos politiqueiros exploradores. Diante de tamanho descalabro ou o Exmo. Sr. Governador do Estado lança as suas vistas providenciais para aquele município ou ele desaparecerá por falta de higiene moral, política e administrativa.

      Para terminar essa apreciação sobre aquele município relato o seguinte fato interessante: contam que um negociante de um dos municípios deste Estado, estando prestes a abrir falência, foi ao Dr. Pedro Velho, de quem era amigo e correligionário, depois de expor as suas condições precárias, solicitou um emprego. O velho político respondeu-lhe que lhe daria o emprego com muito prazer, perguntando-lhe qual o que desejava. O negociante respondeu-lhe imediatamente: “eu quero uma intendência para sustentar minha família que é muito numerosa”. Pedro Velho deu uma boa gargalhada, sacudiu a basta cabeleira e colocou o amigo. Esse caso, há muito tempo está tendo hoje a sua aplicação em Nova Cruz. (O Correspondente).

                                 Aspectos de Nova Cruz em 1922












Fonte: o jornal,21/05/1924,p.8.

Fotos: o Malho,1922,p.34.1923,p.28

A VENDA DO FERREIRO TORTO


         O Engenho Ferreiro Torto de Macaíba foi um grande engenho e famosa propriedade rural daquele município por sua magnífica Casa Grande em estilo colonial. Em 1924 foi posto a venda conforme se lia em anúncio no periódico paraibano O Jornal, sendo seu proprietário naquele ano o Dr. Bruno Pereira.

                                        Engenho Ferreiro Torto

Eis o teor na integra do anúncio no citado jornal:

Vende-se, livre, desembaraçado e demarcado, o engenho FERREIRO TORTO, moente e corrente, com uma pequena safra fundada para 300 sacos de açúcar e com capacidade para 2.500 sacos anualmente. Mede meia légua de frente por uma de funda, e dista 18 km de Natal, e um da cidade de Macaíba. É servido pela navegação fluvial e pela excelente estrada de automóvel de Natal-Macaíba, que corta em toda a largura. Possui barro em quantidade considerável para fabricação de telhas e tijolos, e vasta olaria, matas com alguma madeira de construção e para extrair 20.000 metros cúbicos de toros; vasta pedreira de granito, terrenos para salina, a margem do Jundiaí, mangue, mangabeiras, batipuiás, etc.

Doze cercados de arame farpado e de madeira, dez casas de moradores, casa e aviamento de farinha, e grande e confortável casa de vivenda (sobrado).

Pomar, mais de quinhentos coqueiros novos e frutíferos. É regada por dois riachos perenes, podendo abastecer d´água a cidade de Macaíba.

Cerca de 40 cabeças de gado vaccum de trabalho e de criar, cerca de 50 cabeças de ovelhas e cabras, três burros, dois jumentos, um cavalo. Carro, carroça, um bote grande e um automóvel “Ford". Lugar salubérrimo.

Preço 100:000$000, podendo ser o pagamento parte a prazo, com garantia eficiente.

O motivo da venda é pretender o proprietário retirar-se do Estado.

A tratar com o proprietário Dr. Bruno Pereira. Natal. Av. Rio Branco, 147.

Fonte: O Jornal,11/03/1924, p.8.

        Não foi possível encontrar no citado jornal se a propriedade foi vendida naquele ano de 1924.Atualmente o casarão do antigo Engenho Ferreiro Torto é tombado como patrimônio histórico do estado. Está situado a R. Dr. Pedro Matos, SN, Macaíba-RN.

                                     Engenho Ferreiro Torto

Fonte: Google Earth.