Um panorama nada abonador foi descrito
do município de Nova Cruz em 1924 pelo O Jornal de João Pessoa-PB. Segue na integra a descrição feita pelo referido jornal.
Nova Cruz, a cidade ameaçada pelas enchentes periódicas do Curimataú, apresenta atualmente o aspecto contristador de bem acentuada decadência.As ruas e praças encobertas pelo matagal lembram as antigas cidades bíblicas devastadas pelo castigo dos céus. A administração municipal nada tem feito de 20 anos a esta parte, nãos e podendo registrar um único melhoramento feito a custa dos cofres da Intendência local.
O
povo bom e generoso, descrente do reaparecimento da moral política do município
e do ressurgimento da sua vida econômica, permanece na mais desoladora apatia. O
cargo de chefe político e o emprego de presidente da câmara desta
circunscrição, neste Estado, são exercidos por um cidadão oriundo da margem
esquerda do rio Bujari, no Estado da Paraíba, que nas horas de lazer se dedica
ao cultivo da língua encantadora de Vieira e Camões, formando novos vocábulos e
trocadilhos interessantes que lhe tem celebrizado o nome.
Não
obstante haver homens ali capazes e idôneos para o cargo da administração
pública tem sido importados de outras paragens delegados, subdelegado, juízes distritais,
intendentes, etc., achando-se todas as posições de destaque assaltadas e
ocupadas por indivíduos de procedência ignorada e méritos ainda não revelados.
Essa atitude infeliz do atual Chefe tem
acarretado desgostos e notável prejuízo para o interesse da coletividade. Querem
ver até a que ponto chegou o relaxamento dos negócios públicos em Nova Cruz? Pasmem! Não
há intendência; as sessões da Câmara, quando por circunstâncias de interesse
privado tem de ser efetuadas, são feitas em um quarto de um armazém comercial,
o quartel e cadeia pública funcionam em um salão de um casa encrava no centro
comercial da cidade, o matadouro público é nas capoeiras e os açougues são
pocilgas imundas.
Os empregados municipais que percebem insignificantes ordenados lutam para recebê-los do tesoureiro que é genro do chefe e que paga as portarias por metade, auferindo por este trabalho insano gratificações pingues. As rendas do município desapareceram por encanto! Ultimamente naquela terra tão honrosa o assunto principal nas conversas são as falências.
Efetivamente,
em Nova Cruz há falências comerciais e falência moral administrativa, falência
de critério na escolha dos homens para os cargos e falência de escrúpulo na
aplicação dos dinheiros públicos; há, finalmente, a grande falência da política. Felizmente
em meio daquela decadência material, proveniente de uma administração inconsciente
e mal aconselhada, na derrocada dos princípios
moralizadores da vida das sociedades e da sã política, ainda permanece
invulnerável e inviolada, assente sobre o seu verdadeiro trono – a justiça –
amparada por um homem da elevada moral de Dr. Vicente Lemos, alma intangível do
dever, da honra, a quem da politicagem malsã não logrou atingir.
Firme no seu posto de honra, intransigente
no cumprimento da lei tem por isso mesmo voltado contra sua pessoa o ódio
ferrenho dos politiqueiros exploradores. Diante de tamanho descalabro ou o
Exmo. Sr. Governador do Estado lança as suas vistas providenciais para aquele
município ou ele desaparecerá por falta de higiene moral, política e
administrativa.
Para terminar essa apreciação sobre aquele município relato o seguinte fato interessante: contam que um negociante de um dos municípios deste Estado, estando prestes a abrir falência, foi ao Dr. Pedro Velho, de quem era amigo e correligionário, depois de expor as suas condições precárias, solicitou um emprego. O velho político respondeu-lhe que lhe daria o emprego com muito prazer, perguntando-lhe qual o que desejava. O negociante respondeu-lhe imediatamente: “eu quero uma intendência para sustentar minha família que é muito numerosa”. Pedro Velho deu uma boa gargalhada, sacudiu a basta cabeleira e colocou o amigo. Esse caso, há muito tempo está tendo hoje a sua aplicação em Nova Cruz. (O Correspondente).
Aspectos de Nova Cruz em 1922
Fonte:
o jornal,21/05/1924,p.8.
Fotos:
o Malho,1922,p.34.1923,p.28
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