A então vila, hoje cidade, de Jardim de
Angicos, situada a margem esquerda do rio Ceará-Mirim, era a sede do município
do mesmo nome quando começou-se a construir a estrada de ferro de penetração
EFCRGN, no entanto ela não foi contemplada no traçado da citada ferrovia.
Os
moradores da vila de Jardim de Angicos escreveram ao jornal Diário do Natal
expondo o descontentamento de não terem sido contemplados com os trilhos da
EFRCRGN.
Eis
o texto publicado pelo referido jornal.
SR. Redator. — Quando se anunciou que a
estrada de ferro de penetração, partindo de Natal ia ao Ceará-Mirim e dali
seguindo rumo de nordeste a sudoeste, pela ribeira acima do rio desse nome, a
cuja margem esquerda está colocada esta florescente vila, em buscado do Seridó foi
geral, por estas paragens, o contentamento da população e do comércio.
O
traçado estava indicado por sua natureza e o Diário do Natal deu exatamente o
rumo a seguir, que outro não podia ser. É certo que o Dr. Rodolfo Batista,
encarregado da seção de engenheiros que fez a picada, para levantamento da
respectiva planta, seguiu o rumo geral traçado pelo Diário, partindo da cidade
do Ceará-Mirim, em busca do Cabugi e Pajeú, para dai seguir ao Caicó; mas o Dr.
Baptista foi muito infeliz na escolha do local por onde enveredou o traçado,
porque afastou-se dos terrenos mais planos, mais linheiros que se aproximavam
mais dos povoados e centros produtores, para emaranhar-se por lugares mais
escabrosos, mais tortuosos e mais distantes do rumo geral.
Tendo
seguido pela margem direita do rio, atravessou este acima de Taipu, quando
devia ter aproveitado a planície que vai até a pontada da serra da Cruz onde
encontraria uma excelente passagem no rio. Logo que atravessou o rio acima de
Taipu, devia ter ladeado a margem esquerda em direção das povoações de Baixa
Verde e Cauassu, seguindo em direção de Varzea dos Bois e Cabugi, e nesses locais
encontraria o terreno mais acessível e mais adaptado ao curso da estrada e
sobre tudo servindo em toda ribeira do Ceará-Mirim aos centros mais produtores
e comerciais desta.
Mas,
assim não fez o ilustre Dr. Rodolfo Batista. Passando o rio, internou-se pelos
matos em procura do mar buscando o lugar Cardoso que não fica longe do litoral e
dai virando rumo do Cabugi, fez um ângulo ou cotovelo enorme, tornando-se o
traçado mais longo, fazendo 30 em vez de 20 léguas e de todo afastado das povoações.
Desta
vila para o lugar mais próximo em que passou o traçado, tem 4 léguas de distância,
quando podia ficar a 2 léguas e por melhor terreno. Com esse rumo da estrada, compreende-se
que foi geral o desgosto da população desta zona e á qual a estrada, se for um dia
feita, de quase nada servirá.
Seguindo
do Cabugi por Quixabeirinha, antes de chegar ao Pajeú, o Dr. Rodolpho seguiu
para Tupã e dali para a vila de Angicos, quando desde que pretendia ir á
Angicos, não devia ter ido ao Tupã, por que assim fazia um outro ângulo, uma
vez que de Pajeú ao Tupã ao sul são 5 léguas e de Tupã a Angicos ao norte são
outras 5, quando do Pajeú a Angicos, diretamente, são 6 léguas apenas; e assim
faz-se mais 4 léguas de estrada, sendo aliás o terreno de Pajeú para Angicos
mais viável e mais acessível, desde que o Dr. Rodolfo seguisse de Pajeú por
Cajueiro, S. José e Angicos.
Se
o Dr. Sampaio Correia tivesse mesmo percorrido estes terrenos e tomado as
precisas informações, de que alias não cogitou o Dr. Batista, que aí afogueou
muito o serviço, talvez para acabar depressa o traçado seria melhor, e
consultando melhor os interesses dos povos.
No entanto, ainda confiamos do ilustre cheio da com missão de engenheiros, que percorrendo os terrenos, se convencerá do que viemos de dizer,e modificará o traçado em estudos, dando-lhe uma forma mais conveniente. Não temos a mínima intenção de ofender a suscetibilidade profissional do ilustre Dr. Rodolfo Batista: o erro vem de não ter sido feito algumas excursões pelos terrenos, colhendo informações dos conhecedores dos lugares, pois sabe-se que por mais apurada que seja a teoria de um profissional, tem de subordinar-se no terreno da prática. Peço-lhe que publique estas linhas como um apelo ao Dr. Sampaio Correia, que, como chefe da com missão, deve ter o maior interesse pela perfeição da obra que lhe foi confiada. (DIÁRIO DO NATAL, 23/08/1904, p.1).
Assim,
fica evidente que o motivo de a vila de Jardim de Angicos não ter sido incluída
no traçado da EFCRGN foi a imperícia do engenheiro Rodolfo Batista que não
considerou as informações da população que habitava aquelas paragens que
conheciam melhor os caminhos e terrenos mais planos por onde poderia passar a
ferrovia.
No
território do município de Jardim de Angicos foram construídas 3 estações:
Cardoso, Pedra Preta e Lajes, e foi por essa última suplantada, tanto que a
sede municipal foi para ali transferida imediatamente após a inauguração
daquela estação em 1914.
Aspectos de Jardim de Angicos
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