terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A INAUGURAÇÃO DO GINÁSIO DIOCESANO DE CAICÓ

        Em sessão solene presidida pelo bispo diocesano de Caicó, dom José Delgado, realizou-se no dia 01/03/1942 a inauguração dos primeiros salões do Ginásio Diocesano Seridoense-GDS.

         As comemorações de inauguração do GDS tiveram inicio as 07h00 coma celebração da missa em ação de graças “pelo inestimável beneficio que a Providência vem de conceder a Diocese de Caicó”, tendo sido presidida pelo Bispo Dom José Delgado, nas dependências do GDS (A ORDEM, 02/03/1942, p.1).

         As 15h00 houve o ato inaugural presidido também pelo bispo diocesano de Caicó, com presença de grandes autoridades e imensa massa popular.

         De acordo com o jornal A Ordem o prédio do Ginásio quase não oferecia mais espaço para todas as pessoas ali presentes porque foi a população em peso de quase toda a cidade de Caicó que compareceu a solenidade. (A ORDEM, 19/03/1942, p.1-4).O povo se aglomerou no salão principal e nas dependências do GDS.



         O Bispo Diocesano de Caicó, tomando a presidência da sessão estando presentes todas as autoridades eclesiásticas e civis daquela episcopal cidade do Caicó e dos municípios vizinhos da região do Seridó que num gesto do mais franco e magnânimo apoio vieram dizer pessoalmente sua satisfação e confirmar a adesão moral e material das paróquias, dos municípios e das classes que  representavam a nobre causa da educação secundarista do Seridó.

         Além do bispo diocesano, tomaram lugar na sessão, o Pe. Walfredo Dantas Gurgel, Diretor do GDS e representante do bispo de Natal, dom Marcolino Dantas, os prefeitos Florêncio Luciano, Pedro Izidro e Inácio Dias de Medeiros, o juiz de direito de Caicó, outras autoridades, o clero e representantes dos diversos municípios seridoenses.

         Abrindo a sessão dom José Delgado deu a palavra ao Pe. Walfredo Gurgel que numa bela alocução congratulou-se com o povo de sua terra e do Seridó pela realização da antiga e nobre aspiração do povo seridoense.

         Em seguida falou Dom José Delgado com eloquentes e agradecidas palavras, a alma mater de toda a campanha pró-Ginásio Diocesano Seridoense.

         O bispo ainda agradeceu ao povo do Seridó tão bom e generoso que depositou nas mãos dele o fruto generoso de sua boa vontade.

Usando da palavra, o bispo diocesano de Caicó encerrou a sessão agradecendo ainda a todos os seridoenses com o coração cheio de gratidão, pedindo a Deus paz e bênçãos para o seus diocesanos e para o Ginásio do Seridó.

         E para a perene memória no futuro, o secretário do GDS, Aderbal Vilar, lavrou a ata de inauguração do mesmo em 02/03/1942, assinada por Dom José Delgado e demais assinaturas. (A ORDEM, 19/03/1942, p.1-4).

         No dia 02/03/1942 o externato dos cursos primário e admissão iniciaram suas atividades. Em abril daquele ano provavelmente funcionaria o internato do mesmo Ginásio.

Projeto da fachada do GDS. Fonte: A Ordem, 02/03/1942,p.1.

O GDS em construção.

O GDS já concluído.

         O Ginásio Seridoense significava o maior progresso da instrução em terras caicoenses e em todo o Seridó.

Ainda de acordo com o citado jornal continuava intensificada a campanha em prol do GDS. Novas contribuições vinham sendo adquiridas. O bispo diocesano de Caicó, otimista e empreendedor, encontrava forte apoio material do povo seridoense que nunca se deixava vencer em generosidade. (A ORDEM, 19/03/1942, p.1-4).

         Dele vinha recebendo relevantes contribuições e esperava receber mais ainda.

         Até 01/03/1942, já era o 4º mês de trabalho intenso. ”As coisas de Deus se fazem sob as bênçãos de Deus”.

         O Ginásio Diocesano Seridoense já estava tomando sua forma majestosa “vai ser acima de tudo moderno, higiênico e pedagógico”. A contribuição estava muito avançada. As palhoças estavam sendo indenizadas pelas prefeituras e demolidas para dar espaço livre a avenida que iria morrer na majestosa praça do GDS.( A ORDEM,19/03/1942,p.1-4).

         A diretoria do GDS informava por meio do jornal A Ordem aos interessados que a partir do mês de abril estaria sendo aberto o internato daquele estabelecimento de ensino para os cursos de admissão e primário.

         O GDS foi inaugurado com 23 alunos matriculados que foram considerados os alunos fundadores. O GDS tinha capacidade para receber 300 alunos com acomodações amplas, modernas e higiênicas.

A abertura do internato do GDS

         Com satisfação geral foi aberto no dia 17/04/1942 o internato do GDS funcionando nos seus cursos de Admissão e Primário. A matricula foi de 36 alunos até aquela data.

         Estava bem avançada a construção do prédio. Estavam prontas todas as salas de aulas e de estudo, algumas já mobiliadas e pleno funcionamento.

         A sessão sanitária estava conforme as normas higiênicas, as dependências de cozinha e refeitório e toda a diretoria já haviam sido concluídas. O trabalho de construção continuava moderado, porém ininterrupto. As aulas eram diárias em dois expedientes, tendo como professores, três padres da cidade.

A inauguração de novos pavimentos do GDS

         Em 02/08/1942 foram inaugurados novos pavimentos do GDS.De acordo com o jornal A Ordem “revestiu-se de brilhantismo  a inauguração ontem d novos pavimentos do Ginásio Diocesano Seridoense, empreendimento de vulto do insigne Prelado a quem Deus confiou os destinos da Diocese de Caicó”.

        Com a presença do Interventor federal, Rafael Fernandes, o qual presidiu a sessão magna onde Dom José Delgado, o clero e fiéis, assinalaram o notável acontecimento  da inaugura Além dos discursos do Interventor e do Bispo, também usou da palavra o juiz de direito de Santana do Matos, Renato Dantas, líder católico da região. Houve apresentações musicais e canto orfeônico que emolduraram a imponente solenidade. Esteve presente a solenidade também o Diretor do Departamento de Educação, o professor Antônio Fagundes. (A ORDEM, 03/08/1942, p.1).








sábado, 5 de dezembro de 2020

IMPRESSÕES DE UMA VIAGEM DE TREM ENTRE NATAL E GUARABIRA EM 1905


         Em 1905 um cronista que se assinou apenas por suas iniciais J.B fez um relato de sua viagem por trem entre Natal e Guarabira e o publicou no jornal A República. O referido relato é interessante do ponto de vista histórico, pois é uma dos primeiros a ser feito após a ligação do ramal Guarabira a Nova Cruz com o trecho de Nova Cruz a Natal.

         Segundo o citado cronista “ao sair desta cidade [Natal] enquanto o trem, na serena impavidez da matéria a serviço do homem, me afastava  de lugares amados, eu via com mais afeto o que me caia sob os olhos, o rio que se distanciava, o viso das colinas que se apagavam, a linha azul do mar o fumo de lares onde palpitavam corações nascido, como eu, à margem do mesmo Rio. E o apito do trem era como um adeus dos  que partiam aos que ficavam-se na inércia insuportavelmente deliciosa da cidade querida.

         A direita, o rio lembrava uma fita azulada debruada de verde – os mangues imóveis; para os lados da Aldeia Velha, entre clareiras de roçados antigos, erguiam-se casebres toscos de campo felizes; na água, faiscante do brilho do sol radioso, cruzavam-se botes movidos pela força de remadores hercúleos; ao longe, muito longe, como branco lençol imóvel, a contrastar com as ondulações das vagas do mar, os morros [dunas] estendiam-se a perder de vista, despertando saudades e tristezas de países remotos, que se desenham na alma, sem que as saibamos definir.


Aspectos da Cidade Alta em Natal em 1906.Essa foi a vista que o cronista viu ao passear pela capital potiguar.

         Some-se o Potengi, desaparece a colina vermelha, onde está assentada a Cidade Alta, começam os longos tabuleiros arenosos, os morros cor de tijolo cozido, erguendo-se abruptamente de longe em longe, até que se chega a Pitimbu, em cujo vale ameno passa um rio de águas brandas, gemendo sonoroso ao pé de encostas verdejantes.


Aspectos do Porto de Natal em 1908.Essa foi a paisagem vista do rio Potengi pelo citado cronista ao passar por suas margens no trem da GWBR.

         Depois, é Cajupiranga, vale extenso, paludoso e fértil; São José, colocado num dos pontos mais elevados da Estrada de Ferro; o vale do Sapé, com a sua lagoa reclinada em pitorescas ondulações de terrenos fertilíssimos; Baldum, de onde se descortina Estiva, atapetada de relva tenra e abundante; Goianinha, com os seus tabuleiros áridos e longos, Penha [Canguaretama], afamada pela fertilidade de suas terras...



Aspectos de São José de Mipibu onde estava situada a estação de São José do Alto.



Aspectos de Goianinha.


Aspectos de Pedro Velho, a época da citada crônica se chamava Vila Nova, tendo ali uma estação inaugurada um ano antes em 1904.





Aspectos de Nova Cruz em 1922.

         Daí para cá - vê-se claramente – o solo é outro; de Montanhas a Nova Cruz, há muita coisa que lembra o sertão, ou antes, o trecho meio pedregoso que separa o agreste do sertão.

         Aqui, em Guarabira, estamos em pleno Brejo; as terras são de uma uberdade espantosa; e mesmo no alto das quebradas, fazem-se plantações, certos da colheita durante o estio que se aproxima.

Vendo-se os poucos trechos cultivados, sentimo-nos tomados de tristeza pelo abandono em que estão os nossos campos. Devíamos nos queixar mais da nossa indolência e falta de preparo agrícola do que da natureza. Povoada e cultivada essa prodigiosa zona daria par abastecer todos o sertão durante três anos de seca...

No trem, um agricultor, que foi negociante, lembrando os tempos fartos do comércio, deixava entrever o erro que cometera abandonando a sua antiga profissão pela do amanho do solo ingrato e feroz. Ouvindo-o, lembrava-me da sorte da agricultura entre nós, a braços com inúmeras dificuldades, sem outros recursos que o dinheiro fornecido a juro de 18% pelo mediador insaciável.

Entretanto, a natureza não podia ser mais prodiga; e é se viajando e comparando que se poderá ver o quanto seriamos felizes se...

Mas a vela está no fim e são onze horas da noite. O trem seguirá amanhã, as seis do dia... Boa Noite. Até a Paraíba.  J. B. (A REPÚBLICA, 31/07/1905, p.1).

O relato foi escrito em Guarabira em 28/07/1905.

Ainda de acordo com o citado cronista Guarabira era o mercado para onde convergiam os produtos “dessa riquíssima zona, de maneira que, com o prolongamento da estrada de ferro, será talvez dentro de poucos anos, a cidade mais importante da Paraíba”.

O cronista percorreu a cidade de Guarabira à noite “mas apesar do mau tempo, encontrei certa animação nas lojas, que são muitas, e que poderiam ser em maior número, segundo me informaram se houvesse prédios apropriados, precisando a cidade de novas construções, tal é o momento de expansão que atravessa”.

Para o cronista era pena que as ruas da cidade fossem tão desiguais e tortuosas, todas sem calçamento, de maneira que, dadas as condições da natureza do terreno em que estava encravada a cidade “é um martírio percorrê-la  nos dias de inverno, um martírio e um perigo, pois há poças onde, sem dúvida moram grandes monstros aquáticos, ou pelos menos excelentes pneumonias”.

A iluminação de Guarabira era péssima, segundo  o citado cronista e constava de escassos lampiões de querosene pregados de longe em longe no alto do frontispício das casas.

Segundo ele “ pelo que pude ver, a construção, além de desigual é pobre”. O mesmo dava-se com todas as casas de campo que o cronista viu e contemplou através da janela do trem que para ele era “defeito que nem sempre se pode atribuir a falta de recursos, mas sobretudo, a falta de gosto”.

    De Guarabira até a capital paraibana a paisagem continuava a ser deliciosa, disse o cronista. “Faz um bem estar indizível contemplar-se demoradamente esses campos verdes extensos, aqui e ali salpicados de campânulas azuis e cortados de pequenos brejos onde florescem aguapés, de onde voam, de quando em quando, em revoada cantante, bandos alegres de pássaros erradios felizes sob a neblina rarefeita, deixando ver tudo como através de um sonho acariciador”. (A REPÚBLICA, 14/08/1905, p.1).

Antes de chagar ao Entroncamento de onde partia o trem para o Recife, enquanto o de Nova Cruz seguia viagem para a Paraíba, o cronista observou junto a um conhecido que viera com ele desde Natal, os campos vazios de bois.





Aspectos de Guarabira-PB.










sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O ESCAFANDRISTA DO PORTO DE NATAL

 

         Em 17/04/1906 o porto de Natal estava em obras. A novidade era o uso do escafandro para observar o fundo do rio Potengi auxiliando na desobstrução do canal do porto.

         De acordo com A República “agora, que nosso porto vai trabalhar um escafandrista, não virão fora de propósito as notas extraídas e resumidamente propositalmente para este fim do livro de Louis Figuier, Les merveilles de La science.

         O “resumo proposital” daria um livro e como não é esse nosso propósito aqui vamos poupar o leitor de enfadonho texto, apesar de bem colocadas notas, é demasiado citar o artigo, basta dizer, porém, que o citado livro dizia que o “escafandro é um aparelho relativamente moderno, seu uso prático data da segunda metade do século XIX”.

         De acordo com o jornal A República, o escafandrista que estava trabalhando nas obras do porto de Natal era Manoel Gaya, contando naquele ano 60 anos de idade e 40 de experiência em mergulhar nas águas do rio Potengi e sobre o uso do escafandro por ele dizia o citado jornal “é um contemporâneo dos aperfeiçoamentos que o tem tornado praticável”.

         De acordo com o jornal citado antes daquela época, eram muito imperfeitos os aparelhos empregados nos trabalhos e explorações submarinas. ”Mergulhava-se a fôlego como até hoje se tem mergulhado no nosso rio e na nossa costa” e mesmo assim, muito restritamente. Até o século XVIII quase que o homem só mergulhava para fins de guerra, dizia A República. (A REPÚBLICA, 17/04/1906, p.1).

Os mergulhos do escafandrista Manoel Gaya

         Continuavam as obras do porto com o trabalho de desentulho e arrasamento da ponta sul do recife da Baixinha.

De 14h00 as 16h00 da tarde, quando o estado da maré ali era ordinariamente agitada o escafandrista Manoel Gaya deu 4 mergulhos consecutivos, demorando-se debaixo d’água entre 5 e 15 minutos conforme necessário para a execução dos  serviços.

         Neste espaço de tempo, lin- [... texto ilegível devido erro de impressão no original] da carcaça do navio submerso, que foram suspensas e descarregadas no batelão de ferro acostado ao pontão ‘Souza Gomes’, ali fundeado e onde estava montada a aparelhagem. (A REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).

         Dando-se, porém, que diversas madeiras, entre as peças lingadas e quebravam no ar, tal era o estado de fraqueza das suas fibras resistentes, o engenheiro Pereira Simões, chefe da Comissão de Melhoramento do Porto, mandou as 16h00 suspender o trabalho do escafandrista e fazer funcionar a draga de cofre dobradiça, assentada no mesmo pontão, que até as 17h00 extraiu muito madeirame, ferragens e utensílios do navio submerso, além de grande quantidade de pedras do recife anteriormente quebradas pelo pilão de uma tonelada que havia sido ali colocado desde o começo de 1904 pela mesma comissão de melhoramentos do porto.

         O escafandrista Manoel Gaya mergulhou ainda naquele dia fazendo explorações nas vizinhanças do recife interno da Baixinha , cujo terço deveria ser esmagado na direção sul para o norte, conforme o projeto Souza Gomes, que o engenheiro Pereira Simões foi chamado a executar.

         Em 17/04/1906 depois de diversos golpes do pilão mecânico sobre a ponta da Baixinha para ir quebrando-a, o escafandrista desceu nas proximidades da boia, mais ao sul dos mergulhos anteriores.

A  maré estava  de vazante e o vento que soprava forte tornava a água muito agitada.Seguindo até meio caminho voltou Manoel Gaya a superfície da água depois de 5 minutos de exame e observação. (A REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).

Achou ele, conforme informou, entre o cavername do velho navio submerso deparando-se com uma verdadeira barreira de destroços espontados, o que o obrigou a recuar, não só porque a mangueira de ar, a corda de salvação  ou tubo da corneta acústica podiam por ali  por ali engravar-se e ser isto fatal para ele, como porque começaram  a faltar-lhe as forças para continuar a caminhada por entre o cavername do navio, lutando com a correnteza.

Imersão do escafandrista Manoel Gaya para colocar uma bomba de dinamite no fundo do rio Potengi para explodir os recife da Baixinha.  Foto: O Malho, ed.0263,1906, p.24.

         Manoel Gaya, era segundo o jornal A República, um já velho, com mais de 40 anos de prática de serviço, forte e vigoroso, porém excessivamente prudente, o que determinou a sua escolha por parte do engenheiro Simões, que já o conhecia e estava habilitado a depositar toda sua confiança nas suas informações. (A REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).

         O escafandrista, recuando em tempo da exploração que se lhe afigurava no momento perigosa, logo que subiu, designou o ponto mais ou menos onde era forte o acumulo de madeirame e ferragens e ali desceu imediatamente o cofre da draga Priestman, que com sua garras movediças começou a extrair tais destroços. (A REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).

         Esse desentulho deveria continuar ainda por mais algum tempo, sendo oportuna, em vista do resultado obtido, novas descidas do mergulhador escafandrista Manoel Gaya, que se ocupava em outros serviços de bordo, mas tinha uma gratificação nos dias em que mergulhava nas águas do rio Potengi a serviço da desobstrução do canal do porto.


 Draga de alcatruzes ‘Miguel Calmon’ aprofundando o ancoradouro da Alfandega, no porto interno de Natal, a fim de que pudesse as pontes de descarga dos vapores de maior calado, que estavam demandando no porto. Esta draga, denominada ‘5 de Agosto’, estava no porto da Paraíba fora de serviço, tendo sido enviada pelo ministro da viação a comissão de melhoramentos do porto de Natal, tendo sido seus serviços relevantes nas obras de dragagem do porto. Na opinião do comandante Guimarães, do Llyod Brasileiro, o porto de Natal era um dos mais vastos do Brasil. Foto: O Malho, 1906,p.29.




Pontão ‘Lauro Muller’  com os aparelhos completos do pilão de Lobnitz e a draga ‘Priestman’ de 5 toneladas destinadas ao arrasamento da Baixinha. De acordo com a revista O Malho o prosseguimento metódico das obras faria do porto da Capital do Rio Grande do Norte um dos melhores do Brasil. Foto: O Malho, 1907.




Draga de cofre dobradiço ‘Souza Gomes’ desentulhando a pedra quebrada dos recifes internos da Baixinha, na barra do porto de Natal. Foto tirada pelo engenheiro auxiliar da comissão de melhoramento do porto Otávio Arantes. Foto: O Malho, 1908, p.28.



                        Aspecto do porto de Natal em 1908.Foto: O Malho, 1908.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

SOBRE VILA NOVA DE CUITEZEIRAS RENASCIDA DAS CINZAS TAL QUAL UMA FÊNIX


         Um interessante relato foi publicado no jornal A República por um cronista (que devido a falha na digitalização do jornal não foi possível visualizar o nome), fala de como a antiga povoação de Cuitezeiras superou a tragédia de ter sido devastada pela enchente do rio Curimataú e renasceu tal como uma Fênix das cinzas para se tornar uma florescente vila com o nome de Vila Nova de Cuitezeiras, que é a atual cidade de Pedro Velho.

         O relato se reveste de importância para aquela cidade do agreste potiguar, pois o  cronista foi testemunha ocular do inicio da nascente Vila Nova, cujo o nome completo era Vila Nova de Cuitezeiras. Alguns outros pontos do relato foi prejudicado pela digitalização que dificultam a leitura, mas o essencial foi possível captar. É o que se segue.

A 13 de Maio de 1901, quando recebemos a aterradora noticia da inundação extraordinária do rio Curimataú, que em poucas horas submergiu o aniquilou quase toda a Villa de Cuitezeiras sentimos, a par da comiseração por uma população flagelada por terrível calamidade pública, o desgosto de ver assim morta do momento uma vilia com elementos bastantes de vida para tornar-se uma povoação florescente.

E de fato, Cuitezeiras desapareceu, quase sepultada no seu montão de minas, ficando somente de pé a Igreja, ou como um desafio à cólera dos elementos, ou como um atestado da fragilidade das habitações humanas.

Mas por um desses fenômenos naturais da transformação de todos os organismos, ou seja um individuo, ou seja uma cidade, da velha Cuitezeiras, estacionaria no seu progresso, surgiu uma nova que se destina talvez a ser um grande cidade

A clarividência e a força de vontade de um homem operou este milagre. O tenente-coronel Manuel Lopes Teixeira, o detentor das forças políticas da localidade, natureza de homem calmo, tenaz e refletido, naturalmente abnegado e propenso ao bem público, não se acabrunhou com a catástrofe  que privara a ele e a tantos outros dos seus bens e determinou-se a fundar uma nova povoação em lugar não só a salvamento de futuras inundações, como predisposto para um grande desenvolvimento.

Cerca de 3 km ao poente de Cuitezeiras, marginal a linha férrea, 1 km ao lado norte da parada de Curimatau existia uma chapadão elevado de 4 km² em mato grosso, de que ninguém se lembrava sequer para um sitio de plantar ou criar. Foi ali que o tenente-coronel Manoel Lopes resolveu edificar a Vila Nova de Cuitezeiras. Concebida a sua ideia, aceita por uns e repudiada por outros, teve logo acolhimento simpático do distinto juiz de direito da comarca Dr. Home de Siqueira, proprietário e morador em Cuitezeiras.

Apesar da escassez de recursos, uma febre de construção. Delinearam-se praças e ruas bem largas e bem orientadas, marcou-se o lugar do mercado, da igreja e do cemitério. Em poucos dias, o tenente-coronel Manoel Lopes elevou um Cruzeiro em frente ao que devia ser a entrada principal do povoado, como que convidando os povos a se abrigarem a sombra dos seus braços protetores.

Vieram os prédios do Dr. Homem de Siqueira, do coronel Fabrício Maranhão, do tenente-coronel Manoel Lopes, do major Claudino Delgado, do cap. Jerônimo Gonçalves Gilla, do Cp. Romualdo Ferreira da Silva, do cp. Alexandrino Martins Delgado, do cidadão Herculano Lacerda, do cidadão João Nunes de Castro e muitos outros cujos nomes me não ocorrem de momento.

A Vila Nova de Cuitezeiras ainda bem não estava edificada já se falava dela certo calor, como de uma coisa de existência bem definida e próspera a ponto de desperta-me a curiosidade de ir ver de perto uma povoação aparelhada em menos de dois anos em todas as condições de vida e desenvolvimento.

Fui, tive ensejo de recorrer a prestancia do coronel Manuel Lopes e a fortuna de confessar-me cativo a fidalguia da sua hospedagem, e eis que vi na Vila Nova de Cuitezeiras: um povoado com 185 casas quase todas de tijolo e telha, sendo 77 no antigo povoado de Curimataú e 108 na vila nova, formando a grande praça Dr. Pedro Velho, onde se acha  o Mercado Público, as ruas Fabrício Maranhão, Ferreira Chaves, D. Homem de Siqueira, Augusto Severo, Dr. Alberto Maranhão, Vigário Almeida e travessa Silva Jardim, todas iluminadas regulamente e com um começo de arborização, uma igreja em construção, estradas limpas, bem provida de água potável retirada não sé de cacimba de 20 e tantos palmos de profundidade como do rio Pequiri que corre perenemente a cerca de 2 km de distância , banhos esplêndidos no rio Pequiri e no riacho do Alecrim que fica a uns 3 km em imenso chapadão bastante elevado [... restante do texto ilegível].

A população é hospitaleira e boa.

Um dos embaraços que se tem oposto ao maior desenvolvimento da Vila Nova é a colocação da parada da Estrada de Ferro, em Curimataú, a quase 1 km do centro do povoado e da feira, dificultando  e encarecendo o transporte. O ano passado os habitantes propuseram a Great Western mudar a parada a sua custa para o ponto onde pode servir melhor a localidade, o ministro da viação autorizou a mudança, porém a Estrada de Ferro, não pode ou não quis ainda prontificar-se a efetuá-la. É de crer que agora a Great Western que se propõe a melhorar o seu serviço não demore em realizar uma providencia que se impõe no interesse de uma localidade de um futuro próspero e no seu próprio interesse porque aumentará o seu tráfego.

Ficam aqui consignadas as minhas impressões sobre Vila Nova de Cuitezeiras que considero um dos pontos de mais futuro dos situados a margem da linha férrea, um dos logradouros mais apropriados para quem quiser descansar um pouco das fadigas da capital.

Antes porém de terminar não posso deixar de referir-me ao Bosque, uma ourela de terreno que ainda está incorporado ao patrimônio municipal, porém sobre o qual o coronel Manuel Lopes já lançou os olhos para aproveitar a arborização pitoresca de quês está coberto a fim de convertê-lo num bosque que será um excelente logradouro público e um embelezamento de que atualmente não se dispõe nenhuma das cidades do Rio Grande do Norte.

Para se avaliar da salubridade de Vila Nova basta considerar que há 2 anos está povoada e ainda não morreu ali de morte natural sequer uma criança. Referiram-me uma interessante anedota.

Havia par ao lado dos Brejos um sujeito que aborrecido da existência e coberto de mazelas resolveu procurar a morte e escolheu Vila Nova para se dar a li o fatal trespasse. Mas a morte ainda não apoderou-se da vila. O individuo resolveu empregar toda sorte de armadilhas: noites em claro exposto a chuva, frutas comidas a toda hora, dias inteiros curtidos ao sol, estomago empanzinado, banhos extravagantes, nada disso tentou a cruel ceifeira. Desenganado que Vila Nova ainda não figurava na repartição central de passagem para o outro mundo o nosso homem disposto a morrer a todos transe não teve outro jeito  se não enforcar-se.

 

Fonte: A República, 11/03/1903, p.1.


                                          Aspectos  de Pedro Velho






Todas as imagens são do IBGE,1966.





terça-feira, 1 de dezembro de 2020

PRODUÇÃO DO MUNICÍPIO DE TAIPU EM 1910


De acordo como almanaque Administrativo, industrial e comercial Laemmert em 1910 eis como foi demonstrado a produção do município de Taipu referente ao ano de 1910.

 

Gado vacum

Caprinos

Açúcar

Algodão

Pequena lavoura

Total da produção em kg

Rezes

Peso

Rezes

Produção de peles

Sacos

kg

kg

kg

------

3.1000

310.000 kg

13.419

25.838

7.100

532.000

320.000

16.000

671.838

Fonte: Almanaque Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ), 1910, p.1004.

         Pela análise dos dados a cima chega-se a conclusão que o município a época era majoritariamente produtor de gado e tinha na produção no açúcar a maior receita da agricultura seguida pelo algodão. Sabe-se que o antigo engenho da Pitombeira foi grande produtor de cana em Taipu. 

                            Casa Grande do antigo Engenho Pitombeira