Um interessante relato foi publicado no
jornal A República por um cronista (que devido a falha na digitalização do
jornal não foi possível visualizar o nome), fala de como a antiga povoação de
Cuitezeiras superou a tragédia de ter sido devastada pela enchente do rio
Curimataú e renasceu tal como uma Fênix das cinzas para se tornar uma
florescente vila com o nome de Vila Nova de Cuitezeiras, que é a atual cidade de
Pedro Velho.
O relato se reveste de importância para
aquela cidade do agreste potiguar, pois o cronista foi testemunha ocular do inicio da
nascente Vila Nova, cujo o nome completo era Vila Nova de Cuitezeiras. Alguns
outros pontos do relato foi prejudicado pela digitalização que dificultam a
leitura, mas o essencial foi possível captar. É o que se segue.
A
13 de Maio de 1901, quando recebemos a aterradora noticia da inundação extraordinária
do rio Curimataú, que em poucas horas submergiu o aniquilou quase toda a Villa
de Cuitezeiras sentimos, a par da comiseração por uma população flagelada por
terrível calamidade pública, o desgosto de ver assim morta do momento uma vilia
com elementos bastantes de vida para tornar-se uma povoação florescente.
E
de fato, Cuitezeiras desapareceu, quase sepultada no seu montão de minas,
ficando somente de pé a Igreja, ou como um desafio à cólera dos elementos, ou
como um atestado da fragilidade das habitações humanas.
Mas
por um desses fenômenos naturais da transformação de todos os organismos, ou
seja um individuo, ou seja uma cidade, da velha Cuitezeiras, estacionaria no
seu progresso, surgiu uma nova que se destina talvez a ser um grande cidade
A
clarividência e a força de vontade de um homem operou este milagre. O
tenente-coronel Manuel Lopes Teixeira, o detentor das forças políticas da
localidade, natureza de homem calmo, tenaz e refletido, naturalmente abnegado e
propenso ao bem público, não se acabrunhou com a catástrofe que privara a ele e a tantos outros dos seus
bens e determinou-se a fundar uma nova povoação em lugar não só a salvamento de
futuras inundações, como predisposto para um grande desenvolvimento.
Cerca
de 3 km ao poente de Cuitezeiras, marginal a linha férrea, 1 km ao lado norte
da parada de Curimatau existia uma chapadão elevado de 4 km² em mato grosso, de
que ninguém se lembrava sequer para um sitio de plantar ou criar. Foi ali que o
tenente-coronel Manoel Lopes resolveu edificar a Vila Nova de
Cuitezeiras. Concebida a sua ideia, aceita por uns e repudiada por outros, teve
logo acolhimento simpático do distinto juiz de direito da comarca Dr. Home de
Siqueira, proprietário e morador em Cuitezeiras.
Apesar
da escassez de recursos, uma febre de construção. Delinearam-se praças e ruas
bem largas e bem orientadas, marcou-se o lugar do mercado, da igreja e do
cemitério. Em poucos dias, o tenente-coronel Manoel Lopes elevou um Cruzeiro em
frente ao que devia ser a entrada principal do povoado, como que convidando os
povos a se abrigarem a sombra dos seus braços protetores.
Vieram
os prédios do Dr. Homem de Siqueira, do coronel Fabrício Maranhão, do
tenente-coronel Manoel Lopes, do major Claudino Delgado, do cap. Jerônimo
Gonçalves Gilla, do Cp. Romualdo Ferreira da Silva, do cp. Alexandrino Martins
Delgado, do cidadão Herculano Lacerda, do cidadão João Nunes de Castro e muitos
outros cujos nomes me não ocorrem de momento.
A
Vila Nova de Cuitezeiras ainda bem não estava edificada já se falava dela certo
calor, como de uma coisa de existência bem definida e próspera a ponto de desperta-me
a curiosidade de ir ver de perto uma povoação aparelhada em menos de dois anos
em todas as condições de vida e desenvolvimento.
Fui,
tive ensejo de recorrer a prestancia do coronel Manuel Lopes e a fortuna de
confessar-me cativo a fidalguia da sua hospedagem, e eis que vi na Vila Nova de
Cuitezeiras: um povoado com 185 casas quase todas de tijolo e telha, sendo 77
no antigo povoado de Curimataú e 108 na vila nova, formando a grande praça Dr.
Pedro Velho, onde se acha o Mercado
Público, as ruas Fabrício Maranhão, Ferreira Chaves, D. Homem de Siqueira,
Augusto Severo, Dr. Alberto Maranhão, Vigário Almeida e travessa Silva Jardim,
todas iluminadas regulamente e com um começo de arborização, uma igreja em
construção, estradas limpas, bem provida de água potável retirada não sé de
cacimba de 20 e tantos palmos de profundidade como do rio Pequiri que corre
perenemente a cerca de 2 km de distância , banhos esplêndidos no rio Pequiri e
no riacho do Alecrim que fica a uns 3 km em imenso chapadão bastante elevado
[... restante do texto ilegível].
A
população é hospitaleira e boa.
Um
dos embaraços que se tem oposto ao maior desenvolvimento da Vila Nova é a
colocação da parada da Estrada de Ferro, em Curimataú, a quase 1 km do centro
do povoado e da feira, dificultando e
encarecendo o transporte. O ano passado os habitantes propuseram a Great Western
mudar a parada a sua custa para o ponto onde pode servir melhor a localidade, o
ministro da viação autorizou a mudança, porém a Estrada de Ferro, não pode ou
não quis ainda prontificar-se a efetuá-la. É de crer que agora a Great Western
que se propõe a melhorar o seu serviço não demore em realizar uma providencia
que se impõe no interesse de uma localidade de um futuro próspero e no seu
próprio interesse porque aumentará o seu tráfego.
Ficam
aqui consignadas as minhas impressões sobre Vila Nova de Cuitezeiras que
considero um dos pontos de mais futuro dos situados a margem da linha férrea,
um dos logradouros mais apropriados para quem quiser descansar um pouco das
fadigas da capital.
Antes
porém de terminar não posso deixar de referir-me ao Bosque, uma ourela de
terreno que ainda está incorporado ao patrimônio municipal, porém sobre o qual
o coronel Manuel Lopes já lançou os olhos para aproveitar a arborização
pitoresca de quês está coberto a fim de convertê-lo num bosque que será um
excelente logradouro público e um embelezamento de que atualmente não se dispõe
nenhuma das cidades do Rio Grande do Norte.
Para
se avaliar da salubridade de Vila Nova basta considerar que há 2 anos está
povoada e ainda não morreu ali de morte natural sequer uma criança. Referiram-me
uma interessante anedota.
Havia
par ao lado dos Brejos um sujeito que aborrecido da existência e coberto de
mazelas resolveu procurar a morte e escolheu Vila Nova para se dar a li o fatal
trespasse. Mas a morte ainda não apoderou-se da vila. O individuo resolveu
empregar toda sorte de armadilhas: noites em claro exposto a chuva, frutas
comidas a toda hora, dias inteiros curtidos ao sol, estomago empanzinado,
banhos extravagantes, nada disso tentou a cruel ceifeira. Desenganado que Vila
Nova ainda não figurava na repartição central de passagem para o outro mundo o
nosso homem disposto a morrer a todos transe não teve outro jeito se não enforcar-se.
Fonte:
A República, 11/03/1903, p.1.
Aspectos de Pedro Velho
Todas as imagens são do IBGE,1966. |
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