Em
17/04/1906 o porto de Natal estava em obras. A novidade era o uso do escafandro
para observar o fundo do rio Potengi auxiliando na desobstrução do canal do
porto.
De
acordo com A República “agora, que nosso porto vai trabalhar um escafandrista,
não virão fora de propósito as notas extraídas e resumidamente propositalmente
para este fim do livro de Louis Figuier, Les
merveilles de La science.
O
“resumo proposital” daria um livro e como não é esse nosso propósito aqui vamos
poupar o leitor de enfadonho texto, apesar de bem colocadas notas, é demasiado
citar o artigo, basta dizer, porém, que o citado livro dizia que o “escafandro
é um aparelho relativamente moderno, seu uso prático data da segunda metade do
século XIX”.
De
acordo com o jornal A República, o escafandrista que estava trabalhando nas
obras do porto de Natal era Manoel Gaya, contando naquele ano 60 anos de idade
e 40 de experiência em mergulhar nas águas do rio Potengi e sobre o uso do
escafandro por ele dizia o citado jornal “é um contemporâneo dos
aperfeiçoamentos que o tem tornado praticável”.
De
acordo com o jornal citado antes daquela época, eram muito imperfeitos os
aparelhos empregados nos trabalhos e explorações submarinas. ”Mergulhava-se a fôlego
como até hoje se tem mergulhado no nosso rio e na nossa costa” e mesmo assim,
muito restritamente. Até o século XVIII quase que o homem só mergulhava para
fins de guerra, dizia A República. (A REPÚBLICA, 17/04/1906, p.1).
Os
mergulhos do escafandrista Manoel Gaya
Continuavam as obras do
porto com o trabalho de desentulho e arrasamento da ponta sul do recife da
Baixinha.
De 14h00 as 16h00 da tarde,
quando o estado da maré ali era ordinariamente agitada o escafandrista Manoel
Gaya deu 4 mergulhos consecutivos, demorando-se debaixo d’água entre 5 e 15
minutos conforme necessário para a execução dos
serviços.
Neste
espaço de tempo, lin- [... texto ilegível devido erro de impressão no original]
da carcaça do navio submerso, que foram suspensas e descarregadas no batelão de
ferro acostado ao pontão ‘Souza Gomes’, ali fundeado e onde estava montada a
aparelhagem. (A REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).
Dando-se,
porém, que diversas madeiras, entre as peças lingadas e quebravam no ar, tal
era o estado de fraqueza das suas fibras resistentes, o engenheiro Pereira
Simões, chefe da Comissão de Melhoramento do Porto, mandou as 16h00 suspender o
trabalho do escafandrista e fazer funcionar a draga de cofre dobradiça,
assentada no mesmo pontão, que até as 17h00 extraiu muito madeirame, ferragens
e utensílios do navio submerso, além de grande quantidade de pedras do recife
anteriormente quebradas pelo pilão de uma tonelada que havia sido ali colocado
desde o começo de 1904 pela mesma comissão de melhoramentos do porto.
O
escafandrista Manoel Gaya mergulhou ainda naquele dia fazendo explorações nas vizinhanças
do recife interno da Baixinha , cujo terço deveria ser esmagado na direção sul
para o norte, conforme o projeto Souza Gomes, que o engenheiro Pereira Simões
foi chamado a executar.
Em
17/04/1906 depois de diversos golpes do pilão mecânico sobre a ponta da
Baixinha para ir quebrando-a, o escafandrista desceu nas proximidades da boia,
mais ao sul dos mergulhos anteriores.
A maré estava
de vazante e o vento que soprava forte tornava a água muito
agitada.Seguindo até meio caminho voltou Manoel Gaya a superfície da água
depois de 5 minutos de exame e observação. (A REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).
Achou ele, conforme informou, entre o cavername do velho navio submerso deparando-se com uma verdadeira barreira de destroços espontados, o que o obrigou a recuar, não só porque a mangueira de ar, a corda de salvação ou tubo da corneta acústica podiam por ali por ali engravar-se e ser isto fatal para ele, como porque começaram a faltar-lhe as forças para continuar a caminhada por entre o cavername do navio, lutando com a correnteza.
Imersão do escafandrista Manoel Gaya para colocar uma bomba de dinamite no fundo do rio Potengi para explodir os recife da Baixinha. Foto: O Malho, ed.0263,1906, p.24. |
Manoel
Gaya, era segundo o jornal A República, um já velho, com mais de 40 anos de
prática de serviço, forte e vigoroso, porém excessivamente prudente, o que
determinou a sua escolha por parte do engenheiro Simões, que já o conhecia e
estava habilitado a depositar toda sua confiança nas suas informações. (A
REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).
O
escafandrista, recuando em tempo da exploração que se lhe afigurava no momento
perigosa, logo que subiu, designou o ponto mais ou menos onde era forte o
acumulo de madeirame e ferragens e ali desceu imediatamente o cofre da draga
Priestman, que com sua garras movediças começou a extrair tais destroços. (A
REPÚBLICA, 18/04/1906, p.1).
Esse
desentulho deveria continuar ainda por mais algum tempo, sendo oportuna, em
vista do resultado obtido, novas descidas do mergulhador escafandrista Manoel
Gaya, que se ocupava em outros serviços de bordo, mas tinha uma gratificação
nos dias em que mergulhava nas águas do rio Potengi a serviço da desobstrução
do canal do porto.
Draga de alcatruzes ‘Miguel Calmon’ aprofundando o ancoradouro da Alfandega, no porto interno de Natal, a fim de que pudesse as pontes de descarga dos vapores de maior calado, que estavam demandando no porto. Esta draga, denominada ‘5 de Agosto’, estava no porto da Paraíba fora de serviço, tendo sido enviada pelo ministro da viação a comissão de melhoramentos do porto de Natal, tendo sido seus serviços relevantes nas obras de dragagem do porto. Na opinião do comandante Guimarães, do Llyod Brasileiro, o porto de Natal era um dos mais vastos do Brasil. Foto: O Malho, 1906,p.29.
Pontão ‘Lauro Muller’ com os aparelhos completos do pilão de
Lobnitz e a draga ‘Priestman’ de 5 toneladas destinadas ao arrasamento da
Baixinha. De acordo com a revista O Malho o prosseguimento metódico das obras
faria do porto da Capital do Rio Grande do Norte um dos melhores do Brasil. Foto: O Malho, 1907.
Aspecto do porto de Natal em 1908.Foto: O Malho, 1908.
Uma tecnologia moderna para época do Porto de Natal na engenharia e atualmente uma peça de museu. Como diz o trecho da música do cantor e compositor Caetano Veloso" Tempo,tempo, tempo, tempo" na música "Oração ao tempo".
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