segunda-feira, 21 de abril de 2014

OUTRAS CRÔNICAS TAIPUENSES


Professor removido

        Por perseguições políticas foi removido de Flores (atual Florânia) para Taipu o professor primário capitão Joaquim Jose de Carvalho Pinto, o professor, no entanto, não aceitou a remoção e continuou a dá aulas particulares na cidade de Flores. O professor não apoiou a política praticada por Miguel Castro, por isso foi perseguido e como era praxe na época os funcionários públicos estaduais eram transferidos de cidade em cidade caso fossem contrários ao governo. A nota foi publicada no jornal O povo, publicado em Caicó, em 19 de julho de 1891.

Impostos

       Em ato de 24 de agosto de 1891 o governador  coronel Francisco Gurgel de Oliveira assinou os  atos sobre os impostos do dizimo ( este imposto nada tinha a ver com o dízimo religioso) em Taipu segundo afirmava noticia publicada no jornal O Rio Grande do Norte  de 13 de setembro de  1891 á  página 1.
        As noticias consignadas a cima foram as primeiras publicadas logo após a emancipação politica de Taipu, que fora desmembrada de Ceará-Mirim em 10 de março de 1891 pelo governador Amintas Barros.


NOTICIA RARA SOBRE TAIPU



         Uma rara noticia sobre Taipu foi encontrada por nós no jornal A Liberdade de 15 de janeiro de 1857. A noticia não era nada agradável, pois tratava-se da cólera  que estava assolando o estado onde em Taipu estavam aparecendo vários casos da doença.A raridade da noticia se justifica por se tratar de mencionar Taipu na segunda metade do século XIX ainda como distrito de Ceará Mirim, criado em em 1851.




Fonte: A Liberdade de 15 de janeiro de 1857

MAIS UMA CRÔNICA TAIPUENSE



         O jornal A Cruz, publicação do  Rio de Janeiro, divulgou uma noticia sobre a autorização dada pelo papa  Paulo VI para que as irmãs religiosas de Nísia Floresta e Taipu, que administravam as respectivas paróquias destas cidades,  pudessem ministrar a comunhão.Eis o texto do jornal:
A titulo experimental o Santo Padre autorizou  Religiosas das paróquias de Nisia Floresta e Taipu, no Rio Grande do Norte, ministrarem a si mesmas e a outros a Sagrada Comunhão.Concessão excepcional em virtude da falta de clero [...]

         Aparentemente não há nada demais na noticia citada acima, não fosse o fato de ela ter sido publicada na década de 1960 em que a Igreja católica passava por grandes reformas em suas liturgias decorrentes do Concilio Vaticano II iniciado em 1958 e o concluído em 1964.Dentre as novidades trazidas por este concilio estava esta de autorizar as religiosas de ministrar a comunhão ( já consagradas pelos padres previamente), antes só realizada pelos ministros ordenados ( padres e bispos).
        Em Taipu a primeira irmã religiosa a receber a autorização para proceder a realização de ministrar a comunhão foi a Irmã Natalina Rossetti, ICM que respondia administrativamente pela paróquia Nossa Senhora do Livramento de Taipu, a ela se seguiu a Irmã Marilucia Koakoski, ICM, ambas vistas nas fotos a abaixo.


Ir. Natalina Rossetti entregando a comunhão a fiéis da paróquia, 1966.Foto: arquivo das Irmãs do Imaculado Coração de Maria
Ir. Marilúcia Koakoski distribuindo a comunhão a fiéis da paróquia, 1966.Foto: arquivo das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.









Fonte: Jornal A Cruz, p.1 ano XLVI, n.2545,15/05/1966.

DECADÊNCIA DA ESTRADA DE FERRO SAMPAIO CORREIA


               
                A Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte foi denominada Estrada de Ferro Sampaio Correia na década de 1950 para homenagear o engenheiro que projetou a ferrovia que pretendia alcançar o sertão potiguar partindo do porto de Natal passando pelo vale do rio Ceará Mirim onde deveria chegar a Caicó, coisa que nunca ocorreu. Fruto de grandes empecilhos políticos e administrativos a ferrovia passava por graves crises beirando a decadência na década de 1950, é o que demonstra o artigo de Umberto Peregrino publicada na revista A Careta (16/02/1957, n. 2538 p.6) onde se pode ter uma nítida ideia de como se encontrava a dita ferrovia em 1957:
A Estrada de Ferro Sampaio Correia perfura o Sertão adentro. Ainda não vai muito longe é verdade, por que o ímpeto que a criou  bem depressa arrefeceu. Depois  daquela etapa inicial, representada pela inauguração , em 1906, do trecho até Ceará Mirim [...] os trilhos se distenderam ainda, chegaram a Lajes em pleno sertão, mas ia ficaram durante uns 20 anos, de pontas aparadas,s e avançar mais um palmo sequer, não adiantou que a vista do estivesse o pico do Cabogi (sic), sobranceiro, imponente, como que a balizar o chão largo do Sertão indicando por onde deveria penetrá-lo.Nos últimos anos laboriosamente, lentamente sempre cresceram um pouquinho os trilhos, encruados, que ora atinge atreves de ramais  divergentes , Angicos e Afonso Bezerra [...] na marcha em que vão os trabalhos , com pouco os trens  estarão correndo até o porto salineiro de Macau.Era isso tudo que refletíamos  enquanto o trem rolava , sem pressa, sobre a antiga linha  tão antiga quanto ele próprio ... É essa, pelo menos, a impressão que dão os carros, cujos bancos, primitivos ainda se apresentam, as vezes com o estofamento furado, ao passo que as venezianas  das janelas desabam sobre as cabeça ou o braço dos passageiros que insistam em mantê-las suspensas, os sanitários  são imundos e os lavatórios  não tem água ... Quanto ao horário, não existe senão para sobressaltar os clientes das vacas  com que Jose Soares  nos espera na estação de Taipu.Fora daí  não tem hora para nada, nem pode mesmo, pois se vai caminhando a uns 10 quilômetros por hora, de repente estaca num ermo qualquer e se deixa ficar por uns 15 a 20 minutos enquanto retempera as forças... è por isso que ao ponto final, Afonso Bezerra, chega sempre com atraso que tanto pode ser de 8 horas, como de 2,3,4 ou 5.Na hora é que não chega nunca e as cidades já sabem disso de modo que não se preocupa nem se aflige... O demorado apito, à distancia, fixa o horário de cada dia [...]
        O relato nos mostra como se achava os vagões dos trens, as dificuldades de se concretizar os trabalhos de expansão da estrada de ferro que chegavam se arrastando em Angicos e Afonso Bezerra, as precariedades em que se encontravam as paradas no percurso realizado pelos passageiros entre outras coisas que nos mostram o estado deplorável da citada estrada de ferro.Como se vê nem tudo são flores na vida.






Fonte: Revista A Careta 16/02/1957, n. 2538 p.6.

O CURIOSO CASO DAS VACAS DE JOSÉ SOARES EM TAIPU



       Um pitoresco artigo publicado na revista Careta, do Rio de Janeiro, assinado por Umberto Peregrino na coluna da Janela do trem versava sobre o negócio nada convencional realizado em Taipu por José Soares. Trata-se de o referido negociante colocar junto a estação ferroviária de Taipu duas vacas para disponibilizar leite com açúcar aos passageiros do trem que parassem na referida estação. O negócio é tão inusitado que achamos por bem o próprio autor do artigo falar desse comércio alimentício em Taipu. Diz ele:

Depois de Extremoz o único atrativo importante está em Taipu, onde encontrareis duas vacas no pátio da Estação, bezerros arrelhados, numa mesa com copos, açúcar, tudo pronto para fornecer-vos o que se denomina ali leite-ao-pé- da- vaca. Quem idealizou isso e  montou toda perfeita organização foi José Soares, um caboclo saudável, inteligente, que identificareis operando a ordenha de uma das vacas. Sua senhora também funciona na organização, pois é quem vende as fichas e fornece os copos. Mas além do pitoresco, fabulosamente pitoresco daquele fornecimento de leite pelo sistema rigorosamente natural, que coisa oportuna! Uma pena é que em Taipu a demora do trem seja de molde a permitir o desejável aproveitamento da genial invenção de José Soares. Consta que os maquinistas mantém com ele acordo secreto para não dá saída aos trens  enquanto as vacas não estejam esgotadas... Não, não deve ser  verdade. Os clientes são servidos as pressas e é com sobressalto que  o delicioso leite espumante e quentinho. Por que Direção da Estrada de Ferro  ( Sampaio Correia) não considera essa situação para dilatar um pouco o tempo da parada dos trens de passageiros  em Taipu? Por todos os motivos entre os quais as vacas não são fracos motivos, ali se impões uma parada mais demorada.(PEREGRINO,1957, p, 14-15).

      A foto a baixo demonstra como era efetuado o negócio de José Soares. Nela se pode vê as duas vacas que , segundo o autor do artigo, eram ordenhadas a exaustão. Vê-se a mesa com os copos e uma mulher ao lado, provavelmente a mulher de José Soares que participava da atividade fornecendo as fichas e organizando a distribuição do liquido bovino adocicado.
     No mesmo artigo o autor fala da estações seguintes a de Taipu, na qual pouco se oferecia em matéria de pitoresco e de oferecimento em gêneros alimentícios e conclui dizendo que era em Taipu o único lugar onde se reconfortar o estomago.


Aqui vê-se José Soares ordenhando uma vaca enquanto passageiros aguardam provavelmente o salvífico liquido

Mais detalhes de José Soares realizando seu oficio.
Foto: Revista A careta 09/02/1957 n.2.537 p. 14-15.


         Sobre a estação de Baixa Verde diz Umberto Peregrino: “A estação que segue, Baixa Verde, embora corresponda  a importante cidade, já não oferece nem pitoresco nem fartura”.A medida que o trem se adentrava no Sertão as estações iam ficando menos generosas  em artigos de comer, como explica  Umberto, que em Pedra Preta apresentava-se a zero naquele dia de janeiro, ao passo que em Lajes, que apesar de ser ponto de manobras só se podia contar com um café instalado na banca de uma certa dona Maria, senhora que se desdobrava para atender ao intenso movimento, conta Peregrino. Assim mesmo seu café não apetecia. ”Tudo parece sujo, a tapioca é tão escura quanto o queijo. Até o preto do café é suspeito...”, escreveu Peregrino. Terminando seu artigo Umberto Peregrino diz:

Taipu é decididamente o ultimo ponto daquele percurso onde se reconfortar o estomago É justo que os passageiros possam fazê-lo com relativa calma principalmente quanto ao cargo das vacas de José Soares, as quais hão de fornecê-lo sempre sem auxilio das torneiras que por aqui se avolumam o leite e a fortuna dos vendedores, tão diferente saudável e imaginativo caboclo que singulariza e honra a estação de Taipu. (PEREGRINO,1957, p, 14-15).

        O interessante nessas crônicas é forma pitoresca e inusitada que este personagem real, que infelizmente não pude identificar  dada a nossa limitação de pesquisa, foi retratado pelo narrador da crônica. José Soares é visto como um dos mais auspiciosos empreendedores que ficavam ao longo da ferrovia e como o cronista mesmo afirma Taipu era onde se tinha a melhor parada para aliviar a fadiga da viagem e fazer um agrado ao estômago para recuperar as forças ( com o leite de José Soares) e seguir viagem até seu destino final



Fonte: Revista A careta 09/02/1957 n.2.537 p. 14-15.