Um pitoresco artigo publicado na
revista Careta, do Rio de Janeiro, assinado por Umberto Peregrino na coluna da
Janela do trem versava sobre o negócio nada convencional realizado em Taipu por
José Soares. Trata-se de o referido negociante colocar junto a estação
ferroviária de Taipu duas vacas para disponibilizar leite com açúcar aos
passageiros do trem que parassem na referida estação. O negócio é tão inusitado
que achamos por bem o próprio autor do artigo falar desse comércio alimentício
em Taipu. Diz ele:
Depois de Extremoz o único atrativo importante está em Taipu, onde
encontrareis duas vacas no pátio da Estação, bezerros arrelhados, numa mesa com
copos, açúcar, tudo pronto para fornecer-vos o que se denomina ali leite-ao-pé-
da- vaca. Quem idealizou isso e montou
toda perfeita organização foi José Soares, um caboclo saudável, inteligente,
que identificareis operando a ordenha de uma das vacas. Sua senhora também
funciona na organização, pois é quem vende as fichas e fornece os copos. Mas
além do pitoresco, fabulosamente pitoresco daquele fornecimento de leite pelo
sistema rigorosamente natural, que coisa oportuna! Uma pena é que em Taipu a
demora do trem seja de molde a permitir o desejável aproveitamento da genial invenção
de José Soares. Consta que os maquinistas mantém com ele acordo secreto para
não dá saída aos trens enquanto as vacas
não estejam esgotadas... Não, não deve ser
verdade. Os clientes são servidos as pressas e é com sobressalto que o delicioso leite espumante e quentinho. Por
que Direção da Estrada de Ferro (
Sampaio Correia) não considera essa situação para dilatar um pouco o tempo da
parada dos trens de passageiros em
Taipu? Por todos os motivos entre os quais as vacas não são fracos motivos, ali
se impões uma parada mais demorada.(PEREGRINO,1957, p, 14-15).
A foto a
baixo demonstra como era efetuado o negócio de José Soares. Nela se pode vê as
duas vacas que , segundo o autor do artigo, eram ordenhadas a exaustão. Vê-se a
mesa com os copos e uma mulher ao lado, provavelmente a mulher de José Soares
que participava da atividade fornecendo as fichas e organizando a distribuição
do liquido bovino adocicado.
No mesmo artigo o
autor fala da estações seguintes a de Taipu, na qual pouco se oferecia em
matéria de pitoresco e de oferecimento em gêneros alimentícios e conclui
dizendo que era em Taipu o único lugar onde se reconfortar o estomago.
Aqui vê-se José Soares ordenhando uma vaca enquanto passageiros aguardam provavelmente o salvífico liquido |
Mais detalhes de José Soares realizando seu oficio. Foto: Revista A careta 09/02/1957 n.2.537 p. 14-15. |
Sobre a estação de Baixa Verde diz Umberto Peregrino: “A
estação que segue, Baixa Verde, embora corresponda a importante cidade, já não oferece nem
pitoresco nem fartura”.A medida que o trem se adentrava no Sertão as estações
iam ficando menos generosas em artigos
de comer, como explica Umberto, que em
Pedra Preta apresentava-se a zero naquele dia de janeiro, ao passo que em
Lajes, que apesar de ser ponto de manobras só se podia contar com um café
instalado na banca de uma certa dona Maria, senhora que se desdobrava para
atender ao intenso movimento, conta Peregrino. Assim mesmo seu café não apetecia. ”Tudo
parece sujo, a tapioca é tão escura quanto o queijo. Até o preto do café é
suspeito...”, escreveu Peregrino. Terminando seu artigo Umberto Peregrino diz:
Taipu é decididamente o ultimo ponto daquele percurso onde se
reconfortar o estomago É justo que os passageiros possam fazê-lo com relativa
calma principalmente quanto ao cargo das vacas de José Soares, as quais hão de
fornecê-lo sempre sem auxilio das torneiras que por aqui se avolumam o leite e
a fortuna dos vendedores, tão diferente saudável e imaginativo caboclo que
singulariza e honra a estação de Taipu. (PEREGRINO,1957, p, 14-15).
O
interessante nessas crônicas é forma pitoresca e inusitada que este personagem
real, que infelizmente não pude identificar dada a nossa limitação de pesquisa, foi
retratado pelo narrador da crônica. José Soares é visto como um dos mais
auspiciosos empreendedores que ficavam ao longo da ferrovia e como o cronista
mesmo afirma Taipu era onde se tinha a melhor parada para aliviar a fadiga da
viagem e fazer um agrado ao estômago para recuperar as forças ( com o leite de
José Soares) e seguir viagem até seu destino final
Fonte: Revista A careta 09/02/1957 n.2.537 p. 14-15.
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