segunda-feira, 21 de abril de 2014

O CURIOSO CASO DAS VACAS DE JOSÉ SOARES EM TAIPU



       Um pitoresco artigo publicado na revista Careta, do Rio de Janeiro, assinado por Umberto Peregrino na coluna da Janela do trem versava sobre o negócio nada convencional realizado em Taipu por José Soares. Trata-se de o referido negociante colocar junto a estação ferroviária de Taipu duas vacas para disponibilizar leite com açúcar aos passageiros do trem que parassem na referida estação. O negócio é tão inusitado que achamos por bem o próprio autor do artigo falar desse comércio alimentício em Taipu. Diz ele:

Depois de Extremoz o único atrativo importante está em Taipu, onde encontrareis duas vacas no pátio da Estação, bezerros arrelhados, numa mesa com copos, açúcar, tudo pronto para fornecer-vos o que se denomina ali leite-ao-pé- da- vaca. Quem idealizou isso e  montou toda perfeita organização foi José Soares, um caboclo saudável, inteligente, que identificareis operando a ordenha de uma das vacas. Sua senhora também funciona na organização, pois é quem vende as fichas e fornece os copos. Mas além do pitoresco, fabulosamente pitoresco daquele fornecimento de leite pelo sistema rigorosamente natural, que coisa oportuna! Uma pena é que em Taipu a demora do trem seja de molde a permitir o desejável aproveitamento da genial invenção de José Soares. Consta que os maquinistas mantém com ele acordo secreto para não dá saída aos trens  enquanto as vacas não estejam esgotadas... Não, não deve ser  verdade. Os clientes são servidos as pressas e é com sobressalto que  o delicioso leite espumante e quentinho. Por que Direção da Estrada de Ferro  ( Sampaio Correia) não considera essa situação para dilatar um pouco o tempo da parada dos trens de passageiros  em Taipu? Por todos os motivos entre os quais as vacas não são fracos motivos, ali se impões uma parada mais demorada.(PEREGRINO,1957, p, 14-15).

      A foto a baixo demonstra como era efetuado o negócio de José Soares. Nela se pode vê as duas vacas que , segundo o autor do artigo, eram ordenhadas a exaustão. Vê-se a mesa com os copos e uma mulher ao lado, provavelmente a mulher de José Soares que participava da atividade fornecendo as fichas e organizando a distribuição do liquido bovino adocicado.
     No mesmo artigo o autor fala da estações seguintes a de Taipu, na qual pouco se oferecia em matéria de pitoresco e de oferecimento em gêneros alimentícios e conclui dizendo que era em Taipu o único lugar onde se reconfortar o estomago.


Aqui vê-se José Soares ordenhando uma vaca enquanto passageiros aguardam provavelmente o salvífico liquido

Mais detalhes de José Soares realizando seu oficio.
Foto: Revista A careta 09/02/1957 n.2.537 p. 14-15.


         Sobre a estação de Baixa Verde diz Umberto Peregrino: “A estação que segue, Baixa Verde, embora corresponda  a importante cidade, já não oferece nem pitoresco nem fartura”.A medida que o trem se adentrava no Sertão as estações iam ficando menos generosas  em artigos de comer, como explica  Umberto, que em Pedra Preta apresentava-se a zero naquele dia de janeiro, ao passo que em Lajes, que apesar de ser ponto de manobras só se podia contar com um café instalado na banca de uma certa dona Maria, senhora que se desdobrava para atender ao intenso movimento, conta Peregrino. Assim mesmo seu café não apetecia. ”Tudo parece sujo, a tapioca é tão escura quanto o queijo. Até o preto do café é suspeito...”, escreveu Peregrino. Terminando seu artigo Umberto Peregrino diz:

Taipu é decididamente o ultimo ponto daquele percurso onde se reconfortar o estomago É justo que os passageiros possam fazê-lo com relativa calma principalmente quanto ao cargo das vacas de José Soares, as quais hão de fornecê-lo sempre sem auxilio das torneiras que por aqui se avolumam o leite e a fortuna dos vendedores, tão diferente saudável e imaginativo caboclo que singulariza e honra a estação de Taipu. (PEREGRINO,1957, p, 14-15).

        O interessante nessas crônicas é forma pitoresca e inusitada que este personagem real, que infelizmente não pude identificar  dada a nossa limitação de pesquisa, foi retratado pelo narrador da crônica. José Soares é visto como um dos mais auspiciosos empreendedores que ficavam ao longo da ferrovia e como o cronista mesmo afirma Taipu era onde se tinha a melhor parada para aliviar a fadiga da viagem e fazer um agrado ao estômago para recuperar as forças ( com o leite de José Soares) e seguir viagem até seu destino final



Fonte: Revista A careta 09/02/1957 n.2.537 p. 14-15.

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