domingo, 6 de janeiro de 2019

O CEGO DE CAICÓ QUE DESCOBRIU A XELITA E O URÂNIO NO RIO GRANDE DO NORTE


       Eis uma daquelas histórias dignas de um roteiro de filmes inspiradores (daqueles que o começo se inicia com “baseado em fatos reais”).Trata-se da história de Joel Celso Dantas, que foi o descobridor da xelita (também escrita Schelita) e do urânio no Nordeste. A história da sua vida é um comovente exemplo do quanto pode a obstinação de um nordestino, por  descobrir e provar a ocorrência das incalculáveis riquezas e jazidas de minérios escondidos no subsolo de sua terra. Alguém já bem o disse que devemos ler biografias de grandes homens.É uma interessante síntese biográfica de uma grande homem desconhecido.Nordestino, potiguar, caicoense!.
      A Revista Manchete contou a história de Joel Dantas em 1957 quando ele estava no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde Santa Maria, nas Laranjeiras, tentando recuperar sua visão.Acompanhemos.
     Ele nasceu em Caicó, aos 7 anos ficou cego por causa de uma queratite (opacificação da córnea).Foi ao Recife se tratar, mas voltou desiludido: ficara uma pequena réstia de visão embaçada, para a qual de nada adiantaria o uso de óculos.
     Fez questão, porém, de continuar frequentando a escola, mesmo como ouvinte, apenas. Pedia aos colegas e amigos que lessem livros para ele. ”comecei a gostar de livros de ciência”, contou a revista. E passou a interessar-se pela Física.Pensou na sua própria cegueira e dedicou-se ao estudo das lentes.10 anos depois, conseguiu fazer uma combinação de lentes que lhe restituiu um pouquinho de visão.”senti um contatamento enorme, quando vi uma letra novamente”.
      Habituou-se, desde então, a uma leitura penosa. Das várias lentes combinadas, chegou a perfeição de um aparelho chamado “conta-fios”, através do qual lia letra por letra, mas lia.Assim, penosamente, já havia conseguido devorar centenas de livros.Soletrava.Se era interrompido no meio da palavra, tinha de recomeçá-la para pegar-lhe novamente o sentido.Tinha uma ortografia própria, pois a cegueira o atingiu numa idade em que ele não tinha aprendido a escrever.
     Sua mãe gostava de colecionar pedras bonitas em casa. Quando saía, levado por ela, para fazer passeios pelo sertão, apanhava seixos nas estradas e trazia-os para apalpá-los e estudá-los.Casou-se aos 19 anos.em 1935, leu o primeiro volume de mineralogia.
                                                 
                                                            Joel Dantas

Fonte: Revista Manchete, 1957.


Como descobriu a primeira xelita
   Passou a analisar aquelas pedras, no fundo do seu quintal, ajudado pela mulher. Ganhava, então, 200 mil réis por mês, dos quais ainda tirava uma parte para construir forjas rústicas.Nas análises, encontrava ouro, ferro, titânio."Eu não sabia que a Natureza não poderia ter sido tão madrasta com o Nordeste, ao dar-lhe apenas seca, falta de chuvas, misérias, privações.Aquelas pedras tão abundantes devia ter algum valor", disse Joel.
   E tinham.Através delas, Joel Dantas chegou a certeza da existência de maiores possibilidades minerais: aquelas rochas matrizes, pelas suas características, deviam possuir maiores quantidades de minérios.Toda aquela região inóspita era um imenso lençol de riqueza subterrânea.
    Em 15/10/1941, mesmo lutando contra a cegueira, Joel Dantas conseguiu descobrir, na fazenda Riacho de Fora, a primeira xelita: uma pedra desconhecida, muito pesada, diferente de todas as outras.“Não vale nada”, disseram-lhe.Na Paraíba, um comerciante ofereceu  50 centavos pelo quilo.Joel indignou-se: “imagina: 50 centavos por um quilo de tungtênio, o minério que vai revolucionar o mundo”.

A primeira fase da batalha
      Havia em Natal um padre sábio, o padre Monte (Cônego Nivaldo Monte, 1918-2006, arcebispo de Natal entre 1967 e 1988) que acreditou nele. Apesar desse depoimento autorizado, ninguém acreditava naquela história. Joel Dantas saiu pelo interior a fazer propaganda de sua descoberta, para ver se os fazendeiros se interessavam por ela. Descobriu nada menos de uma tonelada e meia do minério, nos mais diferentes pontos da região.
       O Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro, terminou finalmente confirmando o seu laudo: aquelas pedras eram realmente xelita. Estava ganha a primeira batalha.Faltava o resto: a batalha pela exploração.Mas, esta seria bem mais fácil, pois, não faltariam logo os proprietários de terra que se interessariam por ganha dinheiro.
      Isto se verificou, realmente, com dezenas deles, inclusive o famoso desembargador aposentado Tomás Salustino, que já estava ganhando centenas de milhões de cruzeiros com a sua mina Brejuí. A primeira pedra do desembargador foi levada a Joel Dantas, por intermédio do governador do Rio Grande do Norte a época, Dinarte Mariz. Ninguém acreditava nela, pois, tinha forma de areia. Mas, Joel disse que se tratava de xelita de boa qualidade.O desembargador se convenceu e tratou de explorar sua mina, transformado-se numa das maiores fortunas do país.
   Constatou a presença de urânio de alto teor, numa extensão de 10 km no litoral nordestino, por intermédio de um aparelho  Geiger, que o almirante Álvaro Alberto lhe mandou de presente.
     Enquanto isso, o cientista continuava cego e passando privações. Já havia localizado centenas de minas de berilo, columbita, tantalita, abrigonita, granada, bismuto, estanho, florita e outros. Diariamente, chegavam-lhe as mãos, na sua casa em Natal, dezenas de pedras para análises, vindas de todos os Estados do Nordeste. Ele as analisava e classificava criteriosamente.
      Em 1957, aos 38 anos, Joel Dantas já havia feito mais de 20 mil anotações de análises, demonstrando a existência de reservas incomensuráveis de minérios, em toda a região nordestina. Mas, pelo seu trabalho, muitos dos que o procuravam e que depois ficaram milionários à custa dos seus laudos, nem se lembravam de pagar Cr$ 100 ou Cr$ 200. Por isto, Joel Dantas continuava pobre, ele que tinha dado riqueza a tanta gente! (MANCHETE, 1957, p.37-39).

“Eu vi”
     Em 1957 Joel Dantas se submeteu a um transplante de córneas. “Eu vi”, disse Joel Dantas, ao sair da sala de cirurgia.Contava 38 anos, dos quais 30 como cego.A cirurgia foi feita pelo Dr. Abreu  Fialho.
     Chegou ao Rio de Janeiro depois de uma campanha feita por um jornalista (a revista não cita) e o médico Xavier Fernandes, diretor da Divisão de Organização Hospitalar do Ministério da Saúde, tendo que se submeter a um intenso tratamento pré-operatório, pois, estava pensando 45 kg e queimado dos pés a cabeça pelas emanações radioativas das amostras de minérios que ia descobrindo e pesquisando.
     “Eu vi”. Joel Dantas guardou a confissão para fazê-la em primeiro lugar a sua mulher e ao jornalista que o  ajudou (a revista manchete não cita o nome de ambos).
      - Viu o quê?
      - Vi um clarão imenso, logo seguido pela formação nítida de certas imagens. Vi o bisturi na mão do Dr. Fialho, antes mesmo de que ele me enxertasse a outra córnea. Foi indescritível a sensação de ver pela primeira vez ( destaque nosso pela tomada de emoção com o referido  relato ao escrever o mesmo).No entanto, a confirmação do sucesso do transplante só poderia ser confirmado uma semana depois, até lá Joel Dantas deveria ficar com vendas nos olhos a fim de assegurar a cicatrização mais rápida.(MANCHETE, 1957,p.27).
      Joel Dantas foi o descobridor do petróleo em Macau em 1950 (MANCHETE, 1974, p.24). Os detalhes dessa descoberta é assunto para outra postagem.

                                            Joel Dantas antes da cirurgia

                                            Joel Dantas sendo operado

Joel Celso Dantas
       Joel Celso Dantas foi o cientista, potiguar, cego, que estudou Física e Química, através de um sistema de lentes combinadas que ele mesmo inventou e por meio das quais lia penosamente, letra por letra. Foi assim que devorou de zenas de tratados de mineralogia e geologia, chegando a conclusão de que no Rio Grande do Norte e o estados vizinhos do Nordeste possuíam um imenso lençol subterrâneo de minérios.
        
        
Fonte: Revista Manchete, 1957, 1974.

sábado, 5 de janeiro de 2019

A FEIRA E O BAIRRO DO CARRASCO



       Quem passa as quartas-feiras pela Avenida Bernardo Vieira próximo ao cruzamento com linha do trem e sente o nauseante cheiro de peixe sabe que está se aproximando da feira do Carrasco, tradicional e pitoresca feira da capital potiguar.A seguir a origem dessa feira e do bairro.

A feira do Carrasco
         A feira do Carrasco é uma tradicional feira existente em Natal realizada as quartas-feiras no cruzamento da rua dos Pegas com a avenida Bernardo Viera no atual bairro de Dix Sept Rosado.
Sua origem deu-se em vista do grande número de habitantes residentes no Carrasco, então subúrbio na capital, onde um grupo de comerciantes, tendo a frente os Srs. José Joaquim de Andrade, Manoel Cândido filho, Pedro Ferreira da Silva, Aprizio Joaquim de Oliveira e Francisco Lourenço dos Santos, que estiveram com o Prefeito da capital pleiteando a instalação nas quartas-feiras, de uma feira livre naquele local.
 A ideia teve o pleno apoio do prefeito de Natal, que por sua vez havia dado autorização ao fiscal geral da prefeitura para fazer inaugurar no dia 07/02/1945, a feira do Carrasco.
Para o jornal a Ordem prestava-se, assim, mais um grande benefício a população do Carrasco, e as pessoas residentes nas circunvizinhanças, perante a bem avantajada  distância que as separava da feira do Alecrim (A ORDEM, 01/02/1945, p.6).
      Convém lembrar, nesta altura, que é bem animador o movimento religioso no Carrasco, tanto assim que está ampliando a capela São Sebastião, uma vez que a mesma se torna pequena para conter o grande número de fiéis que a frequentam. (A ORDEM, 01/02/1945, p.6).

A inauguração
A edição do dia 08/02/1945 do jornal A Ordem registrou a inauguração da feira do Carrasco ocorrida no dia anterior.Segundo o referido jornal foi graças ao espírito de iniciativa de um grupo de comerciantes conterrâneos, e ao apoio dado pelo prefeito da capital que “foi inaugurado, ontem, a rua Baraúna, no trecho popularmente conhecido por “Carrasco”, a feira livre daquele populoso subúrbio natalense” (A ORDEM, 08/02/1945, p.6, aspas internas do original). O jornal registrou ainda que a instalação da feira, ali, fez-se sob os mais entusiásticos auspícios, pois, foi avultadíssimo o número de pessoas que a ela compareceu, o que bem demonstrava o quanto traria a feira de benefícios às pessoas residentes naquelas imediações (A ORDEM, 08/02/1945, p.6).
A feira do Carrasco funcionaria todas as quartas-feiras (A ORDEM, 08/02/1945, p.6).

                        Rua dos Pegas onde ocorre a feira do Carrasco

                                       Aspectos da feira do Carrasco


O bairro do Carrasco
Um dos bairros ou subúrbios da cidade que estava crescendo aos pulos era o Carrasco segundo o jornal A Ordem em 1946.
Dizia o jornal que não se sabia exatamente a origem do seu nome, mas sem dúvida se referia a vegetação rasteira que deveria ter sido sempre a característica daquela região natalense.
Era a zona mais afastada da Capital a época citada, situado nas proximidades da estrada dos viajantes que vinham do sertão, “naquela tão perigosa marcha para as cidades com o consequente abandono dos campos, é para onde se inclinam os mais pobres a morar” ( A ORDEM, 10/06/1946,p.4) devido a maior soma de facilidades encontradas ali como: terrenos mais em conta, aluguéis de casa, etc dizia o jornal citado.
Ainda para o jornal A Ordem outro fator para o crescimento do bairro do Carrasco foi o fato de que “com a guerra e as grandes obras de Parnamirim, foi vertiginoso o aumento de densidade de casas” (A ORDEM, 10/06/1946,p.4). E  mesmo, passado o “rush” ainda continuavam as construções, de toda espécie, não havendo da parte da prefeitura maiores exigências.
Nisto vai uma censura, dizia o jornal A Ordem, “pois, é justo que se facilite até certo ponto a construção de casas para gente pobre.Mas, o que nos parece que urge fazer-se, é um plano de arruamento, a fim de evitar que fique a situação de tal forma que vá custar, anos depois, uma fortuna em desapropriações” ( A ORDEM, 10/06/1946,p.4).
Do lado da estrada das Quintas para dentro já as casas estavam ficando mais ou menos desarrumadas, sendo oportuno providenciar-se enquanto é tempo. “É uma sugestão que fazemos ao ilustre prefeito da Capital” dizia o referido jornal (A ORDEM, 10/06/1946, p.4).
Mas, o Carrasco precisava de outros cuidados, segundo o mesmo jornal,  de ordem sanitária e de ordem moral-religiosa. Já tinha no bairro uma escola. Mas precisa a de assistência sanitária, “a fim que uma população boa e honesta não se deixe seduzir pelas mentiras comunistas, como está sucedendo”. (A ORDEM, 10/06/1946, p.4).Gente pobre e sem instrução, carente de serviços públicos era o terreno fértil para o ataque comunista sobre as mentes da população daquele lugar.
         Em 1947 o Carrasco já figurava como um dos 11 bairros da Capital potiguar. Os seus limites, segundo o jornal A Ordem eram: ao norte pelo trecho da Avenida Bernardo Vieira desde o cruzamento com a Estrada de Ferro Central até o cruzamento com a rua Romualdo Galvão. Seguindo por esta rua ao sul até a Avenida Capitão-Mor Gouveia e continuando por esta última em direção ao oeste indo encontrar a Estrada de Ferro Natal-Nova Cruz[1] por onde prosseguiria em direção ao norte até o cruzamento da Avenida Bernardo Vieira donde partiu. (A ORDEM, 06/10/1947, p.4).
         A primeira escola do bairro do Carrasco foi a Escola Isolada Getúlio Vargas.
        Em 1947 deu-se inicio pela Ação Católica de Natal a construção  do abrigo Bom Pastor para “mulheres descaídas”.O abrigo daria mais tarde nome ao atual bairro do Bom Pastor.


[1] A época só havia uma ferrovia cortando a capital potiguar devido a fusão em 1939 das duas que havia que passou a chamar-se unicamente de Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, tendo sido o trecho Natal a Nova Cruz sido incorporado a aquela.No entanto, no entendimento popular era como se houvesse duas ferrovias distintas, por isso se citava os nomes das ferrovias como assim fosse.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A ESTAÇÃO SÃO SEBASTIÃO (PADRE JOÃO MARIA)



Cada vez estudamos mais coisas descobrimos sobre a memória ferroviária do Rio Grande do Norte.Desta vez descobrimos a história da estação São Sebastião, atual Padre João Maria no Carrasco, na capital potiguar.
Segundo o jornal A Ordem o diretor da EFSC, João Galvão de Medeiros, havia autorizado a construção da estação do km 4, no Carrasco destinada aos trens suburbano e dentro de poucos dias deveriam entrar em circulação os referidos trens automotrizes movidos a álcool anidro.(A ORDEM,  01/06/1951,p.1).Era um grande melhoramento para ao trafego da EFSC no trecho entre Natal e Nova Cruz segundo o referido jornal.Os trens fariam viagens pela manhã, ao meio dia e a tarde, entre a Ribeira e o Carrasco, cobrando-se preço popular.Durante o percurso haveria diversas paradas a fim de melhor atender aos passageiros.(A ORDEM,  04/07/1951, p.1).
A população residente no km 5, no Carrasco, pediram que a parada final fosse ali e não no km 4, devido neste haver serviço de ônibus e naquele não, além de atender aos  numerosos habitantes daquele trecho.A parada no km 5 facilitaria a comunicação com o Abrigo do Bom Pastor.
Já em 1951 o jornal A Ordem publicava que “é oportuno anunciar que já foi concluída a pequena estação do bairro do Carrasco, (São Sebastião para uns, agora Dix Sept Rosado) devendo brevemente ser iniciado o serviço de trens suburbanos”. (A ORDEM, 19/01/1952, p.1, parêntese do original).

Batizada com o nome de São Sebastião
Os habitantes do Carrasco dirigiram então ao engenheiro João Galvão de Medeiros, diretor da EFSC, um memorial solicitando que fosse denominada “são Sebastião” a parada construída no km 4 da linha Natal –Nova Cruz.Nada, que era conforme o jornal A Ordem uma justa pretensão dos habitantes daquele populoso bairro.( A ORDEM, 10/05/1952, p.4). O engenheiro João Galvão atendeu a solicitação e por despacho denominou “são Sebastião” àquela parada de trens.A denominação era uma homenagem ao padroeiro da localidade cuja a paróquia foi criada em 20/01/1949 na Baixa da Beleza ( av Cel Estevam ou Av. 9).
        A parada São Sebastião foi construída para ser o ponto terminal dos trens suburbanos no trecho entre Natal e Nova Cruz da EFSC. O serviço beneficiaria principalmente a população operária das Quintas, Alecrim e imediações.
        Em 1955 a estação São Sebastião mudou de nome para Padre João Maria conforme indicava o jornal O Poti “a estação de São Sebastião no antigo bairro do Carrasco passará a chamar-se de agora em diante Padre João Maria” (O POTI, 30/11/1955, p.12).
        A nova designação já havia sido aprovada pelo Departamento Nacional de Estradas de Ferro tendo sido sugerida pelo diretor da Estrada de Ferro Sampaio Correia o engenheiro Edilson Fonseca em homenagem a data do cinquentenário da morte do virtuoso sacerdote de Natal.
        Ainda segundo o mesmo jornal a mudança de nome teve em vista evitar a duplicidade de nomes de estações ferroviárias e a nova denominação mereceu aprovação do Conselho Nacional de Geografia e Estatísticas, atual IBGE.

Trem suburbano
         Os trens suburbanos da capital idealizados pela EFSC conduziriam os trabalhadores dos subúrbios à Cidade Alta e Ribeira.
O engenheiro João Galvão de Medeiros, diretor da EFSC, havia comunicado a imprensa que acabava de receber do Departamento Nacional de Estradas de Ferro a comunicação de foram reservadas 3 locomotivas compradas pelo governo federal na França.
Essas locomotivas eram movidas a lenha e eram bastante possantes dizia o jornal a ordem. O jornal ainda dizia que os armazéns da Esplanada Silva Jardim estavam sendo aumentados para receber as referidas locomotivas.
Em 1952 a EFSC aguardava somente a chegada dos motores “Saurer” destinados as automotrizes que fariam o serviço de trens suburbanos e que dependiam da adaptação desses motores nas automotrizes.O engenheiro João Galvão de Medeiros havia dito ao jornal a Ordem que estava tudo organizado para esse serviço.
       Os trens suburbanos, muito embora já estivesse concluída uma das paradas, ainda não foram postos em circulação porque, para melhores resultados, era preferível aguardar a chegada de dois motores que consumiam óleo diesel, que já haviam sido embarcados para Natal, o que seriam utilizados para aquele serviço ao invés das maquinas já existentes queimando álcool anidro.
     Haveria 3 paradas intermediárias, sendo uma no km 3, uma outra na Tração e a terceira no Oitizeiro.Os pontos terminais seriam  a estação da Ribeira e a parada do km 4, no Carrasco.
      A população do bairro Gov. Dix Sept Rosado (antigo Carrasco) enviou um memorial ao engenheiro João Galvão de Medeiros em que solicitava ser batizada a parada daquele bairro com o nome do Padroeiro que invocavam São Sebastião.
      As viagens de 4 km seriam feitas em 10 minutos aproximadamente, e seriam realizadas todos os dias, inclusive aos domingos.Quanto ao numero de viagens por dia, nada estava resolvido em definitivo.Os operários viajariam em confortáveis automotrizes com capacidade para 48 passageiros assentados,e cuja a lotação completa seria de 70 passageiros.Possivelmente no mês de abril os operários teriam esse serviço “tão justa e ansiosamente aguardado”.( a ordem, 29/02/1952, p.4).

                                     A estação Padre João Maria





            A antiga estação Padre Maria foi demolida em 1986 e em seu lugar erguida a atual parada da CBTU dos trens metropolitanos da linha sul Natal-Parnamirim.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

CÂMARA CASCUDO COMENDADOR DA ORDEM DE SÃO GREGÓRIO MAGNO



         Em 1956 o escritor natalense Luiz da Câmara Cascudo recebeu das mãos de Dom Eugênio Sales, potiguar de Acari, a época bispo auxiliar de Natal, a comenda da Ordem de São Gregório Magno, que lhe foi conferida pelo Papa Pio XII.
         A cerimônia de entrega foi realizada na capital potiguar tendo sido assistida por grande número de pessoas.A Comenda de São Gregório Magno era a 11ª conferida ao escritor potiguar.

Fonte: Diário de Pernambuco, 15/03/1956, p.3


Fonte: Diário de Pernambuco, 1956.
              A imagem a cima mostra Câmara Cascudo ilustrando a noticia do jornal Diário de Pernambuco do recebimento da Comenda da Ordem de São Gregório Magno pelo ilustre escritor potiguar.

A Ordem de São Gregório Magno
A Pontifícia Ordem Equestre de São Gregório Magno foi criada em 1 de setembro de 1831, pelo Papa Gregório XVI, sete meses após sua eleição, em homenagem ao seu primeiro predecessor homônimo, do qual tomou o nome.
A ordem tem quatro classes:
Ø  Cavaleiro / Dama Grã-Cruz de primeira classe.
Ø  Cavaleiro / Dama Grã-Cruz de segunda classe.
Ø  Cavaleiro Comendador / Dama Comendadora.
Ø  Cavaleiro / Dama.
Esta é uma das cinco ordens pontifícias da igreja católica, segue a Ordem Piana e tem precedência sobre a Ordem de São Silvestre Magno. A ordem é conferida tanto a homens quanto a mulheres – e, raramente, a homens não católicos – em reconhecimento a seus serviços à Igreja, feitos notáveis, apoio à Santa Sé e ao bom exemplo dado à sociedade. É conferida a militares com o grau mínimo de major.
Tem o privilégio de ser saudado pela Guarda Suíça do Vaticano e tem precedência sobre a Ordem de São Silvestre Magno, Ordem Soberana e Militar de Malta e Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. Os cavaleiros da classe Grã-Cruz de primeira classe recebem tratamento de Sua Excelência.
O mote da ordem é Pro Deo et Principe.
O decreto inicial determina que, em parte, "cavalheiros de lealdade provada à Santa Sé que, por razões de nobreza de nascimento e renome de seus feitos ou grau de sua , são merecedores de ser honrados por uma expressão pública de estima por parte da Santa Sé". Ao final, conclui que os galardoados devem progressivamente manter, por méritos contínuos, a reputação e confiança já inspirada, provando-se merecedores da honraria, servindo a Deus e ao pontífice. A honraria não implica nenhuma obrigação particular à Igreja.
Insígnia
Cruz de oito pontos, figurando São Gregório Magno no anverso e, no reverso, o mote Pro Deo et Principe. Sustentada por uma fita vermelha com orlas douradas. Na heráldica eclesiástica, a grã-cruz é representada com sua fita circundando o brasão, ao passo que os graus inferiores mostram apenas o distintivo pendurado pela fita abaixo do escudo.

                A insignia da Ordem de São Gregório Magno

Fonte: Wikipedia.

Os privilégios
         Os privilégios da Ordem de São Gregório Magno são:
Ø  Ser saudado pela Guarda Suíça do Vaticano.
Ø  Precedência sobre a Ordem de São Silvestre Magno, Ordem de Malta e Ordem do Santo Sepulcro.
Ø  O direito de andar a cavalo dentro da Basílica de São Pedro, no Vaticano, o que não tem sido feito há muito tempo.
  Os cavaleiros da classe Grã-cruz de 1º classe recebem tratamento de Sua Excelência.



Fonte: Wikipédia.

A ELEVAÇÃO DA DIOCESE DE NATAL A ARQUIDIOCESE




A arquidiocese de Natal foi criada pela bula papal Ardum omines pela qual a Diocese foi elevada a categoria de Arquidiocese e o bispo a dignidade de Arcebispo Metropolitano
A instalação da Arquidiocese de Natal ocorreu em 15/08/1952 ocasião em que houve grandes festividades em Natal para marcar o acontecimento que segundo o jornal A Ordem “a data de amanhã transcorre, 15 de agosto - assinalará um marco indelével na história do Rio Grande do Norte, com a instalação oficial de nossa Arquidiocese velha aspiração dos nossos católicos que agora se concretiza dentre as mais espontâneas demonstrações de regozijo e de ações de graças a Deus”.
      O pontificado do Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, deixará para nosso Estado esse marco glorioso que veio de encontros as justas aspirações dos católicos norteriograndenses, ao mesmo tempo que permitiu ao grande arquiteto dessa conquista gloriosa, que é, inegavelmente o Exmo e revmo Dom Marclino Esmeraldo de Souza  Dantas, nosso primeiro Arcebispo Metropolitano dizia ainda o mesmo jornal.
      Para o jornal “ao querido Pastor natalense cabem, portanto, as honras desse auspicioso acontecimento, pois, ninguém desconhece a ação apostólica de Dom Marcolino Dantas a frente da Diocese de Natal quer como pioneiro de grandes movimentos em favor do bem espiritual de nossa gente, quer como iniciador de importantes obras  sociais e educativas, que ai estão florescentes e vitoriosas em suas ininterruptas atividades.Com a organização e criação das Dioceses de Mossoró e Caicó por iniciativa do nosso atual Arcebispo, foi muito feliz o gesto da Santa Sé, em conceder ao Prelado natalense a honra de ser nosso primeiro Arcebispo”.
    Justificava-se, assim, plenamente, a alegria que invadia a alma católica do povo potiguar, nas vésperas da instalação oficial da Arquidiocese e posse do seu primeiro Arcebispo.

O que é um arcebispo e uma arquidiocese?
         O arcebispo é o chefe hierárquico de uma Província Eclesiástica, que por sua vez é formada por 3 ou mais dioceses das quais, geralmente, a mais antiga é elevada a categoria de Arquidiocese ou Sé Metropolitana.No caso do Rio Grande do Norte, a Província Eclesiástica foi criada pela existência de três dioceses que são: Natal (criada em 1909), Mossoró (criada em 1934) e Caicó (criada em 1939), sendo estas duas últimas denominadas dioceses sufragâneas.Na Arquidiocese, o poder do Arcebispo é sobretudo supletivo, como se verifica do Código de Direito Canônico (Cân. 274).
       A insígnia do Arcebispo é o ‘Pálio’, isto é, uma fita de 6 cm de largura, feita de lã branca, como 6 cruzes de seda preta sobreposta, a ser colocada sobre os ombros com 2 pontas que finalizam numa peça de seda.A lã do pálio é feita de dois cordeiros bentos na festa de Santa Inês e que depois de feito o pálio será entregue pelo papa ao bispo eleito como Arcebispo.
       O significado do pálio de lã de cordeiros e o trazê-lo sobre os ombros, lembram ao Arcebispo as virtudes do Bom Pastor no exercício de sua jurisdição.
        No tocante a igreja catedral, ao ser criada a Arquidiocese ela passa a ter a dignidade de Catedral Metropolitana ou Sé Metropolitana, sendo o mais usual a primeira denominação, consagrada aqui no Rio Grande do Norte em alusão a catedral. Já o Arcebispo pode ser chamado também de Metropolita.

A  festa de instalação
         Para assinalar o acontecimento, grandes festas foram realizadas na capital, iniciando com as missas em ação de graças e comunhão geral dos fiéis “numa prece uníssona aos céus, neste dia glorioso da Assunção de Nossa Senhora”.
        As 07h00 na Catedral Metropolitana houve missa festiva comparecendo as Filhas de Maria, cujo dia se celebrava mundialmente naquela data, além da Congregação Mariana.
         Foi celebrante o Mons. Paulo Mosconi, secretário da Nunciatura Apostólica, que veio a Natal presidir a instalação da Arquidiocese.

A solenidade de instalação na catedral
      As 16h00 partira do Palácio Arquidiocesano o cortejo que acompanhava Dom Marcolino Dantas até a Catedral, onde seria realizada em seguida a instalação da Arquidiocese norte riograndense.
        O templo ficou pequeno para contar as altas autoridades civis, militares e eclesiásticas e o povo em geral devendo comparecer a Catedral o Clero, o seminário, a Ação Católica, as irmandades, as Congregações Marianas, as Comunidades Religiosas, os Colégios, representações de instituições católicas e associações religiosas das diversas paróquias da cidade segundo se dizia no jornal A Ordem.
      Estiveram presentes o Governador Silvio Pedrosa, o Desembargador Adalberto Amorim, presidente do Tribunal de Justiça, que foram paraninfos das solenidades de instalação da Arquidiocese.
     Ao ato compareceram, além de numerosos sacerdotes deste e de outros estados, os Arcebispo da Paraíba, Dom Moisés Coelho, mons. Paulo Mosconi, legado da Nunciatura Apostólico, dom José Adelino Dantas, a época Bispo eleito para Caicó, Mons. Walfredo Gurgel, vigário capitular da Diocese de Caicó, mons. Odilon Coutinho, vigário Geral da Arquidiocese da Paraíba, cabendo a presidência da solenidade ao representante do Nuncio Apostólico no Brasil. Por motivo de saúde não compareceu o Bispo de Mossoró Dom João Batista Portocarrero.
    Após a leitura das Bulas o que foi feito pelo Mons. Mosconi deu-se a instalação da Arquidiocese, seguindo-se a leitura da Ata alusiva ao ato e a oração gratulatória, a cargo do Mons. Walfredo Gurgel, renomado orador sacro.
    Depois foi cantado o solene Te Deum, pelo orfeão dos salesianos, encerrando-se as cerimônias com benção do Santíssimo  Sacramento.
      A banda de música da Policia Militar tocou em frente a Catedral.
         Todas as fases da cerimônia de instalação da Arquidiocese foram retransmitidas pela Rádio Poti.

Sessão solene a noite no Teatro Carlo Gomes
        Como encerramento das grandes festas do dia 15/108/1852 foi realizada as 20h00 no Teatro Carlos Gomes (atualmente Alberto Maranhão) solene sessão comemorativa em agradecimento a Santa Sé pela criação da Arquidiocese e de reconhecimento ao gesto de Sua Santidade o Papa Pio XII gloriosamente reinante.
     Compareceram altas autoridades federais, estaduais e municipais, sendo a entrada franca ao povo em geral, que numa demonstração de agradecimento a Santa Sé pela ereção da Arquidiocese compareceu ao teatro em grande multidão.
      No saguão do teatro tocou a banda do 16º R. I, sendo a solenidade irradiada pela emissora local.
      Na sessão solene realizada no teatro falaram os seguintes oradores: Mons. João da Mata Paiva, Vigário Geral da Arquidiocese, que interpretou os sentimentos do Clero norteriograndense; Cônego Luiz Vanderlei, professor do Colégio Estadual e brilhante orador sacro, saudando o Santo Padre, o Sr. Núncio Apostólico e ao seu digno Legado, Mon. Mosconi; Dr. Américo de Oliveira Costa, Secretário Geral do Estado, nome do  Governador e do Estado, em agradecimento a Santa Sé pela honrosa deferência concedida ao Rio Grande do Norte; Comendador Otto Guerra, presidente da Junta Arquidiocesana de Ação Católica, falaram em nome das associações religiosas, padre Neves Gurgel, Secretário Geral da Arquidiocese, saudando o Arcebispo e Bispos presentes.
   O Arcebispo Metropolitano Dom Marcolino Dantas, encerrou a cerimônia de agradecimento.
Almoço íntimo
      As 12h00 do dia 16/108/1952 o Arcebispo Dom Marcolino Dantas ofereceu um almoço intimo em seu Palácio aos 3 prelados presentes, comparecendo ao ágape diversos sacerdotes.

Banquete oferecido pelo governo no sábado
     Expressando de maneira fidalga a satisfação do Governo pela elevação da nossa Diocese a Arquidiocese, o governador Silvio Piza Pedrosa ofereceu, no sábado, dia 17/08/1952, as 12h00 nos salões da Escola Doméstica de Natal lauto banquete ao  primeiro Arcebispo potiguar homenageando, deste modo, as dignidades da Igreja que estiveram presentes a ocasião. Compareceram autoridades e pessoas gradas, especialmente convidadas.


Fonte: A Ordem, 14/08/1952, p.1