sábado, 5 de janeiro de 2019

A FEIRA E O BAIRRO DO CARRASCO



       Quem passa as quartas-feiras pela Avenida Bernardo Vieira próximo ao cruzamento com linha do trem e sente o nauseante cheiro de peixe sabe que está se aproximando da feira do Carrasco, tradicional e pitoresca feira da capital potiguar.A seguir a origem dessa feira e do bairro.

A feira do Carrasco
         A feira do Carrasco é uma tradicional feira existente em Natal realizada as quartas-feiras no cruzamento da rua dos Pegas com a avenida Bernardo Viera no atual bairro de Dix Sept Rosado.
Sua origem deu-se em vista do grande número de habitantes residentes no Carrasco, então subúrbio na capital, onde um grupo de comerciantes, tendo a frente os Srs. José Joaquim de Andrade, Manoel Cândido filho, Pedro Ferreira da Silva, Aprizio Joaquim de Oliveira e Francisco Lourenço dos Santos, que estiveram com o Prefeito da capital pleiteando a instalação nas quartas-feiras, de uma feira livre naquele local.
 A ideia teve o pleno apoio do prefeito de Natal, que por sua vez havia dado autorização ao fiscal geral da prefeitura para fazer inaugurar no dia 07/02/1945, a feira do Carrasco.
Para o jornal a Ordem prestava-se, assim, mais um grande benefício a população do Carrasco, e as pessoas residentes nas circunvizinhanças, perante a bem avantajada  distância que as separava da feira do Alecrim (A ORDEM, 01/02/1945, p.6).
      Convém lembrar, nesta altura, que é bem animador o movimento religioso no Carrasco, tanto assim que está ampliando a capela São Sebastião, uma vez que a mesma se torna pequena para conter o grande número de fiéis que a frequentam. (A ORDEM, 01/02/1945, p.6).

A inauguração
A edição do dia 08/02/1945 do jornal A Ordem registrou a inauguração da feira do Carrasco ocorrida no dia anterior.Segundo o referido jornal foi graças ao espírito de iniciativa de um grupo de comerciantes conterrâneos, e ao apoio dado pelo prefeito da capital que “foi inaugurado, ontem, a rua Baraúna, no trecho popularmente conhecido por “Carrasco”, a feira livre daquele populoso subúrbio natalense” (A ORDEM, 08/02/1945, p.6, aspas internas do original). O jornal registrou ainda que a instalação da feira, ali, fez-se sob os mais entusiásticos auspícios, pois, foi avultadíssimo o número de pessoas que a ela compareceu, o que bem demonstrava o quanto traria a feira de benefícios às pessoas residentes naquelas imediações (A ORDEM, 08/02/1945, p.6).
A feira do Carrasco funcionaria todas as quartas-feiras (A ORDEM, 08/02/1945, p.6).

                        Rua dos Pegas onde ocorre a feira do Carrasco

                                       Aspectos da feira do Carrasco


O bairro do Carrasco
Um dos bairros ou subúrbios da cidade que estava crescendo aos pulos era o Carrasco segundo o jornal A Ordem em 1946.
Dizia o jornal que não se sabia exatamente a origem do seu nome, mas sem dúvida se referia a vegetação rasteira que deveria ter sido sempre a característica daquela região natalense.
Era a zona mais afastada da Capital a época citada, situado nas proximidades da estrada dos viajantes que vinham do sertão, “naquela tão perigosa marcha para as cidades com o consequente abandono dos campos, é para onde se inclinam os mais pobres a morar” ( A ORDEM, 10/06/1946,p.4) devido a maior soma de facilidades encontradas ali como: terrenos mais em conta, aluguéis de casa, etc dizia o jornal citado.
Ainda para o jornal A Ordem outro fator para o crescimento do bairro do Carrasco foi o fato de que “com a guerra e as grandes obras de Parnamirim, foi vertiginoso o aumento de densidade de casas” (A ORDEM, 10/06/1946,p.4). E  mesmo, passado o “rush” ainda continuavam as construções, de toda espécie, não havendo da parte da prefeitura maiores exigências.
Nisto vai uma censura, dizia o jornal A Ordem, “pois, é justo que se facilite até certo ponto a construção de casas para gente pobre.Mas, o que nos parece que urge fazer-se, é um plano de arruamento, a fim de evitar que fique a situação de tal forma que vá custar, anos depois, uma fortuna em desapropriações” ( A ORDEM, 10/06/1946,p.4).
Do lado da estrada das Quintas para dentro já as casas estavam ficando mais ou menos desarrumadas, sendo oportuno providenciar-se enquanto é tempo. “É uma sugestão que fazemos ao ilustre prefeito da Capital” dizia o referido jornal (A ORDEM, 10/06/1946, p.4).
Mas, o Carrasco precisava de outros cuidados, segundo o mesmo jornal,  de ordem sanitária e de ordem moral-religiosa. Já tinha no bairro uma escola. Mas precisa a de assistência sanitária, “a fim que uma população boa e honesta não se deixe seduzir pelas mentiras comunistas, como está sucedendo”. (A ORDEM, 10/06/1946, p.4).Gente pobre e sem instrução, carente de serviços públicos era o terreno fértil para o ataque comunista sobre as mentes da população daquele lugar.
         Em 1947 o Carrasco já figurava como um dos 11 bairros da Capital potiguar. Os seus limites, segundo o jornal A Ordem eram: ao norte pelo trecho da Avenida Bernardo Vieira desde o cruzamento com a Estrada de Ferro Central até o cruzamento com a rua Romualdo Galvão. Seguindo por esta rua ao sul até a Avenida Capitão-Mor Gouveia e continuando por esta última em direção ao oeste indo encontrar a Estrada de Ferro Natal-Nova Cruz[1] por onde prosseguiria em direção ao norte até o cruzamento da Avenida Bernardo Vieira donde partiu. (A ORDEM, 06/10/1947, p.4).
         A primeira escola do bairro do Carrasco foi a Escola Isolada Getúlio Vargas.
        Em 1947 deu-se inicio pela Ação Católica de Natal a construção  do abrigo Bom Pastor para “mulheres descaídas”.O abrigo daria mais tarde nome ao atual bairro do Bom Pastor.


[1] A época só havia uma ferrovia cortando a capital potiguar devido a fusão em 1939 das duas que havia que passou a chamar-se unicamente de Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, tendo sido o trecho Natal a Nova Cruz sido incorporado a aquela.No entanto, no entendimento popular era como se houvesse duas ferrovias distintas, por isso se citava os nomes das ferrovias como assim fosse.

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