quinta-feira, 17 de junho de 2021

SOBRE O MUNICÍPIO DE PARAZINHO #4

 

EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E ADMINISTRATIVA DE PARAZINHO


         Parazinho constituiu distrito do município de Baixa Verde/João Câmara entre 1928 até 1962.

         Em 24/04/1962 deu entrada na secretaria da Assembleia Legislativa o projeto de autoria do deputado estadual Aluizio Bezerra pleiteando a criação do município de Parazinho, desmembrado do de João Câmara (DIÁRIO DE NATAL, 24/04/1962, p.60).

         Em 02/05/1962 foi aprovado o projeto da criação do município de Parazinho através da Lei nº 2.753, desmembrando-o de João Câmara, entretanto, o governador Aluizio Alves vetou este e mais 13 projetos de criação de municípios sob a alegação de que nenhum preenchia as condições necessárias em lei federal para tanto.

A aprovação ocorreu em 08/05/1962 e o decreto de criação do novo município foi publicado no dia 09/05/1962 o qual estabelecia o prazo de até 30 dias para a sua instalação e tendo sido destinado pelo mesmo decreto o crédito de 300 mil cruzeiros para essa finalidade.

Parazinho tornava-se assim a partir daquela data um novo município do Rio Grande do Norte, com sede no ex-povoado de Parazinho doravante elevado a categoria de cidade.

         De acordo com os dados do VII Recenseamento do Brasil, realizado em 1960 pelo IBGE, Parazinho não preenchia os dispositivos da Le nº 2.260 de 14 de dezembro de 1959 que no seu art. 3º exigia como condição imprescindível, população mínima de 10 mil habitantes para a constituição de um novo município (DIÁRIO DE NATAL, 09/05/1962, p.6)

         Por essa razão, o então governador do Estado, Aluizio Alves havia vetado a criação de Parazinho e outros 7 municípios criados por leis da Assembleia Legislativa naquele ano de 1962, porém as manobras políticas dos deputados acabaram por impor as vontades dos mesmos que criaram as respectivas leis de criação desses 8 municípios que não tinham condições de serem segundo a lei federal.

Primeira eleição

         A primeira eleição no recém-criado município de Parazinho ocorreu em 1963 entre Jaime Boa da Câmara (PSD) e Domingos Pereira (PTB) tendo sido eleito o primeiro. Em 1962 constavam apenas 416 eleitores no município de Parazinho (O POTI, p. 17/11/1963, p.4).


Prédio da prefeitura de Parazinho.

Prefeitos

O primeiro prefeito do recém-criado município de Parazinho foi Jaime Boa da Câmara (PSD) cujo mandato durou até 1968.

Em 1968 foi eleito Floriano Soares da Cruz com maioria de 163 votos. Em 1972 foi eleito prefeito em Parazinho Jaime Boa da Câmara.

Em 1983 foi eleito Domingos Paulino Pereira como prefeito do município de Parazinho.        

Visita do governador Tarcisio Maia

Demografia

         O Censo de 1960 não computou a população de Parazinho, pois o mesmo ainda figurava como distrito de João Câmara, tendo sido computado no âmbito geral desse município.

         Os primeiros dados referentes a demografia do município de Parazinho são os do Censo de 1970, o qual acusou uma população de 2.527 habitantes, dos quais 1.274 homens e 1.253 mulheres.

Em 1980 constava 3.762 habitantes em Parazinho, segundo o Censo do IBGE realizado naquele ano.

         O Censo de 1991 apontou uma população de 3.080 habitantes em Parazinho, dos quais 2.038 homens e 1.941 mulheres.

        Já em 2000 o Censo apontou 4.3.28 habitantes, sendo 2.189 homens e 2.136 mulheres. 3.060 moravam na área urbana e 1.265 na área rural.

       O Censo de 2010 apontou população de 4.845 habitantes, dos quais 3.137 na área urbana e 1.708 e área rural.

         A estimativa do IBGE em 2020 era de 5.272 habitantes.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

SOBRE O MUNICÍPIO DE PARAZINHO #3

 

                             PARAZINHO COMO DISTRITO DE BAIXA VERDE


      Criado o município de Baixa Verde em 29/10/1928 a pequena povoação existente em Parazinho passou a fazer parte do território daquele município condição vigente até 1962 quando foi emancipado política e administrativamente.

Segundo Anfilóquio Câmara os povoados de Parazinho e Queimadas eram os mais prósperos do município de Baixa Verde graças á larga cultura de algodão que se faz na região. Havia já na década de 1940 uma meta usina, pertencente a Joaquim de Castro, em Parazinho, e um descaroçador de algodão.

         Os principais eventos que caracterizam esse período são os que se seguem.

O distrito policial

         O distrito policial de Parazinho foi criado em 1929 estando subordinado ao município de Baixa Verde (MENSAGENS DO GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO NORTE PARA ASSEMBLÉIA, 1929, p.87).

         Em 1934 foi nomeado o guarda civil Salomão Martins Trindade como subdelegado de Parazinho (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 16/10/1934, p.2), já em 22/12/1935 assumiu a função naquele distrito policial o cabo José Câmara (A ORDEM, 22/12/1935, p.4).

Em 21/05/1937 foram nomeados Antônio Trigueiro, Joaquim de Castro e Erotides de Castro como 1º, 2º e 3º suplentes de subdelegado do distrito de Parazinho, respectivamente (A ORDEM, 21/05/1937, p.2).

         Para o lugar vago de subdelegado do distrito de Parazinho, do município de Baixa Verde, foi nomeado em 21/07/1937 o 2º suplente Joaquim de Castro e Silva (A ORDEM, 21/07/1937, p.4).   

Mercado público

         Segundo Anfilóquio Câmara a construção dos mercados públicos na vila de São Bento do Norte e nos povoados de Parazinho e Queimadas do município de Baixa Verde ocorreu em 1932 (CÂMARA, Anfilóquio. Cenários Municipais. (1941-1942). 1943, p.77-86).


Atual mercado público de Parazinho

         De acordo com o jornal A Ordem, em 16/12/1951 foi inaugurado o mercado público de Parazinho (A ORDEM, 15/05/1952, p.4).

A escola

O prédio da escola isolada começou a ser construído pelo governo do estado em 1934.

Em 29/10/1942 o Interventor Federal assinou o decreto nº 1.193 o qual deu a denominação de “Professor Miguel Monteiro” a Escola Isolada de Parazinho, do município de Baixa Verde (A ORDEM, 03/11/1942, p.2).

         Em 27/01/1943 foi nomeada a professora diplomada Azenete Borges de Paiva para exercer o cargo de professora de 4ª classe na Escola Isolada Professor Miguel Monteiro, de Parazinho, do município de Baixa Verde (A ORDEM, 27/01/1943, p.3).

         No dia 10/02/1945 o Interventor Federal assinou o decreto removendo, por permuta, a professora Joanita da Costa Fonseca, ocupante do cargo de professora de 3ª classe nas Escolas Reunidas Amaro Cavalcanti, da cidade de São Tomé, para a Escola Isolada Professor Miguel Monteiro, na povoação de Parazinho, no município de Baixa Verde, onde estava lotada Azenete Borges de Paiva (A ORDEM, 14/02/1945, p.2).

A capela      

         A capela de Parazinho, cujo orago é Nossa Senhora de Nazaré, filia da paróquia de Baixa Verde, começou a ser construída no inicio da década de 1930. Em 26/09/1936, de acordo com o jornal A Ordem, foi realizada uma festa  beneficio da construção da capela local, tendo sido a festa promovida pela professora Lili Trigueiro, que com seus alunos levaram à cena o drama “as três virtudes”, com outros número.

         Compareceram à festividade diversas pessoas de Baixa Verde. No dia seguinte, houve missa, onde o vigário de Baixa Verde chamou a atenção dos fiéis para que auxiliassem na medida de suas posses, a edificação do templo (A ORDEM, 11/10/1936, p.2).


Aspectos de Parazinho


Pessoas

         O jornal A Ordem cita na década de 1930 a 1950 nomes de pessoas residentes em Parazinho. Naturalmente não foram os primeiros moradores da localidade, mas se configuram com pessoas mais antigas daquele lugar.Não é nossa intenção a elaboração de uma pesquisa genealógica, que poderá ser feita por outras pessoas mais capacitadas no assunto, mas os nomes que se seguem podem contribuir nesse estudo.

         Em 1938 o jornal A Ordem cita João Rabelo como comerciante em Parazinho (A ORDEM, 10/03/1938, p.4).Em 1941 o referido jornal cita João de Castro também comerciante em Parazinho (A ORDEM, 10/07/1941, p.4).

Em 27/02/1941 o jornal A Ordem registrou o casamento de ocorrido na Catedral de Natal do casal Maria de Lourdes Alves Pereira e Miguel França, residentes em Parazinho, do município de Baixa Verde (A ORDEM, 27/02/1941, p.4).

Joaquim de Castro é citado como comerciante em Parazinho (A ORDEM, 25/05/1942, p.4).

Em 1951 é citado Jorge de Bastos como comerciante em Parazinho, do município de Baixa Verde (A ORDEM, 10/07/1951, p.2) e Manoel da Silva Tarquínio como fazendeiro em Santo Isidio em Parazinho, do município de Baixa Verde (A ORDEM, 02/08/1951, p.2).

A Agência Postal

Conforme o jornal A Ordem o povoado de Parazinho, no município de Baixa Verde, vinha crescendo bastante, sem que, porém, tivesse até 1949 sido beneficiado com uma agência postal dos correios, quando o transporte de correspondências de Baixa Verde para aquela localidade era feita quase diariamente.

         Em virtude disto, o povo de Parazinho, por intermédio do citado jornal apelava para o Diretor dos Correios e Telégrafos para que fosse instalada ali uma agência dos correios (A ORDEM, 07/11/1949, p.10).

Usina elétrica

         Segundo o relatório do prefeito de Baixa Verde em 1952 seria instalada um usina elétrica no povoado de Parazinho, mediante a aquisição de um motor e demais acessórios elétricos destinados ao fornecimento de luz pública e particular, que era uma antiga e justa aspiração do povo (DIÁRIO DE NATAL, 19/06/1952, p.4).

Cemitério

         Em relatório apresentado ao jornal Diário de Natal, o então prefeito de Baixa Verde, Francisco Bittencourt, relatou que havia construído o cemitério da povoação de Parazinho dentre outras obras no referido município (DIÁRIO DE NATAL, 24/05/1953, p. 6).



terça-feira, 15 de junho de 2021

SOBRE O MUNICÍPIO DE PARAZINHO #2

    

OS POÇOS TUBULARES DA IFOCS

 MARCO DE DESENVOLVIMENTO DE PARAZINHO


         Parazinho surgiu numa região de difícil acesso a água potável, essencial em qualquer aglomerado humano para a sua sobrevivência. A região no entanto, era propicia a plantação da cultura do algodão. Para resolver o problema do acesso a água o Governo Federal por meio da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS (atual DNOCS), perfurou vários poços na região mais assolada pelas secas, muitos na região que atualmente compreende o território do município de Parazinho.

        O relatório do prefeito de Baixa Verde, João Câmara em 1930 apontou que na povoação de Parazinho havia um poço movido por um motor a gás pobre, que apesar de se propriedade particular, muito vinha concorrendo para o desenvolvimento agrícola da região (DIÁRIO DE NOTICIAS, RJ, 18/07/1930, p.6).

         A região de Parazinho tinha escassez de água potável necessária a fixação do povo que já habitava aquelas terras onde se plantava algodão. Foi a construção do poço “Quixabeira”, no povoado de Parazinho que permitiu o acesso ao precioso liquido naquela região.

         O poço tubular foi construído pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas-IFOCS (atual DNOCS) constando de um catavento, reservatório em alvenaria e cimento armado, com capacidade para 80.000 litros e um chafariz (A NOITE, 19/01/1935, p.4).

         Segundo o citado jornal, Parazinho era um dos maiores centros produtores da Serra Verde, tendo o povoado se formado depois da construção do poço e já em 1935 possuía mercado público e boa feira aos domingos.

Poço Quixabeira

                                                             Fonte: A NOITE, 19/01/1935, p.4.

         Em 1937 engenheiro Francisco Ramalho, fiscal do Serviço de Poços, deu conhecimento ao Governo do Estado, que foi concluída a perfuração do poço “Parazinho”, situado no povoado de mesmo nome, no município de Baixa Verde, tendo o referido poço a profundidade de 86,40m, revestimento com tubos de 64,68m, nível estático de 47,60m, vazão de 2.680 litros/h e qualidade de água calcária (A ORDEM, 31/08/1937, p.4).

Em 1942 a firma João Câmara& Irmãos requereu a Inspetoria de Obras Contra as Secas a perfuração de poços tubulares pelo regime de cooperação em propriedades situadas no município de Baixa Verde. Foram aprovados os orçamentos para a perfuração de poços em Parazinho, Três Irmãos, Viração, São Geraldo, Pereiras e Cabeço Vermelho (A ORDEM, 29/12/1942, p.1).


SOBRE O MUNICÍPIO DE PARAZINHO #1

           O município de Parazinho está situado no território do Mato Grande a 11 km de Natal. Damos a seguir inicio a uma série de postagens a respeito da história desse município potiguar.

Primórdios 

        O povoado se originou de uma fazenda de gado edificada em terreno seco e com difícil acesso à água, localizado numa área de grande produção algodoeira, núcleo de convergência das safras da Serra Verde.

         A menção mais antiga por nós encontrada citando Parazinho data de 1924. Trata-se do relato de Manuel Balbino de Barros a respeito do drama das cheias dos rios na região nordeste.

         Segundo ele: ”em 1924, assisti a drama quase como esse que agora surpreende as populações do Nordeste, quando os rios arrastavam, igualmente, para o Atlântico, animais, plantações e muitos dos nossos irmãos sofredores...

          Criança ainda, eu viajavam, não obstante os inúmeros perigos que oferecia aquele ano de pesado inverno, pelo interior do Rio Grande do Norte, quando fomos obrigados a interromper a viagem pela imposição de impetuosa noite de inverno. Ficamos nos Poços, entre Taipu e Vila de Touros, onde encontramos, debaixo de humilde mercado daquela povoação dos tabuleiros norteriogradenses, muito almocreves que também viajavam rumo as feiras, com carregamento de peixe.

        Armamos as redes, embora não nos fosse possível dormir. Os mais velhos, sob os ribombos temerosos, bradavam em aflição: ‘rezem, rezem!’. E eu, não obstante ser menino, sabia rezar e compreendia aquela situação, pois transviados não havia ainda naquelas paragens. Obedeci tão rápido quanto os demais. Ao clarear dos relâmpagos, que se alternavam com os trovoes de estalo, viam-se nitidamente baterem, velozes os lábios pálidos daqueles viajantes, em preces a mãos postas ‘Deus é grande’, diziam uns e repetiam outros, todos tremendo de frio e medo.

         Os animais amanheceram no mesmo lugar onde haviam sido deixados. Alguns que ousaram afastar-se dali foram arrancados a pá, na manhã seguinte. Os tabuleiros abrejaram. Os rios tinham fluxo e refluxo como o próprio mar!...Quase não chegávamos em Parazinho, que era o nosso destino (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 13/04/1960, p.4).

         Conforme o relatório do Ministério da Agricultura de 1926 a fazenda Parazinho era de propriedade de João Severiano da Câmara, tendo a referida fazenda 40.000m², produzia algodão, cuja despesa naquele ano de 1926 foi de 607$928, receita de 1.906$000 e lucro de 1.352$072 (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1926, p.85).

         Essa informação demonstra a ligação dos primórdios de Parazinho com o município de Taipu, pelas razões que seguem. O proprietário da fazenda como dito pelo referido relatório era João Severiano da Câmara, conhecido industrial e político do Rio Grande do Norte, que em 1926 exercia o cargo de prefeito de Taipu, sendo a fazenda de sua propriedade a mesma foi (e está) registrada no cartório de Taipu em cujo território estava situada a dita fazenda.

         Em mapas de 1927 em que mostra a região do Mato Grande se cita a localidade de Nazaré onde atualmente se situa o município de Parazinho, levando a crer que por aquela época já haveria sinais de uma incipiente povoação criada a partir dos trabalhadores da fazenda.

         A propriedade Parazinho passará ao território do município de Baixa Verde a partir da criação desse município em 29/10/1928, o proprietário, no entanto, continuaria o mesmo João Câmara, nomeado como primeiro prefeito daquele novo município.

         Com a alta produção do algodão na região que tinha à frente o dinâmico líder João Severiano da Câmara, o território começava a crescer com o grande número de pessoas que lá chagavam e que transformaram o povoado num acampamento mercantilista, centro de negócios e escritório comercial, lugar que recebia e expedia o algodão para a sede do município.

         No ano de 1930 começa o povoado de Parazinho começa a dá sinais de progresso e crescimento, contando com a infraestrutura de poço tubular, capela, escola e mais de 500 habitantes. O comércio se tornara mais intenso e já contava com armazéns, lojas e a realização de concorridas feiras.

Aspectos de Parazinho
Continua...

domingo, 13 de junho de 2021

A EXTRAORDINÁRIA AVENTURA DE 5 ESCOTEIROS POTIGUARES EM 1923


      Em 2023 se comemorará o Centenário da extraordinária aventura realizada por 5 escoteiros potiguares que partiram de Natal até São Paulo a pé, a qual honra o nome do escotismo não somente a nível regional como também a nível nacional.Foi uma verdadeira Epopéia!

         Os escoteiros potiguares deram uma extraordinária prova de tenacidade e energia ao realizar a pé o percurso entre Natal e São Paulo, por isso mesmo não se pode deixar cair no esquecimento esse fato histórico.

         De acordo com a revista A Voz do Mar a extraordinária prova realizada pelos pescadores potiguares que se aventuraram em botes sem bússolas num raid Natal-Rio de Janeiro em 1922 sob a admiração de quantos vibraram e confiaram nas coisas do Brasil foi o que motivou os escoteiros andantes de Natal a repetir a façanha desta vez por terra em 1923 e estendendo o percurso até São Paulo, onde a época se localizava a sede da Associação Nacional dos Escoteiros do Brasil, atualmente a União dos Escoteiros do Brasil-UEB.

         Foram cerca de 5.000 km percorridos sob toda a sorte de perigos e privações. "Seria fácil a qualquer tropeço maior, voltarem sobre os passos. Mas nem um momento isso passou pelo espírito dos 5 heróis potiguares.Eles venceram, de etapa em etapa, resolutos e confiantes" registrou a revista A Voz do Mar.

         A pequena patrulha de 5 escoteiros era formada por José Alves Pessoa (chefe); Humberto Lustosa da Câmara (guia); Henrique D. Borges (monitor), Agnaldo Vasconcelos e Antonio Gonzaga da Silva.Todos jovens entre 17 e 20 anos.

  

A longa travessia pelos sertões

         Durante a longa travessia pelos sertões a pequena patrulha percorreu cerca de 600 cidades, vilas e lugarejos.De todas traziam interanssantíssimos documentos de sua passagem registrados num livro de viagem que os mesmos traziam com a finalidade de documentar a aventuras por eles realizada.

         Nesse livro de registro figurava como de mais alta expressão a assinatura de próprio punho dos governadores de todos os Estados em cujas capitais estiveram e onde foram sempre carinhosamente recebidos.

         O livro tinha na primeira página as seguintes palavras do governador do Rio Grande do Norte, Antonio de  Souza, que valia como apresentação e incentivo aos escoteiros potiguares àquela aventura: “que os escoteiros andantes do Rio Grande do Norte, levem por toda a grandeza física da Pátria, a afirmação e a prova da sua grandeza moral. 14 de janeiro de 1923. Antonio de Souza”.

         No livro de viagem dos escoteiros constavam as impressões e assinaturas dos seguintes governadores: Sergio Loreto, de Pernambuco; José Fernandes de Lima, de Alagoas, J.J Seabra, da Bahia, Nestor Gomes, do Espírito Santo, Aurelino Leal do Rio de Janeiro e Washington Luis Pereira de Souza, de São Paulo.Constava ainda as assinaturas de Alaor Prata, prefeito do município do Rio de Janeiro e Coelho Neto, ilustre homem das letras da mesma cidade.

Peripécias da viagem

         A longa viagem dos jovens escoteiros potiguares foi cheia das mais variadas impressões.De acordo com a revista A Voz do Mar ao prazer das festivas recepções que em muitos lugares receberam, antepuseram-se o desprazer de hostilidades com que em muitos pontos foram recebidos.

         Passaram por tudo.Conheceram a fome e a sede em vários lugares, tomados de bandoleiros foram corridos e tudo suportaram com verdadeiro espírito escoteiro, com bom humor, procurando vencer a ignorância da rude gente numa propaganda tenaz do escotismo.

         Marchavam em média de 36 a 43 km por dia, mas por duas vezes tiveram de, extremados, prosseguir na marcha, até ao povoado mais próximo, chegando assim a caminhar até 90 km num só dia.

         O chefe da patrulha fazia o diário de viagem e ali consignou peripécias curiossimas.

Peripécias curiossimas

         Um dos maiores obstáculos que tiveram de vencer foi a travessia do rio São Francisco. Foi passado em uma jangada ou balsa, construída pelos próprios escoteiros, com recursos colhidos na mata.

         Certa vez, depois de uma dia de penosa viagem, sob um sol causticante, alcançaram ao anoitecer a pequena vila de Japaratuba, em Sergipe.Vinham extenuados, famintos, sequiosos, bornais e cantis vazios.Contavam refazer-se as forças ali.Mas, à sua aproximação, todas as portas se fecharam. Supunham-os serem bandidos do célebre bando de cangaceiros de Lampião, que cometera ali depredações.E tiveram de prosseguir estropiados mas cheios de bom humor, até alcançar já alta madrugada outro povoado.

No sul da Bahia entre Maragogipe e Nazaré, um dos rapazes caiu num atoleiro. Se não fora o pronto socorro dos companheiros que o arrancaram já soterrado até o peito, o raid teria se tornado de fúnebre lembrança.

         Nessa zona, onde o povo era muito religioso, quando passava a Bandeira Nacional que sempre levavam desfraldada, a animá-los e encorajá-los, os sertanejos ajoelhavam-se supondo ser a “Bandeira do Divino” e queriam oferecer esmolas por conta de promessas feitas.Os escoteiros aproveitaram essa ignorância para fazer verdadeiras conferencias patrióticas, levando àquela rude e boa gente as primeiras noções de pátria e bandeira.

         Nesse mesmo ponto, sul baiano, tiveram contato com os índios Machacalis.Tendo esses silvícolas atacado uns viandantes os escoteiros puseram-nos em fuga.Com o atordoamento da fugida abandonaram arcos e flechas que os rapazes apanharam como troféus.

       Atravessaram empolgados as matas suntuosas do Espírito Santo.Os grandes campos de cultura do Estado do Rio de Janeiro, que encheram os escoteiros de admiração.

No Rio de Janeiro

         No Rio de Janeiro, dentre as muitas visitam realizadas na então Capital Federal, os escoteiros potiguares estiveram na redação da revista A Voz do Mar, onde os redatores tiveram a oportunidade de conversar com os mesmos a respeito da intrépida façanha.

         De acordo com a citada revista "nas suas fisionomias joviais, serenas, mas resolutas, lias-se bem a virilidade de que foi educado nessa admirável escola de Baden Powell".

         Guardando fidelidade ao prometido quando partiram de Natal, não se utilizaram senão dos seus próprios recursos para realizar a viagem, disseram os escoteiros.

         Quando chegaram ao estado do Rio de Janeiro, atravessaram a Baia de Guanabara, parte a nado e parte em balsa, construída por suas próprias mãos.Ao meio dessa travessia foram recebê-los as comissões dos escoteiros do mar da Capital Fluminense, que os cumularam de todas as atenções e carinho de que eram merecedores os heroicos hospedes.

As consequências do raid

         Essa extraordinária prova de tenacidade e resistência, quando fosse feita com o fim exclusivo de vencer esses milhares de quilômetros que separam Natal de São Paulo, teria o seu valor como afirmação real da energia da raça brasileira (os escoteiros potiguares eram brasileiros genuínos com todos os traços característicos da gente nordestina).Mas, não é só isso. Eles vinham fazendo uma propaganda intensa da escola a que pertenciam, o escotismo, “essa escola de virilidade e energia, graças à qual poderemos ofertar ao Brasil de amanhã gerações capazes de erguê-lo à grandeza moral a que foi predestinado pela sua grandeza material”, escreveu a revista A Voz do Mar.

         À passagem, núcleos de escotismo se fundaram, soergueram-se outros amortecidos, por toda para ficou a semente da grande escola do escotismo.

         Como bons escoteiros pacíficos eles se preparam no entanto, palmilhando o sertão para serem bons guias dos exércitos do Brasil no momento em que os destinos da Nação à isso os chamassem.

          Por todos os aspectos eram dignos da melhor admiração esse 5 heróis que abandonando por tantos meses, o conforto dos seus lares, aventuram-se por caminhos inóspitos e  desconhecidos, para afirmarem com o seu próprio exemplo o valor dessa escola incomparável ao qual pertenciam, o escotismo!

Aos 5 heróis potiguares a revista A Voz do Mar com o mesmo caloroso entusiasmo com que aplaudiu os seus heroicos conterrâneos que realizaram o incomparável raid marítimo Natal-Rio de Janeiro em 1922, saudava com exaltação “Salve escoteiros natalenses!”

         Os bravos rapazes que constituíam a patrulha do raid Natal-São Paulo, foram em vários pontos de seu longo percurso hospedados pela Marinha, nas Escolas de Aprendizes e Capitanias dos Portos. Em companhia de Potiguar Fernandes, representante no Rio de Janeiro dos escoteiros potiguares e do oficial encarregado da seção de escoteiros do mar, da Diretoria da Pesca, foram ao gabinete do Almirante Alexandrino de Alencar, então ministro da Marinha e nome de uma famosa avenida da Capital potiguar, agradecer a maneira carinhosa porque a Marinha os recebeu sempre.

Fonte: A Voz do Mar, ano II, 26,29/08/1923, Rio de Janeiro, p.43-44.

 Algo mais

         Vale ressaltar que o movimento escoteiro no Rio Grande do Norte teve inicio no ano de 1919, portanto, na extraordinária aventura desses 5 rapazes era uma realidade inovadora no nascente movimento, mas que já demonstrava uma vitalidade ao ponto de empreenderem uma viagem de tamanha ousadia.

         A apoteose dessa aventura se verificou na cidade de São Paulo onde os escoteiros foram recebidos com uma imensa recepção, visitaram autoridades e instituições e a sede do movimento escoteiro que a época ali estava.

         O retorno dos escoteiros a Natal se deu por meio de viagem em navio. 

       Na Capital Potiguar foram recebidos com as honras heroicas a que faziam jus.

     Havia em Natal uma placa comemorativa do feito realizado pelos 5 escoteiros potiguares, a qual sumiu como se some tudo que faz parte da história da cidade de Natal.

         A rede Globo de televisão chegou a cogitar fazer um programa sobre essa aventura que teria como roteiro o livro de viagem do chefe da patrulha, José Alves Pessoa, mas ao que se sabe a ideia não chegou a ser efetivada.

         José Alves Pessoa foi dentre os 5 escoteiros o que mais tempo viveu, morrendo com a idade de mais de 80 anos. O livro de viagem que estava com ele certamente ficou em poder da família. Não sabemos se o mesmo foi conservado.

      Com os registros dos jornais da época se é possível refazer o percurso dessa extraordinária aventura, cujo o roteiro daria um belíssimo filme.

A patrulha de escoteiros potiguares que realizaram  o raid Natal-São Paulo a pé.
Foto: revista A Voz do Mar, 1923, p.45.


Fonte: revista A Voz do Mar, 1923, p.45.