segunda-feira, 9 de maio de 2022

SOBRE A ESCOLA DA VILA DE CEARÁ-MIRIM

 

         De acordo com o relatório do presidente da província o coronel da Guarda Nacional Manoel Varela do Nascimento ofereceu ao presidente 5 contos de réis para a construção de uma casa de escola na Vila do Ceará-Mirim, já o Dr. José Inácio Fernandes Barros se comprometeu em dotá-la de utensílios necessários adquirindo-os por conta própria nos EUA.(FALA..., 1874, p. a1-9).

         Já o relatório do ano de 1875 registrava que ainda não havia sido levado a efeito a construção do edifício destinado à escola e biblioteca na Vila do Ceará-Mirim, e para a qual existia em poder de uma comissão, composta do juiz municipal, do presidente da Câmara Municipal e do Delegado de Policia, o donativo de 5:000$000 feito pelo abastado agricultor coronel Manoel Varela do Nascimento, já nomeado Barão do Ceará-Mirim.(RELATÓRIO..., 1875, p.30).

        Constava no citado relatório que terminado o inverno começariam as obras para as quais já haviam reunido o material suficiente.

         O prédio só foi entregue a serventia pública em 1878 conforme registrou o relatório do presidente da província naquele ano: “folgo de consignar aqui a entrega que de um excelente prédio, [que]  fez o Exm. Barão do Ceará-Mirim, na vila deste nome, segundo honrosa oferta que o há de imortalizar porque com efeito dotou o município com uma obra de grande valor e nobre e destino”.

         O presidente da província registrou ainda que havia recebido das mãos do referido Barão do Ceará-Mirim as chaves do edifício em 05/11/1878, o qual as repassou ao Delegado de literário e fazendo lavrar um termo no qual assinaram com ele o Barão ofertante, o Chefe de Policia, o juiz da comarca e muitos outros cidadãos importantes.

         O presidente mandou que se desse a devida aplicação ao referido prédio cuja  construção tinha a necessária solidez e preenchia os fins desejáveis.

         No entanto, pareceu mais acertado ao presidente resolver que nesse edifício deixasse de funcionar a aula destinada as meninas, porque nas condições financeiras em que se achava a professora, seria impor-lhe o maior sacrifício, obrigando-a  despesas superiores à suas forças, para sair diariamente de sua casa com a custosa decência exigida pelo público, pouco razoável e sempre pronto a criticas esmagadoras. (RELATÓRIO..., 1878, p.22).

O relatório do presidente da província relativo ao ano de 1886 registrou que o prédio destinado a instrução pública de Ceará-Mirim estava em perfeito estado de conservação. (RELATÓRIO..., 1886, p.21).

Com  a criação dos grupos escolares no inicio do século XX foi dado a denominação de Grupo Escolar Felipe Camarão as escolas reunidas que funcionavam no edifício da escola de Ceará-Mirim segundo o decreto nº 266 de 22 de março de 1912, sendo inaugurado em 18 de agosto  do mesmo ano, sob direção do professor Bernardino Dantas.

Tal denominação perdurou até 29/10/1937 quando foi mudado para Grupo Escolar Barão do Ceará-Mirim  a denominação do Grupo Escolar Felipe Camarão da cidade de Ceará-Mirim transferindo esta denominação  para as Escolas Reunidas da povoação de Estremoz. (A ORDEM, 29/10/1937, p.2).

 O Benfeitor

Manuel Varela do Nascimento nasceu em 25/12/1802 no Sitio Verissimo, Ceará Mirim. Filho de Felipe Varela do Nascimento e Teresa Duarte. Foi casado com Bernarda Varela Dantas, baronesa de Ceará-Mirim.

Foi Alferes de 2a. linha, cuja carta patente foi assinada por D. Pedro I em Abril de 1828. Mais tarde foi elevado a Coronel Comandante Superior das Guardas Nacionais dos municípios de Natal, São Gonçalo, Estremoz e Touros.

Em 1868 foi reformado, quando exercia o cargo de deputado provincial do biênio 1868-1869. Chegou a ser o terceiro vice-presidente da Província.

O Barão introduziu melhoramentos na indústria açucareira do vale. Foi um dos primeiros a utilizar o cilindro horizontal para triturar a cana e açúcar e divulgou a cana caiana. Na carta diploma de Barão de Ceará-Mirim o senhor Manoel Varela do Nascimento é enaltecido como senhor de engenho e elemento característico do patriarcalismo rural da região.

Foi o primeiro norte-rio-grandense agraciado por um título nobiliárquico no império. Ele faleceu em março de 1881 e a baronesa em março de 1890. O barão e sua esposa foram sepultados na capela do Engenho em terras da Usina São Francisco no Ceará-Mirim, túmulos ainda hoje conservados.


Fonte:

A Ordem, Natal, 29/10/1937.

Fala com que o Exm. Sr. Dr. João Capistrano Bandeira de Melo Filho abriu a 1 sessão da vigésima legislatura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte em 13 de julho de 1874.Rio de Janeiro: Tipografia Americana, 1874.

Relatório com que o Exm. Sr.Dr.José Moreira Alves da Silva presidente da província do Rio Grande do Norte passou a administração ao 2º vice-presidente o Exm. Sr.Dr.Luiz Carlos Lins Wanderley em 30 de outubro de 1886.

Relatório com que instalou a Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte no dia 04 de dezembro de 1878 o 1º vice-presidente, o Exm. Sr.Dr. Manoel Januario Bezerra Montenegro.Pernambuco: Tipografia do Jornal do Recife, 1879.

Prédio onde funcionou o Grupo Escolar Felipe Camarão, posteriormente Grupo Escolar Barão do Ceará-Mirim.

Em destaque a dreita o prédio onde funcionou o Grupo Escolar Felipe Camarão, posteriormente Grupo Escolar Barão do Ceará-Mirim.


Atual prédio da Escola Estadual Barão do Ceará-Mirim.



O Barão do Ceará-Mirim.




domingo, 8 de maio de 2022

SOBRE O CEMITÉRIO DE CEARÁ-MIRIM


         Os cemitérios públicos começaram a ser construídos a partir de 1856 com devido a calamidade pública causada pela cólera a qual causou a morte de muitas pessoas pelo interior do Rio Grande do Norte. Naquele ano fora construído o cemitério do Alecrim em Natal.

         Antes disso havia a prática de se fazer o sepultamento no interior das igrejas e capelas, que devido ao grande número de mortos pela epidemia de cólera acabou por causar outro problema de saúde pública que era o enterramento dentro das igrejas, por isso se deu a construção dos cemitérios.

         O cemitério de Ceará-Mirim teve sua construção iniciada em 1861 conforme consta no relatório do presidente da província daquele ano.

         De acordo como o mesmo relatório durante sua estadia no município de Ceará-Mirim diversos cidadãos atenderam ao convite do presidente da província e assinaram uma subscrição no valor de 1:630$ para a construção de um cemitério em terreno daquela vila que pareceu ser apropriado segundo avaliação do presidente da província e que pelo respectivo proprietário foi generosamente cedido sem retribuições alguma, ou seja, o terreno foi doado para tal finalidade.

         Foi criada uma comissão de 7 membros presidida pelo pároco da freguesia que ficou incumbida de realizar a cobrança das quantias oferecidas e a direção da obra que começaria depois de concluída a planta que a muito tempo havia já mandado o presidente organizar pelo diretor das obras públicas e que se achava já pronta, bem como o orçamento. (RELATÓRIO..., 1861, p.12).

         Atualmente o mais antigo cemitério público de Ceará-Mirim denomina-se Cemitério Santa Agueda.

 

Fonte:

 Relatório  que o Exm. Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior , presidente da província do Rio Grande do Norte, apresentou a respectiva Assembleia Legislativa Provincial na sessão ordinária de 1861.Ouro Preto: Tipografia Provincial, 1862.

 




Fachada do cemitério Santa Águeda


Lateral da capela do cemitério Santa Águeda


Fachada da capela do cemitério Santa Águeda


Latera do cemitério Santa Águeda


sábado, 7 de maio de 2022

SOBRE A CONSTRUÇÃO DA IGREJA MATRIZ DE MACAÍBA


A  Vila de Macaíba foi criada pela lei provincial Nº 801 de 27 de outubro de 1877. A lei nº 832 de 07 de fevereiro de 1879 suprimiu a vila de São Gonçalo transferindo a sede do município para a Vila da Macaíba.

Em 13/01/1880 esteve em Macaíba o líder político José Bernardo de Medeiros, conhecido como Bispo do Seridó. De acordo com o Correio do Natal “as 7 horas da noite entrava S.Ex. o Sr. Bispo do Seridó, saudado pelo redengue do lugar. S. Ex.Rvm., depois de dar a beijar seu anel, dirigiu-se a capelinha da futura freguesia, aonde fez oração, depois da qual ocupou o lugar de honra que lhe estava destinado, tendo a sua direita o chefe dos valentões e a esquerda o seu secretário privado. (CORREIO DO NATAL, 15/01/1880, p.4.Grifos do original).

Claro está que não se trata de uma autoridade eclesiástica de fato e que o texto foi redigido metaforicamente e em linguagem irônica para realçar a posição do aludido político.

Deixando de lado os motivos políticos, o relato a cima foi citado apenas para demonstrar que a época a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Macaíba ainda não passava de uma simples capela.

         Segundo a Fala do presidente da Provincia do Rio Grande do Norte, Francisco de Gouveia Cunha Barreto, do ano 1882, em Macaíba, a importante e mais florescente vila da província estava sendo construído a esforços dos seus dignos habitantes e sob a direção do virtuoso e incansável missionário brasileiro, o Pe. Herculano, um vasto templo.

         Tratava-se a igreja de Nossa Senhora da Conceição a qual tornar-se-ia a matriz da paróquia da referida vila, atual cidade de Macaiba.

         Ainda de acordo com o citado documento “tão louvável cometimento, superior as forças da Macaíba, dá a medida do seu valor, e do brilhante futuro que aguarda aquela abençoada localidade”.

         O presidente da província, reconhecia, porém, que o estado financeiro da província não dava margem à grandes despesas, entretanto, segundo ele a iniciativa do povo de Macaiba seria um ato digno dos sentimentos de religião e de patriotismo.O presidente dirigiu-se a Assembleia dizendo que “se cortando alguma despesa menos necessária, concederdes um auxilio para aquela obra, afagando assim a iniciativa particular, tão esmorecida entre nós, e dotando a vila da Macaíba de uma igreja, onde com decência se pratiquem os atos de nossa religião, que também é a do Estado”. (FALA..., 1882, p.7).

A lei provincial Nº 838 de 16 de junho autorizava ao presidente da província, Francisco de Gouveia Cunha Barreto, a auxiliar a construção da igreja de Nossa Senhora da Conceição da vila da Macaíba, com a quantia de 5 contos de réis, podendo para isso abrir um crédito suplementar na verba ‘Obras Públicas’ se fosse insuficiente a quota votada no orçamento. (COLEÇÃO DE LEIS PROVÍNCIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1882, p.4).

De acordo com o Relatório da Repartição dos Negócios do Império do Ministério do Império de 1882 a freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Macaíba ainda não havia sido instituída canonicamente. (MINISTÉRIO DO IMPÉRIO: RELATÓRIO DA REPARTIÇÃO DOS NEGÓCIOS DO IMPÉRIO, 1882, P.535).

Compete ao bispo a ereção canônica de uma paróquia, porém a época, esta devia ser feita concomitantemente com a anuência do Estado, visto que vigora no Brasil o sistema do Padroado, onde o Governo Imperial era o detentor do poder temporal relativos aos assuntos da Igreja Católica.

O imbróglio criado em Macaíba para a não criação canônica da freguesia estava justamente em não ter a Vila a igreja concluída que era a condição sine qua non para se erigir uma nova paróquia.

Apesar da sede municipal está na vila da Macaíba, a matriz, e por extensão a sede da paróquia, ainda estava na igreja de São Gonçalo.

       O bispo de Olinda esteve em visita pastoral a paróquia de Macaiba entre os dias 25 e 28/08/1882. O médico Luiz Carlos Lins Wanderely que fazia parte da comitiva foi a testemunha ocular daquela visita a qual consignou posteriormente em livro relatando a referida visita episcopal.

Tendo chegado a Macaíba no dia 25/08/1882 o bispo Dom José Pereira da Silva Barros anunciou sua visita a Igreja para ás 09h00 da manhã do dia seguinte.

Segundo o relato de Luiz Carlos Lins Wanderley no dia 26/08/1882 o bispo paramentado lá se apresentara e foi recebido com as cerimônias rituais. “A Igreja da Macahyba, cuja invocação é á N. S. da Conceição e que é um belo templo de amplas dimensões e perspectiva elegante, está ainda por acabar. A Capela-mor, porém, estava em branco e agora decorada e decente para a recepção do Bispo diocesano”. (VISITA..., 1882, p.57).

No dia 27/08/1882 o bispo diocesano voltou  a Igreja de Macaíba, afim de benzer a cruz de ferro que ali estava e que seria destinada ao alto do frontispício do novo templo de Nossa Senhora da Conceição.”Esta solenidade atraíra um povo imenso e fora precedida de uma oportuna alocução do Bispo diocesano, a quem nunca faltou a palavra evangélica para abrilhantar ocasiões semelhantes”. (VISITA..., 1882,  p.59).

         Em 26/09/1883 o presidente da província mandou entregar a quantia de 1:000$000 (um conto de réis) ao vigário da freguesia de São Gonçalo, o Pe. Manoel Fernandes Lustosa Lima, para as obras da nova igreja da Vila da Macaíba e determinou que elas fossem feitas sob a direção da comissão que já havia sido por ele nomeada, composta do mesmo vigário e dos cidadãos Antonio Ximenes Maciel de Aragão e Olinto Leopoldino de Leiros Coelho. (FALA..., 1883, p.39).

         Ao que parece a construção seguia em ritmo lento pois em 1886 a fala do presidente da província constata que tanto a matriz de Ceará-Mirim como a da Macaíba estavam ainda em vias de construção e registrava que “para que não paralisem as obras, não cessam os zelosos vigários dessas freguesias de empenhar os maiores esforços, no que tem sido eficazmente coadjuvado pelos fiéis”. (FALA..., 1886, p.20).

         Recomendava ainda o presidente da província que seria de justiça que a Assembleia Legislativa designasse, no orçamento, uma quota para a conclusão de ambas matrizes.

Em 25/10/1887 foi confirmada a renúncia que fez o Pe. Manoel Fernandes Lustosa Lima da igreja paroquial de São Gonçalo do Amarante, a época transferida para a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Macaíba. (CIDADE DO RIO, 25/10/1887, p.1).

Já por carta imperial de 02/01/1888 foi apresentado o novo vigário da paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Macaíba, o Pe. José Paulino de Andrade (O APÓSTOLO 06/01/1888, p.1). Coube a este sacerdote a conclusão dos trabalhos de construção da igreja matriz de Macaíba.

Macaíba tinha em 1889 uma população de cerca de 4.000 habitantes (TRIBUNA LIBERAL, MA, 28/01/1889, p.2), além de ser de grande importância no cenário comercial do Rio Grande do Norte a época.

 

Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022.

Fachada da Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022.

Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022.

Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022.



Lateral da Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022.

Lateral da Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022

Lateral da Igreja matriz de Macaiba. Google Earth, 2022




Saiba mais em:

 https://cronicastaipuenses.blogspot.com/2019/06/remodelacao-da-igreja-de-macaiba.html



Fontes:

BRASIL. Ministério do Império: Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Rio de Janeiro, 1882.

Correio do Natal: Periódico Político, Moral e Noticioso, Natal, 15/01/1880.

RIO GRANDE DO NORTE. Fala com que o excelentíssimo senhor Dr. Francisco de Gouveia Cunha Barreto, presidente da província, abriu em 09 de fevereiro de 1883 a segunda sessão ordinária da Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte.Pernambuco:Tipografia de Manoel Figueiroa de Faria, 1883.

________, Fala com que o Exm. Sr.Dr.Francisco de Gouveia Cunha Barreto, presidente da província, instalou a 1ª sessão ordinária da Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte em 15 de maio do corrente ano. Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.

________, Fala lida a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte pelo presidente José Moreira Alves da Silva, no dia 15 de março de 1886, ao instalar-se ela extraordinariamente. Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1886.

Tribuna Liberal, São Luis-MA, 28/01/1889.

WANDERLEY, Luiz Carlos Lins. Visita Episcopal do Exm. E Rvm.  Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte por Luiz Carlos Lins Wanderley doutor em Medicina e Cavaleiro da Ordem da Rosa. Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.


sexta-feira, 6 de maio de 2022

DESCRIÇÃO DA CADEIA DE NATAL EM 1878


O chefe de policia fez sua exposição no relatório do presidente da Provincia do ano de 1878 apresentou a seguinte descrição da cadeia de Natal:

A cadeia desta cidade tem mais ou menos a forma quadrangular; é sita na Cidade Alta.

É um edifício onde mal penetra a luz tendo dois pavimentos, um térreo, dividido em três compartimentos, um central, que serve de enxovia e dois calabouços laterais, outro superior, onde está sala livre: é um lúgubre edifício, cujo interior contrista e o exterior é uma campa dealhada em comparação com o interior que é uma furna em que seres vivos se apodrecem maldizendo a sociedade que os condenou a uma morte  lenta em masmorra infecta, repugnante  e asquerosa; o ar é insuficiente para a respiração dos sentenciados, a luz crepuscular que bruxuleia na enxovia não aviventa a organização;o chão é frio, úmido e sórdido; os presos fazem despejo d’água servida e urinam dentro da mesma enxovia, e o lixo e a podridão saindo da cadeia pela fachada posterior se escoam pelo cano rampa a baixo, formando um espojeiro, onde constantemente alguns porcos se regalam.

         Dentro da mesma enxovia os detentos lavam carne e cozinham, tudo ali é tétrico e medonho, tudo denuncia uma postergação da lei da higiene, tudo diz que ali está um lugar em que a sociedades exerce a vendita, e não a mansão de recolhimento e meditação em que a consciência do delinquente sob farpa dos remorsos o regenera para entregá-lo de novo a comunhão social.

         A prisão é comum, o sistema celular nunca foi aqui ensaiado, o sistema misto a que alguns dão preferência, no regime penitenciário, nem ao menos foi ainda lembrado, tudo é desanimador. Os sentenciados não tem espaço para dormir, ficam ali ao conchegados como abelhas na colmeia.

         Nota-se que indivíduos que entram para lá,fortes e vigorosos,pouco tempo depois estão raquíticos, depauperados e macilentos com uma palidez de morte.

         As anemias, as febres miasmáticas, o beri-beri, as bronquites, as disenterias, as hepatites, a tísica pulmonar e as hidropisias são as moléstias mais frequentes ali.

         Sabe-se a triste condição desses desgraçados, mas em nome da civilização  e humanidade é necessário que não se poupem esforços para redimir estes infelizes,colocando-os em posição em que o desespero não seque as lágrimas de arrependimento e eles possam sofrer bendizendo as leis tutelares da sociedade, do cidadão que lhes deram corrigindo-os  [ ilegível] de resignarem-se.

         E quando tudo for baldado e a penúria da província não permita de sorte alguma a satisfação desse deve sagrado, espero e confio que V.Exc., levando esse estado de coisas ao conhecimento do preclaro cidadão que dirige dignamente o Ministério da Justiça,ele removerá parte desses desgraçados para o presídio de Fernando de Noronha, onde eles possam ao menos ter ar puro e salutar para respirar; é cruel o suplicio de Tântalo,morrer à falta d’água que para mais excitar-se a sede, desliza-se em ondas cristalinas passando perto dos lábios ressequidos,é mil vezes mais cruel morrer-se a falta de ar que Deus em sua sabedoria providencial disseminou por toda a terra.

         O ar da cadeia não se pode dizer que é confinado, porque se o fora em menos de 24 horas de depois da convulsão da agonia exalariam o último alento, lastrando a cadeia de cadáveres.

         Há uma renovação imperfeita,mas levando muitos detentos em número superior ao que a capacidade do lugar pode conter, o ambiente que respiram não pode conter somente quatro milésimos de acido carbônico;conterá esta gás deletério em proporção superior a prescrita, está carregada de umidade, sem contudo tocar ao estado de saturação, que a tornaria irrespirável, a atmosfera da cadeia está alem disso impregnada de substancias orgânicas arrastadas pelo vapor d’água resultante não só da respiração do tegumento eutaneo como também exalado pela respiração pulmonar.

         Graças ao acaso que muitas vezes faz o papel de providente no país, no compartimento inferior da cadeia, no lugar chamado enxovia, não há janelas que hermeticamente fechada impossibilitem absolutamente a entrada de ar; há grades de ferro que em nada tolhem a renovação constante,embora insuficiente daquele ambiente escuro, frio úmido e lugugre.

         Um homem precisa, regra geral, de dez metros cúbicos de ar para respirar no espaço de um hora, entretanto, tendo mais ou menos a cadeia quinze metros  em suas três dimensões, respiram ali 158 homens

         Felizmente só as varões de ferro separam os detentos do ar exterior.

         Cada homem perde, pela evaporação cutânea e pulmonar, sessenta gramas de liquido por hora, e, portanto 158 homes perderam 10.480 gramas ou 10 kilogramas e 480 gramas, avalie-se por ai como se deve estar úmido constantemente o ar da cadeia.

Note-se ainda que há diferentes focos de combustão na cadeia, bico de gás, candeias,fogo para preparação de alimento e tudo isto rouba o elemento vivificante do ar dando-lhe em troca um elemento deletério.O vapor d’agua suspenso naquela atmosfera tem em suas moléculas substâncias orgânicas que concorrem para o abalo lento que se opera na economia dos detentos que sobre outras  influencias maléficas,vão sofrendo graves alterações,que os tornam quase desconhecidos em pouco tempo.

         Estas substâncias que até se denunciam pelo cheiro nauseante, sui generis, sob a ação inexplicável de agentes ainda desconhecidos atacam as forças radicais da vida e mais uma vitima vai repousar na valar solitária dos mortos.

         Os presos doentes para serem tratados recolhem-se ao hospital de caridade que de conformidade com o Regulamento das cadeias da província art. 23 faz parte da mesma cadeia, e com quanto fiquem pela mesma disposição sob vigilância do Chefe de Policia, torna-se esta difícil pela grande separação e distancia em que esta se acha daquele.

         A enfermaria dos presos é muito acanhada e mal arejada, regularmente não pode conter mais de seis presos, entretanto, já tem estado ali mais de 36.De dia ainda é menos cruciante o tormento, à noite fechada as janelas o calor excessivo , a falta de ar puro e a umidade transformam a enfermaria dos presos em um verdadeiro inferno.

      MaL compreendo como é possível que se opera um tratamento em semelhantes condições.Ali a higiene é uma mentira, tudo inspira consternação e horror, somente os sentimentos humanitários de alguns empregados da casa suavizam as magoas dos desgraçados detentos.

         Fazendo esta exposição espero que v. Exc., envidará tudo para melhorar este estado de coisas. (RELATÓRIO..., 1878, p.50, a-9).

         Algum melhoramento no prédio da cadeia de Natal só se verificou em 1881 quando o presidente da província a fim de o colocar nas devidas condições higiênicas, ordenara que alguns trabalhos fosse feitos no edifício da cadeia da Capital. Além de caiar e pintar todo o edifício fez cimentar todo o pavimento térreo, e neste fez construir um compartimento completamente independente dos outros e destinado as mulheres.

         No andar superior fez construir um grande salão perfeitamente arejado, para servir aos trabalhos que ordinariamente se entregavam os presos, e onde poderia funcionar uma escola para os mesmos presos, como era intenção dele estabelecer.

       Fez colocar no edifício 5 latrinas, sendo 3 no andar superior e 2 no andar térreo, munidas de sólidos canos de esgoto. (RELATÓRIO..., 1881, p.13).

A antiga cadeia pública de Natal foi construida em construído em 1719 situada na Praça André de Albuquerque na Cidade Alta e foi demolida em 1911, possibilitando o acesso da praça à margem do rio, através da Rua João da Mata.

    

Aspectos de Natal em 1904 vendo-se no canto a direita a antiga cadeia de Natal.


 

Fontes:

Relatório com que instalou a Assembleia legislativa Provincial do Rio Grande do Norte no dia 04 de dezembro de 1878 o 1º vice-presidente, o Exm. Sr. Manoel Januário Bezerra Montenegro. Pernambuco: Tipografia do Jornal do Recife, 1879.

Relatório com que o Ex. Sr.Dr. Alarico José Furtado passou no dia 20 de abril de 1882 a  administração da Provincia do Rio Grande do Norte ao Exm. Sr. 1º vice-presidente Dr. Matias Antonio da Fonseca [ilegível].Natal: Tipografia do Correio do Natal, 1882.


Antiga cadeia de Natal.

Antiga cadeia de Natal.

Antiga cadeida de Natal em processo de demolição.

Antiga cadeia de Natal em processo de demolição.


segunda-feira, 18 de abril de 2022

O COLÉGIO DE EDUCANDOS ARTÍFICES

 

        Quando se fala no ensino profissionalizante do Rio Grande do Norte vem logo em mente o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia-IFRN, cujo nome primitivo foi Escola de Aprendizes Artífices, instituição criada pelo Governo Federal em 1909 e instalada em Natal no ano de 1910.

         Porém, o que pouca gente sabe é que o Rio Grande do Norte teve um Colégio de Educandos Artífices que foi uma instituição criada por meio de uma lei provincial. É sobre este estabelecimento de ensino que trataremos a seguir.

         O Colégio de Educandos Artífices de Natal[1] foi criado pela Lei Provincial nº 376, de 09 de agosto de 1858 e inaugurado em 02/12/1858, tendo sido fixado o número de 20 alunos para seu funcionamento o qual as vagas foram preenchidas no ato de sua inauguração.

         O presidente da Província expediu um regulamento em 09/10/1858 no qual procurou consultar todas as medidas conducentes a prosperidade de tais instituições assim como restava-lhe a escolha do diretor do referido estabelecimento de ensino cujas qualidades deveriam ser zelo, inteligência e dedicação para que “soubesse fazer valer os sacrifícios despendidos pela província para a realização desse importante impulso dado à educação industrial [...]”.(RELATORIO..., 1859, p.11).O presidente da província ainda dizia em seu relatório que folgava em acreditar que a Administração da Província não foi infeliz em tão difícil empenho.

         Foi nomeado interinamente para o cargo de Diretor do CEAN o cidadão Francisco José Pereira Cavalcante de Albuquerque.

         O CEAN foi inaugurado sem um edifício próprio o qual de acordo com o relatório do presidente da província só com alguma demora poderia ser  construído, por isso foi alugado a propriedade do cidadão José Quintiliano da Silva, que era a época um dos mais espaçosos prédios da Capital potiguar.

         O currículo inicial do CEAN constava das cadeiras de primeiras letras,  princípios religiosos, geometria e mecânica aplicada as artes e música.

         Para os cursos profissionalizantes foram montadas oficinas de alfaitaria, carpintaria, sapataria e pedreiro.Já para as profissões de ferreiro,serralheiro, marceneiro, canteiro e tanoeiro não foram feitas oficinas em virtude do limitado número de alunos que contava o estabelecimento de ensino, o qual seria impossível que cada um dos alunos frequentassem mais de uma oficina.

         De acordo com o relatório do diretor do CEAN apresentado em 20/01/1859 as aulas de primeiras letras estavam sendo frequentadas por todos os alunos e apresentava grandes progressos, em consequência dos desvelos que mostrava o professor na explicação das matérias a seu cargo.

A aula de música estava também sendo frequentada por todos os alunos com muito aproveitamento,  a qual estava sob os cuidados do professor José Leão de Melo Açucena,o qual recebeu dignos elogios não só pelo interesse que vinha demonstrando no progresso dos alunos, como pela atitude generosa em recusar os vencimentos que lhe foram estabelecidos oferecendo assim gratuitamente a prestação de seus serviços.

         As aulas de geometria e mecânica começaram a funcionar no inicio de 1859 tendo sido nelas matriculados 9 alunos e sendo nomeado para reger ambas as disciplinas João Nunes de Campos, engenheiro civil e diretor das obras públicas da Província.

         Na oficina de alfaiataria foram matriculados 8 alunos e nela já estavam sendo fabricados 20 jaqués, 100 calças e 20 peças de pano para uso do estabelecimento e seria ali preparado o fardamento do corpo de policia, segundo as ordens expedidas pelo presidente da província para essa finalidade.

         Na oficina de sapataria trabalhavam 5 educandos que tinham aprontados 44 pares de calçados para uso do estabelecimento e do hospital de caridade e ficando em andamento o calçado do corpo de policia.

         Na oficina de carpintaria estavam trabalhando apenas 2 educandos onde estavam sendo preparadas várias obras de madeiras e entre outros utensílios para a aula de geometria.

         Por falta de obras de pedreiros no estabelecimento as aulas estavam sendo realizadas fora do estabelecimento, sobretudo nas obras públicas tendo estas aulas 5 alunos matriculados dedicando-se a este oficio.

         Como visto quase todos os objetos manufaturados nas oficinas do CEAN eram destinados para uso dos educandos e do próprio estabelecimento e nem mais se poderia exigir no curto espaço de dois meses de seu funcionamento.

         De acordo com o presidente da província a instituição do CEAN foi um grande passo que dera a Província nas vias do progresso e tendo sido um melhoramento que honrava os legisladores que propuseram sua lei de criação.

         O presidente relatou ainda que a disciplina no CEAN era exercida com regularidade tendo sido por ele frequentemente testemunhada e tudo levava crer que um futuro ladeado de venturas estava reservado a esse nascente estabelecimento de ensino, se continuassem a ser prodigalizados os cuidados que lhe eram devidos,no entanto, escreveu o presidente da província que “é forçoso confessar que só com muita lentidão poderá ele atingir o fim que se propõe conservado nas condições acanhadas em que se acha”.

         Por isso o aumento do número de alunos era uma necessidade para que pudessem ser frequentadas todas as oficinas criadas em proveito de um mais vasto plano no ensino das artes.

      As maiores despesas do CEAN eram as que se referiam ao pessoal empregado, sendo elas as mesmas quaisquer que fossem o número de aluno matriculados, vindo somente a acrescer pouco mais do subsidio concedido para a alimentação dos estudantes. (p.12).

         O quadro as seguir mostra as despesas com o CEAN:

Vencimento do diretor

143,353

Vencimentos do almoxarife

20,000

Subsidio aos 20 aprendizes

300,000

Aquisição dos utensílios necessários para a instalação do Colégio

1:500,745

Compra de instrumental

1:751,095

Material de expediente

74,990

Aluguel da casa em que se achava instalado o estabelecimento

25,113

Total

3:843,277

Fonte: relatório..., 1859, p.41. Anexo.

     Segundo o relatório da tesouraria da província a despesa com o CEAN foi de 5:245$686. (RELATÓRIO..., 1859, p.35).

         No ano de 1860 aos 20 alunos da instalação do CEAN foi acrescido mais 9 que entraram naquele ano.Segundo o relatório do presidente da Província apesar das dificuldades inerentes ao começo dessas casas o estabelecimento de ensino vinha lutando e era de se esperar que iria melhorar sensivelmente.

         Para o presidente da província a primeira necessidade do CEAN era a falta de um edifício com as precisas condições para dormitório dos alunos, sala de estudos e refeição, assim como salas especiais para as diversas oficinas. A votação de uma quantia para a construção desse edifício seria um ato muito conveniente da parte da Assembleia Provincial, escreveu ainda o presidente da Província.

A renda do CEAN no ano de 1859, que foi o primeiro ano da instituição, subiu a 2:323$680 réis, sendo provável, segundo prognósticos dos presidente da província que se fosse em escala ascendente ate que pudesse fazer face as depesas, se houvesse um bom regime e severa economia.

         Naquele ano de 1860 alguns instrumentos musicais estavam estragados tendo o presidente da província mandado buscar outros em Pernambuco para os substituir, assim como algumas óperas de autores célebres. (RELATÓRIO..., 1860, p.9-10).

         Em 1861 contava o CEAN com 30 alunos, dos quais o presidente da província fez despedir 7 que ou tinham mau procedimento e pouco ou nenhum adiantamento, ou não se achavam tão desamparados que carecessem absolutamente da caridade pública.Foi ainda a necessidade de economizar os recursos financeiros da província que levou o presidente da província a tomar essa medida, segundo escreveu o mesmo em seu relatório.

         Dos 23 educandos matriculados, todos frequentavam as aulas de primeiras letras e a maior parte deles a de música, com algum adiantamento.

         A cadeira de geometria achava-se vaga desde 05/03/1859 e de acordo com o presidente da província não convinha por ora aumentar a despesa pública como provimento daquela cadeira e como paliativo quando os alunos estivessem em condições de aplicar-se a esse ramo de instrução poderiam os mesmos cursar a disciplina no Ateneu, sendo convenientemente vigiados durante o seu trajeto de um estabelecimento para outro. O mesmo se dizia o presidente da Província do ensino primário se fosse suprimida a respectiva cadeira.

         Das 9 oficinas criadas para o estabelecimento de ensino apenas 3 estavam providas em 1861, sendo elas as de alfaiataria e a de sapataria que eram ambas regidas por um dos alunos, já a de carpintaria estava paralisada desde 01/10/1861 por falta de um banco e ferramentas.

         Segundo o Presidente da Província: “a lentidão com que ali se trabalhava, os mesquinhos frutos até então obtidos, o atraso dos 3 discípulos que aplicavam-se ao oficio e a pouca atividade de seu mestre,me convenceram da vantagem de suprimir por ora uma despesa que não será suficientemente compensada,enquanto a província não puder pagar maior salário a um bom oficial,e fazer aquisição dos utensílios necessários para o serviço”. (RELATÓRIO..., 1861, p.13).

         Apesar das más condições de funcionamento do estabelecimento de ensino nas oficinas de sapataria foram manufaturados 580 obras em 1860,e na de alfaiataria 792.Os educandos da oficina de sapataria mostravam assim seu adiantamento em relação aos da de alfaiataria, tendo esta 4 alunos com bom aproveitamento.Outros alunos pouco ou nenhum aproveitamento vinham tendo.

         A receita do estabelecimento de ensino daquele ano de 1860 foi de 11:350$029 para uma despesa de  8:739$199, resultando em saldo de 1:590$083.Havia ainda a importância de 1:590$080 proveniente da confecção das peças do fardamento da companhia de policia, manufaturados pelos alunos do CEAN e que  não foram computados nas receitas por não ter sido entregue a respectiva quantia pela Tesouraria Provincial. (RELATÓRIO..., 1861, p.13).

         Para o Presidente da Provincia, por esses resultados bem se poderiam inferir quais seriam as vantagens de tão importante estabelecimento, se ele estivesse convenientemente estruturado,visto que numa província onde as artes mecânicas ainda se achavam no mais deplorável atraso,muito se aproveitariam as obras públicas e particulares com a existência de oficinas regulares, que além de darem emprego e instrução a muitos operários, forneceriam seus produtos mediante um lucro razoável, poupando o incomodo e demora que se tinha de sofrer na aquisição de objetos que forçosamente se mandavam vir de outras províncias, para onde eram remetidas grandes quantias de recursos financeiros com aquisição desses objetos podendo assim tais recursos permanecer na província potiguar.

Infelizmente o Colégio de Educandos Artífices de Natal não foi inaugurado sob os melhores auspícios.

         O pouco escrúpulo com que se vinham admitindo os alunos de certa idade e alguns de má índole, que mais ou menos pervertiam os espíritos com depravação eram, segundo o Presidente da Província, os exemplos que mais dificultavam a prosperidade do CEAN.

         O edifício terreno que fora escolhido para a fundação do Colégio, apesar de ser um dos mais vastos de Natal, não tinha ao menos as necessárias acomodações para as oficinas.Era baixo, pouco ventilado reunia ainda outras condições desfavoráveis para seu funcionamento.A sala mais espaçosa que servia de dormitório tinha apenas 40 palmos de frente e 27 de fundo.A enfermaria funcionava num pequeno quarto escuro e contiguo à oficina de sapataria.Ali foram tratados 12 alunos doentes no ano de 1860.

         A fisionomia da maior parte dos alunos revelava sofrimentos físicos e parecia justificar o juízo do médico acerca da insalubridade do edifício.

         Para amenizar o Presidente da Província ordenou que se fizessem exercícios físicos moderados nos domingos e dias santos, e que durante qualquer enfermidade os alunos  fossem tratados no hospital de caridade que tinha melhore condições para esse fim.

         De acordo com o Presidente da Província na impossibilidade de se construir por ora um edifício apropriado ou de se obter qualquer outro melhor pra alugar ele já teria mandado fazer os consertos indispensáveis na casa que servia de sede para o CEAN, se não estivesse embaraçado o estado das finanças da Provincia. Entretanto, o proprietário do imóvel reclamava o cumprimento da condução do contrato que obrigava ao governo provincial a realizar tais consertos.

         Diante da necessidade de dar bom alojamento aos alunos o Presidente da Provincia considerava as outras obras no estabelecimento secundárias e dela mais ou menos dependente.

Para permanecer tão benéfica instituição o Presidente da Provincia solicitava a Assembleia Provincial para alterar o seu regulamento. A redução de pessoal incumbido da administração do Colégio, redistribuindo convenientemente o serviço dos respectivos empregados, o aumento razoável dos salários para os professores, enquanto estes não pudessem ser substituídos por alunos das oficinas suficientemente adiantados, algumas disposições regulamentares relativas aos alunos que em certa idade deveriam deixar o Colégio ficando todavia sujeitos a diversas obrigações para compensarem a província das despesas que com eles foram feitas, além de outros, eram os pontos principais sobre o que deveria versar a reforma do regulamento do CEAN. (RELATÓRIO..., 1861, p.13).

       No dia 02/12/1861, data que marcava o aniversário do Imperador Dom Pedro II, houve as 17h00 um cortejo em homenagem  ao augusto monarca.A tropa da guarda nacional aquartelada sob o comando do capitão Manoel Ferreira Nobre Junior e a banda de música do Colégio de Educandos Artifices, formou uma guarda de honra que foi postada em frente ao palácio do governo fazendo ali as continências militares. ( O DOIS DE DEZEMBRO, 03/01/1861, p.3).

         Já em 1862 escreveu o Presidente da Província a respeito do CEAN: “a instituição de um asilo, onde fossem recebidos e educados até um certo número de meninos desvalidos, concebida e realizada por um dos meus honrados antecessores, foi sem contestação um grande melhoramento, de que ele quis dotar a província ; outras os tem iguais que hão dado ótimos frutos.Mas devo dizer,que sendo a instituição por sua natureza de caridade, foi o colégio de educando artífices montado como industrial e lucrativo, admitindo-se por alunos moços feitos e afeitos a vícios, com o fim de aproveitar de seus trabalhos em lucro do estabelecimento;erro que trouxe o descrédito do colégio, que veio a tornar-se um foco de imoralidade antes, do que uma casa de educação”.

         E foi assim que o Presidente da Província encontrou o CEAN naquele ano de 1862 sem prestar-se aos desígnios de seu fundador, e exigindo diariamente uma despesa forçada, a que estava o tesouro provincial impossibilitado de fazer, razão pela qual resolveu ele dissolver o CEAN provisoriamente até que a Assembleia Provincial deliberasse a respeito.

         Entretanto, o  Presidente da Província entendia que o CEAN não deveria ser extinto, mas que continuasse como estava até que as finanças da província comportassem a sua reorganização e tivesse condições de o sustentar. (RELATÓRIO..., 1862, p.25).

         Porém, o CEAN foi extinto definitivamente e sua breve existência atesta que houve ainda no período imperial a iniciativa da Provincia do Rio Grande do Norte em estabelecer um Colégio cuja  finalidade era a educação profissional.

         Tudo indica que a extinção do CEAN ocorreu naquele mesmo ano de 1862, pois os relatórios subsequentes não o citam mais.

           Não encontramos imagens do casarão pertencente a José Quintiliano da Silva, o qual abrigou o CEAN, assim como sua localização na Capital potiguar.

            As imagens a baixo são da Escola de Artifices Aprendizes de Alagoas, atual IFAL, em 1910, elas demonstram como deveriam ter sido as aulas ministradas no CEAN, guardadas as devidas proporções e os tempos históricos que separam ambas instituições, foram postas aqui meramente para ilustrar o texto a cima.








Referências

Relatório que à Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte apresentou no dia 14 de fevereiro de 1859, por ocasião de sua instalação o Exm. Sr.Presidente da Província Dr.  Antonio M. N. Gonçalves. Maranhão: Tipografia comercial de Antonio Pereira Ramos de Almeida, 1859.

Relatório com que o Exm. Sr. Dr. José de Oliveira Junqueira abriu a sessão da Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte em fevereiro de 1860. Pernambuco: Tipografia de M. F de Faria, 1860.

Relatório que o Exm. Sr. Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior presidente da Provincia do Rio Grande do Norte apresentou à respectiva Assembleia Legislativa Provincial na sessão ordinária de 1861. Ouro Preto: Tipografia Provincial, 1861.

Relatório apresentado à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte na sessão ordinária de 1862 pelo presidente da província o comendador Pedro Leão Veloso. Maceió: Tipografia do Diário do Comércio, 1862.



[1] As fontes consultadas indicam o referido estabelecimento sem mencionar o nome Natal que é um acréscimo nosso para indicar o local onde estava instalado o citado Colégio.