quinta-feira, 16 de novembro de 2017

PANEGIRICO DE DOM JOSÉ PEREIRA ALVES SOBRE EXTREMOZ


       Panegirico é segundo o dicionário um discurso de exaltação feito publicamente em louvor de alguém ou de uma entidade abstrata. Por extensão, é elogio que se faz formal e solenemente.
     Foi o que fez em 1928, o então bispo de Natal, dom José Pereira Alves, grande orador sacro, ao se despedir dos seus diocesanos e do povo do Rio Grande do Norte numa conferência realizada no então teatro Carlo Gomes, atualmente Alberto Maranhão, proferiu estas palavras a respeito da vila de Extremoz “eu amo a solidão histórica de Extremoz”[1].
      As palavras elogiosas da solidão histórica de Extremoz foram lembranças do referido bispo ao regressar de uma viagem de repouso a Extremoz, cheia de lendas e tradições.
     O discurso completo certamente deveria conter outras menções a cerca da então vila de Extremoz visitada pelo bispo de Natal,infelizmente não encontramos o mesmo.
     Dom José Pereira Alves (Palmares-PE, 05/05/1885 — 21/12/1947) foi bispo da diocese de Natal-RN (1923-1928), de onde foi transferido para a diocese de Niterói-RJ (27/01/1928).
      Eis a baixo imagens das ruínas do complexo histórico colonial de Extremoz que foi vista por dom José Pereira Alves.

                                            Ruínas de Extremoz





                                                      Dom José Pereira Alves

"Eu amo a solidão histórica de Extremoz" Dom José Pereira Alves.










[1] Esta frase de dom José Pereira Alves foi citada por Nilo Pereira numa crônica publicada no jornal Diário de Pernambuco em 1972, p. 4.

SOBRE A VITICULTURA NO RIO GRANDE DO NORTE

    Parece inacreditável, mas a viticultura começou a ser cultivada em terras potiguares em 1959, quando o Departemento Nacional de Obras Contra as Secas-DNOCS distribuiu as primeiras mudas de enxertos de videiras para plantio. No vale do Açu e no litoral oriental foram iniciadas as primeiras experiencias do cultivo de uvas no Rio Grande do Norte.
   No entanto o plantio de uvas no Rio Grande do Norte é atribuído aos portugueses Antônio de Sá Martins e Roque Dias de Miranda, naturais de Fragoso, Braga, ambos pertencentes a famílias de viticultores.
    Antônio de Sá Martins começou plantando 150 videiras em seu quintal nos arredores de Natal em 1956.Em 1957 havia colhido 4 kg de boa uva por pé, com cachos chegando a pesar 700 gramas ou mais.
     Animado com a experiência, Antônio de Sá Martins comprou uma fazenda no município de Nísia Floresta em 1958, ali plantou 2.500 enxertos de videiras das variedades Niágara branca e rosada que foram fornecidas pelo DNOCS. Da variedade Moscatel branca plantou mais de 50 mudas e 50 da variedade moscatel argentina. Em 1959 o vinhedo já estava frutificando.
   Os portugueses viticultores esperavam colher 12 mil quilos de uvas. Eles venderam uvas em Natal ao preço de Cr$ 150 o quilo.
   Os dois sócios compraram um sitio ao lado da lagoa de Extremoz e lá iniciaram o plantio de 5 mil videiras, também fornecidas pelo DNOCS.
    A seção de fomento agrícola do ministério da agricultura sediada em Natal, não deu nenhum amparo a iniciativa dos portugueses e até procurou desestimulá-los. Segundo os agrônomos técnicos da seção de fomento do ministério da agricultura, o Rio Grande do Norte não teria ecologia para a viticultura.
   Contrariando os “técnicos” do ministério da agricultura plantações de uvas eram verificadas em Natal, onde o sol reina 300 dias por ano, como na granja do então bispo de Natal dom Nivaldo Monte, localizado próximo ao aeroporto de Parnamirim[1], as uvas apresentavam ótimo comportamento e igualmente produção. A expectativa para colheita da produção era boa para o ano de 1961.Dom Nivaldo Monte estava entusiasmadíssimo e era grande divulgador das vantagens da viticultura no nordeste.

Fonte: O Observador Econômico e Financeiro, 1959, p. 49-50.




[1] Granja essa atualmente é o seminário menor de São Pedro situado as margens da BR 101 no bairro de Emaús em Parnamirim.

SOBRE A INAUGURAÇÃO DO TRECHO ENTRE ANGICOS E SÃO RAFAEL


         O trecho entre Angicos e São Rafael da Estrada de Ferro Sampaio Correia de apenas 45 km foi inaugurado em 1957, a construção desse pequeno trecho ferroviário durou mais de 20 anos. Se forem contabilizados o tempo e o dinheiro gasto na construção desse trecho se verá que o mesmo custou 10 vezes mais do que deveria ter custado (O SEMANÁRIO, 1957, p.6).
      Mesmo assim o trecho que era esperado a meio século pela população daquela região havia sido inaugurado.
       No entanto, e parece que no Brasil e no Rio Grande do Norte é tradição, o trecho havia sido inaugurado ainda faltando algumas obras complementares como obras de artes e raspagens de alguns quilômetros.
     Os trilhos se estendiam em 13 km direção a Jucurutu margeando o rio Piranhas no sentindo de atingir a Caicó na região do Seridó potiguar.
     Assim, segundo o que foi exposto a cima o trecho entre Angicos e São Rafael, se a construção durou 20 anos para ser concluída, então o mesmo havia sido iniciado em 1937, porém, o projeto de estender os trilhos já era bem mais antigo, cerca de 50 anos, portanto, desde 1907, que se pensava em atingir São Rafael por meio da ferrovia.
      De fato, o projeto inicial da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte era chegar a Caicó margeando o rio Piranhas-Assu.
      Houve também a ideia de fazer um ramal entre São Rafael e Augusto Severo, atualmente Campo Grande, o qual permitiria a ligação da Estrada de Ferro Sampaio Correia e a Estrada de Ferro de Mossoró (O SEMANÁRIO, 1959, p.7). Como se sabe o plano ficou somente no campo das boas ideias e intenções pois jamais ocorreu a interligação das duas citadas ferrovias.
    O trecho ferroviário entre Angicos e São Rafael foi considerado antieconômico pela RFFSA tendo sido desativado em 1964.O incrível é acreditar que uma região onde se tinha a ocorrência de mármore, ferro e até ouro pode ser considerado antieconômico. 

Obras da EFSC
       Em 1957 também se fizeram outras obras na EFSC como a construção de um pontilhão em Massangana, a conclusão do viaduto da Pedra do Rosário em Natal em estrutura de concreto armado, muro de arrimo, pavimentação da área fronteiriça e via de acesso, foram feitas desapropriações para a conclusão dessa obra. Por fim foram realizadas obras de proteção do leito da EFSC ao atravessar a cidade de Ceará-Mirim. (JORNAL DO COMMERCIO, 1957, p. 4).










Fonte: O Semanário, RJ, 1957.JORNAL DO COMMERCIO, 1957.

IMPRESSÕES DE HUMBERTO PEREGRINO SOBRE EXTREMOZ EM 1959


      Em viagem realizada a Extremoz pelo trem da Estrada de Ferro Sampaio Correia feita pelo escritor e jornalista Humberto Peregrino eis como encontrou e descreveu a cidade de Extremoz naquele ano de 1959.
      Logo de cara ele registra seu desapontamento ao chegar a cidade “antes não tivesse ido a Extremoz para vê o que vi”, e prossegue dizendo:
     Do que outrora era a bela igreja e o colégio[1] dos primeiros tempos da colonização, restam de pé apenas algumas poucas paredes. Tanto cavaram em volta, em busca dos tesouros que teriam sido escondidos pelos jesuítas que a construção colonial desapareceu substituída por uma igreja pobre, reles[2]. O cruzeiro, é verdade, ainda resiste, porem troncho, ameaçado também, não passa de uma ruina.
      Outros pontos do então distrito de Extremoz, que outrora havia sido um dos primeiros municípios do Rio Grande do Norte não escapou do olhar critico de Humberto Peregrino, “nas ruas penduram fios elétricos sem função. Seriam para dar luz elétrica ao lugar”. Promessa eleitoral que estancou nos fios disse o referido cronista.
    Sobre a cadeia pública disse Umberto Peregrino: “a cadeia velha, outra construção colonial também foi suprimida. Restou apenas uma fatia de parede agora servindo de muro ao quintal do padre, como excêntrico apêndice à igreja”. E como humilha a construção moderna aquele resíduo do passado, lamenta o cronista.
      O mercado era novo, segundo Peregrino em estilo catita e “sortimento não tem, a não ser de bebidas, no que é farto principalmente quanto a cachaça, cerveja e vermute”.
       Segundo Umberto Peregrino ‘na atual Extremoz desfigurada pelos cobiçosos que lhe destruíram as construções coloniais fazendo escavações infrutíferas e ludibriada pelos políticos que lhe acenavam progressos materiais cuja concessão se interrompeu no exato momento que os votos foram obtidos nessa Extremoz atual, desfigurada e ludibriada”[3].
    Nem tudo era só criticas negativas feitas por Humberto Peregrino em Extremoz. Segundo ele “de bom mesmo só encontrei a vendinha de dona Luísa Morais instalada bem ao lado mercado sob a sombra generosa de uma imensa mangueira antiga”. Dona Luísa era uma mulher simpática e viva que sabia informar e agradar.
      Ainda sobre as coisas boas de Extremoz diz peregrino que dignos da tradição de Extremoz eram os grudes de dona Joana do Café, a quem visitou em busca dos mesmo onde “fiquei pensando, enquanto devorava com delicia, que nada mais restará de Extremoz no dia em que deixarem de existir também os grudes de dona Joana do Café. Felizmente as previsões da extinção da cultura do grude feita por Humberto Peregrino não se cumpriram, até agora pelo menos.
    Humberto Peregrino revela em sua crônica sobre Extremoz algo bem interessante, segundo ele: “Contudo a política sempre deixou algo. Um diretor da Estrada de Ferro Sampaio Correia[4], que queria fazer-se deputado (e alcançou) colocou água encanada derivada da farta caixa d’água de abastecimento dos trens”. Assim, Extremoz foi uma das primeiras cidades a ter água encanada no Rio Grande do Norte, embora na época desse fato figurasse como distrito de Extremoz.

Fonte: Revista Careta, Rio de Janeiro, 1959, edição 2644, p. 6.


     Essa foi a paisagem encontrada por Humberto Peregrino em sua visita a Extremoz.

Ruínas do complexo colonial de Extremoz.





[1] Na verdade fora um convento dos padres da Companhia de Jesus que fundaram a missão de São Miguel do Guajiru, depois denominada Vila Nova de Extremoz depois que os padres foram expulsos em 1763.

[2] No ano de 1915 foi descoberta a galeria subterrânea que ligava o complexo histórico da igreja e do convento a lagoa de Extremoz, de tesouro nada foi encontrado, pelo menos o que se sabe oficialmente nos documentos oficiais da época. A igreja nova foi inaugurada no início da década de 1940 em lugar próximo as ruinas do complexo antigo.

[3] Extremoz só alcançou a autonomeia política em 1963.

[4] Foi o próprio Sampaio Correia que fora engenheiro responsável pela construção do trecho ferroviário entre Natal e Ceará-Mirim da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.