Em
viagem realizada a Extremoz pelo trem da Estrada de Ferro Sampaio Correia feita pelo escritor e jornalista Humberto Peregrino eis como encontrou e descreveu a
cidade de Extremoz naquele ano de 1959.
Logo
de cara ele registra seu desapontamento ao chegar a cidade “antes não tivesse ido
a Extremoz para vê o que vi”, e prossegue dizendo:
Do
que outrora era a bela igreja e o colégio[1]
dos primeiros tempos da colonização, restam de pé apenas algumas poucas paredes.
Tanto cavaram em volta, em busca dos tesouros que teriam sido escondidos pelos jesuítas
que a construção colonial desapareceu substituída por uma igreja pobre, reles[2].
O cruzeiro, é verdade, ainda resiste, porem troncho, ameaçado também, não passa
de uma ruina.
Outros
pontos do então distrito de Extremoz, que outrora havia sido um dos primeiros municípios
do Rio Grande do Norte não escapou do olhar critico de Humberto Peregrino, “nas
ruas penduram fios elétricos sem função. Seriam para dar luz elétrica ao lugar”.
Promessa eleitoral que estancou nos fios disse o referido cronista.
Sobre
a cadeia pública disse Umberto Peregrino: “a cadeia velha, outra construção colonial
também foi suprimida. Restou apenas uma fatia de parede agora servindo de muro
ao quintal do padre, como excêntrico apêndice à igreja”. E como humilha a
construção moderna aquele resíduo do passado, lamenta o cronista.
O
mercado era novo, segundo Peregrino em estilo catita e “sortimento não tem, a
não ser de bebidas, no que é farto principalmente quanto a cachaça, cerveja e
vermute”.
Segundo
Umberto Peregrino ‘na atual Extremoz desfigurada pelos cobiçosos que lhe destruíram
as construções coloniais fazendo escavações infrutíferas e ludibriada pelos políticos
que lhe acenavam progressos materiais cuja concessão se interrompeu no exato
momento que os votos foram obtidos nessa Extremoz atual, desfigurada e
ludibriada”[3].
Nem
tudo era só criticas negativas feitas por Humberto Peregrino em Extremoz. Segundo
ele “de bom mesmo só encontrei a vendinha de dona Luísa Morais instalada bem ao
lado mercado sob a sombra generosa de uma imensa mangueira antiga”. Dona Luísa
era uma mulher simpática e viva que sabia informar e agradar.
Ainda
sobre as coisas boas de Extremoz diz peregrino que dignos da tradição de
Extremoz eram os grudes de dona Joana do Café, a quem visitou em busca dos
mesmo onde “fiquei pensando, enquanto devorava com delicia, que nada mais
restará de Extremoz no dia em que deixarem de existir também os grudes de dona Joana
do Café. Felizmente as previsões da
extinção da cultura do grude feita por Humberto Peregrino não se cumpriram, até
agora pelo menos.
Humberto
Peregrino revela em sua crônica sobre Extremoz algo bem interessante, segundo
ele: “Contudo a política sempre deixou algo. Um diretor da Estrada de Ferro
Sampaio Correia[4],
que queria fazer-se deputado (e alcançou) colocou água encanada derivada da
farta caixa d’água de abastecimento dos trens”. Assim, Extremoz foi uma das primeiras
cidades a ter água encanada no Rio Grande do Norte, embora na época desse fato
figurasse como distrito de Extremoz.
Fonte: Revista Careta, Rio de Janeiro, 1959, edição 2644,
p. 6.
Essa foi a paisagem encontrada por Humberto Peregrino em sua visita a Extremoz.
Ruínas do complexo colonial de Extremoz. |
[1]
Na verdade fora um convento dos padres da Companhia de Jesus que fundaram a
missão de São Miguel do Guajiru, depois denominada Vila Nova de Extremoz depois
que os padres foram expulsos em 1763.
[2]
No ano de 1915 foi descoberta a galeria subterrânea
que ligava o complexo histórico da igreja e do convento a lagoa de Extremoz, de
tesouro nada foi encontrado, pelo menos o que se sabe oficialmente nos
documentos oficiais da época. A igreja nova foi inaugurada no início da década de
1940 em lugar próximo as ruinas do complexo antigo.
[3]
Extremoz só alcançou a autonomeia política em 1963.
[4]
Foi o próprio Sampaio Correia que fora engenheiro responsável pela construção
do trecho ferroviário entre Natal e Ceará-Mirim da Estrada de Ferro Central do
Rio Grande do Norte.
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