quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O DIA EM QUE O MÁGICO FU-MANCHU ESTEVE EM NATAL



Quem danado era Fú-Manchú?
David Tobias Bamberg (*19/02/1904 Derby, Irlanda +19/08/1974, Buenos Aires, Argentina) foi um ilusionista britânico conhecido sob o pseudônimo de "Fu Manchu".
Seu show eram um sucesso desde o início de sua carreira. Com o tempo, suas produções se tornaram o espetáculo mais extravagante e excepcional do mundo. Fu-Manchú foi reconhecido em todo o mundo por seu show "Bazar de magia", que ele realizava com a presença de atores, acrobatas e mágicos conhecidos internacionalmente.

David Tobias Bamberg (Fú-Manchú)

O ato consistia em representar uma loja de magia, na qual um comprador solicitou vários efeitos mágicos, que foram feitos por Fu-Manchú.
Segundo o jornal A Ordem estava marcada para o dia 18/07/1948 a visita a Natal da Companhia de Ilusionismo que trazia como principal figura Fú-Manchú “mágico e ilusionista de fama mundial”, dizia o jornal.A apresentação seria realizada no Teatro Carlos Gomes, atual Alberto Maranhão.
O jornal fez questão de lembrar ao natalenses quem era o mágico que estaria ao vivo e em cores na capital potiguar.
        Conforme se lia no jornal A Ordem: Fú-Manchú, para que se tenha maior exatidão dos seus dotes artísticos, filmou ante as câmaras da cinematografia americana, 42 películas, tendo há pouco tempo exibido ao público natalense através do celulose em serie “os seis tambores de Fun Manchú”, rodada pelos projetores do Cine Teatro São Luiz.Portanto, já que os natalenses estão a par das atividades artitisco-cinematrográficas de Fú-Manchú presenciarão uma interessante sequência de espetáculos na ribalta do Teatro Carlos Gomes em que será figura central das exibições o ilusionista Fú-Manchú em carne e osso (a ordem, 10/06/1948,p.8).

A Chegada a Natal
         Pelo trem interestadual da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte de 05/07/1948 procedente de João Pessoa chegou a Natal a Companhia de Maravilhas de Fú-Manchú para apresentação no Teatro Carlos Gomes na capital potiguar tendo como espetáculo de abertura da temporada a fantasia “O dragão de fogo” no qual tomariam parte além de Fú-Manchú, com números de ilusionismo, um elenco de, aparecendo a figura de Micalé, cômico que tem uma série de películas na cinematografia americana. ( a ordem, 06/07/1948,p.8).
         Não encontramos nada a respeito da apresentação realizada no teatro Carlos Gomes.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

UMA CIDADE REVOLTADA COM O ROUBO DAS IMAGENS


O caso ocorrido na pequena cidade de Vila Flor, situada a 10 km de Canguaretama e 90 km de Natal, é digno daqueles roteiros de filme que misturam suspense, mistérios e drama.
Trata-se do fato da população que estava revoltada com o sumiço misterioso das 3 imagens  de santos da igreja local, inclusive  a da padroeira Nossa Senhora do Desterro.
         As outras imagens roubadas foram as de Nossa Senhora do Rosário e São Joaquim, tendo os ladrões deixado o templo praticamente vazio, o que levou a população a tomar a decisão de conjunta de ninguém trabalhar para forçar a tomada de providencias enérgicas das autoridades competentes.
        A medida levou o prefeito, Cristovão Fagundes a distribuir uma nota oficial repudiando o roubo e apelando no sentido de que o crime fosse reparado, a fim de ser preservado o sentimento de religiosidade que estreitava a comunidade inteira, abençoando e conduzindo-a aos seus caminhos de progresso e de paz.
       Também o Sr. Osvaldo de Souza, representante do Patrimônio Histórico no Rio Grande do Norte informou que as imagens não estavam tombadas, sendo que apenas a antiga Casa  da Câmara e Cadeia pertenciam ao IPHAN, disse ainda que o roubo das imagens era uma constatação de negligência do próprio  povo de Vila Flor, como também do vigário de Canguaretama, a quem pertencia a capela, que era cuidada por uma moradora da localidade.
      Disse também que se imagens fossem do século XVIII e no estilo barroco, deviam valer uma fortuna (naquela época os ladrões de imagens sacras constituíam verdadeiras quadrilhas especializadas em furtar santos de valor histórico inestimáveis e conhecedoras dos valores das peças roubadas).

A movimentação em Vila Flor
         O repicar de sinos foi o primeiro ato dos protestos da população, que estava disposta mobilizar todas as forças para recuperar as imagens centenárias. Depois foi realizada reuniões, enquanto vários telegramas eram expedidos a todas as autoridades do Rio Grande do Norte solicitando providências.
        A baixo Dom Nivaldo Monte  (ao centro de terno) e o padre Pedro a direita.O arcebispo metropolitano de Natal foi a Vila Flor tentar acalmar os ânimos da população mas só encontrou um clima de hostilidade para com o padre Pedro acusado pelo roubo das imagens junto com a freira alemã.Ao fundo a igreja de Vila Flor do século VXIII de onde as imagens foram roubadas.


         Em Vila Flor compareceram imediatamente o arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte e o tenente Belmiro de Medeiros, delegado da DIRFD e o próprio padre José Pedro, este estava sendo acusado pelo povo de ter participado doa to criminoso que provocou a movimentação fora do comum no pacato vilarejo de Vila Flor.
         Uma grande multidão de homens, mulheres e crianças se concentravam em frente a igreja do século XVII chegando mesmo a ameaçar o vigário José Pedro ,  a quem foram dirigidas palavras hostis por alguns mais revoltados, “esse padre só não apanha porque veio em companhia do bispo” dizia o povo.
Consciência tranquila
         O padre José Pedro, de 35 anos, que estava sendo acusado juntamente com a freira alemã Ana Elizabeth Lenzie, de 40 anos, pelo roubo das imagens, afirmava por sua vez que a verdade haveria de surgir, para então o  povo de Vila Flor verificar como foi ingrato para com ele, porém o  padre afirmava que não desejava o mal aqueles moradores pois o importante era perdoar sempre.
      Ele dizia ainda que o arcebispo iria tomar as providências e durante muito tempo de frequentar a igreja de Vila Flor quase como um castigo, pois o povo de teria que se deslocar até Canguaretama para assistir atos religiosos e dizia ainda que estava com a consciência tranquila.
      Também a freira declarava ser um absurdo e não tinha nada a dizer sobre as acusações infundas e maldosas.
     Um dos fatores que fez a população de Vila Flor acreditar que a missionária alemã estivesse envolvida no desaparecimento das imagens foi que ela, em visita a igreja, se entusiasmou muito com a beleza dos santos, examinando-os detalhadamente e revelando que eram de grande valor artístico.
      Comentava-se ainda que o padre  José Pedro estaria conivente com a freira.Também na madrugada do roubo foi ouvido barulho de Volks nas proximidades  da igreja sendo que a freira realmente possuía um automóvel da mesma marca, por sua vez o Sr. João Felinto, suplente do delegado afirmava ter sido apenas a freira a autora material ou intelectual da imagens.Corroborava para essa afirmação do delegado o fato de que há alguns dias antes ela esteve na cidade em companhia de um senhor de barba e os dois ficaram entusiasmados com as imagens.
      O roubo foi percebido quando a zeladora Lindalva de Oliveira abriu a igreja a pedido de uma mulher que desejava pagar uma promessa. O alarme foi dado e mais 80 homens queria caminhar até a cidade de Canguaretama,onde morava o padre e a catequista acusados para vasculhar  as casas dos dois.Com muito esforço, no entanto, o prefeito conseguiu demover dessa intenção.
     Em Vila Flor o clima era de tensão e revolta que aumentava a medida que se aproximava a data da festa da Padroeira no dia 12 de fevereiro, pois as imagens foram roubadas quando o município se preparava para o acontecimento cujos os planos foram mudados.
       E o pior é que já se tinha um clima de guerra santa entre a população de Vila Flor e Canguaretama, pois o povo desta cidade estaria disposto a levar o padre José Pedro até a primeira arrumado para rezar uma missa, afirmando que o vigário não seria molestado.Mas o povo de Vila Flor garantia por sua vez, que se os moradores de Canguaretama realmente fizessem essa provocação  seriam recebidos com pancadaria.
         Ante a eminência de surgir um atrito de graves consequências  entre as populações das duas cidades, o tenente Belmiro Medeiros da DRPR deslocou-se novamente para a região,onde procurou sanar os ânimos  dos exaltados e conseguir uma solução pacifica para o impasse.Para tanto, ele prometia que as diligencias seriam realizadas com rigor.
       Mas no semblante de cada um dos moradores de Vila Flor notava-se a profunda tristeza de que todos estavam tomados, querendo as imagens de volta, pois acreditavam que era a própria segurança da localidade e que sem elas haveria seca, miséria e sofrimento.
        O clima era tenso naqueles dias de janeiro e fevereiro de 1972 na pacata Vila Flor, que havia renascido das cinzas depois de ter sido suprimida como município e permanecer mais de um século como distrito de Canguaretama. Seus pouco mais de 2.000 habitantes a época viram de repente suas vidas transformadas bruscamente pelo sumiço das imagens e colocar a cidade nas primeiras páginas dos jornais locais e nacionais.
Epilogo
         As imagens nunca foram recuperadas.O caso jamais foi solucionado.O padre José Pedro da Silva algum tempo depois deixou o sacerdócio, casou e exerceu o cargo de secretário de educação em Macaíba.A irmã retornou a Alemanha.
         O roteiro do filme já está feito, basta alguém querer produzi-lo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

NATAL NA DÉCADA DE 1950


   A seguir algumas imagens extraídas das revistas Careta de 1954 e 1956 e Manchete de 1957 que mostram aspectos de Natal nos referidos anos.

    A Avenida Getúlio Vargas, atualmente chamada de Ladeira do Sol
Fonte: Careta, 1954.
     A imponência da Maternidade de Natal, atual Maternidade Januário Cicco perdida em meio aos sítios que existiam no bairro do Tirol em 1954.
Fonte: Careta,1954.
        O prédio do Hospital Miguel Couto, atual Onofre Lopes, servia também de hotel em Natal onde lá havia os melhores quartos para se hospedar na capital potiguar.
Fonte: Careta,1956.
       O porto de Natal as margens do rio Potengi visto do mirante do cruzeiro em frente a igreja de Nossa Senhora do Rosário na Cidade Alta.
Fonte: Careta, 1956.
    A sede do Instituto de Proteção a Infância de Natal, atual Hospital Infantil Varela Santiago, situado na Avenida Deodoro da Fonseca no centro.
Fonte: Careta, 1954.
       O Paço da Pátria (ou seria Passo da Pátria?) o antigo porto de desembargue de passageiros que chagavam a capital potiguar por navios ou hidroaviões que ancoravam no rio Potengi.Já apresentava sinais de decadência e miséria em 1956 segundo o escritor Humberto Peregrino em crônica sobre a cidade de Natal na revista Careta em 1956.
Fonte: Careta, 1956.
 A avenida circular na Praia do Meio.
Fonte: Careta, 1956.
       O forte dos Reis Magos com o frontão de entrada e o farol que lá havia.
Fonte: Careta, 1954.
   As famosas lavadeiras da Quintas lavando as roupas no riacho que cortava aquele bairro, atualmente o riacho da Quintas foi reduzido a um canal de esgotos.
Fonte: revista Manchete, 1957.

  Continuação da foto anterior que mostrava as roupas estendidas nas margens do riacho das Quintas.
Fonte: Revista Manchete, 1957.

domingo, 6 de janeiro de 2019

O CEGO DE CAICÓ QUE DESCOBRIU A XELITA E O URÂNIO NO RIO GRANDE DO NORTE


       Eis uma daquelas histórias dignas de um roteiro de filmes inspiradores (daqueles que o começo se inicia com “baseado em fatos reais”).Trata-se da história de Joel Celso Dantas, que foi o descobridor da xelita (também escrita Schelita) e do urânio no Nordeste. A história da sua vida é um comovente exemplo do quanto pode a obstinação de um nordestino, por  descobrir e provar a ocorrência das incalculáveis riquezas e jazidas de minérios escondidos no subsolo de sua terra. Alguém já bem o disse que devemos ler biografias de grandes homens.É uma interessante síntese biográfica de uma grande homem desconhecido.Nordestino, potiguar, caicoense!.
      A Revista Manchete contou a história de Joel Dantas em 1957 quando ele estava no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde Santa Maria, nas Laranjeiras, tentando recuperar sua visão.Acompanhemos.
     Ele nasceu em Caicó, aos 7 anos ficou cego por causa de uma queratite (opacificação da córnea).Foi ao Recife se tratar, mas voltou desiludido: ficara uma pequena réstia de visão embaçada, para a qual de nada adiantaria o uso de óculos.
     Fez questão, porém, de continuar frequentando a escola, mesmo como ouvinte, apenas. Pedia aos colegas e amigos que lessem livros para ele. ”comecei a gostar de livros de ciência”, contou a revista. E passou a interessar-se pela Física.Pensou na sua própria cegueira e dedicou-se ao estudo das lentes.10 anos depois, conseguiu fazer uma combinação de lentes que lhe restituiu um pouquinho de visão.”senti um contatamento enorme, quando vi uma letra novamente”.
      Habituou-se, desde então, a uma leitura penosa. Das várias lentes combinadas, chegou a perfeição de um aparelho chamado “conta-fios”, através do qual lia letra por letra, mas lia.Assim, penosamente, já havia conseguido devorar centenas de livros.Soletrava.Se era interrompido no meio da palavra, tinha de recomeçá-la para pegar-lhe novamente o sentido.Tinha uma ortografia própria, pois a cegueira o atingiu numa idade em que ele não tinha aprendido a escrever.
     Sua mãe gostava de colecionar pedras bonitas em casa. Quando saía, levado por ela, para fazer passeios pelo sertão, apanhava seixos nas estradas e trazia-os para apalpá-los e estudá-los.Casou-se aos 19 anos.em 1935, leu o primeiro volume de mineralogia.
                                                 
                                                            Joel Dantas

Fonte: Revista Manchete, 1957.


Como descobriu a primeira xelita
   Passou a analisar aquelas pedras, no fundo do seu quintal, ajudado pela mulher. Ganhava, então, 200 mil réis por mês, dos quais ainda tirava uma parte para construir forjas rústicas.Nas análises, encontrava ouro, ferro, titânio."Eu não sabia que a Natureza não poderia ter sido tão madrasta com o Nordeste, ao dar-lhe apenas seca, falta de chuvas, misérias, privações.Aquelas pedras tão abundantes devia ter algum valor", disse Joel.
   E tinham.Através delas, Joel Dantas chegou a certeza da existência de maiores possibilidades minerais: aquelas rochas matrizes, pelas suas características, deviam possuir maiores quantidades de minérios.Toda aquela região inóspita era um imenso lençol de riqueza subterrânea.
    Em 15/10/1941, mesmo lutando contra a cegueira, Joel Dantas conseguiu descobrir, na fazenda Riacho de Fora, a primeira xelita: uma pedra desconhecida, muito pesada, diferente de todas as outras.“Não vale nada”, disseram-lhe.Na Paraíba, um comerciante ofereceu  50 centavos pelo quilo.Joel indignou-se: “imagina: 50 centavos por um quilo de tungtênio, o minério que vai revolucionar o mundo”.

A primeira fase da batalha
      Havia em Natal um padre sábio, o padre Monte (Cônego Nivaldo Monte, 1918-2006, arcebispo de Natal entre 1967 e 1988) que acreditou nele. Apesar desse depoimento autorizado, ninguém acreditava naquela história. Joel Dantas saiu pelo interior a fazer propaganda de sua descoberta, para ver se os fazendeiros se interessavam por ela. Descobriu nada menos de uma tonelada e meia do minério, nos mais diferentes pontos da região.
       O Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro, terminou finalmente confirmando o seu laudo: aquelas pedras eram realmente xelita. Estava ganha a primeira batalha.Faltava o resto: a batalha pela exploração.Mas, esta seria bem mais fácil, pois, não faltariam logo os proprietários de terra que se interessariam por ganha dinheiro.
      Isto se verificou, realmente, com dezenas deles, inclusive o famoso desembargador aposentado Tomás Salustino, que já estava ganhando centenas de milhões de cruzeiros com a sua mina Brejuí. A primeira pedra do desembargador foi levada a Joel Dantas, por intermédio do governador do Rio Grande do Norte a época, Dinarte Mariz. Ninguém acreditava nela, pois, tinha forma de areia. Mas, Joel disse que se tratava de xelita de boa qualidade.O desembargador se convenceu e tratou de explorar sua mina, transformado-se numa das maiores fortunas do país.
   Constatou a presença de urânio de alto teor, numa extensão de 10 km no litoral nordestino, por intermédio de um aparelho  Geiger, que o almirante Álvaro Alberto lhe mandou de presente.
     Enquanto isso, o cientista continuava cego e passando privações. Já havia localizado centenas de minas de berilo, columbita, tantalita, abrigonita, granada, bismuto, estanho, florita e outros. Diariamente, chegavam-lhe as mãos, na sua casa em Natal, dezenas de pedras para análises, vindas de todos os Estados do Nordeste. Ele as analisava e classificava criteriosamente.
      Em 1957, aos 38 anos, Joel Dantas já havia feito mais de 20 mil anotações de análises, demonstrando a existência de reservas incomensuráveis de minérios, em toda a região nordestina. Mas, pelo seu trabalho, muitos dos que o procuravam e que depois ficaram milionários à custa dos seus laudos, nem se lembravam de pagar Cr$ 100 ou Cr$ 200. Por isto, Joel Dantas continuava pobre, ele que tinha dado riqueza a tanta gente! (MANCHETE, 1957, p.37-39).

“Eu vi”
     Em 1957 Joel Dantas se submeteu a um transplante de córneas. “Eu vi”, disse Joel Dantas, ao sair da sala de cirurgia.Contava 38 anos, dos quais 30 como cego.A cirurgia foi feita pelo Dr. Abreu  Fialho.
     Chegou ao Rio de Janeiro depois de uma campanha feita por um jornalista (a revista não cita) e o médico Xavier Fernandes, diretor da Divisão de Organização Hospitalar do Ministério da Saúde, tendo que se submeter a um intenso tratamento pré-operatório, pois, estava pensando 45 kg e queimado dos pés a cabeça pelas emanações radioativas das amostras de minérios que ia descobrindo e pesquisando.
     “Eu vi”. Joel Dantas guardou a confissão para fazê-la em primeiro lugar a sua mulher e ao jornalista que o  ajudou (a revista manchete não cita o nome de ambos).
      - Viu o quê?
      - Vi um clarão imenso, logo seguido pela formação nítida de certas imagens. Vi o bisturi na mão do Dr. Fialho, antes mesmo de que ele me enxertasse a outra córnea. Foi indescritível a sensação de ver pela primeira vez ( destaque nosso pela tomada de emoção com o referido  relato ao escrever o mesmo).No entanto, a confirmação do sucesso do transplante só poderia ser confirmado uma semana depois, até lá Joel Dantas deveria ficar com vendas nos olhos a fim de assegurar a cicatrização mais rápida.(MANCHETE, 1957,p.27).
      Joel Dantas foi o descobridor do petróleo em Macau em 1950 (MANCHETE, 1974, p.24). Os detalhes dessa descoberta é assunto para outra postagem.

                                            Joel Dantas antes da cirurgia

                                            Joel Dantas sendo operado

Joel Celso Dantas
       Joel Celso Dantas foi o cientista, potiguar, cego, que estudou Física e Química, através de um sistema de lentes combinadas que ele mesmo inventou e por meio das quais lia penosamente, letra por letra. Foi assim que devorou de zenas de tratados de mineralogia e geologia, chegando a conclusão de que no Rio Grande do Norte e o estados vizinhos do Nordeste possuíam um imenso lençol subterrâneo de minérios.
        
        
Fonte: Revista Manchete, 1957, 1974.

sábado, 5 de janeiro de 2019

A FEIRA E O BAIRRO DO CARRASCO



       Quem passa as quartas-feiras pela Avenida Bernardo Vieira próximo ao cruzamento com linha do trem e sente o nauseante cheiro de peixe sabe que está se aproximando da feira do Carrasco, tradicional e pitoresca feira da capital potiguar.A seguir a origem dessa feira e do bairro.

A feira do Carrasco
         A feira do Carrasco é uma tradicional feira existente em Natal realizada as quartas-feiras no cruzamento da rua dos Pegas com a avenida Bernardo Viera no atual bairro de Dix Sept Rosado.
Sua origem deu-se em vista do grande número de habitantes residentes no Carrasco, então subúrbio na capital, onde um grupo de comerciantes, tendo a frente os Srs. José Joaquim de Andrade, Manoel Cândido filho, Pedro Ferreira da Silva, Aprizio Joaquim de Oliveira e Francisco Lourenço dos Santos, que estiveram com o Prefeito da capital pleiteando a instalação nas quartas-feiras, de uma feira livre naquele local.
 A ideia teve o pleno apoio do prefeito de Natal, que por sua vez havia dado autorização ao fiscal geral da prefeitura para fazer inaugurar no dia 07/02/1945, a feira do Carrasco.
Para o jornal a Ordem prestava-se, assim, mais um grande benefício a população do Carrasco, e as pessoas residentes nas circunvizinhanças, perante a bem avantajada  distância que as separava da feira do Alecrim (A ORDEM, 01/02/1945, p.6).
      Convém lembrar, nesta altura, que é bem animador o movimento religioso no Carrasco, tanto assim que está ampliando a capela São Sebastião, uma vez que a mesma se torna pequena para conter o grande número de fiéis que a frequentam. (A ORDEM, 01/02/1945, p.6).

A inauguração
A edição do dia 08/02/1945 do jornal A Ordem registrou a inauguração da feira do Carrasco ocorrida no dia anterior.Segundo o referido jornal foi graças ao espírito de iniciativa de um grupo de comerciantes conterrâneos, e ao apoio dado pelo prefeito da capital que “foi inaugurado, ontem, a rua Baraúna, no trecho popularmente conhecido por “Carrasco”, a feira livre daquele populoso subúrbio natalense” (A ORDEM, 08/02/1945, p.6, aspas internas do original). O jornal registrou ainda que a instalação da feira, ali, fez-se sob os mais entusiásticos auspícios, pois, foi avultadíssimo o número de pessoas que a ela compareceu, o que bem demonstrava o quanto traria a feira de benefícios às pessoas residentes naquelas imediações (A ORDEM, 08/02/1945, p.6).
A feira do Carrasco funcionaria todas as quartas-feiras (A ORDEM, 08/02/1945, p.6).

                        Rua dos Pegas onde ocorre a feira do Carrasco

                                       Aspectos da feira do Carrasco


O bairro do Carrasco
Um dos bairros ou subúrbios da cidade que estava crescendo aos pulos era o Carrasco segundo o jornal A Ordem em 1946.
Dizia o jornal que não se sabia exatamente a origem do seu nome, mas sem dúvida se referia a vegetação rasteira que deveria ter sido sempre a característica daquela região natalense.
Era a zona mais afastada da Capital a época citada, situado nas proximidades da estrada dos viajantes que vinham do sertão, “naquela tão perigosa marcha para as cidades com o consequente abandono dos campos, é para onde se inclinam os mais pobres a morar” ( A ORDEM, 10/06/1946,p.4) devido a maior soma de facilidades encontradas ali como: terrenos mais em conta, aluguéis de casa, etc dizia o jornal citado.
Ainda para o jornal A Ordem outro fator para o crescimento do bairro do Carrasco foi o fato de que “com a guerra e as grandes obras de Parnamirim, foi vertiginoso o aumento de densidade de casas” (A ORDEM, 10/06/1946,p.4). E  mesmo, passado o “rush” ainda continuavam as construções, de toda espécie, não havendo da parte da prefeitura maiores exigências.
Nisto vai uma censura, dizia o jornal A Ordem, “pois, é justo que se facilite até certo ponto a construção de casas para gente pobre.Mas, o que nos parece que urge fazer-se, é um plano de arruamento, a fim de evitar que fique a situação de tal forma que vá custar, anos depois, uma fortuna em desapropriações” ( A ORDEM, 10/06/1946,p.4).
Do lado da estrada das Quintas para dentro já as casas estavam ficando mais ou menos desarrumadas, sendo oportuno providenciar-se enquanto é tempo. “É uma sugestão que fazemos ao ilustre prefeito da Capital” dizia o referido jornal (A ORDEM, 10/06/1946, p.4).
Mas, o Carrasco precisava de outros cuidados, segundo o mesmo jornal,  de ordem sanitária e de ordem moral-religiosa. Já tinha no bairro uma escola. Mas precisa a de assistência sanitária, “a fim que uma população boa e honesta não se deixe seduzir pelas mentiras comunistas, como está sucedendo”. (A ORDEM, 10/06/1946, p.4).Gente pobre e sem instrução, carente de serviços públicos era o terreno fértil para o ataque comunista sobre as mentes da população daquele lugar.
         Em 1947 o Carrasco já figurava como um dos 11 bairros da Capital potiguar. Os seus limites, segundo o jornal A Ordem eram: ao norte pelo trecho da Avenida Bernardo Vieira desde o cruzamento com a Estrada de Ferro Central até o cruzamento com a rua Romualdo Galvão. Seguindo por esta rua ao sul até a Avenida Capitão-Mor Gouveia e continuando por esta última em direção ao oeste indo encontrar a Estrada de Ferro Natal-Nova Cruz[1] por onde prosseguiria em direção ao norte até o cruzamento da Avenida Bernardo Vieira donde partiu. (A ORDEM, 06/10/1947, p.4).
         A primeira escola do bairro do Carrasco foi a Escola Isolada Getúlio Vargas.
        Em 1947 deu-se inicio pela Ação Católica de Natal a construção  do abrigo Bom Pastor para “mulheres descaídas”.O abrigo daria mais tarde nome ao atual bairro do Bom Pastor.


[1] A época só havia uma ferrovia cortando a capital potiguar devido a fusão em 1939 das duas que havia que passou a chamar-se unicamente de Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, tendo sido o trecho Natal a Nova Cruz sido incorporado a aquela.No entanto, no entendimento popular era como se houvesse duas ferrovias distintas, por isso se citava os nomes das ferrovias como assim fosse.