terça-feira, 8 de janeiro de 2019

UMA CIDADE REVOLTADA COM O ROUBO DAS IMAGENS


O caso ocorrido na pequena cidade de Vila Flor, situada a 10 km de Canguaretama e 90 km de Natal, é digno daqueles roteiros de filme que misturam suspense, mistérios e drama.
Trata-se do fato da população que estava revoltada com o sumiço misterioso das 3 imagens  de santos da igreja local, inclusive  a da padroeira Nossa Senhora do Desterro.
         As outras imagens roubadas foram as de Nossa Senhora do Rosário e São Joaquim, tendo os ladrões deixado o templo praticamente vazio, o que levou a população a tomar a decisão de conjunta de ninguém trabalhar para forçar a tomada de providencias enérgicas das autoridades competentes.
        A medida levou o prefeito, Cristovão Fagundes a distribuir uma nota oficial repudiando o roubo e apelando no sentido de que o crime fosse reparado, a fim de ser preservado o sentimento de religiosidade que estreitava a comunidade inteira, abençoando e conduzindo-a aos seus caminhos de progresso e de paz.
       Também o Sr. Osvaldo de Souza, representante do Patrimônio Histórico no Rio Grande do Norte informou que as imagens não estavam tombadas, sendo que apenas a antiga Casa  da Câmara e Cadeia pertenciam ao IPHAN, disse ainda que o roubo das imagens era uma constatação de negligência do próprio  povo de Vila Flor, como também do vigário de Canguaretama, a quem pertencia a capela, que era cuidada por uma moradora da localidade.
      Disse também que se imagens fossem do século XVIII e no estilo barroco, deviam valer uma fortuna (naquela época os ladrões de imagens sacras constituíam verdadeiras quadrilhas especializadas em furtar santos de valor histórico inestimáveis e conhecedoras dos valores das peças roubadas).

A movimentação em Vila Flor
         O repicar de sinos foi o primeiro ato dos protestos da população, que estava disposta mobilizar todas as forças para recuperar as imagens centenárias. Depois foi realizada reuniões, enquanto vários telegramas eram expedidos a todas as autoridades do Rio Grande do Norte solicitando providências.
        A baixo Dom Nivaldo Monte  (ao centro de terno) e o padre Pedro a direita.O arcebispo metropolitano de Natal foi a Vila Flor tentar acalmar os ânimos da população mas só encontrou um clima de hostilidade para com o padre Pedro acusado pelo roubo das imagens junto com a freira alemã.Ao fundo a igreja de Vila Flor do século VXIII de onde as imagens foram roubadas.


         Em Vila Flor compareceram imediatamente o arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte e o tenente Belmiro de Medeiros, delegado da DIRFD e o próprio padre José Pedro, este estava sendo acusado pelo povo de ter participado doa to criminoso que provocou a movimentação fora do comum no pacato vilarejo de Vila Flor.
         Uma grande multidão de homens, mulheres e crianças se concentravam em frente a igreja do século XVII chegando mesmo a ameaçar o vigário José Pedro ,  a quem foram dirigidas palavras hostis por alguns mais revoltados, “esse padre só não apanha porque veio em companhia do bispo” dizia o povo.
Consciência tranquila
         O padre José Pedro, de 35 anos, que estava sendo acusado juntamente com a freira alemã Ana Elizabeth Lenzie, de 40 anos, pelo roubo das imagens, afirmava por sua vez que a verdade haveria de surgir, para então o  povo de Vila Flor verificar como foi ingrato para com ele, porém o  padre afirmava que não desejava o mal aqueles moradores pois o importante era perdoar sempre.
      Ele dizia ainda que o arcebispo iria tomar as providências e durante muito tempo de frequentar a igreja de Vila Flor quase como um castigo, pois o povo de teria que se deslocar até Canguaretama para assistir atos religiosos e dizia ainda que estava com a consciência tranquila.
      Também a freira declarava ser um absurdo e não tinha nada a dizer sobre as acusações infundas e maldosas.
     Um dos fatores que fez a população de Vila Flor acreditar que a missionária alemã estivesse envolvida no desaparecimento das imagens foi que ela, em visita a igreja, se entusiasmou muito com a beleza dos santos, examinando-os detalhadamente e revelando que eram de grande valor artístico.
      Comentava-se ainda que o padre  José Pedro estaria conivente com a freira.Também na madrugada do roubo foi ouvido barulho de Volks nas proximidades  da igreja sendo que a freira realmente possuía um automóvel da mesma marca, por sua vez o Sr. João Felinto, suplente do delegado afirmava ter sido apenas a freira a autora material ou intelectual da imagens.Corroborava para essa afirmação do delegado o fato de que há alguns dias antes ela esteve na cidade em companhia de um senhor de barba e os dois ficaram entusiasmados com as imagens.
      O roubo foi percebido quando a zeladora Lindalva de Oliveira abriu a igreja a pedido de uma mulher que desejava pagar uma promessa. O alarme foi dado e mais 80 homens queria caminhar até a cidade de Canguaretama,onde morava o padre e a catequista acusados para vasculhar  as casas dos dois.Com muito esforço, no entanto, o prefeito conseguiu demover dessa intenção.
     Em Vila Flor o clima era de tensão e revolta que aumentava a medida que se aproximava a data da festa da Padroeira no dia 12 de fevereiro, pois as imagens foram roubadas quando o município se preparava para o acontecimento cujos os planos foram mudados.
       E o pior é que já se tinha um clima de guerra santa entre a população de Vila Flor e Canguaretama, pois o povo desta cidade estaria disposto a levar o padre José Pedro até a primeira arrumado para rezar uma missa, afirmando que o vigário não seria molestado.Mas o povo de Vila Flor garantia por sua vez, que se os moradores de Canguaretama realmente fizessem essa provocação  seriam recebidos com pancadaria.
         Ante a eminência de surgir um atrito de graves consequências  entre as populações das duas cidades, o tenente Belmiro Medeiros da DRPR deslocou-se novamente para a região,onde procurou sanar os ânimos  dos exaltados e conseguir uma solução pacifica para o impasse.Para tanto, ele prometia que as diligencias seriam realizadas com rigor.
       Mas no semblante de cada um dos moradores de Vila Flor notava-se a profunda tristeza de que todos estavam tomados, querendo as imagens de volta, pois acreditavam que era a própria segurança da localidade e que sem elas haveria seca, miséria e sofrimento.
        O clima era tenso naqueles dias de janeiro e fevereiro de 1972 na pacata Vila Flor, que havia renascido das cinzas depois de ter sido suprimida como município e permanecer mais de um século como distrito de Canguaretama. Seus pouco mais de 2.000 habitantes a época viram de repente suas vidas transformadas bruscamente pelo sumiço das imagens e colocar a cidade nas primeiras páginas dos jornais locais e nacionais.
Epilogo
         As imagens nunca foram recuperadas.O caso jamais foi solucionado.O padre José Pedro da Silva algum tempo depois deixou o sacerdócio, casou e exerceu o cargo de secretário de educação em Macaíba.A irmã retornou a Alemanha.
         O roteiro do filme já está feito, basta alguém querer produzi-lo.

3 comentários:

  1. Pra quem não conhece a história do roubo dos santos da igreja Nossa Senhora do Desterro em vila flor além de revoltante a história é emocionante.

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