quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A VISITA DO GOVERNADOR AS OBRAS DA EFCRGN EM TAIPU



        Em 03 Agosto de 1910 foi a vez do Governador Alberto Maranhão e comitiva fazer uma excursão de inspeção aos trabalhos de construção da EFCRGN no trecho entre Taipu e Baixa Verde que segundo o jornal A República "foi uma excelente e útil excursão a visita realizada ontem pelo Exmo. Governador do Estado e muitos cavalheiros de nossa sociedade, altos funcionários, comerciante, industriais, etc., aos trabalhos da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, a convite da empresa construtora J. Proença” ( A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).
        A época a EFCRGN estava sob concessão da empresa João Proença & Cia que ficou encarregada de construir o trecho entre Taipu e Caicó.
                                Governador Alberto Maranhão

        O trem especial da EFCRGN partiu da estação da Coroa em Natal as 06h30 da manhã, partiu, conduzindo, o governador Alberto Maranhão e demais convidados.
      Na estação de Ceará-Mirim incorporou-se a comitiva o intendente daquele município Felismino Dantas entre outros.

Descrevendo a paisagem
         O jornalista d’ A República presente na comitiva fez a seguinte  descrição da paisagem ( A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910):
         O tempo amanhecera chuvoso, mas foi melhorando pouco a pouco, permitindo aos excursionistas admirarem as numerosas obras de arte realizadas em toda a linha e as paisagens por vezes bem pitorescas e atraentes que descortinam como a lagoa de Estremoz, o verdejante e imenso vale do Ceará-Mirim, as ondulações do terreno pontilhado das manchas verdes e amarelas de algodão farto ou adornas com leques graciosos de carnaubais fugidios.
         E assim, na mais agradável convivência, teve a comitiva ocasião de verificar, de perto, o valor da nossa estrada de ferro de penetração, a legítima esperança dos nossos sertões combutos pela seca, em via de realizar-se totalmente.
Na estação de Ceará-Mirim, fez-se a substituição da locomotiva que até então conduzira o trem, por uma nova, denominada ‘Alberto Maranhão’ e segundo A República “assim batizada em gentil homenagem ao nosso eminente Chefe” ( A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).

Propaganda da EFCRGN
         O jornal A República aproveitou a ocasião (talvez a pedido do engenheiro chefe da EFCRGN) para fazer uma propaganda da referida ferrovia. Ei-la ( A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).
A [ locomotiva ] Alberto Maranhão é uma das seis poderosas máquinas ultimamente adquiridas pela Empresa para ativar o tráfego. Tem o peso em ordem de marcha de 58 toneladas e pode arrastar um comboio com capacidade máxima de 170 toneladas.
      Locomotivas de grande força exige trilhos mais resistentes do que os assentados em grande extensão do leito, motivo pelo qual estão sendo estes substituídos urgentemente.
A Estrada já tem, construído cerca de 77 km , 22 dos quais, do Ceará-Mirim ao fim da linha, com trilhos novos.

Uma  admirável obra de arte
Além de Taipu, parou o trem para uma visita a ponte sobre o rio Ceará-Mirim, entre os km 56 e 58.Esta é uma admirável obra de arte, sólida e perfeita, de 150 metros de cumprimento e 5 pilares de pedra separados por 30 metros.
         Apenas um destes, o central, está ainda por acabar. Informa-nos, porém, o Dr. Décio Fonseca, de que em setembro estará terminado e será feita a inauguração de uma nova estação com o tráfego sobre a ponte. ( A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).
                                   A ponte do Umari 

         A ponte estava sendo construída 4 km adiante da vila de Taipu, no atual distrito do Umari.

Outros trabalhos
         Havia ainda, segundo o referido jornal, ao longo da via, muitos trabalhos, de menos vulto, mas de real importância, que atestam a competência dos ilustres engenheiros que os construíram, pontões, barragens, cortes, um deles de 10 metros e 3 açudes de avultadas capacidade ( A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).
         Cerca de 11h30, chegou o trem a ponta dos trilhos, além de Baixa Verde, e onde fora servido, ao meio dia no lugar Melancias, no interior de um dos carros, o almoço, que, anunciado como modesta refeição, foi um opiparo banquete de finas iguarias, regado de gêneros e vinhos. (A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).
Ao champagne, saudou a Empresa o dr. Alberto Maranhão, pondo em destaque os inestimáveis  serviços por ela prestados ao Rio Grande do Norte.Seguiu-se outros brindes e discursos. (A REPÚBLICA, 04 Agosto de 1910).
O trem regressou a Natal, chegando a estação da Coroa as 16h30.

                                  A ponte do Umari 




VISITA AS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DA PONTE DO UMARI EM TAIPU



O engenheiro José Antônio da Costa Junior, chefe da construção da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN, convidou para visitarem os serviços de construção da linha e da ponte sobre o rio Ceará-Mirim, os Srs. Tavares de Lyra e Ferreira Chaves o qual realizaram a excursão ao local em 02/03/1910. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).
Trata-se da ponte ferroviária localizada no atual distrito do Umari no município de Taipu. A referida ponte estava sendo construída no km 60 da EFCRGN sobre o rio Ceará-Mirim numa extensão de 200 metros.
       Em trem especial, que partiu da estação da Coroa as 08h30 da manhã, seguiram o representante do governador do Estado, capitão Joaquim Anselmo, os Sr. Tavares de Lyra, Ferreira Chaves, Sérgio Barreto, Antônio China, Pereira da Silva,o coronel Lins Caldas, Garcia Junior, Otávio Arantes, Odilon Filho, Luciano Veras e José Fonseca. Acompanhavam ainda os excursionistas o engenheiro Décio Fonseca, chefe da comissão construtora da EFCRGN.

Em Ceará-Mirim
         As 09h30 o trem especial chegou a cidade de Ceará-Mirim, sendo Tavares de Lyra e Ferreira Chaves recebidos pelos Drs. Hemetério Fernandes, juiz de direito, Lemos Filho, promotor, coronel Felismino Dantas, chefe do partido republicano e intendente naquele município, coronéis João Fonseca, deputado estadual, Pedro Vasconcelos, José Hemetério e Manoel Joaquim e outros ilustres cavalheiros. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).
Após ligeiro descanso na residência do coronel Fonseca, que com extrema gentileza a todos cumulou de atenções, partiu os excursionistas para o Taipu tomando passagem no trem o dr. Hemetério Fernandes, Fonseca Moura, Vasconcelos, José Hemetério e outras pessoas.

Em Taipu
         Depois de rápida demora na estação de Taipu onde aguardavam os viajantes os Drs. Cesar Cartaxo, engenheiro da comissão fiscal e Alcides Lima, engenheiro chefe da 1ª residência, o especial seguiu para o local onde estava sendo armada a grande ponte sobre o rio Ceará-Mirim. Ali chegados, os viajantes percorreram os serviços que estavam sendo atacados, de todos recebendo a melhor impressão. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).
         Estavam prontos os dois encontros da ponte, cuja 1ª seção estava em adiantada construção. Os empreiteiros terminaram dois dos pilares centrais, estando o terceiro muito adiantado e faltando somente construir dois. Algumas fundações vinham sendo feitas a 8 metros de profundidade, onde somente foi encontrada a rocha sobre [ilegível...] separam os suportes da ponte. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).
                              A ponte do Umari em 1964

O almoço dos viajantes foi servido embaixo das árvores próximas ao local de construção da ponte oferecido pelo engenheiro Décio Fonseca. Ao champagne o dr. Tavares de Lyra brindou o engenheiro Décio Fonseca que respondeu bebendo pelo progresso do Rio Grande do Norte. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).
         A 13h00 partiu o trem especial para a ponta dos trilhos, que se achava em 14 km além de Taipu. Nesse trecho atravessou a linha um extenso corte com 920 metros de desenvolvimento. Da ponta dos trilhos até São Pedro, a linha seguia em sua quase total extensão, em longos tangentes, sendo a porcentagem das rampas entre 1 e 1,30. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).
         As 15h00 regressou o trem especial a vila de Taipu. Em companhia do coronel Manoel  Eugênio de Andrade, chefe do partido republicano e intendente de Taipu, Tavares de Lyra e Ferreira Chaves percorreram a vila.As 16h30 chegaram todos a Ceará-Mirim sendo novamente obsequiados pelo coronel Fonseca, em cuja residência foi servido profuso lanche.
         As 18h00, o trem especial da EFCRGN chegou a estação da Coroa, em regresso a capital, trazendo todos os excursionistas gratíssimas impressões, recebendo o ilustre engenheiro Décio Fonseca calorosas felicitações pelo passeio que lhes foi proporcionado.
         Durante toda viagem um profuso serviço de buffet e buvette foi feito,s ob a direção imediata dos dignos auxiliares da empresa, Srs. Vieira e Bezerra.
         Domingos Barros fez fotografias de muitos grupos e vistas entre estas a Lagoa de Estremoz e o panorama de Natal visto do alto da Aldeia Velha.
O suculento e profuso banquete com a fidalga gentileza do dr. Décio Fonseca obsequiou aos seus convidados foi servido pelo Restaurante Internacional do capitão Evaristo Leitão. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).     

A situação da EFCRGN
Foi informado pelo Engenheiro Décio Fonseca que o tráfego não estava ainda em perfeita normalidade, porque a empresa somente possuía para o tráfego regular 2 locomotivas, estando as outras empregadas na construção.
         A empresa havia recebido 6 locomotivas alemãs recentes,d as quais 2 já estavam montadas, mas achavam-se impossibilitadas de trabalhar porque os trilhos no trecho de Natal a Ceará-Mirim, não suportavam o seu peso que era de 60 toneladas, pesado as que estão em serviço 40 toneladas.
Os trilhos desse trecho, que eram de 19 kg por metro corrente, estavam sendo substituídos conforme autorização pedida ao governo, por trilhos de 25 kg, os quais estavam já sendo empregados nos trechos em construção e construídos pela empresa.
         Já estavam construídos 70 km de linha, estando atacados os serviços de preparo do leito e nivelamento de linha de mais 40 km. (A REPÚBLICA, 03 Março de 1910, p.1).

                    Engenheiro Décio Fonseca chefe da EFCRGN


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O DECRETO DE CRIAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR JOAQUIM CORREIA EM PAU DOS FERROS



Em 28/11/1910 o jornal A República publicou o decreto de criação do Grupo Escolar Joaquim Correia no município de Pau dos Ferros.Eis o teor do referido decreto  (A REPÚBLICA, 28 Novembro de 1910, p.2) :
O Governo do Estado do Rio Grande do Norte, usando da atribuição conferida pela lei nº 248 de 30 de novembro de 1909 e de acordo com o art. 4º do decreto nº 178 de 29 de abril de 1908:
Decreta:
Art. 1º- É criado na vila de Pau dos Ferros um Grupo Escolar denominado Joaquim Correia compreendendo três escolas, sendo uma do sexo masculino, outra do feminino e a terceira mista infantil.
Art 2º- O Grupo funcionará no próprio municipal sito a rua senador Pedro Velho que a Intendência do município obriga-se a preparar e mobiliar, conforme as instruções da Diretoria Geral da Instrução Pública.
Art. 3º- Correrão por conta do Governo do município todas as despesas referentes a conservação e ao asseio do prédio bem como a aquisição e a renovação de utensílios.
Art. 4º- A Intendência fornecerá o expediente necessário às aulas confiando o serviço de asseio a um porteiro-zelador, que ficará as ordens do Diretor do Grupo.
Art. 5º- Cada aula terá uma matricula máxima de quarenta alunos, suprimindo-se a escola cuja frequência reduzir-se a um terço.
Art 6º- O Governador do Estado subvencionará o professorado, mediante contrato anual, enquanto não forem preenchida as respectivas cadeiras por alunos diplomados pela Escola Normal.
Art. 7º- Será suprimido o Grupo quando, não preencher as condições de conforto e higiene, por incúria da municipalidade.
Art. 8º- A administração, fiscalização e regulamentação didática pertencem exclusivamente ao Diretor Geral da Instrução, que visitará semestralmente as escolas.
Art. 9º- Todas as relações entre o município  e o Grupo Escolar serão exercidos por intermédio do Diretor Geral, ao qual serão presentes os pedido e reclamações em bem do ensino.
Art. 10º- O Diretor Geral da Instrução, organizará o regimento do Grupo Escolar, nos moldes do ‘Augusto Severo’, apenas com a modificação aconselhada pelas condições locais, consolidando as leis em vigor e regulando minuciosamente a parte pedagógica.
Art. 11º- Revogam-se as disposições em contrário.
Palácio do Governo, 10 de novembro de 1910.
ALBERTO MARANHÃO.
Henrique Castriciano de Souza.
Ainda de acordo com o referido jornal o novo grupo seria inaugurado brevemente, sob a direção de professores hábeis e dedicados.
         O deputado Joaquim Correia, que levaria o nome do Grupo Escolar, “a cujos esforços deve o Município de Pau dos Ferros seu primeiro grupo escolar, tem recebido dali inúmeros telegramas de felicitações” (A REPÚBLICA, 28 Novembro de 1910,  p.2).

                       Grupo Escolar Joaquim Correia em 1922

Considerações
O Grupo Escolar Joaquim Correia foi oficialmente criado em 10 de novembro de 1910 conforme a data de publicação do decreto a cima visto.
De acordo com o decreto a cima citado o Grupo Escolar de Pau dos Ferros seria provisoriamente regido conforme os estatutos do Grupo Escolar Augusto Severo de Natal a época o grupo escolar modelo e referência para todos os demais grupos escolares.
Atualmente funciona como escola com oferta de ensino médio e com a denominação EEM Deputado Joaquim de Figueiredo Correia.
O antigo prédio do Grupo Escolar Joaquim Correia abriga a casa de cultura de Pau dos Ferros.
                  Casa de Cultura Escolar Joaquim Correia


           Atual sede da Escola Estudual Escolar Joaquim Correia


O DESCASO E OS ACIDENTES DA GREAT WESTERN GEROU PROTESTO DA POPULAÇÃO DE NATAL EM 1910



Prolegômenos
         Diz os ditados populares que quem procura acha e colhe-se aquilo que se planta. A santa franciscana paciência dos potiguares chegou ao limite com o descaso pela qual a GWBR vinha tendo pelo trecho entre e Natal Nova Cruz naqueles idos de 1910.
         É verdade que o trecho nunca fora um primor de ferrovia, mas naquela época o trecho vinha sofrendo constantes acidentes devido a má conservação da poderosa empresa inglesa que havia arrendado o trecho desde 1902.
         O estopim da revolta do povo potiguar contra a GWBR foi o acidente ocorrido na descida de Pium em 23/11/1910 onde morreram três funcionários da Companhia e causou uma grande comoção na população devido a gravidade do sinistro tendo a imprensa local aproveitado o acidente para evidenciar a precária situação do trecho entre Natal e Nova Cruz assim como o descaso da administração da GWBR no referido trecho.

O  Sr.Knox Little
Segundo publicado no jornal A República para tomara conhecimento dos fatos ocorridos na GWBR no trecho entre Nova Cruz e Natal, chegou a capital potiguar em 27/11/1910 em trem especial, o Sr.Knox Little, superintendente da seção Paraiba-Natal da GWBR, enviando pela superintendência do Recife encarregado de entrar em entendimento com o governador do Estado a respeito da situação o referido trecho.
         Logo que foi divulgada a noticia da chegada do Sr. Knox começou-se a notar em certa parte da população um movimento hostil a pessoa do engenheiro da GWBR, que via na pessoa do mesmo a responsabilidade da GWBR por tudo quanto de anormal vinha ocorrendo em suas linhas e igualmente da destruição do escasso material rodante existente na estação de Natal.
         O chefe de policia Domingos Carneiro foi avisado de que se tramava algo contra a pessoa do Sr. Knox e descendo a Ribeira, entendeu-se com o major João Fernandes de Almeida, delegado do distrito, com ele se combinando as providencias necessárias de modo a fazer a abortar qualquer perturbação da ordem. (A REPÚBLICA, 26 de Novembro de 1910,p.1).
         O Sr. Knox ficou pernoitando no vagão-leito em que viajava para a capital potiguar e como o vagão demorava junto aos armazéns da GWBR,sem segurança de ordem alguma, o chefe de policia foi entender-se com ele as 22h00, assegurando-lhe todas as garantias ao material e a sua pessoa, ficando a área ocupada e as dependências da Estação de Natal guardada por uma força da Guarda Policial, durante o resto da noite,sob a responsabilidade do delegado João Fernandes.
              Largo da estação da Ribeira em Natal inicio do século XX

       As 04h00 da manhã o sr. Knox viajou para Pium, lugar do desastre ocorrido nos últimos dias que antecederam a sua chegada a Natal, nada tendo ocorrido de anormal, graças as acertadas e prontas providencias tomadas pelo chefe de policia.
Naquele mesmo dia o sr. J. Knox Little, representando o sr. A. T. Connor, superitendente da GWBR, conversou com o governador Alberto Maranhão e declarou que a administraçaõ da empresa iria providenciar imediatamente para fazer cessarem os inconveneites da atual organização dos serviços na seção de Natal a Nova Cruz e que motivaram as reclamações da população e da imprensa. (A REPÚBLICA, 26 de Novembro de 1910,p.1).

As providências da GWBR
Segundo as informações do sr. Knox a GWBR tomaria as seguintes providências no trecho Natal a Nova Cruz (A REPÚBLICA, 26 de Novembro de 1910,p.1):
Os trens iriam ser aumentados de núemros e reduzda a lotação dos comboios, de forma a poderem as locomotivas galgar com facilidade todas as rampas.Os trens de passageiros especialmente serão sempre leves, não conduzindo neles cargas além das bagangens e dos gêneros de fácil deterioração.
A GWBR procraria aumentar o número de carros de carga, de forma a não haver prejuizo para o comércio.
Seria reparado todo o material fixo, sendo sustituidos os dormentes, trilhos, grampos e outros materiais imprestaveis.
A GWBR se comprometia a aumentar o número de máquinas, dentro de poucos meses, para poder organizar os serviços em boas condições, não admitindo como máquinistas pessoas que não fossem de competencia examinada.
A GWBR decretaria uma pensão vitalicia as viúvas das vitimas do desastre ocorrido em Pium.
         Conforme publicado pelo jornal a República diante das medidas apresentadas pelo sr. Knox em nome da GWBR onde o mesmo se responsabilizava pela execução das providências apresentadas, restava aguardar com calma as medidas e reformas projetadas pela administração da GWBR. (A REPÚBLICA, 26 de Novembro de 1910,p.1).

                                     Estação de Natal em 1906

No entanto, o mesmo jornal dizia que “devemos declarar que ficamos na estacada, na defesa dos legitimos interesses dos nossos conterraneos e do nosso Estado.Precisamos fazer ver, sem ódios e sem pretensões de especie alguma, que estamos cansados de sofrer o abandono a que nos condenou a Great Western, fechando ouvidos às nossas reclamações, enaqunto faz da seção do Rio G. do Norte o depósito de material imprestável subsitituido de outors lugares onde, como dizem os seus agentes, se sabe protestar de ‘modo decisivo’.Fomos e seremos sempre, contra esse modo [ilegivel...] a que se curva a Great Western, e tão somente por isso ainda o não aconselhamos, nem o aconselharemos jamais” (A REPÚBLICA, 26 de Novembro de 1910, p.1, o grifo é nosso).

Ironia do destino
Parece que por ironia do destino, naquele mesmo dia ocorreu um novo descarrilmento na linha da GWBR.
Assim o engenheiro Knox pode comprovar in loco que as reclamações da imprensa e da população potiguar não eram propagandas negativas contra a GWBR, mas sim resultado do péssimo estado de conservação do trecho em questão.

O protesto
         Foram distribuídos naquele dia 26/11/1910 (ninguém soube por quem, pois o jornal não explicita) muitos boletins convidando a população da capital potiguar para uma grande manifestação (a época chamado meeting) em protesto contra a GWBR em virtude do desastre de Pium.
         O evento foi marcado para as 17h30 na Avenida Tavares de Lira, na Ribeira, onde se fez ouvir no mesmo vários oradores.
Segundo publicado no jornal A República teve grande concorrência e animação o protesto (meeting) realizado no dia 26/11/1910 em Natal, para protestar conta a GWBR, a propósito das graves irregularidades verificadas por aquela época na seção de Natal a Nova Cruz. (A REPÚBLICA, 28 de Novembro de 1910, p.1).
O movimento ocorrido na capital potiguar “tinha verdadeiras raízes na grande alma popular. O povo riograndense, cansado de sofrer a incúria e o desleixo da Great Western, mostrou-se na altura do momento, merecendo gerais simpatias” disse o referido jornal. (A REPÚBLICA, 28 de Novembro de 1910, p.1).
Segundo o jornal notou-se a calma e a ordem que reinou durante o ato realizado, quer nos discursos dos oradores que se fizeram ouvir, quer na extraordinária massa popular que se associou a manifestação. Para o jornal, a causa era justa e merecia aplausos por parte da imprensa. (A REPÚBLICA, 28 de Novembro de 1910, p.1).
Ainda de acordo com o jornal A República a multidão aumentava a medida que ia passando pelas ruas da Ribeira no itinerário proposto para o protesto e o Sr. Knox que assistiu a passagem do prestito, da Estação da Great Western “deve ter sentido, como todos, sentiram, que havia na manifestação de anteontem um grande e justo sentimento de revolta que só as medidas lembradas por [...] Governador do Estado poderão, se forem tomadas em tempo, acalmar e extinguir”. (A REPÚBLICA, 28 de Novembro de 1910, p.1).
Conforme o referido jornal o protesto ocorreu sem os excessos condenáveis, sem os abusos tão frequentes em ocasiões tais, desapaixonado e sincero, o movimento “impõe-se a todos os espíritos como prova que é da nossa nobreza e sentimentos, do nosso elevado grau de educação” (A REPÚBLICA, 28 de Novembro de 1910, p.1).

                        Largo da estação da Ribeira

As 18h00 na Avenida Tavares e Lira, onde se reuniu a enorme multidão de pessoas de todas as classes, deu-se inicio a manifestação, falando logo de inicio o Sr. Aristóteles Costa, convidando o povo, para ir ao Palácio do Governo solicitar, por intermédio do Governador Alberto Maranhão, enérgicas e imediatas providencias do Ministro da Viação, contra as irregularidades denunciadas na GWBR.
Terminada a fala de Aristóteles Costa, que foi geralmente aplaudido, organizou-se numeroso préstito que, precedido da banda de música do Tiro Natalense, pôs-se em marcha para o Palácio do Governo na Cidade Alta.
Ao passar em frente ao prédio do jornal A Republica a multidão ali estacionou entre calorosas aclamações ao jornal que se fez porta-voz das aspirações do povo em favor das providências a serem tomadas pela GWBR. Ali falou o secretário do referido jornal manifestando solidariedade do jornal A República com a causa do povo riograndense justamente indignado em face do desleixo da GWBR na seção do Rio Grande do Norte.
Em seguida partiu o préstito em direção a avenida Junqueira Aires, fazendo ouvir no Hotel Colombo,o deputado Joaquim Correia que proferiu vibrante discurso e na Estação da Great Western, o dr. Domingos Carneiro, em nome do Sr. Knox Little.
Ainda na Estação da GWBR Anfilóquio Câmara expôs ao Sr. Knox o motivo da manifestação.   (A REPÚBLICA, 28 de Novembro de 1910, p.1).

Ainda o caso da Great Western
Ainda sobre o caso das reclamações do povo potiguar contra a má administração do trecho Natal a Nova Cruz escreveu certo Chantecler no mesmo jornal A República  (A REPÚBLICA, 26 de Novembro de 1910, p.1).
Esse caso da Great Western, que há dias preocupa o espírito público, é realmente revoltante.Não sabemos por que a Administração da poderosa Companhia inglesa tem um desprezo absoluto pela seção de Natal a Nova Cruz. E nós sofremos as duras consequências desta estranha e inexplicada aversão ao riograndense, com a santa paciência que é a nossa.
        Quem paga, quer ser bem servido: a população dos trechos atravessados pelos trilhos da Great, paga-lhe e demasiadamente bem, para receber em troca um serviço ferroviário que parece mais uma tração de brincadeira, para menino rir.
       Toda a gente recorda-se, amargamente, de alguns anos atrás, quando a Estrada não estava arrendada e tudo era feito a contento geral.
mas, vieram os ingleses e imediatamente tudo desandou.Tiraram o que havia de melhor na seção e cada dia aumentam mais as tristes condições da linha destinada somente a fornecer com fartura a algibeira do bife a esterlina e o bem-estar.
      O material é o que pode desejar de melhor para um... museu, com as suas locomotivas pré-históricas, com seus trilhos ancestrais, e o pessoal, além de reduzido e mal remunerado, é vitima de perseguições rancorosas, como as remoções frequentes por causa da última greve.

Pátio interno da estação de Natal em postal do inicio do século XX 
onde vê-se o que parece ser locomotivas desmontadas


      Quando surge um desastre horrível como esse de Pium, é que nós vemos em toda a sua revoltante realidade o pouco caso que nos liga a Great Western.Reclama-se contra a tragédia e a Administração limita-se a mandar um funcionário para explicá-la como se nós não estivéssemos perfeitamente inteirados das causas que fulminaram os três párias do trem fatal.
      Ninguém pediu informações.O que se deseja é que a Estrada volte a ser oq eu foi, que o material seja bom, que os comboios andem de acordo com os horários e que ninguém faça uma viagem neles com esse suplicio atroz de hoje, que é o receio de ver a morte surgir de repente, numa curva do caminho. A isso, os senhores britânicos, fazem, rubicudos e com fleuma, ouvidos de mercador.Não há, porém, quem deseje estar na pele deles quando a paciência de nossa gente chegar ao fim e a indignação rebentar frenética e destruidora.

Encerrando...
         Como já dito no inicio a GWBR havia arrendado o trecho entre Natal e Nova Cruz com seus 121 km de extensão em 1902 e segundo o contrato de arrendamento a empresa britânica deveria fazer melhoramentos na via permanente do trecho que como se vê nos relatos a cima não foram feitos a contento devido as constantes reclamações da população cansada de ver acidentes e má gestão no trecho.
                É fato, porém, que desde sua inauguração em 28/09/1881, a Imperial Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz nunca dera lucro e quando foi arrendada ainda demonstrava sinais claros de prejuízos, razão pela qual a GWBR pouco ou quase nada fazia para melhorar a situação.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

A INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE PEDRO AVELINO



         Em 08 de janeiro de 1922 foi inaugurada pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte-EFCRGN a estação ferroviária de Epitácio Pessoa, atual cidade de Pedro Avelino, segundo o que foi publicado no jornal Diário de Pernambuco “a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, inaugurou no dia 8 um novo trecho. Fica o mesmo compreendido no ramal Lajes-Macau e finaliza na povoação de ‘Gaspar Lopes’, hoje ‘Epitácio Pessoa’, do município de Angicos”  (DIARIO DE PERNAMBUCO, 20/01/1922,p.4).
         Vejamos a seguir como se deu a solenidade de inauguração da referida estação.
         Ainda de acordo com o já citado jornal o engenheiro João Benevides, superintendente da EFCRGN havia convidado o mundo oficial e cavalheiros da capital para a solenidade.  (DIARIO DE PERNAMBUCO, 20/01/1922,p.4).
         Do relato da solenidade de inauguração temos o seguinte (DIARIO DE PERNAMBUCO, 20/01/1922, p.4):
As 08h00 daquele dia, partia desta capital o comboio especial, levando o Dr. Governador do Estado, com suas casas civil e militar, desembargadores do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Henrique Castriciano, vice governador, Dr. Teotônio Freire, juiz seccional, autoridades estaduais e federais, representantes da imprensa, funcionários da Estrada, etc., viajando em um carro anexo a banda de música do Batalhão de segurança.
        Em Taipu, o especial ainda recebeu convidados.Chegados a Baixa Verde realizou-se um lauto almoço, servido por senhoras e senhoritas da melhor sociedade.
         Em Jardim, novos convidados.Na vila de Lajes, a estação estava apinhada de cavalheiros. Pequena demora.Novos convivas tomaram o trem.Recomeça a marcha.
         As 15h50, o expresso se aproximava da estação de “Epitácio Pessoa”. Uma girândola fende os ares.”Vivas” são erguidos aos Drs. Ferreira Chaves, Antonio de Souza, Epitácio Pessoa e João Benevides.
         Ao descer do carro S. Excia., o governador, enquanto a banda executava a marcha do Estado, a multidão aclamava.
     A seguir dirigem-se todos a um vasto salão da estação, vistosamente decorado, destacando-se a bandeira nacional.Ai foi servida uma taça de “champagne”, falando o Dr. João Benevides, que disse o seu prazer por aquele fato, exaltando as qualidades dos Dr. Epitácio Pessoa e Antonio de Souza, a quem brindou.
         O Dr. Antonio de Souza agradeceu o brinde e lembrou o grande progresso que se realizava aquele ato, falando ainda sobre o nordeste suas necessidades bem conhecidas pelo Sr. Presidente da República, na qualidade de filho da zona flagelada pelas secas.
         O Sr. Luiz Fassino de Menezes fez então um discurso em nome do povo do lugar, expressando a satisfação de todos pelo passo que se dava.
         Depois disto, o Sr. Governador, com sua comitiva, fez um passeio no povoado que apresenta muitas possibilidades de progresso.
       No dia seguinte, regressaram todos, satisfeitos da viagem e do acolhimento que tiveram em todo o seu percurso.  

                           A estação de Pedro Avelino atualmente





A estação de Pedro Avelino em estado de abandono ainda com suas cores originais


Sobre a povoação de Epitácio Pessoa na década de 1930

 

Servida pela lunha da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, a povoação de Epitácio Pessoa, no municipio de Angicos, se desenvolvia animaoramente em qualquer aspecto.

         Segundo o jornal Diário de Noticias a povoação dispunha de magnificas possibilidades agricolas, já pelo espirito progressista de seu povo, já pela fertilidade do seu solo, o antigo povoado de Gaspar Lopes se desenhava aos olhos de quem o visitava como um recanto de prosperidade e de grandeza.

         Epitácio Pessoa se localizava a 35 km da sede municipal, a cidade de Angicos e possuía vários prédios importantes, dentre os quais o das Escolas Reunidas, as Usinas de Algodão, pertencentes a Sanbra e a João Câmara & Irmãos e o Mercado Público, que acabava de passar por uma necessária.

         Entretanto, como acontece relativamente aos outros povoados de Angicos, a povoação de Epitácio Pessoa tinha o seu valor na agricultura, sendo, conforme o citado jornal, a mais agrícola entre as povoações do município.Ali plantava-se com muito êxito,o algodão mocó e verdão, e especialmente na Chapada da Serra Verde, que ficava a seu lado.

         Um problema,porém estava a exigir a atenção do governo, para que melhorasse as possibilidades de Epitácio Pessoa atingir o grau de desenvolvimento que lhe estava reservado.Esse problema era a falta de água.

         O único remédio para solucionar esse mal que já naquele ano, havia atingindo proporções assustadoras era a construção do açude a 2 km da povoação, cujo projeto se encontrava nas mãos do ministro da viação.

         Satisfeitas as aspirações do seu povo não havia dúvida que a povoação de Epitácio Pessoa continuaria a progredir sucessivamente, para maior grandeza de Angicos e do Rio Grande do Norte.( DIÁRIO DE NOTICIAS,12/06/1937, p.37).Em 1938 foi criada a Cooperativa Agrícola da vila de Epitácio Pessoa.

         A povoação de Epitácio Pessoa foi elevada a categoria de vila em 29/10/1937 (A ORDEM, 29/10/1937, p.2) e em 02/08/1948  o deputado Aristofanes Fernandes apresentou na Assembleia Legislativa o projeto da criação do município de Epitácio Pessoa, cujo território seria desmembrado de Angicos e Macau ( A ORDEM, 02/08/1948,p.1), aprovado o projeto o município foi criado com  denominação de Pedro Avelino.

Sobre a povoação de Epitácio Pessoa na década de 1930

         A linha da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte que servia a povoação de Epitácio Pessoa, no município de Angicos, muito contribuiu para o seu crescimento econômico e populacional que se desenvolvia animadoramente em qualquer aspecto.

         Segundo o jornal Diário de Noticias a povoação dispunha de magnificas possibilidades agrícolas, já pelo espirito progressista de seu povo, já pela fertilidade do seu solo, o antigo povoado de Gaspar Lopes se desenhava aos olhos de quem o visitava como um recanto de prosperidade e de grandeza.

         Epitácio Pessoa se localizava a 35 km da sede municipal, a cidade de Angicos e possuía vários prédios importantes, dentre os quais o das Escolas Reunidas, as Usinas de Algodão, pertencentes a Sanbra e a João Câmara & Irmãos e o Mercado Público, que acabava de passar por uma necessária.

         Entretanto, como acontece relativamente aos outros povoados de Angicos, a povoação de Epitácio Pessoa tinha o seu valor na agricultura, sendo, conforme o citado jornal, a mais agricola entre as povoações do município.Ali plantava-se com muito êxito,oo algodão mocó e verdão, e especialmente na Chapada da Serra Verde, que ficava a seu lado.

         Um problema,porém estava a exigir a atenção do governo, para que melhorasse as possibilidades de Epitácio Pessoa atingir o grau de desenvolvimento que lhe estava reservado.Esse problema era a falta de água.

         O único remédio para solucionar esse mal que já naquele ano, havia atingindo proporções assustadoras era a construção do açude a 2 km da povoação, cujo projeto se encontrava nas mãos do ministro da viação.

         Satisfeitas as aspirações do seu povo não havia dúvida que a povoação de Epitácio Pessoa continuaria a progredir sucessivamente, para maior grandeza de Angicos e do Rio Grande do Norte.( DIÁRIO DE NOTICIAS,12/06/1937, p.37).

            Em 1938 foi criada a Cooperativa Agrícola da vila de Epitácio Pessoa.

         A povoação de Epitácio Pessoa foi elevada a categoria de vila em 29/10/1937 (A ORDEM, 29/10/1937, p.2) e em 02/08/1948  o deputado Aristófanes Fernandes apresentou na Assembleia Legislativa o projeto da criação do município de Epitácio Pessoa, cujo território seria desmembrado de Angicos e Macau ( A ORDEM, 02/08/1948,p.1), aprovado o projeto o município foi criado com  denominação de Pedro Avelino.








Apêndice
O ramal Lajes-Macau foi aberto em 1918, o trecho não havia sido previsto no projeto original da EFCRGN que deveria se dirigir no sentido oposto para Caicó.
Como já visto no texto a povoação de Gaspar Lopes, teve o nome alterado naquele ano para Epitácio Pessoa, em homenagem ao presidente da República que assegurou os recursos necessários a conclusão das obras do ramal até aquela data e lugar. O distrito pertencia ao município de Angicos, tendo sido emancipado somente em 1948, é a atual cidade de Pedro Avelino.
A estação foi desativada em 1997 e desde então passou por um longo período de abandono até ser restaurada em 2013 passando a abrigar a biblioteca e centro cultura da cidade.