quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A VENDA DO FERREIRO TORTO


         O Engenho Ferreiro Torto de Macaíba foi um grande engenho e famosa propriedade rural daquele município por sua magnífica Casa Grande em estilo colonial. Em 1924 foi posto a venda conforme se lia em anúncio no periódico paraibano O Jornal, sendo seu proprietário naquele ano o Dr. Bruno Pereira.

                                        Engenho Ferreiro Torto

Eis o teor na integra do anúncio no citado jornal:

Vende-se, livre, desembaraçado e demarcado, o engenho FERREIRO TORTO, moente e corrente, com uma pequena safra fundada para 300 sacos de açúcar e com capacidade para 2.500 sacos anualmente. Mede meia légua de frente por uma de funda, e dista 18 km de Natal, e um da cidade de Macaíba. É servido pela navegação fluvial e pela excelente estrada de automóvel de Natal-Macaíba, que corta em toda a largura. Possui barro em quantidade considerável para fabricação de telhas e tijolos, e vasta olaria, matas com alguma madeira de construção e para extrair 20.000 metros cúbicos de toros; vasta pedreira de granito, terrenos para salina, a margem do Jundiaí, mangue, mangabeiras, batipuiás, etc.

Doze cercados de arame farpado e de madeira, dez casas de moradores, casa e aviamento de farinha, e grande e confortável casa de vivenda (sobrado).

Pomar, mais de quinhentos coqueiros novos e frutíferos. É regada por dois riachos perenes, podendo abastecer d´água a cidade de Macaíba.

Cerca de 40 cabeças de gado vaccum de trabalho e de criar, cerca de 50 cabeças de ovelhas e cabras, três burros, dois jumentos, um cavalo. Carro, carroça, um bote grande e um automóvel “Ford". Lugar salubérrimo.

Preço 100:000$000, podendo ser o pagamento parte a prazo, com garantia eficiente.

O motivo da venda é pretender o proprietário retirar-se do Estado.

A tratar com o proprietário Dr. Bruno Pereira. Natal. Av. Rio Branco, 147.

Fonte: O Jornal,11/03/1924, p.8.

        Não foi possível encontrar no citado jornal se a propriedade foi vendida naquele ano de 1924.Atualmente o casarão do antigo Engenho Ferreiro Torto é tombado como patrimônio histórico do estado. Está situado a R. Dr. Pedro Matos, SN, Macaíba-RN.

                                     Engenho Ferreiro Torto

Fonte: Google Earth.


         



quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A ESTAÇÃO CONSTRUÍDA PELO POVO

        A memória ferroviária do Rio Grande do Norte tem momentos significativos como este em que uma nova estação ferroviária foi construída com os próprios recursos da comunidade. Trata-se da nova estação ferroviária de Pedro Velho-RN.

Um pouco de história

      Em maio de 1900 houve uma grande cheia no rio Curimataú que devastou por completo a então vila de Cuitezeiras tendo os moradores que se mudarem para outro local afastado da margem do rio onde pudera reconstruir suas casas e assim surgiu um nova vila o qual tornou-se a nova sede do município que passou a denominar-se Vila Nova.

       A estação ferrovia que beneficiava a população passava onde antes existia a vila que fora devastada e por algum tempo os habitantes ficaram sem ter uma estação naquele município.

      Foi então que a população se reuniu e propôs a direção da GWBR que era a arrendatária da Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz, que eles próprios, os moradores construiriam as suas custas uma nova estação em Vila Nova.

     Conforme indica o relatório do Ministério da Agricultura em 1905 foi edifício da parada de Vila Nova as expensas dos respectivos habitantes em substituição do de Curimataú  no km 92 que muito sofria com as cheias do rio. (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1905, p.311). Embora ficasse na antiga vila de Cuitezeiras, a estação tinha a denominação de Curimataú. 

     É, portanto, a antiga estação a qual se refere o citado relatório. A nova estação ferroviária de Vila Nova foi inaugurada em 02/09/1904 conforme indicava o jornal A Província num aviso expedido pela GWBR na seção de Natal “no dia 2 de setembro próximo será inaugurada a estação de Vila Nova, da seção Natal, que substituirá a parada denominada Curimataú, da mesma seção. Recife, 29 de agosto de 1904”. (A PROVINCIA, 01/09/1904, p.3).

       Os comerciantes de Vila Nova, atual Pedro Velho dirigiram um pedido a Superintendência da Great Western por meio do jornal Diário do Natal, no qual solicitavam providências para a inauguração da estação, a abertura de uma estação telegráfica e a construção de um armazém para mercadorias.Eis o teor do pedido publicado no citado jornal.

Pedido justo

Tendo sido, desde junho, passado, concluído os trabalhos da Estação de Vila Nova, seção da Great Western, de Natal a Independência, sem que até esta data tenha sido inaugurada e aberta ao trafego nós comerciantes desta Vila viemos do alto da imprensa reclamar a digna Superintendência geral da mesma Companhia Great Western a quem, de direito compete providenciar sobre o caso, a fim de, com a brevidade precisa, mandar abrir ao comércio, e ao povo em geral, as portas de uma Estação telegráfica existente em dito prédio, com o que será praticado um ato de Justiça e digno de louvor.

Vila Nona antiga Cuitezeiras parece que não é dos lugares que menos rende a companhia, pois, nos anos de safra regulares, poderá exportar (cálculo médio) cinco mil sacos de algodão e de quinze a vinte mil ditos de cereais, sem contar a exportação de açúcar, que não é pequena.

         A digna Companhia Great Western, muito acertaria ainda em mandar edificar em Vila Nova, um armazém para carga, o que pedimos desde já e esperamos ser atendidos. Vila Nova, 11 de Julho de 1904. Os comerciantes. (DIÁRIO DO NATAL, 11/07/1904, p.2).

         Como visto a cima o prédio da estação estava já concluído desde junho de 1904, mas somente seria inaugurado em 01/09 daquele ano.

         Quanto ao pedido da construção do armazém, o mesmo foi atendido, pois em Vila Nova foi de fato construído um armazém próximo a estação. Ambos foram demolidos pela população.

   A baixo na imagem se pode sinalizada por setas a estação e o armazém da cidade de Pedro Velho. O edifício destoa dos demais prédios do trecho Natal a Nova Cruz se assemelhando mais aos do ramal Nova Cruz-Guarabira construídos na mesma época pela GWBR, concessionária da ferrovia a época.

      A falta de conhecimento da história local pode causar sérios danos a memória de um lugar por não se conservar aspectos importante da vida de um povo.

     Foi o que ocorreu em Pedro Velho-RN onde a nova estação que foi inteiramente construída com os recursos da própria comunidade já não existe mais, tendo sido demolida por achar a população que ela não tinha mais serventia. Que tremendo engano.

A NOVA ESTAÇÃO DE CANGUARETAMA


        A estação de Canguaretama foi inaugurada em 31/10/1882 estava localizada no distrito da Penha a 1 km da sede municipal, ou seja, da cidade de Canguaretama, razão pela qual a estação era mais conhecida posto que o nome exibido no dístico da estação era PENHA e não CANGUARETAMA. 

        Desde o inicio  do tráfego da ferrovia o povo da cidade de Canguaretama tentou mudar a localização da estação solicitando inclusive diretamente ao Imperador Dom Pedro II a mudança da estação em 1885, pedido esse que foi negado pelo governo imperial por meio do então ministro da agricultura Afonso Pena, que viria ser na República presidente do Brasil e visitaria o RN para inaugurar a EFCRGN em 1906.

Sobre a nova estação de Canguaretama

  De  acordo com o jornal  A União em 21/12/1905 o ministro da viação havia aprovado e submetido a comissão das estradas de ferro arrendadas a GWBR, a planta de um edifício a ser construído no local da estação da Penha, na Estrada de Ferro de Natal a Independência.( A UNIÃO, 21/12/1905, p.1).

 A comissão das estradas de ferro arrendadas a GWBR submeteu à aprovação do ministro da viação, Lauro Muller, a planta de um edifício a ser construído no local da estação da Penha, na Estrada de Ferro do Natal a Independência. (A NOTICIA, 21/12/1905, p.1).

        Conforme o Relatório do Ministério da Agricultura de 1906 relativo a ano anterior “foi destruído por incêndio o barracão de madeira que servia de estação na Penha, havendo sido já aprovados a planta e orçamento para o edifício da nova estação” (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1906, p.292).Assim, fica-se sabendo que na Penha existia um barracão de madeira que servia de estação e que um novo edifício seria erguido no transcurso daquele ano de 1906.

         O decreto nº 5837, de 09 de janeiro de 1906 aprovou a planta e o orçamento para a construção de uma estação na Penha, na linha de Natal a Independência (Guarabira), da rede de viação férrea arrendada pela Great Western of Brazil Railway Company.  (RELATÓRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1907, p.323).

       No relatório do ano de 1907 foi relatado que “construiu-se no ano findo [1906] uma estação nova, cujo plano e orçamento foram aprovados pelo dec. N. 5.837 de 9 de janeiro”. (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1907, p.364. Grifo nosso).

     Em 1909 foi assentado um desvio morto na Penha. (RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1909 p.168).

      Assim sendo, o prédio atual da estação de Canguaretama é o que foi construído no ano de 1906 cuja planta arquitetônica destoa dos demais prédios do ramal Natal a Nova Cruz construídos na mesma época da primitiva estação da Penha. O estilo arquitetônico adotado na nova estação de Canguaretama se assemelha as existentes no ramal Nova Cruz-Guarabira, provavelmente obedecendo a planos da GWBR que era a concessionária da ferrovia a época.













Pesquisa e texto: João Batista dos Santos. Fotos: Google Earth.





segunda-feira, 9 de novembro de 2020

SOBRE K-XIMBINHO

A Noite,1947,p.3.


           Sobre o músico taipuense Sebastião Barros escreveu o suplemento do jornal A Noite em 1947 o qual estava ele de volta a integrar a Orquestra Tabajara: O nome de Caximbinho é Sebastião Barros, nascido no Rio Grande do Norte, e é um veterano na orquestra, apesar de se haver desligado várias vezes, quando esteve antes no Rio integrando o conjunto de FonFon.Já foi tenorista da própria “Tabajara” e hoje desincumbe-se do comando do quinteto de saxes. Músico de reconhecida capacidade, Caximbinho é dono de elevado senso modernista. Como compositor tem nome feito: é autor do chorinho “Sonoroso”, um grande sucesso no ano que passou, gravado pela orquestra, como também “Sonhando”. (A NOITE, 11/03/1947, p.33). 
          Ele próprio preferia dessa forma ‘K-Ximbinho’ o seu nome artístico. O citado jornal diz ainda que K-Ximbinho estava no Rio Grande do Norte naquele ano de 1947 quando foi convidado por Severino Araújo a integrar novamente a famosa Orquestra Tabajara”, o que fez, porém por pouco tempo, pois, logo após ele se radicou no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

SOBRE O CEMITÉRIO DE TAIPU

 

Até meados do século XIX os corpos eram enterrados dentro das igrejas que com o tempo passou a ser um sério caso de saúde público daí o surgimento dos cemitérios, também chamados de campo santo. A capela de Nossa Senhora do Livramento não registra nenhum sepultamento em seu interior, pois não existe nenhuma lápide nela que comprove a presença de inumação na igreja. Assim, se presume que já havia um cemitério na povoação de Taipu ao tempo da construção da capela a qual deu inicio após 1860.

Sobre o cemitério de Taipu a menção mais antiga por nós encontrada remonta ao ano de 1873. Trata-se de um episódio envolvendo o padre Joaquim de Vasconcelos, então vigário em Ceará-Mirim.

O caso

Segundo consta no jornal A Luz no dia 12/04/1873, Sábado de Aleluia, “não quis o dito padre que fosse enterrado  no cemitério da povoação  do Taipu o cadáver do ancião João Rodrigues” (A LUZ ,21/06/1873,p.4, o grifo é nosso).

De acordo com o citado jornal o motivo alegado pelo padre Joaquim de Vasconcelos para o não sepultamento em cemitério do ancião João Rodrigues foi que “na hora suprema respondido negativamente a pergunta que se lhe fez” (A LUZ ,21/06/1873,p.4). O padre havia perguntado a João Rodrigues se ele queria se confessar o qual respondeu negativamente. De acordo com o jornal A Luz todas as perguntas feita pelo padre a João Rodrigues eram respondidas negativamente porque o ancião já não estava no uso de suas faculdades mentais.

Segundo o citado jornal, entretanto, João Rodrigues deu durante sua longa vida sempre exuberantes provas de seu espírito religioso onde pela quaresma confessava-se ele e sua família e pagava o passaporte, como chamavam os matutos, a desobriga.

A família de João Rodrigues “no auge de sua dor, e consternado por ver a memória de seu chefe exposta a execração, implora e invoca o nome de Deus para que o padre revogue sua fatal sentença”. (A LUZ, 21/06/1873, p.4).

O padre Joaquim de Vasconcelos, no entanto, "com sua voz tremula e rouquenha ordena que o cadáver não seja sepultado no cemitério”.

De acordo com o jornal A Luz o acontecimento era assunto de conversa no Taipu.

O jornal termina dizendo “um dia, porém, o povo compreenderá entre outras cousas que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”.

Considerações

Mesmo sendo de responsabilidade administrativa civil, os enterros passavam antes pelos procedimentos religiosos. Assim, cabia ao padre autorizar ou não os sepultamentos. No caso a cima a pergunta que fica é: se o padre não autorizou o sepultamento no cemitério da povoação onde foi então sepultado João Rodrigues?

Outra coisa que nos chama a atenção é o fato de o jornal terminar dizendo “que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”. Seria João Rodrigues não católico para não ser autorizado a ser sepultado em campo santo católico? Ou talvez maçom?         O citado jornal era publicado em Natal e o mesmo exibia em sua capa o objetivo de suas páginas que era a causa da maçonaria, dedicava-se assim a causas anticlericais e ressalta-se ainda que a época do ocorrido na povoação de Taipu estava-se em curso a Questão Religiosa, que foi a questão envolvendo o bispo de Olinda, dom Vital e o Império, no tocante a proibição por parte do bispo dos católicos professarem ou ao menos participar da Maçonaria.

O fato é que já havia um cemitério na povoação do Taipu e segundo as leis que diziam respeito a construção de campos santos a época os mesmos deveriam ser construídos ao menos a distância de 1 km da povoação. Como se sabe é mais ou menos essa a distância entre a cidade e o cemitério de Taipu.

Há ainda no cemitério de Taipu antigos túmulos que remetem ao final do século XIX. O cemitério de Taipu foi ampliado em espaço para enterros ao menos duas vezes ao longo do tempo.

Efeméride

         Quando ocorreu a enchente de 1964 derrubou a ponte rodoviária que ficava próxima ao cemitério outra ponte deveria ser construída e para isso o traçado da rodovia foi redefinido, ocorreu pois, que o novo traçado deveria excluir o cemitério da cidade o que gerou grande celeuma na população que recorreu até ao governador para salvar os mortos ali enterrados.O cemitério foi poupado e o traçado redefinido passando a pista quase rente a parede do cemitério.

 

 

Cemitério de Taipu, década de 1950.Acervo de Gustavo Praxedes.