Até
meados do século XIX os corpos eram enterrados dentro das igrejas que com o
tempo passou a ser um sério caso de saúde público daí o surgimento dos cemitérios,
também chamados de campo santo. A capela de Nossa Senhora do Livramento não
registra nenhum sepultamento em seu interior, pois não existe nenhuma lápide
nela que comprove a presença de inumação na igreja. Assim, se presume que já
havia um cemitério na povoação de Taipu ao tempo da construção da capela a qual
deu inicio após 1860.
Sobre
o cemitério de Taipu a menção mais antiga por nós encontrada remonta ao ano de 1873.
Trata-se de um episódio envolvendo o padre Joaquim de Vasconcelos, então
vigário em Ceará-Mirim.
O caso
Segundo
consta no jornal A Luz no dia 12/04/1873, Sábado de Aleluia, “não quis o dito padre que fosse enterrado no cemitério da povoação do
Taipu o cadáver do ancião João Rodrigues” (A LUZ ,21/06/1873,p.4, o grifo é
nosso).
De
acordo com o citado jornal o motivo alegado pelo padre Joaquim de Vasconcelos
para o não sepultamento em cemitério do ancião João Rodrigues foi que “na hora
suprema respondido negativamente a pergunta que se lhe fez” (A LUZ
,21/06/1873,p.4). O padre havia perguntado a João Rodrigues se ele queria se
confessar o qual respondeu negativamente. De acordo com o jornal A Luz todas as
perguntas feita pelo padre a João Rodrigues eram respondidas negativamente
porque o ancião já não estava no uso de suas faculdades mentais.
Segundo
o citado jornal, entretanto, João Rodrigues deu durante sua longa vida sempre
exuberantes provas de seu espírito religioso onde pela quaresma confessava-se
ele e sua família e pagava o passaporte,
como chamavam os matutos, a desobriga.
A
família de João Rodrigues “no auge de sua dor, e consternado por ver a memória
de seu chefe exposta a execração, implora e invoca o nome de Deus para que o
padre revogue sua fatal sentença”. (A LUZ, 21/06/1873, p.4).
O
padre Joaquim de Vasconcelos, no entanto, "com sua voz tremula e rouquenha
ordena que o cadáver não seja sepultado no cemitério”.
De
acordo com o jornal A Luz o acontecimento era assunto de conversa no Taipu.
O
jornal termina dizendo “um dia, porém, o povo compreenderá entre outras cousas
que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”.
Considerações
Mesmo
sendo de responsabilidade administrativa civil, os enterros passavam antes
pelos procedimentos religiosos. Assim, cabia ao padre autorizar ou não os sepultamentos.
No caso a cima a pergunta que fica é: se o padre não autorizou o sepultamento
no cemitério da povoação onde foi então sepultado João Rodrigues?
Outra
coisa que nos chama a atenção é o fato de o jornal terminar dizendo “que o
cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”. Seria João
Rodrigues não católico para não ser autorizado a ser sepultado em campo santo
católico? Ou talvez maçom? O citado jornal era publicado em Natal e o mesmo exibia em sua capa o objetivo de suas páginas que era a causa da maçonaria, dedicava-se assim a causas anticlericais e ressalta-se ainda que a época do ocorrido
na povoação de Taipu estava-se em curso a Questão Religiosa, que foi a questão
envolvendo o bispo de Olinda, dom Vital
e o Império, no tocante a proibição por parte do bispo dos católicos professarem
ou ao menos participar da Maçonaria.
O
fato é que já havia um cemitério na povoação do Taipu e segundo as leis que
diziam respeito a construção de campos santos a época os mesmos deveriam ser construídos
ao menos a distância de 1 km da povoação. Como se sabe é mais ou menos essa a
distância entre a cidade e o cemitério de Taipu.
Há
ainda no cemitério de Taipu antigos túmulos que remetem ao final do século XIX.
O cemitério de Taipu foi ampliado em espaço para enterros ao menos duas vezes
ao longo do tempo.
Efeméride
Quando ocorreu a enchente de 1964 derrubou
a ponte rodoviária que ficava próxima ao cemitério outra ponte deveria ser construída
e para isso o traçado da rodovia foi redefinido, ocorreu pois, que o novo
traçado deveria excluir o cemitério da cidade o que gerou grande celeuma na
população que recorreu até ao governador para salvar os mortos ali enterrados.O
cemitério foi poupado e o traçado redefinido passando a pista quase rente a
parede do cemitério.
Cemitério de Taipu, década de 1950.Acervo de Gustavo Praxedes. |
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