sexta-feira, 6 de novembro de 2020

SOBRE O CEMITÉRIO DE TAIPU

 

Até meados do século XIX os corpos eram enterrados dentro das igrejas que com o tempo passou a ser um sério caso de saúde público daí o surgimento dos cemitérios, também chamados de campo santo. A capela de Nossa Senhora do Livramento não registra nenhum sepultamento em seu interior, pois não existe nenhuma lápide nela que comprove a presença de inumação na igreja. Assim, se presume que já havia um cemitério na povoação de Taipu ao tempo da construção da capela a qual deu inicio após 1860.

Sobre o cemitério de Taipu a menção mais antiga por nós encontrada remonta ao ano de 1873. Trata-se de um episódio envolvendo o padre Joaquim de Vasconcelos, então vigário em Ceará-Mirim.

O caso

Segundo consta no jornal A Luz no dia 12/04/1873, Sábado de Aleluia, “não quis o dito padre que fosse enterrado  no cemitério da povoação  do Taipu o cadáver do ancião João Rodrigues” (A LUZ ,21/06/1873,p.4, o grifo é nosso).

De acordo com o citado jornal o motivo alegado pelo padre Joaquim de Vasconcelos para o não sepultamento em cemitério do ancião João Rodrigues foi que “na hora suprema respondido negativamente a pergunta que se lhe fez” (A LUZ ,21/06/1873,p.4). O padre havia perguntado a João Rodrigues se ele queria se confessar o qual respondeu negativamente. De acordo com o jornal A Luz todas as perguntas feita pelo padre a João Rodrigues eram respondidas negativamente porque o ancião já não estava no uso de suas faculdades mentais.

Segundo o citado jornal, entretanto, João Rodrigues deu durante sua longa vida sempre exuberantes provas de seu espírito religioso onde pela quaresma confessava-se ele e sua família e pagava o passaporte, como chamavam os matutos, a desobriga.

A família de João Rodrigues “no auge de sua dor, e consternado por ver a memória de seu chefe exposta a execração, implora e invoca o nome de Deus para que o padre revogue sua fatal sentença”. (A LUZ, 21/06/1873, p.4).

O padre Joaquim de Vasconcelos, no entanto, "com sua voz tremula e rouquenha ordena que o cadáver não seja sepultado no cemitério”.

De acordo com o jornal A Luz o acontecimento era assunto de conversa no Taipu.

O jornal termina dizendo “um dia, porém, o povo compreenderá entre outras cousas que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”.

Considerações

Mesmo sendo de responsabilidade administrativa civil, os enterros passavam antes pelos procedimentos religiosos. Assim, cabia ao padre autorizar ou não os sepultamentos. No caso a cima a pergunta que fica é: se o padre não autorizou o sepultamento no cemitério da povoação onde foi então sepultado João Rodrigues?

Outra coisa que nos chama a atenção é o fato de o jornal terminar dizendo “que o cemitério é para sepultar os mortos sem distinção de religião”. Seria João Rodrigues não católico para não ser autorizado a ser sepultado em campo santo católico? Ou talvez maçom?         O citado jornal era publicado em Natal e o mesmo exibia em sua capa o objetivo de suas páginas que era a causa da maçonaria, dedicava-se assim a causas anticlericais e ressalta-se ainda que a época do ocorrido na povoação de Taipu estava-se em curso a Questão Religiosa, que foi a questão envolvendo o bispo de Olinda, dom Vital e o Império, no tocante a proibição por parte do bispo dos católicos professarem ou ao menos participar da Maçonaria.

O fato é que já havia um cemitério na povoação do Taipu e segundo as leis que diziam respeito a construção de campos santos a época os mesmos deveriam ser construídos ao menos a distância de 1 km da povoação. Como se sabe é mais ou menos essa a distância entre a cidade e o cemitério de Taipu.

Há ainda no cemitério de Taipu antigos túmulos que remetem ao final do século XIX. O cemitério de Taipu foi ampliado em espaço para enterros ao menos duas vezes ao longo do tempo.

Efeméride

         Quando ocorreu a enchente de 1964 derrubou a ponte rodoviária que ficava próxima ao cemitério outra ponte deveria ser construída e para isso o traçado da rodovia foi redefinido, ocorreu pois, que o novo traçado deveria excluir o cemitério da cidade o que gerou grande celeuma na população que recorreu até ao governador para salvar os mortos ali enterrados.O cemitério foi poupado e o traçado redefinido passando a pista quase rente a parede do cemitério.

 

 

Cemitério de Taipu, década de 1950.Acervo de Gustavo Praxedes.

 

 

 

 

 

 

 

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