sábado, 2 de outubro de 2021

A VIDA POLITICA E ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DE ESTREMOZ #2

 

“E pela hora do crepúsculo saudoso, como em profética visão, eu vi Estremoz renascer como Fênix, das suas cinzas, transformada no pomar festivo da cidade, no celeiro farto do povo, em estância preferida do verão”.

Dom José pereira Alves, 3º bispo de Natal.



       O jornal potiguar O Jaguarari registrou em 12/04/1851 que o chefe de policia da província fez abortar o célebre processo de sedição de Estremoz, na qual segundo o referido jornal: “acreditamos que não dará as mãos a esses estonteados para a realização de um ato igualmente iníquo e imoral. (O JAGUARARI, 12/04/1851, p.4).

         Nada mais conseguimos apurar sobre essa sedição em Estremoz, sabendo que o mesmo era um dos municípios que eram elogiados pela sua tranquilidade e por isso estranho tal caso de sedição, que só se justifica pelas disputas políticas existentes a época.

         O Correio da Tarde registrou que no dia 26/10/1851 foi assassinado no lugar denominado Picada, termo de Estremoz, José Ambrósio por Francisco Damião. (CORREIO DA TARDE, 17/11/1851, p.4).

Sobre a cadeia da vila de Estremoz em 1851 escreveu o presidente da província que a mesma ameaçava ruir “e quanto mais demora houver no conserto, mais caro custará a ele”  (FALA...,1851, p.6).

Em  1851 o Pe.  Candido José Coelho exercia também a função de Juiz de direito em Estremoz (FALA..., 1851,p.13), já Targine Antonio Gonçalves constava como professor naquele ano de 1851 (FALA..., 1851, p.14).

         Em 15/02/1852 o jornal O Cearense registrou que o padre Cândido de Estremoz era um dos  deputados provinciais. (O CEARENSE, 15/02/1852).

         Segundo o jornal O Liberal Pernambucano o procedimento dos juízes suplentes de Estremoz estava desgostando sobremodo o vigário daquela freguesia, o Pe. Candido Varela, por ver que seu antagonista estava decepando a sua influência e burlando seus planos.

         Ainda de acordo como referido jornal o Dr. Loló estava iludindo a todos com promessas lisongeiras com abraços e meiguices, “vai zombando dos pobres crédulos, que se deixam fascinar pelo coral e belos louvores da serpente venenosa” (O LIBERAL PERNAMBUCANO, 20/06/1853, p.2).

         O jornal O Cearense registrou em 26/05/1854 que em Cajueiro, do termo de Estremoz, uma escolta do delegado barbaramente assassinou a um velho de mais de 70 anos tendo o cadáver remetido a Natal para ser vistoriado.O delegado foi demitido e nada foi mandado proceder contra os assassinos do idoso. (O CEARENSE, 26/05/1854, p.3).

O aviso de 13/02/1854 e repetido em 12/10/1854 determinava que os presidentes das províncias informassem sobre a existência de terras devolutas com declaração de suas circunstâncias relativamente à colonização. E foi assim que se teve inicio a ocupação em larga escala do vale do rio Ceará-Mirim.

Segundo o Diário de Pernambuco em outubro de 1854 um individuo morador na Picada do Ceará-Mirim houve por parte de um pai uma ordem de prisão contra o filho a quem acusava de ser ladrão de seus cavalos, animais estes que o filho havia ganhado da madrinha quando criança e quando adulto foi o mesmo expulso de casa pelo pai que exigiu em ação judicial a posse dos animais.Na execução da ordem de prisão foi o filho ferido mortalmente. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 03/11/1854, p.2).

         O mesmo jornal registrou ainda que na Alagoa do Xavier, também da Picada do Ceará-Mirim, termo de Estremoz, um individuo deu um tiro em uma mulher que felizmente não foi mortal. Já no dia 21/10/1854 foi ferido com um tiro no lugar Jaçanazinha, Alexandre de tal, e ficou em risco de vida.

         Segundo o referido jornal: “o termo de Estremoz que sempre gozou os foros de um dos mais pacíficos da província, vai tornanado-se respeitável pela reprodução dos fatos dessa ordem”, os quais não se sabia em que se atribuir tantos crimes visto que as autoridades continuavam diligentes na captura de criminosos.

No relatório de 1854 constavam 69 alunos matriculados na escola primária do sexo masculino de Estremoz. (RELATÓRIO..., 1854, p.16).

De acordo com o relatório do presidente da província de 1854 estes eram os engenhos de moendas de ferro e engenhocas existentes no município de Estremoz:

No de ordem

Engenho/engenhoca

 

Limoeiro

1

Pedregulho

2

Morrinhos

3

Mucuripe

4

Cumbe

5

Verde Nasce

6

Capela

7

Carnaubal

8

Porão do Norte

9

São Francisco

10

Rio Novo

11

Torre

12

Laranjeira

13

Timbó

14

Vilar

15

Massangana

16

Nascença

17

Idem

18

Olho d’Água

19

Canto do Arroz

20

Boca da Mata

21

Tamanduá

22

Rio do Meio

23

Jacoca

24

Barra

Fonte: Relatório..., 1854, p.37.

 




Ruínas da Casa de Câmara e Cadeia de Estremoz.





A VIDA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DE ESTREMOZ #1

 

“E pela hora do crepúsculo saudoso, como em profética visão, eu vi Estremoz renascer como Fênix, das suas cinzas, transformada no pomar festivo da cidade, no celeiro farto do povo, em estância preferida do verão”.

Dom José pereira Alves, 3º bispo de Natal.



De acordo com a sessão do parlamento brasileiro em 08/10/1827 a população da província do Rio Grande do Norte foi contabilizada em 48.917 habitantes. Naquela mesma sessão foi apresentado um requerimento para a criação de uma aldeia de índios tirados da vila de Estremoz. (ANAIS DO PARLAMENTO BRASILEIRO, 1827, p.108). O referido decreto não fornecia maiores informações sobre o requerimento.

Em 16/12/1829 o jornal Diário de Pernambuco apresentou um anúncio de venda de propriedade em Estremoz, segundo o qual dizia:

         Vende-se 3 léguas de terra, no lugar do Cururu, Termo da Vila de Estremoz da Província do Rio Grande do Norte, muito fresca, e próprias para criar Gado, com todas as proporções para se dividirem em duas ótimas Fazendas; [tratar] na rua da Cruz nº 57,ou a Manoel José da Silva Braga, na Prensa do Algodão no Forte do Mato.(DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 16/12/1829, p.3.Grifo nosso).

         Na sessão do dia 28/07/1832 foi aprovada a proposta do Conselho Geral da Província do Rio Grande do Norte dividindo em duas a freguesia da vila de Estremoz (O TEMPO, 01/09/1832, p.4).

A Comissão de Instrução Pública da Assembleia Geral Legislativa aprovou em 07/08/1830 a proposta do Presidente da Província do Rio Grande do Norte a cerca da criação de escolas na província na qual se dizia em seu artigo 5º que haveria Escolas primárias na Povoação de São Gonçalo, na Vila de Estremoz, na Povoação de Touros, na Vila do Príncipe e na Povoação do Acari, dentre outras deliberações (DIARIO DA CAMARA DOS SENADORES DO IMPERIO DO BRASIL (RJ), 1830, p.2).

De acordo com o jornal A Verdade em 1834 a vila de Estremoz ainda carecia do Conselho de Jurados  (A VERDADE, 14/01/1834, p.2).

Em 31/03/1840 foi publicado o edital da presidência da província no qual se haveria de arrendar em hasta pública dois lotes de terras dos próprios nacionais, existentes no rio Ceará-Mirim do município da Vila de Estremoz, na qual compreendiam algumas baixas confrontando com as várzeas do rio. (O PUBLICADOR NATALENSE, 11/04/1840, p.2).

Segundo o relatório do presidente da província José Joaquim Soares da Câmara havia adquirido concessão pela lei provincial de 08de novembro de 1842 para construir uma ponte no rio Maxaranguape do município de Estremoz, porém ainda em 1843 o mesmo não havia feito a obra. (RELATÓRIO..., 1843, p.10).Em 1843  José Bento da Fonseca constava como professor primário em Estremoz (relatório, 1843,p.14

      De acordo com o jornal Diário do Rio de Janeiro não havia nada do que se queixar quanto a tranquilidade na província do Rio Grande do Norte, a não ser os desmandos do ex-diretor dos índios que quando ainda em exercício tentara perturbar a ordem em Muriú, distrito de Estremoz, mas que foi imediatamente chamado à orbita dos seus deveres por 20 praças que a presidência  fez marchar para aquele lugar. (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 05/10/1847, p.1).

      De acordo com o jornal O Nortista em Estremoz foi nomeado como subdelegado “uma das 1ª notabilidades daquele lugar o distinto Sr. de engenho e fazendeiro, Manoel Varela do Nascimento.(O NORTISTA, 19/10/1849, p.3). O mesmo viria a ser mais tarde o Barão do Ceará-Mirim.

Segundo o relatório de 1849 eram 1.6467 votantes e 31 eleitores (RELATÓRIO..., 1849, p.39).

       O mesmo jornal registrou que em Estremoz naquele mesmo ano foram qualificados 1.600 votantes e na igreja da vila se fez publicar a respectiva lista, mas no livro foi feito o lançamento com a exclusão de mais de 400 votantes e viciaram os nomes dos demais.

       Os Nortistas se apresentaram com energia na eleição exigindo que a mesa recebesse as listas dos qualificados. O presidente da província mandou para Estremoz uma força policial no dia da eleição para garantir a ordem do preito. (O NORTISTA, 08/08/1849, p.1). Segundo o relatório do presidente da província de 1849 havia cadeias arruinadissimas e poucos seguras nas vilas de Estremoz, Vila Flor, Príncipe, Acari e Portalegre.

Eis os eleitores da freguesia de Estremoz em 1849

Nº de ordem

Eleitor

1

Francisco de Souza Xavier.

 

2

Antonio Francisco Cabral de Macedo.

 

3

Jerônimo Cesar de Andrade

 

4

Lourenço José da Costa

5

Francisco Bernardo Gouveia

6

André de Paiva Ferreira e Albuquerque Junior

7

Inácio Tolentino de Paiva

8

Major Antonio Alexandrino de Paiva

9

Antonio Manoel de Medeiros

10

José Rodrigues da Silveira

11

Antonio de Barros Pereira

12

Manoel Teixeira da Silva

13

Francisco de Araújo Viana

14

Tem. Cel. Francisco Xavier de Souza Sobral

15

Joaquim de Medeiros Velho

16

Emidio Henrique de Paiva

17

Bento José Teixeira

18

Cel. André de Paiva Ferreira e Albuquerque

19

Joaquim José de Medeiros Velho

20

João Vimarano de Paiva

21

José Francisco Xavier de Souza

22

Francisco Xavier da Silva

23

José Francisco de Sá Bezerra

24

Francisco Xavier de Goes

25

Major Francisco Pereira de Brito

26

Joaquim José da Costa

27

Salvador de Araújo Correia

28

Serafim da Rocha Freire

29

João Vieira de Melo

30

José Lopes de Vasconcelos

31

Manoel José de Araújo

Fonte: o sulista, 15/09/1849, p.4

      Em 1850 haviam 63 meninos matriculados na escola primária de Estremoz, (RELATÓRIO..., 1850, p.28).

Antiga igreja e convento dos Jesuítas em Estremoz.



SOBRE ESTREMOZ

 

“E pela hora do crepúsculo saudoso, como em profética visão, eu vi Estremoz renascer como Fênix, das suas cinzas, transformada no pomar festivo da cidade, no celeiro farto do povo, em estância preferida do verão”.

Dom José Pereira Alves, 3º bispo de Natal.

 

 

A Vila de Estremoz foi criada por Alvará de 06 de junho de 1755, tendo sido instalada em 03 de maio de 1760.

A transferência de sede para a povoação da Boca da Mata, com a denominação de Ceará-Mirim, ocorreu pela lei provincial nº 321 de 18 de agosto de 1855, sendo essa lei revogada pela de nº 345 de 04 de setembro de 1856 e restabelecida a lei nº 321 pela de nº 370 de 31 de julho de 1858 quando se deu nessa data a instalação da nova sede municipal em Ceará-Mirim. Pela lei provincial nº 837 de 09 de julho de 1882 Ceará-Mirim foi alçada a categoria de cidade.

Enquanto foi sede municipal a vila de Estremoz tinha por prédios públicos a Casa de Câmara e Cadeia, o Pelourinho, a Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo e Nossa Senhoras dos Prazeres, ambos oragos da matriz e o Convento anexo a igreja, construído pelos Jesuítas. No entorno da praça que havia entre a igreja e o cruzeiro ladeavam as casas geminadas dos habitantes, a maioria simples, pois os proprietários mais abastados residiam nas propriedades de suas fazendas e engenhos ao longo do vale do Ceará-Mirim e Maxaranguape. Ao tempo em que figurou como município Estremoz tinha por municípios limítrofes a Capital, Touros, São Gonçalo e Macau.

De 03/05/1760 a 31/07/1858, ou seja, 98 anos o município de Estremoz teve uma vida política e administrativa autônoma cuja sede era a vila que denominava o município, a atual cidade de Estremoz, na região metropolitana de Natal.

Esse período de tempo é pouco conhecido da história de Estremoz, por isso eis o escopo desse trabalho que é o de trazer a luz memória esquecida da vida política e administrativa do município de Estremoz quando sua sede figurava na Vila, assim como o período em que figurou como distrito de Ceará-Mirim, apagada e esquecida, quase moribunda correndo o risco de deixar de existir até os eu ressurgimento como município autonomia em 1958.

As fontes de pesquisas foram as crônicas dos mais diversos jornais (muitos dos quais extintos) e os relatórios e falas dos presidentes da então província do Rio Grande do Norte, os quais se configuram como fontes primárias posto que revelam o dia-a-dia daquele município.

O trabalho é despretensioso e não segue nenhuma metodologia cientifica a não ser o desejo de contribuir para a conservação da memória deste que foi uma dos mais injustiçados municípios do Rio Grande do Norte condenado a quase perder por completo sua história riquíssima desde os tempos coloniais.

A erudição profética de Dom José Pereira Alves, 3º Bispo de Natal, sintetizou poeticamente na epigrafe citada a cima a história de Estremoz onde tal qual a Fênix ressurgiu das cinzas no chão do território potiguar.

A par dessa introdução nas próximas postagens trataremos da vida política e administrativa do município de Estremoz.

Pórtico da entrada da cidade de Estremoz.



domingo, 26 de setembro de 2021

SOBRE A ADUTORA DO MATO GRANDE


         Prestes a completar 40 anos de sua inauguração em 2022 é sempre bom fazer a memória dessa que foi uma das maiores obras de alcance social no século XX na Região do Mato Grande.

         Em 1981 foi aberta a concorrência para a aquisição do material destinado a instalação da adutora do Mato Grande com captação de água na fonte de Pureza.

         Segundo o governador Lavoisier Maia naquele ano já estava assegurado no orçamento do BNH recursos no valor de 400 milhões de cruzeiros. (DIÁRIO DE NATAL, 02/07/1981, p.1).

         A adutora do Mato Grande deveria resolver o mais grave problema que durante muito tempo enfrentava as populações de João Câmara, Taipu e Poço Branco.

         O sistema integrado de abastecimento de água dos municípios de João Câmara, Taipu e Poço Branco ficou pronto em 1982, o qual trouxe benefícios imediatos para mais de 25 mil habitantes entre os três municípios, dos quais 75% estavam concentrados na cidade de João Câmara, apontada já a época como centro de desenvolvimento da região do Mato Grande.

O sistema tem capacidade de vazão de 300 litros de água por segundo, sendo que a  demanda das três cidades a época era de 144 litros por segundo.

         O investimento global da obra foi da ordem de 1,6 bilhões de cruzeiros tendo o projeto o objetivo de atender a uma população final de 50 mil habitantes. (DIÁRIO DE NATAL, 15/03/1983, p.15).

         O sistema integrado de abastecimento de água do Mato Grande foi construído constando de um conjunto de adutoras que somadas possuem 50 km extensão, com diâmetros variando entre 150 mm e 400 mm.Também fazem parte do sistema 3 estações elevatórias, uma com vaza de 260 m³/h, outra com 204 m³/h e a terceira com 43 m³/h todas equipadas com um conjunto de eletrobombas.

         O sistema tem ainda 4 reservatórios, sendo 2 em João Câmara, uma com capacidade para 3,2m³ e outro para 150 m³, 1 em Poço Branco, com capacidade para 350m³ e o de Taipu com capacidade para 400 m³. O primeiro reservatório concluído foi o de Poço Branco, os dois que ficam em João Câmara foram o segundo e o terceiro a ser construído, respectivamente,  o quarto reservatório construído foi o de Taipu e mais um em Poço Branco seria o quinto a ser construído.

         A rede de distribuição tem 37.998 metros de extensão, dos quais 26.640 em João Câmara, 5.858 em Taipu e 3.500 em Poço Branco.

A Região do Mato Grande teve desde sempre a falta de acesso a água um dos seus principais problemas sociais, sendo a adutora um antigo anseio da população dos municípios que foram por ela beneficiados.

         Por longos anos o abastecimento de água de João Câmara, Taipu e Poço Branco dependeu de idas e vindas dos precários carros-pipas, que eram por vezes saudados com euforia pela população com suas chegadas e até mesmo os bucólicos burrinhos com suas barricas d’água serviam como meio de transporte do liquido precioso.

         Quem passa pela BR-406 talvez nem se dê conta da tubulação aparente em suas margens e nem reflita sobre esta obra que foi sem dúvida a redenção de mais 50 mil pessoas entre os municípios de Taipu, Poço Branco e João Câmara.



Fotos: Diário de Natal, 1982.


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

SOBRE OBRAS NA MATRIZ DE CEARÁ-MIRIM EM 1892


         De acordo com o jornal O Nortista achava-se em trabalho no serviço da capela-mor da matriz de Ceará-Mirim, o pintor e dourador Manoel Adolfo d silva Ramos, que a convite do vigário da freguesia foi até a cidade de Ceará-Mirim e com o vigário empreitou algumas obras na referida igreja sob orientação dada pelo engenheiro David Wiliams, por 4 contos de réis, cujos serviços a fazer constavam do seguinte  (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3):

         Douramento da capela-mor com todos os frisos dourados amordente fusco, branco a verniz a imitação de porcelana, começando do teto frisos dourados, como frisos azuis celeste – o centro do forro branco fingindo a estuque e nele a efígie da Padroeira  Nossa Senhora da Conceição pintada sobre zinco.

         Descendo a cornija, fingindo mármore roxo quase branco, acompanhando todas as tribunas, travessas e arco-mor da mesma cor, sendo os pedestais em mármore escuro, secundando outra vez de cima uma sanefa debaixo da cornija ultramarino ou fingindo damasco amarelo de Nanquim cor de ouro, sendo o centro roxo rei claro, chegando até as barras paralelas que seriam de quadros vivos, fingindo a mármore de diversas cores preso a uns cordéis, e os vidros das tribunas fingindo mosaico e os de entre os nichos da mesma capela-mor do lado dos caixilhos bordado a pincel, os da frente branco limpo, dos lados do nicho do centro quatro anjos em adoração à Custódia, sendo dois de cada lado. Pintura a óleo fino. As portas e tribunas de verde-azul ultramarino, quase branco. Grades de ferro com douramento para as tribunas e arco-mor da mesma capela e nesta ladrilho de tijolo mosaico fino.

         Segundo o mesmo jornal o vigário de Ceará-Mirim, Pe. Antonio Antunes de Oliveira e o tenente-coronel José Antunes de Oliveira estavam empenhados pelo fim das obras da matriz e seu aformoseamento, onde os mesmos fizeram as torres e o frontispício da igreja, sendo as torres descritas pelo mesmo jornal como “elegantes e salientes de que avistadas ao longe  a tudo sobressaem”, e continuavam com gosto no trabalho da frente mesma matriz. (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

         Ainda de acordo com o jornal citado o vigário trabalhava como empenho, zelo e eficácia, para ver concluído todo o trabalho da matriz, para o que já não só havia saído a pedir auxílios aos senhores de engenho da cidade de Ceará-Mirim e de Maxaranguape, dos quais recebeu assinaturas e espórtulas que chegaram a mais de 3:000$000 de réis; além disso estava elevando sua voz  na tribuna sagrada chamando a todos os seus paroquianos para concorrerem com suas esmolas e mostrando-lhes o dever que haviam de cooperarem para o sagrado fim, e para que chegassem ao conhecimento de todos, este dever e o seu apelo (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

O autor do texto (que se assinou como ‘um paroquiano’) recorria a imprensa para que fosse publicado o plano do vigário na esperança que os paroquianos não se olvidassem o auxilio necessário para aquela obra a qual "enobreceria a Religião e que seria elevado ao  Trono de Deus onde se receberia a única e verdadeira recompensa". (O NORTISTA, 09/09/1892, p.3).

          Ao longo do tempo a igreja matriz de Ceará-Mirim passou por inúmeras intervenções que pouca coisa ou quase nada mais remete a esta primeira obra de aformoseamento dessa igreja.

         Ainda em 1896 a matriz de Ceará-Mirim estava em inacabada, mas mesmo assim o bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, nela fez visita pastoral e em julho daquele mesmo ano, o referido bispo transferiu a matriz para a capela da povoação de Taipu permanecendo lá até agosto de 1897. 

            A matriz de Ceará-Mirim só foi finalmente concluída em 1900, tendo suas obras se iniciado em 1861, portanto, 49 anos.


Detalhe da fachada da igreja matriz de Ceará-Mirim


Aspecto da capela-mor da matriz de Ceará-Mirim

Aspecto de uma capela lateral da matriz de Ceará-Mirim


Detalhe de um púlpito lateral da matriz de Ceará-Mirim.

Detalhe do teto da matriz de Ceará-Mirim e seus afrescos

Aspectos internos da matriz de Ceará-Mirim.

Aspectos internos da matriz de Ceará-Mirim.

Detalhes das torres da igreja matriz de Ceará-Mirim.


Aspectos externos da matriz de Ceará-Mirim.